{PT} Brianna and John's Thing...

By skeltonberry

4.6K 385 7.2K

{OUTLANDER MODERN AU} • Brianna Fraser é a garota perfeita em todos os sentidos: filha exemplar, aluna refere... More

PRÓLOGO
1. W 86TH STREET STATION
2. DIAS DE LUTA, DIAS DE DERROTA
3. ILUSÕES E DESILUSÕES
4. AMIGOS
5. BURN, BABY, BURN
6. FLERTE INOFENSIVO
7. RETRATO DE FAMÍLIA
8. SOBRE HOMENS E TERNOS
9. JUÍZO FINAL
10. UMA BENÇÃO DISFARÇADA
11. ISSO NÃO É UM ENCONTRO
12. PROPOSTAS INDECENTES
13. LINHA TÊNUE
14. DE JOELHOS
15. TERMOS E CONDIÇÕES
17. DESAMPARADA
18. MEDIDAS DESESPERADAS
19. DECISÕES, DECISÕES
20. ALGO VELHO, ALGO NOVO, ALGO EMPRESTADO, ALGO AZUL
21. CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS E REVELAÇÕES
22. BRINCANDO COM FOGO
23. SURPRESA
24. ESTE SOU EU TENTANDO
25. COMO O GRINCH ROUBOU O NATAL
26. A QUEDA DE ÍCARO
27. FINS E COMEÇOS
28. MINTA PARA MIM
29. TARDE DEMAIS
30. EXORCISMO
31. O MEU ERRO
32. VIENNA
EPÍLOGO 1
EPÍLOGO 2

16. MUDANÇAS NECESSÁRIAS

141 10 370
By skeltonberry

JOHN


John nunca tivera muitas convicções em todos os seus vinte e seis anos de vida e, ainda assim, ele tinha certeza de uma coisa: Brianna Fraser era louca. Doida, delirante, desvairada, maluca, insana, maníaca, lunática, desajuizada, biruta e definitivamente desequilibrada. Ele não possuía vocabulário suficiente — em nenhum dos idiomas que falava — para descrever o quão desacreditado ele estava com aquela conversa que eles haviam acabado de ter.

Casamento. Havia uma força quase sobrenatural ao redor daquela palavra, algo forte o bastante para fazê-lo piscar, atônito, enquanto reprisava todas as suas decisões que o haviam colocado naquela situação. Deus, ele havia concordado se casar com aquela garota que ele mal conhecia para conseguir um visto permanente no país que ele escolhera como seu lar. Talvez ele fosse tão emocionalmente desequilibrado quanto ela.

— Por que você está brava comigo? — a voz de Marsali o fez erguer a cabeça. O som veio do quarto de Denny, mas Lizzie parecia ocupada demais no seu celular para notar o tom irritado da jovem. Denzell não havia saído do banheiro ainda e John duvidava aquilo fosse acontecer tão cedo. — Isso é ridículo, Bree!

— Hm... Lizzie? — John chamou, fazendo-a se ajeitar no sofá e dar de ombros, sem tirar os olhos da tela do telefone.

— Sente-se, querido — ela sugeriu. — As coisas vão ficar bem interessantes.

— Nós não somos adolescentes, pelo amor de Deus! — Marsali parecia ligeiramente irritada.

— Eu não estou brava — retrucou Brianna, soando bem brava. — Só quero saber o motivo de você ter mantido isso em segredo.

— Bree descobriu que Marsali está transando com o Fergus — contou-lhe Lizzie.

— Marsali está transando com Fergus?

— E dá para culpá-la?

Definitivamente não.

— Eu não escondi nada — a porta do quarto estava aberta e John conseguia ouvir com clareza o tom que Marsali estava usando. Ele franziu o cenho, surpreso que alguém tivesse coragem de responder Brianna daquela forma. — Independente de sermos amigas, eu tenho o direito de ter privacidade e de não querer compartilhar todos os detalhes da minha vida sexual.

Brianna riu, sem o menor traço de humor no ato.

— Você está se ouvindo? — indagou ela. — Esse não é um dos seus casinhos com os idiotas que você conheceu em uma balada, Marsali. É o meu irmão! Eu sei mais detalhes sobre a sua vida sexual do que a sua ginecologista, então não me venha com esse papinho de que você tem o direito de manter isso em segredo. Você não me contou sobre Fergus porque você sabia que... isso é uma ideia estúpida!

Willie começou a latir, irritado com as vozes alteradas perturbando sua soneca. Denny agarrou aquela deixa como se fosse um bote salva vidas deslizou para fora do banheiro, caminhando em direção à gaveta onde eles mantinham as coisas do cachorro. Rápido como uma bala, ele pegou a coleira de Willie o levou para fora, murmurando alguma coisa sobre levá-lo para passear enquanto a bola de pelos endemoniada grunhia e tentava morder o seu calcanhar.

— Perdão, eu acabei de acordar. O que diabos você quer dizer com "isso"? — se sarcasmo tivesse um som específico, esse som seria a voz de Marsali. — Nós estamos fodendo, Brianna. Não precisa se preocupar, não tenho planos de ser a sua cunhada.

— Nós não deveríamos fazer alguma coisa? — ele perguntou baixinho.

— Não — respondeu Lizzie. — Bree fica mal-humorada quando acorda e a Mars também. Adicione uma pitada de ressaca, segredos e um homem gostoso e você tem a receita certa para o início do Ragnarök.

— Você salvou o contato dele com um emoji coração, Marsali — a voz das duas pareceu ficar mais perto da porta, fazendo John se empertigar e olhar teatralmente pela janela como se não estivesse com toda a sua atenção focada na Terceira Guerra Mundial que havia se iniciado em seu apartamento. As vozes das duas garotas, frias e cheias de irritação, pareciam soar como as trombetas do Apocalipse. — Eu não sou burra.

— Isso não é sobre você! — Marsali passou pela porta, parando no pequeno corredor e girando nos calcanhares para continuar seu argumento. Ela estava sem sapatos e seu cabelo loiro parecia ter sido transformado em um ninho de pássaros. — E já que estamos falando sobre isso: eu sei que pode ser um choque, mas nem tudo precisa ser sobre você. Eu não te contei porque Fergus disse que você ficaria irritada se soubesse. Eu o desencorajei todas as vezes que ele tentou flertar comigo e ele concordou que não deveríamos fazer nada sem falar com você antes, mas nós queríamos muito... Enfim, aconteceu. Em nenhum momento eu quis fazer as coisas pela suas costas, mas finalmente percebi o quão infantil você estava sendo.

Eu? Eu estou sendo infantil? Você quem está fazendo sexo escondida como se fosse uma adolescente.

— Bem, alguma de nós tem que fazer, certo?

De onde ele estava, fingindo prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse a discussão, John não conseguiu ver a expressão de Brianna, mas ele imaginou que a vista deveria ser assustadora.

— Você gosta dele — disparou Marsali. — É disso que essa discussão se trata, certo?

A silhueta alta e furiosa de Brianna apareceu sob o batente da porta. John já a vira furiosa em uma ou duas ocasiões, mas sempre se surpreendia com o quão reluzente ela parecia ficar quando estava coberta de ódio.

— Que nojo! Ele é meu irmão!

Seus olhos castanhos se arregalaram e ambas as garotas se viraram para Lizzie, que parecia extremamente desconfortável.

— Lizzie...

— Amiga, eu não...

— Está tudo bem — a jovem interrompeu as amigas, fazendo um gesto com a mão como se dispensasse o assunto.

Marsali se virou para Brianna novamente.

— E então? É isso? Você gosta do Fergus?

— Você tão noção do quão ridícula você está soando?

— Vocês não tem nenhuma relação de sangue...

— Ele é meu irmão — cortou-lhe Brianna, a voz dura como aço. — Eu não queria que vocês se relacionassem por sua causa. Caso não tenha notado, você tem um péssimo gosto para homens e, como qualquer um que fique no mesmo cômodo que você por cinco minutos pode perceber, você tem a tendência de odiar todos os seus ex-namorados. Eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós — ela cruzou os braços, fuzilando a loira com o olhar. — Talvez, se você não fosse tão boa em se enfiar em relacionamentos de merda...

— Quem você pensa que é para me dar lições de moral sobre relacionamento? — Marsali não era muito alta, pelo menos não tanto quanto Brianna, mas sua raiva parecia tê-la feito crescer vários centímetros. — Quer saber? Foda-se. Eu não vou ficar aqui ouvindo esse discurso imbecil.

Ela olhou ao redor, parecendo perceber a presença de John pela primeira vez. Ela murmurou um "Bom-dia" e "desculpe pelo incômodo" e perscrutou o apartamento com o olhar em busca da porta. Assim que a encontrou, ela foi em direção à saída com os sapatos, a jaqueta, a bolsa e o celular em mãos.

Antes de sair, entretanto, ela se virou para Brianna mais uma vez.

— Antes de me dar um sermão sobre meus "relacionamentos de merda" — ela tentou fazer aspas com as mãos ocupadas. — Lembre-se que você ficou com um cara que você não suportava só para agradar a sua mãe. Quem de nós duas é mais imatura, hein?


E com aquela frase de efeito, Marsali bateu a porta com força antes de sumir como um furacão loiro, deixando um rastro enorme de destruição para trás. Lizzie lançou um olhar cheio de significado para Brianna, que assentiu minimamente antes da amiga se levantar e desaparecer logo atrás da loira.

Talvez John fosse tão louco quanto Brianna, porque, quando ela disse que estava indo embora para "esfregar a cara de Fergus no asfalto quente", ele a segurou pela mão, sentindo cada célula do seu corpo implorar pelo contato com as dela. Ela estava furiosa, é claro, como sua expressão colérica demonstrava; os olhos castanhos pareciam mais escuros, os ombros tensos e a maquiagem meio borrada a deixavam semelhante à uma daquelas versões aesthetic de deusas da guerra que pareciam surgir vez ou outra no Pinterest.

— Fique — ele pediu, massageando a palma da mão dela com o polegar. — Digo, não é uma boa ideia falar com o seu irmão agora, certo?

— Por que não? — questionou ela, parecendo oscilar entre ligeiramente menos irritada e completamente transtornada. — Isso tudo é culpa dele.

— Você viu o quão bem a conversa com Marsali se desenrolou —  se olhares fossem capazes de matar, ele teria caído duro no chão bem ali, mas ele não deixou a expressão assassina de Brianna intimidá-lo. — Tentar resolver as coisas de cabeça quente não vai resolver absolutamente nada, muito pelo contrário. Fique, eu vou fazer seu café da manhã. Se, depois que você estiver de barriga cheia, você ainda quiser estrangular Fergus, eu te ajudo.

Pelas lentes grossas do seus óculos, ele viu o semblante enfezado dela desmoronar um tiquinho.

— Você me ajudaria a matar o seu empregador? — perguntou ela, deixando-o guiá-la de volta para o sofá.

— Ele é um dos meus empregadores — lembrou-lhe ele, sorrindo. — Eu tenho outros três empregos e eu nem estou contando a galeria.

— Minha família o tem na palma da mão — observou Brianna.

— Deve ser algum feromônio de vocês — concordou John.

Ele a deixou ali e foi até a cozinha, procurando algo na geladeira que não fosse restos de comida chinesa e pizza para fazer um café da manhã minimamente decente.

— Onde Lizzie foi? — perguntou ele, quebrando dois ovos na beirada da frigideira.

— Nós seríamos péssimas amigas se deixássemos Marsali sozinha e furiosa.

Ele ergueu a sobrancelha, concentrado em despejar um pouco de sal em cima dos ovos.

— Então você decidiu ficar sozinha e furiosa.

— Eu estou furiosa — concordou ela. — Mas não estou sozinha.

John deixou aquela resposta pairar entre eles e continuou focado em não queimar os ovos e fritar as fatias de bacon. Ele tinha certeza que havia uma caixa de suco de laranja no fundo da geladeira, mas também sabia que havia grandes chances da bebida ter estragado depois de tantos dias aberta. Ao invés disso, ele encheu outra caneca com mais café e passou um pouco de geléia em duas fatias de pão, colocando-as do lado do amontoado de ovos mexidos com bacon.

— Sabe — começou ele, colocando a caneca no chão ao lado dela e estendendo o prato para ela. — Nós precisamos conversar.

Brianna fez uma careta.

— Você me pediu em casamento...

— E você aceitou.

— Eu não aceitei — resmungou ele, se sentando na poltrona mais distante dela. Só Deus sabia o poder que aquela mulher tinha sobre ele e, para o bem dos dois, alguém ali tinha que pensar com clareza.

— Me lembro de você propor um casamento de verdade — comentou ela, dando uma mordida no pão com geléia. O canto de sua boca ficou ligeiramente sujo e ele lutou contra o impulso avassalador de se levantar e passar o polegar pelos seus lábios.

— Eu disse que nós deveríamos deixar as coisas acontecerem naturalmente, como você havia sugerido antes de surtar.

— Você é quente, depois é frio. É sim, depois não. Está dentro, mas depois está fora — aquela aura de irritação pareceu voltar vagarosamente ao seu semblante.

— Em primeiro lugar, não use Katy Perry contra mim — ele a repreendeu, bastante sério. — Em segundo lugar, você é louca.

— Eu estou tentando salvar o seu traseiro, idiota!

— Eu não preciso que você me salve, Bree — insistiu ele, apoiando-se nos cotovelos e afundando as mãos no rosto. — Eu não vou me casar com você só para conseguir um green card.

— Por que você está fazendo essa tempestade em copo d'água? — questionou ela, bufando de indignação.

— Contudo, eu te conheço bem o suficiente para saber que você é teimosa como uma mula e que não vai esquecer essa ideia mirabolante — ele continuou, como se não tivesse sido interrompido. — Eu me caso com você.

— Qual o truque? Só se nós nos amarmos de verdade?

Ele assentiu.

— Eu não dou a mínima para o meu visto expirado. As pessoas ficam nesse país ilegalmente por décadas, algumas até mesmo toda a vida — ele passou a mão pelos cabelos, exasperado. — Eu não vou me casar com alguém que eu não amo. Você pode estar disposta a sacrificar isso, mas eu não estou.

— Não estou — sussurrou ela depois de um longo instante de silêncio. — Disposta, eu digo. O primeiro casamento da minha mãe foi por conveniência, o segundo por amor. Eu pensei que estava disposta a sacrificar amor pela felicidade dela e... bem, e por Roger. Mas não estou. Que inferno, você tem razão.

Ele suspirou aliviado.

— Graças à Deus. Eu realmente comecei a acreditar que você era louca.

— Talvez esse seja mesmo o seu tipo — replicou ela, arqueando uma sobrancelha. — Isso não muda o fato de que você precisa de um green card e a melhor forma de conseguí-lo é se casando comigo. Podemos pedir a anulação assim que for possível e começar do zero.

Falar com Brianna Fraser era como falar com uma porta.

— Eu estou quase tentado a aceitar essa proposta absurda — disse ele, prendendo seu olhar no dela com tanta intensidade que ela respirou fundo. — Isso certamente agradaria a sua tia, deixaria sua mãe furiosa e te ensinaria a brincar com fogo, disso eu tenho certeza.

— Soa como uma ameaça — ela o desafiou.

John ponderou pelo que pareceu ser uma eternidade e por fim, quando se decidiu, ele suspirou.

— Eu me casarei com você, Brianna Fraser — disse ele. — Mas não até que eu a ame. Você disse que seria muito difícil eu não me apaixonar por você, certo? Eu te dou três meses. Encontre um loft para o Fergus. Daqui uma semana nós vamos começar a nossa vida de casados, como se fosse um test drive — explicou ele, quase rindo do quão ridículo tudo aquilo soava. — Vou me mudar para o seu apartamento e nós começaremos a fazer todos os programas de casal que você nunca fez com Roger. Se eu não me apaixonar por você até o final de Janeiro, você esquece essa ideia ridícula e nós continuamos fazendo o que estamos fazendo, sem pressa. Ou talvez a gente descubra que se odeia e que isso nunca daria certo. Eu chamo isso de um Intensivão Grey.

— E se você se apaixonar?

Ele deu de ombros.

— Então meu único empecilho não vai mais existir e nós viveremos felizes para sempre.

— Isso não é justo — reclamou ela, colocando seu café da manhã esquecido sobre o sofá. — Você vai fazer de tudo para não se apaixonar por mim.

Ele revirou os olhos.

— Essa é, sem sombra de dúvidas, uma das conversas mais idiotas que eu já tive em toda a minha vida.

— Eu falei sério.

John soltou o ar pelo nariz.

— Sua lista, então — sugeriu ele. — Vamos fazer outra. Com itens que nós dois achamos importantes. Cem coisas para se fazer antes de morrer. Nós tentaremos completá-la juntos e se até o final dos três meses de teste eu não estiver de joelhos implorando pelo seu amor...

— Eu desisto da minha ideia estúpida — completou ela, fazendo uma imitação péssima da voz dele. — Fechado.

Ela estendeu a mão, como se quisesse oficializar aquele contratado bizarro, e John a puxou do sofá para os seus braços, selando o acordo da melhor forma: com um beijo.


A ideia de refazer a lista havia parecido ótima na hora, mas se provou uma grande dor de cabeça depois de alguns minutos. Para começar, é muito difícil encontrar duas coisas para se fazer durante o final de semana, imagine só encontrar cem coisas para se fazer antes de morrer. Havia muitas coisas que ele ainda não fizera e que adoraria tentar, mas nenhuma dessas coisas parecia memorável o suficiente para entrar em uma lista.

Cansada de esperar, Brianna pegou uma caneta preta e rabiscou o topo da folha pautada, escrevendo o próprio nome ali.


Lista de Brianna Fraser de 100 coisas para fazer:


— Brianna Fraser? — resmungou John, se curvando sobre ela com a caneta vermelha em punhos. Com um movimento rápido, ele riscou o sobrenome dela e adicionou "+ John" no lugar. — Agora sim.

Sentada na poltrona, com o caderno apoiado no colo e de costas para ele, John não conseguia ver a expressão da jovem, mas tinha certeza de que ela havia revirado os olhos.

Brianna segurou a borda da folha, como se estivesse prestes a arrancá-la quando ele a impediu.

— Ei, ei, ei! O que você está fazendo?

Ela olhou por cima dos ombros, ficando com o rosto bem perto do dele.

— Vou reescrever o título — retrucou ela, rabugenta. — Ou você tem alguma condição especial para que eu faça isso também?

— Está bom desse jeito.

— Nem um pouco esteticamente agradável, você quer dizer.

— Arte raramente é agradável — respondeu ele simplesmente, pousando a mão nos ombros dela. — Continue.

Era verdade. Ninguém se importa com "agradável". As pessoas só se importavam com coisas memoráveis. Se isso significava algo deslumbrante ou perturbador, John não sabia dizer.

Brianna foi deslizando a caneta pelo papel, acrescentando os itens que ela se lembrava da sua lista original. Vez ou outra ela encrava o caderno, como se ponderasse se valia a pena se humilhar e colocar ali o item que veio em sua memória. Em muitos deles, John se interpôs.

— Deus tenha misericórdia — resmungou ele quando ela escreveu "dormir sob o céu estrelado". — Nós moramos em Nova York, mulher.

— Você tem uma ideia melhor? — perguntou ela, asperamente.

John puxou o caderno de suas mãos e contornou a poltrona, sentando-se no colo de Brianna enquanto ela soltava um "Uff" abafado, hesitando por alguns segundos antes de passar os braços pela cintura dele e abraçá-lo por trás.

— Que tal: comprar um carro?

Ela emitiu um ruído de desaprovação.

— Você tem noção do quão caro é manter um automóvel? — indagou ela. — Além disso, como você mesmo constatou, nós moramos em Nova York. Atravessaríamos a cidade muito mais rápido e com menos gastos usando o metrô. 

— Bom ponto — concordou John. — Espera, você "colocou ter um apartamento"? Você tem um apartamento.

— O prédio pertence à tia Jo — explicou Brianna, apoiando o rosto nas costas dele. — Ela me deixa morar lá e redecorar como eu quiser, mas aquele apartamento não é meu. Quero algo que seja totalmente e unicamente fruto do meu trabalho.

— Gente rica e a mania de querer complicar algo fácil — murmurou ele, batucando o caderno com a caneta. — Que merda, achei que isso seria mais simples.

— É mais fácil quando você é adolescente e ainda não desistiu da ideia de que você vai conseguir ser feliz um dia — comentou ela, fazendo o rir.

— O que você acha de "receber amigos em casa"? — sugeriu ele, esperançoso. — Na sua própria casa. Combina com o seu outro item.

— Que entediante.

— Você tem uma ideia melhor? — rebateu ele, com um sorriso malicioso que ela não conseguia ver.

— Engraçadinho — resmungou ela. — Quero algo selvagem. Uma aventura.

— Praia de nudismo — murmurou John, fingindo escrever.

— Ah, claro — grunhiu ela, empurrando-o para fora do seu colo.

Ele se levantou e deslizou para o sofá. Bree fez o mesmo, sentando-se sobre as pernas dobradas e encarando a folha de papel com a mesma intensidade que ele.

— Nós deveríamos cantar juntos — comentou ele. — Eu trabalho em um karaokê e até hoje nunca cantei em um.

— Eu não canto.

— Nem eu.

John escreveu "fazer um dueto romântico".

— Espero que sua adolescente anterior esteja se sentindo contemplada, Fraser.

Ela lhe deu um soco de mentirinha.

— Denny deve estar voltando para casa — Brianna murmurou, olhando a tela do celular pela milésima vez enquanto esperava uma mensagem de Marsali, Lizzie ou Fergus.

— Ótimo, talvez ele tenha alguma ideia para esse fiasco.

— Eu deveria ir — continuou ela, parecendo incerta.

John não queria que ela fosse embora.

— Sim — concordou ele. — Você parece que saiu de um bar e passou a noite fora de casa.

— Ha, ha. Eu realmente preciso de um banho.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Eu tenho um chuveiro ótimo e ainda posso te ajudar, sabe?

— Tentador — admitiu ela, mordendo o lábio inferior sedutoramente. Sua mão pousou casualmente na coxa dele, alta demais para indicar qualquer outra coisa que não fosse extremamente imprópria. John engoliu em seco e, como em um passe de mágica, Brianna se afastou, levantando-se e abrindo um sorriso sarcástico. — Talvez você precise aprender a brincar com fogo, Grey.


No dia seguinte John chegou cedo na galeria. Ele havia combinado com Dottie para que eles se encontrassem às nove da manhã, mas se ele continuasse sob o mesmo teto que Denzell Hunter, ele acabaria cometendo um crime de ódio.

Denny havia ouvido a ideia mirabolante de Brianna antes da briga com Marsali, é claro. As paredes não precisavam ter ouvidos, só precisavam ser ridiculamente finas. O rapaz e o anticristo preso em uma coleira voltaram para casa alguns minutos depois de Brianna ter ido embora e John percebeu logo de cara que o amigo estava de mau-humor.

— Uma confusão e tanto, não é mesmo? — perguntou John, casualmente.

Denny o fuzilou com o olhar.

— Você sabe que o que ela sugeriu é um crime, certo? — perguntou ele, sem se dar ao trabalho de se preocupar com rodeios.

— Denny...

— Não — cortou-lhe Denzell. — John, pelo amor de Deus, conte para a sua família! Eles podem te ajudar. Eu passei três anos te dando formas de resolver isso e você ignorou todas elas, aí aparece uma garota que você mal conhece e sugere um casamento como solução para o seu problema e você simplesmente acha que isso é a melhor solução? Sua prima está aqui, ela pode te ajudar a encontrar a melhor forma de falar com os seus pais.

— Dottie pode ser eloquente, mas ela nunca foi boa em conversar com a nossa família.

— John, ela disse que alguém enviou um e-mail para ela falando sobre a exposição — ele levou a mão até a cabeça, coçando-a com voracidade. — Eu posso ser paranóico e talvez eu esteja exagerando, mas você já parou para pensar que isso pode não ter sido uma coincidência? Existem centenas de John Greys pelo mundo. Você acha mesmo que esse fã casualmente trombou com a matéria que nem deveria ter existido e associou o seu nome com o dela?

Não sabemos se a pessoa que mandou o e-mail para Dottie era realmente um fã curioso ou alguém que secretamente te odeia, sabe o seu segredo e quer expor você para a sua família, Brianna havia dito.

— Denny, eu te amo — disse John, com o maxilar tenso. Cada fibra do seu corpo parecia vibrar com o nervosismo. Ele sentiu seu estômago afundar com aquela possibilidade, mas não deixaria o medo guiar suas ações. De novo não.  — Mas deixe que eu cuido da minha vida, sim?

Eles passaram o resto do dia sem se falar e, naquela manhã, John saíram bem cedo para descontar todas as suas frustrações na sua arte. Josh e os outros rapazes que cuidavam da galeria o deixaram entrar e ele atravessou os corredores diretamente para a sala circular. Ele ainda não fazia ideia do que ele pretendia fazer para a exposição que Jocasta Cameron planejando em homenagem ao seu artista misterioso, William Armstrong, mas sabia que queria que fosse algo grandioso e memorável.

Ele olhou para a hora no seu celular, clicando no botão na parte de baixo da tela com os nós dos dedos para não sujar o aparelho de tinta.

Era quase nove horas, mas não foi isso que chamou sua atenção. A notificação não tinha nada de especial, mas ele franziu o cenho para o endereço de e-mail, fazendo uma careta de nojo. Ele obviamente nunca recebia e-mails que não fossem promoções ou comprovantes de compras que ele fazia online — algo que não acontecia com tanta frequência já que ele era meio falido. Curioso, ele desbloqueou a tela e caçou o aplicativo que ficava em uma pasta cujo nome havia sido resumido em  um emoji de cocô.

O e-mail havia sido enviado por alguém chamado levoyeur1110@gmail.com.


Dottie é incrível! Me apaixonei pelo trabalho dela. Vai ser horrível para ela vê-lo ser deportado. Nós podemos fazer isso do jeito fácil, ou do jeito difícil, Johnny. Seu tempo está acabando.

Le Voyeur.


John não precisava ser fluente em francês para saber o que aquela palavra significava. Ele sentiu um arrepio subir pela sua coluna e olhou ao redor, sentindo a sensação sufocante de estar sendo observado. Deixando o aspecto sexual e perturbador de lado, voyeur significava "aquele que vê".

Brianna tinha razão, ele pensou. Inferno, Denny tinha razão.

Alguém havia descoberto o seu segredo. Alguém não o queria ali.

Continue Reading

You'll Also Like

47.9K 2.5K 30
PLÁGIO É CRIME! Melanie se vê feliz aos 15 anos. Porém, um dia, ela é vitima de abuso sexual, e pelo próprio pai, o que torna o trauma maior. Desespe...
2.8K 295 57
Kabir, e um tipo Índiano que sempre seguiu a Cultura e tradição do seu país ao pé da letra, no entanto, isso muda no estante que conhece Alice, a mel...
333K 20.1K 76
Selene Coppolo, uma jovem e talentosa dançarina de 21 anos, brilha sob as luzes da boate mais exclusiva de Florença. O que poucos sabem é que a boate...
123K 7K 61
Tudo começar quando duas garotas do Rio de Janeiro são levadas para Paris em Paris elas são obrigadas a casar com dois mafiosos. lá em Paris uma das...