CINCO
S.M.
Depois do fiasco que foi com Stiles após o treino de Lacrosse. Eu havia voltado pra casa, passei o dia inteiro praticamente deitado, pensando sobre isso. Não conseguia acreditar que depois de todas as coisas que deram errado, Stiles ainda estava do meu lado, e acreditando em mim, e melhor ainda, me ajudando.
— Psiu. Late trocou comigo outra vez. — Ouço a voz de minha mãe, o que me faz levantar a cabeça e olhar a mesma, ela já estava com seu uniforme do hospital, dou um sorriso fraco para ela. — Mas, eu vou folgar no sábado pra ver seu jogo.
— Não, mãe, você não pode.
— Eu posso e eu vou. — Ela adentra o quarto, dando um enorme sorriso pra mim. — Um turno a menos não vai fazer diferença... Não muita. — Fico em silêncio, e meu coração acelera quando ela volta a falar. — Ei, o que tem de errado com seus olhos? — me levanto rapidamente, pensando que era alguma coisa relacionado ao que me transformei recentemente. — Parece que não tem dormido por dias.
— Não é nada. — Respiro fundo, sentindo meus músculos relaxarem. — É só estresse.
— Só estresse? — Ela me olha desconfiada, e eu respiro fundo. — Nada mais? Não tá se drogando, né?
— Agora?
— Agora? Desculpa, o que quer dizer com "agora"? — Ela pergunta me olhando torto, respiro fundo encarando a mesma sem dizer uma palavra. — Você já se drogou?
— Você já? — Digo quase sussurrando, a mesma ordena que eu durma um pouco, respiro pesadamente, me sentando na cama ouvindo meu computador apitar, indicando que havia uma chamada, não demoro para ir até o computador, e ver que era Stiles ligando, me sento na cadeira para atender. Consigo ver logo de cara, seus olhos azuis claros, tampados por uma arma de brinquedo, a mesma sorri, deixando a arma de lado. — O que você descobriu?
— Bom, é bem ruim. — Ela começa a explicar, mesmo antes dela começar eu me sinto arrependido, nunca cheguei a pedir desculpas para ela, foi tudo um fiasco desde aquele treino. — Jackson quebrou o ombro.
— Por minha causa? — Digo encarando a tela, Stiles me dá um sorriso torto, como se indicasse que era mais ou menos aquilo, mas não me diria.
— Bom, porque ele é um jogador. — Pergunto rapidamente se ele iria jogar no sábado, e Stiles me olha com uma careta no rosto. — Não sabem ainda. Meio que estão contando com você pra jogar no sábado. — Respiro fundo, que merda, não consigo acreditar nisso, Stiles tinha razão, mas eu iria precisar jogar no sábado, eu machuquei Jackson, e tinha que arcar com as consequências. Quando volto meu olhar para a tela do computador, Stilinski estava mais próxima da câmera, o que me fez estranhar, ela encarava fixamente sua tela, me deixando confuso.
— O quê? — Abro o chat, vendo que a mesma agora conversava por lá.
s.s. — Parece que...
— Parece com o quê? — Solto observando o chat, e logo voltando meu olhar para a tela, vendo a imagem de Stiles travando conforme a mesma se mexia. Clico em algumas telas, vendo se descongela a tela dela, respiro fundo, vendo a outra mensagem que ela manda.
s.s. — Que tem alguém atrás de você.
Me assusto com a mensagem, empurrando o computador e me levantando, olhando para trás. A figura me intercepta antes que eu possa fazer alguma coisa, tento lutar, mas o mesmo me empurra contra a parede, me prendendo ali, eu consigo identificar ele rapidamente, Derek Hale.
— Vi você no campo. — Respiro fundo, nervoso, tentando olhar o mesmo, não tendo sucesso.
— Do que você tá falando? — Respondo desesperado, sinto meu rosto ficando cada vez mais gelado, seguindo a temperatura da parede, a essa altura, a ligação com Stiles havia se encerrado, não entendendo o motivo, tento me focar na "ameaça" presente em meu quarto.
— Você se transformou na frente deles. — Ele faz mais força, sinto minha cabeça doer com a quantidade de força que ele usava pra me manter na parede. — Se souberem de você, saberão sobre mim. Sobre todos nós. — Fecho meus olhos, tentando controlar minha respiração. — E não serão só os caçadores nos procurando, serão todos.
— Eles não virão nada, eu juro! — Digo rapidamente, o mesmo toma uma respiração pesada, ainda me mantendo na parede.
— E não vão! — Abro meus olhos novamente, sentindo o mesmo se aproximar do meu ouvido, em um tom ameaçador. — Por se tentar jogar no sábado... Ou chegar perto de atacar a Stiles novamente... Vou mata-lo. — Ele se afasta de mim rapidamente, e em um piscar de olhos, saí pela janela do meu quarto, respiro fundo, ficando sozinho novamente, e me questionando, por que ele se importa com Stiles?
s.s.
Olho Scott chamando o treinador de lado. Esse era o momento de desistir do sonho de ser jogador de Lacrosse, e eu nem imagino o quão difícil isso ia ser para ele, e ao julgar o olhar torto e o sorriso de desdém que o treinador Finstock dirigiu a ele, sabia que não estava dando nenhum pouco certo.
Me apoio na parede, vendo os dois se aproximarem do escritório do treinador. Eu tinha muita coisa na minha cabeça, e por mais que quisesse ajudar naquele momento, sabia que Scott teria que ser o que faria isso, especialmente depois do evento da última noite. Eu não consegui acreditar quando Scott me contou, e não deixei de fazer a mesma pergunta que rondou o resto da noite de Scott, por que Derek Hale se importava comigo?
— Como assim, não poderá jogar amanhã? — Levanto meu olhar para os dois, a porta do escritório é aberta, e a próxima coisa que vejo é o treinador me lançar um olhar que dizia "você consegue acreditar nisso?", dou de ombros pra ele, que sinaliza para eu acompanha-los no escritório.
— Não posso jogar amanhã. — Fico do lado da porta, Scott se aproxima do treinador, que agora sentava na mesa, tudo que eu consigo ver é a expressão do treinador e o bastão de Lacrosse na bolsa de Scott.
— Você não pode esperar para jogar amanhã. — O treinador cruza os braços, dando um sorriso torto para McCall.
— Não, treinador, não posso jogar amanhã. — Ouço a voz do meu melhor amigo tentar novamente, era baixa e fraca, como se tivesse medo que o outro não fosse aceitar sua decisão.
— Não tô te acompanhando. — Treinador me olhar torto, exigindo uma explicação, Scott lança um olhar para mim, como se quisesse que eu inventasse uma desculpa para ele.
— Hm... Ele tá com alguns problemas pessoais. — Digo ajeitando o blusão de lã que usava, treinador respira fundo, voltando seu olhar para Scott.
— É uma garota? — McCall balança a cabeça, depois de falar que não, treinador o olha sério. — É um garoto? — Antes de Scott conseguir responder, o mesmo continua. — Sabe, nosso goleiro, Danny, é gay.
— Sim, eu sei, mas não é isso.
— Não acha que Danny é um... Cara boa pinta? — Ele responde, olhando Scott atravessado, seguro o sorriso que se forma em meus lábios. Isso não ia dar em nada.
— Ele é sim, mas isso não... — Scott se atrapalha. — Mas eu gosto de garoas. E não se trata disso. — É a minha vez de receber um olhar atravessado do treinador, faço uma careta, e balanço a cabeça negativamente, achando que ele falaria sobre eu ser o problema, até que ele solta.
— São drogas? — Olho pra ele confusa. — Ele tá usando metanfetamina? Porque tive um irmão viciado. Precisava ver seus dentes. — Scott troca olhares comigo, e eu finalmente fico ao seu lado, olhando o treinador aproximar as mãos da boca, ainda descrevendo os dentes de seu irmão. — Estavam rachados e podres. Era nojento.
— Meu deus. — Digo, sendo seguida por Scott.
— O que aconteceu com ele? — Scott pergunta, e treinador responde como se fosse a coisa mais normal do mundo, pelo menos, no mundo dele.
— Ele fez tratamento. — Olho para o chão, ajeitando a mochila em meu ombro, isso definitivamente não ia dar em nada. — É sobre isso? Está com medo de se machucar, McCall?
— Não, estou... Tendo alguns problemas com agressão. — Reviro os olhos, muito problemas com agressão diga-se de passagem.
— Bem, aqui tá a boa notícia: é por isso que joga Lacrosse. — Ele me olha com um enorme sorriso. — Problema resolvido.
— Treinador, não posso jogar amanhã.
— Escuta, McCall, parte de ser titular, é ter a responsabilidade de ser um. — Dou um passo para trás, vendo o mesmo ficar de frente pra Scott. — Agora, se não pode ter essa responsabilidade, ficará no banco até estar pronto.
— Se eu não jogar, não serei mais titular? — É, pelo olhar que Scott tinha, eu sabia que essa tentativa inteira tinha ido por água abaixo.
— McCall, jogue o jogo.
Saímos de lá, sem falar mais uma palavra. Fiquei quieta por um tempo, não querendo importuná-lo com mais umas 7 mil perguntas sobre por que Derek havia ameaçado Scott, por minha causa. Muitas coisas estavam sendo por minha causa ultimamente, começando pela noite que Scott foi mordido.
Passar por pelo menos quatro aulas do período foi fácil. Saio da sala conversando com Erica Reyes, ela é minha colega de sala em praticamente todas as aulas, sou próxima dela desde que éramos crianças, bom, era próxima, minha mãe era amiga do pai dele, se conheceram no ensino médio, e nossa amizade se deu por eles. Erica sempre teve problemas por causa da epilepsia, sempre que eu podia ajudar eu tentava, ela se afastou muito de mim depois que começou a tomar sua medicação, dizendo que não queria andar comigo por se achar feia, por causa da acne e do peso que havia ganhado com os remédios.
Eu sinto falta das noites que ela ia pra minha casa. Acho que muitas coisas mudaram depois que minha mãe morreu. Digo um tchau rápido pra Erica, a mesma me informa que viu meu pai na escola indo pra aula que estávamos, meu sorriso desaparece quando vejo o mesmo adentrar a escola com o diretor poucos segundos depois, procuro através do corredor, vendo Scott em seu armário. Me aproximo dele correndo, puxando o mesmo.
— Vem aqui. — Scott solta um "o quê", enquanto tenta entender onde estou levando ele, paramos próximo ao outro lado de onde estávamos, perto dos armários, dando a visão perfeita pro meu pai e o diretor. — Me fala o que eles sobre o que eles tão falando. — Scott fica em silêncio, e tudo que eu posso fazer é observar meu pai e o outro oficial, me viro para Scott novamente. — Pode ouvi-los? — Ele me olha com raiva, e isso significa que eu preciso ficar quieta e esperar.
— Toque de recolher por causa do corpo. — Ele me responde, respiro fundo olhando Scott.
— Inacreditável. — Não sabia ao certo como me sentir sobre Derek Hale ainda, ele era uma ameaça? Realmente queria nos ajudar? Não posso deixar de sentir a irritação no lugar que estava cortado em meu pescoço, ainda não tinha cicatrizado. — Meu pai tá procurando um animal violento, enquanto o babaca que matou a garota tá livre, fazendo o que ele quer.
— Bom, não pode contar sobre o Derek para o seu pai. — Ele me diz, eu concordo com a cabeça, respirando fundo.
— Posso fazer algo. — Ele me olha, sem paciência, não entendendo nada.
— Como o quê?
— Achar a outra metade do corpo. — Saio dali no mesmo instante, indo até meu armário, não ia deixar o mesmo protestar comigo sobre Deus sabe o que agora.
Só iriamos ter certeza realmente se fossemos atrás. Não tínhamos em quem confiar além de nós, e o jeito que Hale interceptou Scott na outra noite, era motivo suficiente para saber que o cara era perigoso querendo ajudar ou não. Respiro fundo, guardando alguns livros no armário, dou um sorriso de leve, vendo a foto com meu pai na porta do armário, logo fechando ele. Olho para trás, vendo Allison se afastar de Scott, o mesmo parecia irritado, me aproximo dele, tocando em seu ombro.
— Você precisa me levar até a antiga casa dos Hale. — Olho torto para o mesmo, sem entender, ele sem dizer mais nada, segura meu braço e saindo da escola. Seria mais um dia longo.