Janeiro chegou trazendo promessa de felicidade para o casal. Eles estavam muito felizes e tudo parecia perfeito em suas vidas.
Anthony voltou para Londres e marcou um encontro com Anne no casarão.
"Eu vou com você" Robert disse.
"Nem pensar! Não confia em mim!?" ela respondeu irritada.
"Claro que confio" ele disse a puxando pela cintura "Eu não confio nele" disse sorrindo a beijando.
Anne não conseguia ficar irritada com ele e sorrindo correspondeu ao beijo. "É sério Rob, eu não quero você me vigiando o tempo todo. O que eu mais gosto do século XXI é a liberdade" ela disse entre beijos.
"Eu sei, me desculpa" disse suspirando. "Você está certa".
Se abraçaram e então ela saiu o deixando em casa desolado. Passaram tantos dias sozinhos que voltar a realidade doía. Ele respirou fundo como se sentisse dor no peito.
Nunca sentiu isso antes e isso o assustou. Essa necessidade de ficar com ela era quase física. Ela mal saiu e ele já sentia sua falta.
Na rua Anne andava pensando em Robert. Sorria lembrando de seu ciúmes mas ela não suportaria ser vigiada como ela seria na era vitoriana.
Suspirou pensando como ser possível já sentir tanta saudade.
Chegou e já viu Anthony na recepção conversando com Debbie. Ela não reparou antes, mas agora ela via como as mulheres reagiam à sua presença.
Elas se insinuavam, sorriam afetadamente. Ele parecia não reparar em nenhuma delas, simplesmente passava e as cumprimentava educadamente. Viu Anne e seu rosto se iluminou.
"Anne!" disse balançando as mãos, como se ela não o tivesse visto. Era impossível não notar sua presença.
"Anthony! Fez boa viagem?" ela chegou perto dele o cumprimentando.
"Sim, obrigado" disse a levando para o escritório "Trouxe algumas coisas para você ver".
"Sério?! Estou curiosa!".
Debbie levou chá para eles no escritório e fechou a porta. "Me conta.. como começou a namorar?" ele pediu quando ficaram sozinhos.
"Mmm.. Eu já estava apaixonada por ele, o dono da casa onde moro, mas eu não sabia como lidar com esse sentimento. Mas agora está tudo bem entre nós" respondeu corando. Tomou um gole de chá e sorriu para Anthony.
Ele fervia por dentro. Aquele era seu papel. "Mas tudo bem, adoro um desafio" pensou enquanto sorria para Anne.
"Fico muito feliz por você e desejo do fundo do meu coração que possamos ser amigos" ele disse pegando em suas mãos e ela assentiu.
Então ele pegou uma pasta e mostrou alguns documentos para Anne. "Eu encontrei algumas coisas aqui nessa casa, quando era jovem" ele disse.
"Meus irmãos e eu gostávamos de explorar a casa, talvez eles tenham encontrado alguns tesouros também" disse rindo, fazendo Anne acreditar que os diários poderiam estar com os irmãos, ao invés dele.
Ela sorriu e pegou os papéis. Eram documentos assinados por Samantha e Christopher, como certidão de casamento, certidão de nascimento de Peter, o filho deles.
Ela estava emocionada em ver aquilo. Ela estava presente quando eles assinaram seus nomes na cerimônia de casamento. Lembrou que queria para si um relacionamento feliz como aquele e agora ela tinha.
Suspirou sonhadora e passou para o próximo documento. Anthony a observava, queria captar cada emoção.
As mãos dela tremeram lendo a certidão de nascimento de Anne Birdwhistle Pusset, filha de sua irmã com Noah. "Ohhh.." ela murmurou e deixou as lágrimas rolarem.
"Oh Anne, está tudo bem?" Anthony disse lhe entregando um lenço. Ela agradeceu e chorou.
Não queria se descontrolar daquele jeito, mas saber que sua irmã teve uma filha e colocou seu nome em homenagem, foi demais para ela.
"Desculpe" ela finalmente disse enxugando as lágrimas. "Foi emocionante saber de onde veio meu nome" inventou.
Anthony pegou em suas mãos e fez carinho "Sim.. Por isso fiquei surpreso quando soube seu nome completo" ele respondeu carinhosamente.
"Obrigada!" ela disse fungando "Obrigada por esse momento". Olhou os outros papéis e encontrou recortes de jornal, com o obituário de seus pais.
"Ohhh Anthony" ela disse o olhando. Ele a observava, queria que ela contasse seu segredo, talvez esse fosse o momento.
Ele sentou mais próximo à ela e a abraçou. Ela apoiou a cabeça em seu ombro e chorou copiosamente. Ele passava as mãos em seus cabelos tentando a acalmar.
"Shiiii.. Fica calma, estou aqui" ele dizia fazendo carinho nela. Ela tentava enxugar as lágrimas, mas era impossível no momento.
Sabia que tinha ocorrido há muito tempo, mas pra ela foi um baque. Queria muito saber se eles foram felizes após seu sumiço. "Será que morreram de desgosto?" ela pensava. "Será que os fiz sofrer muito?".
Se martirizou e chorou agarrada ao obituário. Levantou a cabeça e olhou para Anthony que parecia preocupado com ela. "Desculpa" ela murmurou e ele disse que estava tudo bem, enquanto passava os dedos suavemente pelo seu rosto.
Ela não teve forças para recusar seu toque e para sua surpresa, ela se sentiu protegida ali em seus braços também. Ele a beijou na testa e arrumou uma mecha de cabelo para trás da orelha.
"Está se sentindo melhor agora que chorou?" ele sussurrou e ela balançou a cabeça positivamente.
"Por que isso aconteceu Anne, por que isso mexeu tanto com você?" ele perguntou segurando suas mãos.
Ela suspirou e resolveu que teria que contar seu segredo. Ela não sabia mais o que inventar e sentia que podia confiar nele.
"Anthony.." ela disse incerta.
"Anne, você pode confiar em mim" ele disse a incentivando.
"Eu sei.." ela sussurrou. "Mas tenho medo que você não acredite".
"Me conta e então veremos como eu reagirei" disse sorrindo e ela então contou tudo.
Fez um resumo de seu último dia em 1885, e contou como apareceu naquela praça e como Robert a encontrou e a ajudou.
Anthony se martirizou por dentro, era pra ele ter a encontrado, mas ele não sabia onde ela tinha aparecido e a data exatamente. "Ela se apaixonou por esse cara porque ele a ajudou, não é amor de verdade" pensou.
"Wow, essa é uma história e tanto" disse se levantando passando as mãos pelo cabelo. "Seu namorado sabe disso?" perguntou.
"Sabe.. Ele não acreditou no começo, mas depois viu que minha história batia com as informações que encontramos na Internet" ela respondeu.
"Entendo.. É realmente algo extraordinário para ser digerido assim tão rápido" disse sentando-se ao seu lado.
"Eu não sei como te provar.. Mas peço por favor, não conta pra ninguém!".
"Claro, não contarei.. E acredito em você. Sei que posso confiar em você" ele disse sorrindo e ela sorriu aliviada.
"Então você já esteve aqui antes? Nessa casa?".
"Sim.. O quarto que preservou, era o quarto de Samantha, antes de se casar" ela disse emocionada e ele a ouvia com olhos marejados.
"Eu a ajudei no dia de seu casamento, junto com mamãe e Rose. E estávamos lá naquele quarto.. Ela estava linda e muito feliz, faziam um lindo casal".
"Me conta mais!!" ele disse e ela percebeu o quanto aquilo o emocionava também. "Você está com os olhos marejados Anthony" ela disse enxugando uma lágrima que rolou em seu rosto.
Ele segurou sua mão, que o tocava tão carinhosamente e a beijou. "Sim.. Amo essa casa e sua história, você está dando vida à tudo isso e é emocionante, obrigada" ele sussurrou e ela suspirou enternecida.
"Samantha levou um celular com ela, você não o encontrou?" ela perguntou depois que eles se recomporam.
"Mmm.. Não, será que ainda está escondido por aqui?" ele disse levantando a sobrancelhas a deixando animada para a possível descoberta.
"Será?!" ela dizia animada "Você fez alguma reforma?".
"Nada na estrutura, somente pintura etc" ele disse "A casa sempre foi muito conservada".
"Será que seus pais sabiam dessa história?".
"Pode ser.. Isso faria sentido, pois eles não moravam aqui, mas nunca descuidaram dessa casa, passando essa paixão para mim" disse sorrindo dando de ombros.
"Samantha fazia um diário também, para ser entregue à sua família e eu gostaria de fazer isso por ela".
"Sério?!" ele exclamou "Isso é incrível! Será que está na biblioteca?".
"Não sei.. Se seus pais sabiam da história, talvez eles tenham guardado isso em algum outro lugar" ela sugeriu.
"Oh.. Sim.. Eles iam muito a nossa casa no campo, talvez esteja lá!".
Anne bateu palmas empolgada e ele sorriu a observando. Já tinha lido sobre isso no livro de Rose, de vez em quando ela escrevia que imagina a irmã fazendo isso, sabendo das novidades.
Ele queria muito a beijar e cuidar dela. Anne era adorável e ele estava mais apaixonado do que nunca. Dividir aquela emoção com ela só estreitou os laços ainda mais.
"Anne.. Posso te perguntar uma coisa?".
"Claro".
"Você realmente gosta da minha companhia ou só está aqui comigo por causa de tudo isso?" perguntou com semblante triste.
"Não.. Eu nunca faria isso!" ela disse tocando seu rosto. "É claro que gosto de você e estou me sentindo melhor agora que pude dividir meu segredo com você".
Ele beijou sua mão novamente e assentiu. Suspirou e disse que procuraria aos poucos os tesouros perdidos.
"Tenho um compromisso daqui a pouco" ele disse se levantando. Ela se levantou também "Claro.. Preciso voltar também, nem vi a hora passar".
"Posso te dar um abraço?" ele perguntou e ela abriu os braços em resposta. Ele a abraçou a sentiu o perfume de seus cabelos.
Beijou sua testa e ficaram bem perto se olhando. "Obrigado Anne" ele sussurrou e ela sorriu agradecendo também. Ele passou as mãos pelo seu rosto, suspirou e se afastou.
Confusa, com tantos sentimentos que vieram à tona, ela voltou para sua casa.