AVISO: contém violência com menor de idade e um flashback.
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O jovem de cabelos cinzas estava bem próximo ao outro jovem, que mantinha sua cabeça baixa e em silêncio. Fai Chen não sabia como reagir e muito menos o que dizer, então apenas levantou seus dedos para arrumar a venda, tampando seus olhos para virar seu rosto, que ainda estava escondido pela máscara de raposa.
"Estou bem. Desculpe por ficar aqui por último, já irei me retirar", o cultivador respondeu a Wei Huli, levantando-se da cadeira e tentando se afastar do rapaz. Porém, uma mão gelada pegou seu braço, que por mais que estivesse com tecidos por cima, conseguiu sentir essa sensação de frieza vinda do outro.
"Espere. Essa voz... Me parece familiar. Já nos conhecemos antes?"
O coração de Fai Chen apertou. Ele desejava se jogar nos braços do outro homem e dizer sua verdadeira identidade, sorrir enquanto o abraçava e pedia desculpas pelo que o outro homem tivera que passar na pele por sua causa, o que foi algo muito trágico.
A mente do cultivador retornou ao dia que tinha sido espancado por Wei Ming. Suas mãos estavam trêmulas e ensanguentadas graças aos diversos arranhões nas palmas. Ele estava em um estado lastimável, qualquer pessoa que o visse teria até medo de se aproximar, pensando de fato que era algum prisioneiro ou um traidor. Mas, tinha uma pessoa no mundinho de Fai Chen que, jamais, naquela época, o viu como um monstro ou algo do tipo. Essa pessoa era o jovem de 17 anos Wei Huli. Já havia passado um ano desde que Fai Chen estava sendo obrigado a atuar na área de crimes pelo líder Wei, então aos seus 15 anos já estava com um corpo completamente machucado, mas ao mesmo tempo, com um crescimento bom.
"Huli... Você não precisa dizer essas coisas, está bem? Seu pai é assim comigo porque o meu pai permitiu. Não o culpe", a criança machucada respondeu a Wei Huli, que tinha acabado de deixar uma flor de ameixeira em seus fios de cabelo.
"Fai Chen... Eu não me importo. Nunca me importei com o poder e com meu futuro... Então, se eu puder protegê-lo das mãos de meu pai, é isso que farei!", o jovem de cabelos cinzas disse com um sorriso largo no rosto, ainda acariciando a bochecha do outro. "Somos amigos, certo? Juramos que ficaríamos juntos!"
Fai Chen soltou uma risada doce, pousando sua mão por cima da de Wei Huli e a acariciando de um jeito meigo, assim como ele estava fazendo com sua pele, cheia de partes roxas em suas bochechas. A sensação de ter uma pessoa ao seu lado significava tudo para o pequeno, que há tempos não entendia mais o que era receber carinho, pois desde que seu pai havia começado a vendê-lo direto para o clã Wei, o pouco tempo que tinha com sua mãe, antes de falecer, era relacionado a lágrimas, gritos torturantes e a automutilação de si mesma. Fai Wen tinha enlouquecido e tudo por causa de seu marido, que não deixava seu pobre filho em paz.
"Huli, obrigado..."
"Obrigado pelo quê? Tolo... Não há o que agradecer! Mas, se deseja tanto me agradecer, por que não olha para mim pela primeira vez?", Wei Huli mencionou, soltando uma risada e tocando de leve o queixo do outro, que ainda estava com a cabeça baixa por vergonha e medo de observar os olhos raros de seu amigo. "Vamos, ChenChen! Eu já te contei tudo de minha vida e sobre mim, não há o que temer!"
Pela primeira vez, o jovem com os dons da verdade, sentiu-se confiante para finalmente olhar uma pessoa frente a frente e não ter um pingo de medo sobre a verdade que encontraria através de seus olhos. Entretanto, assim que o pequeno iria levantar seu rosto, um estrondo vindo da porta foi escutado, assustando ambos os garotos que estavam em um momento tão delicado.
"P-Pai...", Wei Huli gaguejou, soltando o rosto de Fai Chen.
"Wei Huli, o que você está fazendo tocando nele?", Wei Ming perguntou a seu filho, com um tom de voz tenebroso, que fez Fai Chen virar seu corpo rapidamente e olhá-lo de cima, sabendo que levaria mais castigos severos por se aproximar de Wei Huli.
"O senhor sabe que eu e Fai Chen somos amigos! Não entendo o porquê da surpresa..."
"Infelizmente eu soube pelas minhas próprias concubinas que meu filho estava próximo a essa besta humana. Mas, tocar... Nele? Wei Huli você acha que sua mãe lhe deu mãos para tocar em peles imundas?", Wei Ming sempre foi um homem rude com seu filho, então o próprio já estava acostumado com esse tratamento, mas jamais pensaria que faria uma coisa dessas na frente de Fai Chen, que já se sentia perturbado por ouvir frases desse tipo, tão arrogantes.
"N-Não fale assim de Fai Chen! Ele é humano, como todos nós! Por que o senhor... ", Wei Huli, com toda a coragem que habitava seu coração, colocou todo seu corpo na frente de Fai Chen, como se estivesse o protegendo de seu pai. "Por que o senhor insiste em vê-lo como uma besta? Ele sente. Ele sofre. Ele chora. E o senhor ainda ousa machucá-lo dessa forma? Só por poder?"
Wei Ming, escutando as palavras de seu filho, riu alto. Fai Chen tremia atrás de Wei Huli, sabendo que a qualquer momento o pai de seu amigo surtaria e jogaria todo o seu ódio em cima de seu corpo, já todo destruído. Porém, algo surpreendente e que jamais esperaria que acontecesse ocorreu diante de seus olhos vazios.
O líder Wei se aproximou de seu filho, estendeu sua larga mão e agarrou os cabelos acinzentados, sorrindo sadicamente.
"Meu próprio filho... O que você se tornou? Não me diga que Fai Chen, com seu cultivo do olhar, conseguiu manipulá-lo tão bem...", enquanto o líder falava, Wei Huli tentava se soltar das mãos do maior, mas nada e nenhuma ação funcionava, e sim piorava, já que seu pai apertava com mais força seus fios de cabelo, que se continuassem assim, ficariam desgastados por tantos puxões. "Wei Huli, você realmente está contra seu pai para proteger Fai Chen?"
Imediatamente, Fai Chen se ajoelhou perante ao líder Wei, deixando as lágrimas caírem em suas bochechas, chorando incontrolavelmente. A criança já estava farta de tudo de ruim acontecendo ao seu redor justamente por ele existir. Não desejava que seu único amigo passasse pelas mãos cheias de sangues de Wei Ming e muito menos ter que vê-lo sendo maltratado diante de seus olhos.
"Por favor, líder Wei. Não culpe o Jovem Mestre Wei Huli. Eu o obriguei a ser meu amigo e se aproximar de mim...", em meio a soluços Fai Chen falava, olhando para Wei Ming, que continuava a esboçar um sorriso em seu rosto, cheio de caos.
"FAI CHEN, O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO?" Wei Huli, por outro lado, gritava, observando seu amigo jogar a culpa em si mesmo para que ele não sofresse algo vindo de seu próprio pai. "PAI, ELE NÃO ME OBRIGOU A NADA. EU QUE QUIS ME TORNAR AMIGO DELE E..."
Antes de continuar a dizer, Wei Ming calou sua boca com um soco forte, fazendo-o cambalear para o lado e quase perder seus sentidos. O líder Wei soltou os cabelos do filho e vendo que ele estava atordoado graças ao soco, sentiu-se melhor, mas não satisfeito. Então, assim que Wei Huli levantou seu rosto para ver seu pai diante de si, o líder teve uma atitude macabra. Deu-lhe um chute na barriga e como Wei Ming tinha uma força imensa pelo seu cultivo, o golpe na barriga de seu filho fez com que o mesmo jorrasse sangue pelos lábios, deixando sua garganta ardendo.
Ao ver aquela cena, Fai Chen tremia e ainda ajoelhado, gritava para o líder Wei Ming:
"LÍDER WEI, POR FAVOR, ME ESPANQUE. NÃO MACHUQUE HULI. ME MACHUQUE, MAS POR FAVOR, NÃO TOQUE NELE. POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR!"
Wei Ming, ao ouvir aquela súplica diante de seus ouvidos, sentiu-se vitorioso. Então, sem questionar ou esperar seu filho dizer algo, deixou-o de lado e foi até Fai Chen, abaixando seu corpo para ficar à altura do jovem baixo e tocou de leve sua bochecha, agora marcada pelas lágrimas que corriam.
"Fai Chen, estou decepcionado. Nesse tempo que trabalhou para mim, você não aprendeu a manter a boca fechada? O que você deseja? Ficar igual ao meu guerreiro que te protegeu certa vez? Sem língua?"
Fai Chen não ousou abrir mais a boca, porém, as lágrimas se espalhavam ainda mais depressa pelo seu rosto, já tão despedaçado e agora mais ainda. Ele jamais desejou nascer com aquele dom e ser usado daquela maneira e muito menos levar outros para o mesmo caminho que o destino havia preparado para si. Uma longa caminhada de dor e tortura.
"F-Fai Chen...", Wei Huli voltou a dizer, deitado no chão com sangue saindo de sua boca, porém, ainda tentando pronunciar o nome de seu amigo querido. "P-Pai... Deixe-o em paz..."
O líder Wei virou-se para seu filho, suspirando forte e dessa vez, expressando pela primeira vez depois de tantos anos um ar de compreensão pelo desejo do filho.
"Eu vim procurá-lo justamente por isso. O acordo com o líder Fai já acabou e um de meus subordinados ia finalmente levá-lo de volta para nunca mais retornar. Porém, ver meu precioso filho caindo na armadilha de Fai Chen tão facilmente me fez perder o controle. "
"Armadilha? Pai... Ele nunca..."
"Nunca acreditou em você. O que foi, querido? Acha que se ele acreditasse, continuaria não olhando para você? Oh, criança. Você realmente tem que começar a ver a maldade no mundo."
Fai Chen estava tão transtornado que mal conseguia ter palavras para responder a declaração sem sentido do líder Wei, porém, Wei Huli com um sorriso no rosto e fechando seus olhos disse antes de desmaiar de tanta dor:
"ChenChen apenas... Tinha medo... E-Eu não o culpo... Jamais o culparei por nunca me olhar...", e assim o jovem desmaiou, deixando Fai Chen e Wei Ming.
O mais velho, já farto daquela situação, puxou Fai Chen pelo braço, levantando-o e seguindo para fora do quarto, querendo levar o garoto para fora do seu clã o mais rápido possível. Nessa rapidez toda, a flor da ameixeira que Wei Huli tinha posto nos fios de cabelo de Fai Chen caiu na frente da porta do quarto.
E essa flor de ameixeira, que foi dada com tanto carinho para Fai Chen, tornou-se por um tempo a última flor de ameixeira que ele um dia viu e que sentiu como se pudesse realmente ter uma nova vida.
A mente do cultivador, por ter trazido essas memórias, fez com que o mesmo se sentisse extremamente mal, porém ele não deveria expressar esse sentimento.
"Não enxergo seus olhos... Está vendado? Espera, é o jovem das águas termais? ", o mais alto, no caso, Wei Huli, voltou a perguntar para o homem a sua frente, que pensava em fugir dessa conversa, porém, como sempre, o Jovem Mestre Wei foi observador e tinha uma memória invejável.
"É mesmo...", Fai Chen murmurou, não querendo prolongar o assunto e desejando esquecer o que acabara de lembrar, para que não começasse a lacrimejar e deixasse sua venda úmida.
"Fico contente que nos encontramos novamente. Está gostando do festival?", Wei Huli perguntou, soltando o braço de Fai Chen e sorrindo gentilmente, ansioso para a opinião do outro que, em sua cabeça, parecia ser um jovem bastante intelectual, habilidoso e de uma classe alta graças às roupas.
"Estou. O festival está muito bonito", Fai Chen respondeu, mordendo os lábios um pouco nervoso, mas logo, juntando o que sempre quis falar para Wei Huli, disse com um sorriso leve no rosto: "Você se tornará um líder muito bom. Desejo-lhe todo sucesso no mundo, Jovem Mestre Wei."
Ao ouvir tais palavras de agrado, o jovem um pouco mais alto soltou uma pequena risada que, nos ouvidos de Fai Chen, era nostálgica.
"Creio que se me conhecesse melhor, não desejaria uma coisa dessas...", um ar sombrio foi gerado de repente entre os homens, deixando Fai Chen um pouco arrepiado por escutar tal frase, que jamais pensaria um dia ouvir sair dos lábios de seu antigo conhecido. "Mas, estou grato ao Jovem Mestre... Oh, como devo chamá-lo?"
Parecia que milhões de borboletas estavam no estômago de Fai Chen e por um breve momento queria dizer de uma vez por todas que seu nome era "Fai Yongliang e seu nome de nascimento Fai Chen". Porém, altas risadas do lado de fora da sala atingiram os ouvidos de ambos os homens, deixando-os curiosos.
Ao mesmo tempo que Fai Chen estava curioso para saber o porquê de risadas tão barulhentas, sabia bem de quem era as tais. E assim que Wei Huli abriu a porta da sala e os dois saíram da mesma, o cultivador tinha ainda mais certeza do que se passava a poucos centímetros a sua frente. Hu Long estava rindo e ainda, brindando com outras mulheres.
Wei Huli soltou um suspiro, aliviado em ver mulheres se divertindo, mas Fai Chen não tinha esse mesmo sentimento, pois a partir do momento que deixou o homem de cabelos cinzas de lado e foi em direção para onde estava ouvindo as risadas de Hu Long, chegou bem no momento que o deixara sem palavras.
"Senhorita Hu, então seu marido é o passivo? Como assim? Nos explique melhor! ", uma voz feminina fina percorreu até os ouvidos de Fai Chen, fazendo o mesmo ferver de ansiedade para entender exatamente o que Hu Long estava dizendo sobre ele.
"Senhorita Jin, meu marido é extremamente passivo! Desde nossa noite de núpcias ele mostrou ser assim e eu, como uma boa companheira para sua eterna vida, concordei com aquela atitude tão adorável! Juro para vocês, ele senta de um jeito no meu colo... Nossa! Só de falar, já me tira o folêgo...", Hu Long respondia, com um tom de voz meio cansado e não ligando para caso as pessoas percebessem que sua voz era claramente a de um homem. Fai Chen logo deduziu o porquê de estar assim e falando besteiras na frente de outras mulheres.
Hu Long estava bêbado.
"É mesmo? Senhorita Hu sabe controlar seu marido... Que inveja! ", a voz anterior mencionou, fazendo com que outras mulheres rissem do seu comentário e algumas concordando com tal.
"Meu marido gosta da minha audácia, eu tenho certeza disso e..."
"Acho que você já bebeu demais", Fai Chen entrou na conversa, erguendo sua mão para onde Hu Long provavelmente estava sentado e o puxando pelo colarinho da vestimenta. "Está na hora de voltarmos."
"Cegueta, você já voltou? Eu estava me divertindo tanto...", Hu Long respondeu ao cultivador, em uma voz manhosa e dessa vez, sem esperar, jogou-se nos braços do mesmo. "Me leve para casa no colinho!"
"Se continuar falando besteiras, irei calar os seus lábios."
Um silêncio entre as mulheres por perto emergiu graças ao comentário vindo de Fai Chen. Porém, em segundos, algumas voltaram a dizer e com um tom de surpresa.
"O Senhor Hu é tão agressivo..."
"A Senhorita Hu deve dar muito trabalho! Não viu como ela falou publicamente sobre sua noite de núpcias?"
Fai Chen puxou com mais força o colarinho de Hu Long, que estava um pouco molhado, graças a algumas gotas de alguma bebida que havia tomado com as mulheres, que agora aparentemente estavam começando a fofocar sobre os dois à frente delas. O cultivador soltou um suspiro desajeitado, sentindo que se arrependeria profundamente no futuro por isso.
Pegou Hu Long nos braços e colocou-o em suas costas, de um jeito confortável e que não levantasse muitas suspeitas que Hu Long fosse um homem. Sem etiqueta, Fai Chen correu para fora do salão e obviamente da Lagoa das Estrelas.
"Cegueta, você é muito forte."
"Hu Zhuang, pare com bobagens. Preciso achar um lugar para cuidar de você e...", antes que terminasse de falar, Fai Chen recordou-se de Xiao Yan e sua loja de costura. "Está bem. Acho que sei onde podemos ir, mas não fale alto."
"CEGUETA, EU NÃO FALO ALTO!", uma risada foi escutada bem rente a orelha de Fai Chen, deixando-o com um pouco de dor de cabeça.
Seria uma noite agitada.
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- ale yang on -
Desculpem pelos capítulos longos... Tentei o meu melhor para deixar os dados do festival bem claros.
O próximo capítulo vai render certas emoções bem complicadas no corpo de Fai Chen. Oh céus! Torçam por esse jovem a flor da pele.
Muito obrigada por todo o apoio! Não se esqueçam de votar e comentar, isso ajuda muito!
Até sexta-feira!