Os passarinhos, principalmente as andorinhas, cantavam alto pela manhã. Por causa desse som, Fai Chen começou a acordar de um sono profundo causado pelas ervas que Xia Ling havia colocado na sopa que ele e Hu Long haviam tomado na noite passada.
A cabeça do cultivador estava um pouco desnorteada. Não entendia como uma erva como aquela poderia ter ocasionado um efeito tão grande para o corpo do mesmo, que era cultivado por muitos anos e mantinha uma proteção excelente. Realmente, Xia Ling era muito inteligente e sabia manipular os homens de uma forma que até os grandiosos cultivadores caiam em suas palavras tocantes.
Fai Chen tentou mexer suas pernas, mas por alguma razão, elas estavam pesadas, como se houvesse algo em cima delas bloqueando a realização de tal ação corporal. Sentindo isso, ele esticou seu braço esquerdo para entender o que se passava no seu colo e com um único toque sua mente já compreendeu. Seus dedos finos e gelados passaram delicadamente pelos cabelos de uma pessoa que estava deitada com o rosto em suas coxas. Logo essa carícia foi para o rosto e por causa do curativo na bochecha, o cultivador sabia que a pessoa que ainda estava dormindo em suas coxas era Hu Long.
No momento, Fai Chen não desejava acordá-lo, pois parecia que o assassino estava dormindo bem e não tendo pesadelos que poderiam perturbá-lo. Então, ainda acariciando, o cultivador deixou o jovem descansando. Mas, isso não durou muito.
Hu Long começou a mexer sua cabeça nas pernas do cultivador, virando-se, e em segundos seu rosto estava grudado à parte inferior do abdômen do rapaz acordado, deixando-o completamente vermelho e sem reações. O medo dentro de Fai Chen começou a despertar, pois se Hu Long se mexesse um pouco para baixo, encaixaria perfeitamente seu rosto na parte sensível do cultivador, que não estava nem um pouco preparado para aquilo.
"Hu Zhuang? Acorde...", Fai Chen disse delicadamente, a fim de acordar o outro homem logo, para que não houvesse algum tipo de acidente que o faria perder a face.
Contudo, como de costume, o destino de Fai Chen adorava brincar com suas emoções. Após ter dito tais palavras suaves para despertar o assassino, o mesmo acordou sonolento e abriu sua boca para bocejar. Sentindo que sua respiração estava extremamente próxima ao local que o cultivador preservou por tantos anos, sua mão esquerda foi direta para a testa de Hu Long e o empurrou de seu colo, afastando-o completamente do local que por essa noite havia servido como um possível travesseiro para o outro homem.
"Adorei o jeito de me desejar bom dia...", o assassino comentou, abrindo finalmente os olhos e piscando algumas vezes, tentando entender por qual motivo havia sido arremessado para longe de Fai Chen. "O que aconteceu? Eu estava em um sono tão gostoso, Cegueta."
O homem nervoso não respondeu de início, mas suas reações corporais fizeram com que o assassino se sentisse ainda mais confuso a respeito do que poderia ter acontecido. As orelhas do cultivador estavam vermelhas de um jeito que jamais Hu Long tinha visto acontecer antes.
"Cegueta? Você está com febre? Algo do tipo? Merda... Foi aquele vento gelado!", Hu Long se levantou do chão, esticando suas roupas que estavam um pouco dobradas e aos poucos, aproximando-se do cultivador, que se mantinha sentado. "Não há mais ninguém na cabana, não precisa se preocupar. Quer que eu mate algum animal e o cozinhe para você?"
"Não. Não é isso. Eu estou ótimo", a frase de Fai Chen, por mais que tenha sido direta, não saiu nem um pouco confiante.
"Está bem, vou fingir que acredito", Hu Long esticou sua mão direita para a testa do cultivador, tentando medir sua temperatura e realmente não havia nada de errado com seu corpo além das orelhas que, em pouco tempo, retornavam à sua cor original. "Já que você não quer tocar no assunto, por hoje, vou calar a boca. Mas... Cadê Xia Ling?"
Fai Chen soltou um suspiro de alívio em saber que Hu Long não perguntaria mais nada sobre sua situação que, na verdade, estava bem óbvia. Porém, pelo fato do assassino ter acabado de acordar, não tinha um raciocínio rápido para entender o motivo.
"Xia Ling nos drogou antes de sair para não seguirmos ela e você ser pego pelo Jovem Mestre Hong."
"Ela nos drogou? Então foi por isso que meus sonhos estavam tão realistas!"
"O que você sonhou?", o cultivador perguntou, levantando-se e ajeitando suas vestes.
"Sonhei que você me beijava e ainda tirava minhas roupas. Mas... Será que isso foi um sonho mesmo?", o assassino mudou seu tom de voz para um de brincadeira e para deixar o outro homem sem graça.
As palavras tiveram efeito em Fai Chen. A partir do momento que escutou a última parte, suas mãos tremeram e a esquerda tocou a bainha de sua espada, pronto para atacar Hu Long, caso o jovem fizesse mais alguma brincadeira. Porém, assim que esse pensamento sobre machucar o assassino entrou na mente do cultivador, ele quis dar a si mesmo um tapa na cara. Não queria machucar ninguém e muito menos um jovem como Hu Long, que era apenas uma pessoa que sabia flertar e não tinha vergonha na cara de dizer tais frases para um cultivador, nomeado como um Daozhang, um homem respeitoso. E além disso, por mais que Fai Chen se irritasse, ele gostava do jeito do outro.
"Cegueta, ainda não se acostumou com as minhas brincadeiras?", uma risada vinda do assassino foi ouvida e Fai Chen conseguiu se acalmar e voltar a calmaria dentro de si. "Xia Ling acha mesmo que Hong Shaoran conseguirá me pegar?"
"Bem... Foi isso que ela me disse antes de eu adormecer", Fai Chen respondeu, pegando sua cestinha e colocando-a nas suas costas, presa por um barbante. "Xia Ling se preocupa com sua saúde, Hu Zhuang. Não acho que ela nos drogou por mal."
"Tem razão. Mas, ela deveria entender que Hong Shaoran não conseguirá me pegar por um único motivo", o assassino tocou o ombro do cultivador, que ainda estava um pouco mole pela erva consumida. "O único que pode me pegar é você, Cegueta."
Fai Chen sabia que o rosto de Hu Long estava próximo ao dele e se não mantivesse um cuidado, as coisas em seguida poderiam tomar outro rumo, até porque ambos estavam sensíveis pela droga ainda no sangue. Porém, o cultivador abaixou seu rosto, rindo baixinho e dando alguns passos para trás.
"Não diga besteiras. Vamos, temos que continuar caminhando para chegarmos no Rio Amarelo pelo menos em três dias."
Hu Long não disse nada, seu silêncio significando uma confirmação. Os dois homens prontos saíram da cabana que passaram a noite e assim que deram um passo fora, sentiram novamente a brisa fria, mas não tanto como estava anteriormente. Porém, algo mais interessante do que aquela sensação chamou a atenção deles.
Ambos ouviram sons de relinchos de um cavalo.
"Cegueta...", Hu Long puxou a manga de Fai Chen, para que ele andasse com ele na mesma direção. "Tem um cavalo branco... Impressionante..."
O assassino soltou a roupa do cultivador e imediatamente estendeu a mão para o cavalo a sua frente. O animal era de porte alto, mostrando que era de algum clã. Fai Chen também ficou curioso pelo animal, então seguindo as ações do outro homem, esticou sua mão para frente e de início, tocou uma das partes do pescoço do animal, iniciando rapidamente um carinho para não o estressar.
"Ele parece ser calmo e obediente, por que um cavalo assim está por aqui? Não faz sentido", o mais baixo mencionou, acariciando a face do cavalo.
"Será que o esqueceram?"
"Um cavalo desse porte? Impossível esquecer. Ele também não parece doente ou algo assim. "
"Então, o dono deve ter sido morto."
"Cegueta, como você é pessimista. Mas, seu raciocínio pode estar bem certo. Algum guerreiro de um possível clã deve ter vindo para a floresta e foi atacado por alguma besta espiritual, então apenas o cavalo foi poupado...", Hu Long parou de dizer, pois a partir do momento que citou a palavra clã, uma breve lembrança sobre a conversa com Xia Ling passou por sua mente. "CEGUETA, LEMBRA DO FESTIVAL DA RAPOSA?"
"Hu Zhuang, não grite, vai assustar o cavalo..."
"É mesmo, desculpe, cavalo. Voltando, lembra do Festival da Raposa que Xia Ling mencionou? O festival que talvez tenha mais dados e respostas sobre a deusa curandeira! Precisamos ir."
Fai Chen negou com a cabeça, sabendo que se fossem, era bem provável de que Hu Long fosse pego e que teria mais dores de cabeça.
"Cegueta, eu sei que vai ser perigoso, mas estaremos com máscaras, ainda tenho dinheiro para comprá-las! Será difícil me reconhecerem e mesmo se descobrirem, eu posso matar facilmente e..."
"Sem matar", o cultivador mencionou, soltando sua mão do cavalo e levando seu dedo indicador para a testa do assassino, dando um peteleco no rapaz. "Não há necessidade de matar, eu vou te proteger."
Sabendo que Hu Long não desistiria facilmente da ideia de ir, Fai Chen apenas deixou que tomasse a iniciativa e por mais que não quisesse se aproximar do perigo, poderia realmente ser uma oportunidade única para descobrir mais a respeito da sua futura cura.
"Espera, você concordou em ir?", Hu Long perguntou, todo animado por ter uma chance de saber o que acontecia dentro do clã Wei e, obviamente, ajudar o homem vendado que estava ao seu lado. "Perfeito. Vamos montar nesse cavalo."
Sem esperar a resposta vinda de Fai Chen, Hu Long em questão de segundos, subiu no dorso do cavalo branco, que não se incomodou nem um pouco com aquela atitude. O assassino então, percebendo que o animal não reagiu de maneira brusca, agarrou o braço de Fai Chen e com o impulso vindo do outro, puxou-o para trás de si e sentou-o também.
"Cegueta, segure na minha cintura."
"Hum...", as mãos de Fai Chen falharam um pouco, mas como era o único jeito de não se desequilibrar, apoiou as mesmas na cintura do rapaz a sua frente.
"Aperte mais."
"Assim está bom, eu consigo me segurar."
"Cegueta, você está com uma oportunidade única de me tocar e vai perdê-la?", um sorriso bobo apareceu no rosto de Hu Long, enquanto ele esperava uma reação vinda do cultivador.
"Hu Zhuang, só cavalgue..."
"Sabe que você também pode fazer isso...", antes do assassino terminar sua frase, Fai Chen sem ter muito o que fazer, jogou novamente o encantamento de silêncio nos lábios de Hu Long.
O assassino começou a murmurar, mas começou a cavalgar, com Fai Chen segurando firme sua cintura. Como Hu Long estava olhando para frente, não conseguia ver a reação do homem atrás dele, mas se pudesse ver, ficaria encantado.
Fai Chen estava sorrindo e motivo desse sorriso era justamente ele.
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- ale yang on -
Esse Festival da Raposa vai render muitas emoções. Espero conseguir colocar todo o festival em três partes, pois as ideias estão fervendo em minha mente (risos).
Para comemorar os 2k de leituras, vou disponibilizar a arte oficial da novel (que está na capa), feita pela maravilhosa artista Nyski (sigam ela no twitter: joohyunshi). Ela posta várias artes perfeitas e merece todo o reconhecimento do mundinho!
Graças a um comentário de uma leitora decidi fazer outro mimo. Se divirtam um pouco mais com essa pequena entrevista com os personagens principais! Caso gostem, futuramente posso tentar fazer mais algumas.
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ARTE ORIGINAL
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ENTREVISTA COM LONGCHEN (Hu Long x Fai Chen):
Ale Yang: Olá, casal!
Fai Chen: Como assim "casal"?
Hu Long: O que foi, Cegueta? Acha que depois daquele beijo, somos apenas companheiros?
Fai Chen: Quantas vezes terei que dizer a você que aquele beijo foi para salvar a sua alma de tantos... Sentimentos de prazer?
Ale Yang: (rindo alto)
Fai Chen: ...
Hu Long: Cegueta, pare de mentir! (encara e morde os lábios) Diga logo que você gostou de passar energia espiritual daquele jeitinho.
Ale Yang: Conversem sobre isso mais tarde, está bem? Preciso começar a entrevista, então por favor, me ajudem com isso! (mexe nos papéis) Fai Yongliang, meu precioso cultivador, o que te atrai em um homem?
Fai Chen: A audácia.
Hu Long: Isso é uma das minhas melhores características, Cegueta!
Fai Chen: (ignora Hu Long) Próxima pergunta?
Ale Yang: Claro! Hu Zhuang, meu poderoso assassino corta-mangas, o que te atrai em um homem?
Hu Long: Se o homem se chamar Fai Yongliang, já me atrai imediatamente.
Fai Chen: ...
Ale Yang: Direto como sempre! Obrigada pela resposta!
Hu Long: Cegueta, o que achou da minha resposta?
Fai Chen: (levanta e foge)
Hu Long: CEGUETA, VOLTA AQUI! (levanta e vai atrás de Fai Chen)
Ale Yang: Sério? Me deixaram aqui sozinha?
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Até domingo!