KIHYUN
Quando erramos ou tratamos algo que gostamos muito, de forma ruim ou impiedosa, tentamos de qualquer forma corrigir o que der para ser corrigido.
Comigo, foi exatamente assim.
E hoje sou bastante grato por tudo e todos que me deram uma segunda chance.
E que segunda chance, hein.
Após decidir assumir o volante do carro trocando de posição com Chae, dirijo sorrindo mais do que o habitual, enquanto o tenho como a pessoa na qual faz meu coração estremecer falando com uma voz totalmente doce e diferente com Jiwan.
Chae está apenas tentando distrair meu filho, enquanto ele mesmo tenta se distrair, mas esse é o modo mais perfeito de dar mais um passo positivo em tudo que há ao meu redor, e preciso admitir, isso é lindo.
Com Jimin, toda uma história quase foi perdida. Quase, porque uma semente, na qual ele teve a honra de gerar e hoje criar, foi o que restou nosso.
Com Chae, é um novo começo.
Enquanto tenho os barulhos de Jiwan invadindo meus ouvidos, e a voz de Chae, que às vezes sorri e brinca com o bebê, eu vejo que depois que deixei meu coração velho e frio para trás, eu realmente renasci com o novo que me foi presenteado.
Foi a minha nova chance.
ㅡ Como está se sentindo? ㅡ pergunto a ele, ouvindo um suspiro.
ㅡ Bem, me sinto melhor agora. ㅡ fala calmo. ㅡ E você, anjo, você está bem?
Ouvindo a voz melodiosa do meu companheiro, sou arrastado de meus pensamentos e apenas olho e assinto. A estrada está calma, assim como tudo ao redor, mas estranhamente meu coração acelera, e é apenas por uma pessoa.
"Yoo In-na".
ㅡ Não parece bem. ㅡ Chae diz, entregando o chocalho de Jiwan e agora depositando toda sua atenção a mim.
ㅡ Estou bem, amor. Te juro.
Ele nega enquanto sorri, mas busca minha mão livre e entrelaça meus dedos aos seus. Eu suspiro aliviado pela calma que aquele contato me traz, mas logo sorrio ao ouvir Jiwan iniciar uma cantoria que somente ele conhece.
O caminho é demorado. A clínica onde minha mãe está é mais afastada da cidade. Na verdade, mais se parece com uma enorme casa de luxo, onde alguns dos idosos mais importantes do país são cuidados. Com ela não é diferente. O dinheiro que gasto mensalmente faz com que tenha o melhor dos tratamentos, com pessoas capacitadas ao seu redor, e sempre a tratando bem.
Mas para ser verdadeiro, não era nada disso que eu gostaria que ela vivesse.
Claro, a parte de ter tudo do bom e melhor, e ser bem tratada é o que todo filho quer para a pessoa responsável a qual lhe deu a vida, mas todo filho quer ter essa pessoa perto e não a quilômetros de distância.
Eu nunca tive minha mãe perto o suficiente durante minha infância, pois ela trabalhava demais, e hoje, continuo não a tendo, mas hoje sou eu quem trabalha demais.
ㅡ Você pensou sobre o que eu te propus? ㅡ corto o silêncio do carro fazendo a pergunta a Chae. Percebo-o sorrir, mas levemente se encolhe, demonstrando o quanto ainda é envergonhado com o assunto.
ㅡ Ainda estou pensando. ㅡ responde baixo, olhando a paisagem passageira através da janela.
ㅡ Amor. ㅡ torno a falar, e aperto levemente sua mão que ainda está sobre a minha. ㅡ eu não menti quando fiz o pedido.
ㅡ Estávamos fazendo amor... Pode ter sido do momento.
ㅡ Não foi momento, Chae. ㅡ falo rápido e sorrio. ㅡ Estávamos fazendo amor, comemorando o amor que está aí. ㅡ falo e vejo-o sorri, levando devagar a mão até a barriga que ainda não mostra diferenças. ㅡ Comemorando a nova vida que virá ao mundo.
Vejo-o negar novamente, sorrindo bobo, enquanto ainda alisa a barriga.
ㅡ Isso foi tão rápido, Kihyun... Não pensamos a respeito ainda.
ㅡ E não há o que pensar. ㅡ respondo rápido, fazendo-o me olhar. ㅡ Teremos esse bebê. Daremos um irmãozinho a Jiwan. ㅡ sorrio e vejo o bebê alheio a tudo através do espelho retrovisor. ㅡ Tínhamos que ter contado a Jimin e Jungkook. Tenho certeza que ficariam muito felizes.
ㅡ Ainda não. ㅡ ele torna a falar baixo.
ㅡ E porque não?
ㅡ Porque estamos juntos há apenas três meses.
ㅡ Estamos juntos desde o dia em que te beijei na empresa. ㅡ digo sorrindo. ㅡ e isso faz seis meses, uh?
ㅡ Mas faz somente três em que todos sabem que estamos juntos. Pensa, o que falarão de mim, grávido do chefe?
ㅡ Vão dizer que você é o grávido mais lindo do mundo. ㅡ digo e busco sua mão, beijando-a e pousando sobre meu colo, apenas para reduzir a velocidade e fazer uma pequena curva. ㅡ Se todo o seu medo é este, não precisa tê-lo.
ㅡ Há outros... ㅡ fala, tomando ligeiramente minha atenção. ㅡ Você já tem um filho com o senhor Park...
ㅡ E o que tem isto? ㅡ franzo o cenho, mas seu breve silêncio o entrega. ㅡ Você não está inseguro em relação ao Minie, está? Chae Hyungwon, é você que está aqui agora comigo! ㅡ falo, fingindo estar bravo, mas nem sequer consigo manter quando vejo-o suspirar pesado.
ㅡ Eu sei que o senhor Park gosta muito do senhor Jeon. Mas... Não duvido de você, ou do seu sentimento, mas ele poderia ficar chateado com a notícia não?
ㅡ Você diz isso por quê?
ㅡ Não sei... Só sinto algo assim.
ㅡ Deixe de ser bobo, anjo. ㅡ sorrio para ele, e vejo-o me olhar ao usar seu apelido a mim. ㅡ você, e só você é o dono do meu coração hoje. Quer dizer, você, Jiwan e esse serzinho minúsculo aí dentro de você. Não sinta nenhuma insegurança. Minie tem o Kook-saeng, e eles são muito felizes juntos. Seremos felizes também, e misturaremos as famílias, uh? Você não imagina, num domingo de sol, na nossa nova casa, Jiwan e seu irmãozinho correndo por todo o lugar? ㅡ Pergunto, o notando ainda pensativo, mas sua mão sequer sai de perto da barriga, e quando um sorriso pequeno nasce, eu sinto tudo leve novamente.
ㅡ Imagino...
ㅡ Então. ㅡ volto a buscar a mão dele e novamente junto a minha, entrelaçando os dedos, e vendo como até esse encaixe nosso é perfeito. ㅡ Seremos uma família, amor. Eu, você, nosso bebê, e Jiwan. Jimin e Jungkook também porque eles estão ligados a Jiwan, então... ㅡ sorrio. ㅡ mas acredite, eu amo verdadeiramente você. E já amo muito esse bebê.
Quando Chae encosta a cabeça sobre o banco e me olha da forma mais doce possível, eu sei que ele acredita em todas as minhas palavras.
O silêncio retorna, ou parte dele, já que Jiwan continua com sua cantoria, e por vezes arranca boas risadas nossas.
Quando paramos em frente ao grande condomínio, logo sou reconhecido pelo par de seguranças que lá estão, e tenho minha entrada liberada.
A casa de cuidados fica na última rua. É silenciosa e bem protegida. Há árvores, parques, pistas de corridas e caminhadas, e piscinas para entreter e motivar aqueles que lá vivem.
Quando estaciono em frente, Chae logo desce também e é ele quem libera Jiwan de sua cadeirinha e o busca nos braços, sorrindo quando o bebê totalmente babado tenta pegar suas mechas claras.
ㅡ Me dá ele, amor. Você não pode pegar peso. ㅡ falo pegando Jiwan de seus braços, mas logo vejo-o fazer bico, totalmente insatisfeito.
ㅡ Não me trate como se estivesse doente. Estou apenas carregando um bebê.
ㅡ Um bebê muito novinho que ainda tem riscos. ㅡ falo me aproximando e dou-lhe um selar no bico. ㅡ estou apenas cuidando dos meus docinhos.
Caminhando com ele ao meu lado, e com Jiwan agarrado em meu pescoço, adentro o lugar limpo e bonito, e logo vejo a governanta que já estava à nossa espera.
ㅡ Senhor Yoo, como é bom te ver novamente. Ela perguntou por você hoje.
ㅡ Oh, mesmo? ㅡ sorrio com o que ouço e logo sinto meu coração voltar a acelerar. ㅡ onde ela está? Trouxe meu filho e meu noivo para ela conhecer. Oh e a propósito, este é Chae Hyungwon. ㅡ apresento meu amado à mulher, e logo vejo-o complementá-la. ㅡ E este, é Jiwan, meu pequeno.
Quando mostro meu primogênito totalmente orgulhoso, vejo a mulher sorri e acariciá-lo sobre a bochecha.
ㅡ Ela irá adorar conhecê-los. E também irá adorar te ver. Hoje acordou mais lúcida que há muitos dias.
Uma curiosidade sobre o Alzheimer que consome minha mãe. Por dias, ele toma a memória quase que completamente, fazendo com que ela chegue a me confundir com meu pai, que já nos deixou há mais de duas décadas. Porém, há dias em que ela simplesmente acorda e lembra-se de tudo. Esses dias são os mais felizes pra mim, e tenho certeza que até para ela também. Podemos sorrir, conversar e lembrar, lembrar muito de todo o pouco em que vivemos durante todos os anos.
Talvez hoje possa ser um desses dias.
Eu realmente espero que seja.
Então, ainda caminhando e seguindo a governanta, seguro a mão de Chae, e apenas sinto Jiwan encostar novamente sobre meu pescoço. Quando nossos passos cessam, eu sinto a leve brisa fria que vem através das árvores, e logo sigo com a visão para onde a mulher aponta.
Logo abaixo de uma grande árvore, sentada com seus cabelos longos e escuros soltos, vejo a mulher que me gerou. Ela está olhando para o céu, talvez o admirando, mas parece tão em paz que também me faz sentir-me em paz.
ㅡ Muito obrigado. ㅡ agradeço a mulher, e ajeito a mala de Jiwan que está sobre meus ombros. Voltando a segurar firme a mão de Chae, noto como ficou mais fria do que normalmente fica, e quando levo meu olhar a seu rosto, percebo o quão aflita é sua expressão.
ㅡ Ei, amor. ㅡ chamo baixo, me aproximando e logo sorrindo quando ganho sua atenção. ㅡ ela irá te adorar. ㅡ pisco.
Chae apenas assente e respira fundo. Voltando a caminhar, vamos até o banco onde minha mãe está sentada, e me aproximando devagar para que não a assuste, eu pigarreio antes de aumentar minha fala.
ㅡ Com licença. ㅡ falo fazendo-a se atentar. ㅡ olá, lembra-se de mim?
Quando vejo seus olhos percorrer pelo meu rosto com vagareza, sei que está a me analisar e tentando lembrar-se de algo. E quando vejo seus olhos se curvarem e formarem apenas linhas junto a um sorriso, eu sei que sim, ela se lembra de mim.
ㅡ Meu Kihyun. ㅡ Ela se põe de pé rápido, e vem ainda mais rápido a meu encontro, me envolvendo com seus braços, me apertando forte. Tomo cuidado para não machucar ou derrubar Jiwan, e sorrio ao senti-la. ㅡ pensei tanto em você hoje, filho.
Eu suspiro ao fechar os olhos e abraçá-la de volta apenas com um braço livre. Meu coração torna a acelerar, e até parece querer sair pela boca, mas estou ciente que tudo isso é euforia.
É amor.
ㅡ Senti sua falta, mãe. ㅡ digo. Percebo-a se afastar, e então com seus olhos ainda sorrindo, ela nota o bebê.
ㅡ Oh, de quem é este pequeno? ㅡ acaricia a bochecha de Jiwan, proporcionando uma risada gostosa dele.
ㅡ Primeiro, vamos sentar. ㅡ falo e aponto para o banco. Ela apenas torna a sentar, então olho para Chae que está bem atrás de mim e o chamo com a mão. ㅡ Mãe, este é Chae Hyungwon. Ele é meu noivo.
ㅡ Oh! ㅡ ela novamente fica de pé, e sorri para Chae. ㅡ tão bonito... Há quanto tempo estão juntos?
ㅡ Três meses.
ㅡ Seis meses!
Eu e Chae falamos ao mesmo tempo, e nos entreolhamos sorrindo. Minha mãe nos encara com estranheza, mas tomo a frente e falo novamente.
ㅡ Estamos juntos há seis meses. E adivinhe, hoje vim cheio de surpresas para a senhora.
Ela sorri ainda olhando para Chae, mas torno a pedir para que se sente e faço com que Chae sente-se conosco, apenas me deixando entre ambos.
ㅡ Primeiro, este é Park Yoo Jiwan. Lembra-se que falei dele anteriormente?
A pergunta pode soar inútil, eu sei, mas tudo o que carrega meu peito no momento é a esperança, e ela está grande demais no momento.
Minha mãe olha bem para meu rosto, em seguida, olha para Jiwan, analisando-o, e só após minutos assim, é que ela abre a boca.
ㅡ Você disse que ele tinha dias. ㅡ comenta surpresa.
Nego sorrindo.
ㅡ Isso foi há muito tempo. Eu venho sempre te falando dele.
ㅡ Não me lembro, desculpe-me. ㅡ lamenta, mas trato em desviar o assunto e não deixar que o brilho com que ela carrega se perca.
ㅡ Então, este é seu neto. Ele não é lindo?
ㅡ Ele se parece muito com você, filho. ㅡ ela analisa bem o rostinho do bebê, e me surpreendendo o pega de meu colo e põe sobre o dela, balançando devagar o bebê. ㅡ o que eu perdi...?
Sua fala é de lamentação. Ela não faz uma pergunta que precisa ser respondida, apenas olha para o bebê e o acaricia.
ㅡ Mãe! ㅡ chamo. ㅡ e tem mais. ㅡ sorrio. Ela olha para mim à espera que diga, então me afasto um pouco e toco a barriguinha de Chae, dando-lhe a visão de meu ato. ㅡ terei outro em breve.
Ainda devagar ela assimila toda a situação, e apenas quando constata o fato, é que sorri. Desta vez maior, mais bonito.
ㅡ Então terão um bebê? Outro bebê?
ㅡ Isso. ㅡ assinto sorrindo e olho ligeiro para Chae, segurando sua mão. ㅡ um pequeno fruto do meu novo amor.
ㅡ bobo... ㅡ Chae sussurra, mas retornando o olhar a minha mãe, vejo-a nos analisar, sorrindo atoa.
ㅡ Formam um belo casal. Irão se casar?
A pergunta me pega de surpresa.
Não é como se eu já não tivesse feito o pedido.
Porém, Chae Hyungwon é um tanto orgulhoso, e teme ter sua reputação queimada na empresa. Por isso diz pensar, mas sei que está apenas me enrolando.
Quem liga para o que vão falar se casarmos? Teremos um filho. Há elo maior que este?
ㅡ Iremos.
É ele quem fala. Surpreendendo-me e até assustando quando sorri e assente, dando mais afirmação a sua resposta.
Ok, meu coração é novo, mas não sei se aguenta toda essa alegria.
É coisa boa demais.
ㅡ E quando? Onde será? ㅡ minha mãe pergunta apressada, nos fazendo rir de sua euforia.
ㅡ Não se preocupe. Você saberá em breve, e ficará ao meu lado no altar.
Falo sorrindo, mas vejo seu sorriso morrer aos poucos, e logo após um fungar, a primeira lágrima vem.
ㅡ Está tudo bem? ㅡ apresso-me a perguntá-la, sentindo a inquietação me agoniar.
Ela assente e enxuga rápido a lágrima, mas logo outra vem, e então não dá mais para controlar.
ㅡ Senhora Yoo, não chore, por favor. ㅡ Chae pede também cheio de agonia.
ㅡ Tudo bem, me desculpem. ㅡ ela funga mais uma vez. ㅡ é que... eu pensei nunca iria presenciar algo assim. Eu sei que estou doente, e que provavelmente irei esquecer tudo isto se não anotar em um dos post-it que ficam espalhados por meu quarto, mas me sinto tão bem agora, tão feliz e realizada que finalmente você terá sua família. ㅡ fala para mim e toca meu rosto. ㅡ você me orgulha, filho.
ㅡ Você me orgulha. ㅡ falo, enxugando as lágrimas que insistem em descer pelo rosto dela e sorrio. ㅡ vamos entrar agora? Tomar um café, comer uns biscoitos...?
ㅡ Oh sim, tenho uma caixa dos que você mais gosta. ㅡ pisca para mim. ㅡ você também pode vir conosco, agora que é parte da família e que carrega meu segundo neto, será como um filho para mim.
Quando ficamos de pé, eu novamente volto a entrelaçar meus dedos aos de Chae, e vejo minha mãe caminhar com Jiwan nos braços. Estranhamente o bebê está quieto por lá, e apenas me olha e sorri, mostrando seus pedacinhos de dentes, enquanto baba tudo.
Já dentro do local, vejo Chae observar cada coisa dali e ficar boquiaberto. O lugar é realmente bonito e muito luxuoso. Quando minha mãe sobe as escadas com todo o cuidado do mundo para não cair ou derrubar Jiwan, eu vejo a governanta apenas de longe, e acena positivamente para nós.
ㅡ Aqui, Sentem-se. ㅡ ela diz assim que chegamos a sua instalação.
Não é bem um quarto. Há uma cama e um closet só seu, mas também há uma grande varanda e uma parte para leitura, onde há livros escolhidos por ela, que ajudam a deixar sua mente sã e ativa. Também há uma mesa redonda no canto com quatro cadeiras em tons marrons e dourados. Um tapete enorme no centro cobrindo parte do local, e flores, muitas flores enfeitam vasos espalhados por aqui.
Caminho junto à Chae até a mesa, e vejo minha mãe ainda com Jiwan em seus braços buscar a caixa com biscoitos.
ㅡ Aqui, comam. ㅡ diz ao colocá-la sobre a mesa, e logo me entrega Jiwan. ㅡ Preciso fazer algo.
Vendo-a caminhar de modo agitado pelo quarto, logo vejo quando procura por algo e assim que acha sorri.
Seus post-its.
Quando pega o pequeno talão amarelo e rosa, mamãe caminha de volta à mesa, e também com uma caneta, debruça sobre, escrevendo com tanta atenção que parece uma criança aprendendo algo.
Quando também me inclino para verificar o que escreve, me surpreendo ao ler, e no mesmo momento, sinto parte de mim se quebrar.
"O Kihyun tem um filho. Chama-se Park Yoo Jiwan. O bebê é lindo".
"Kihyun tem um noivo, chama-se Chae Hyungwon. Ele está grávido do segundo bebê Yoo. Meu neto".
"Estou muito feliz ao vê-los e conhecê-los. Não esquecer, Kihyun irá casar em breve e eu estarei ao seu lado no altar".
ㅡ Por que escreve? ㅡ pergunto curioso. Sempre vi os papéis espalhados por algumas partes do lugar quando visitei anteriormente, mas nunca cheguei a perguntar.
ㅡ Às vezes, minha cabeça acorda como uma tela em branco. ㅡ explica de forma como se eu ainda não soubesse de sua doença. ㅡ Isto me ajuda a lembrar, ou tentar. ㅡ sorri.
ㅡ Mãe... ㅡ volto a chamá-la e tendo toda a sua atenção, estico minha mão, segurando a dele e pousando sobre a madeira da mesa. ㅡ a senhora está feliz aqui?
Perguntando o que me sufoca, percebo quando a mão livre de Chae desliza sobre minha coxa e segura a que tenho livre e está repousada. Entrelaçando meus dedos aos dele, não preciso sequer olhá-lo para entender que aquilo significa apoio.
Vendo-a pensar enquanto seu cenho franze, espero pacientemente, até que seus olhos voltam a encarar os meus.
ㅡ Acho que sim. ㅡ diz calma. ㅡ não há como ter certeza, minha memória é muito ruim. Mas... Pelo que me lembre, eu vivo bem. E você sempre vem me ver, não é? ㅡ sorri acariciando minha mão. ㅡ e agora trará Chae consigo. ㅡ olha para meu noivo. ㅡ vocês sempre virão, não é?
ㅡ Claro que sim, mas olhe, se quiser pode ir morar conosco se quiser, não é? ㅡ olho para Chae e apenas vejo-o assentir, então volto minha visão a minha mãe sorrindo. ㅡ Nós conversamos sobre isso, a senhora seria muito bem-vinda. E você vê? Podemos comprar uma casa muito, muito grande. E fazer quartos para as crianças e um para você. Podemos fazê-lo todo marrom e dourado, do jeito que a senhora gosta. ㅡ falo, me sentindo empolgado, e apenas sinto sua mão agora deixar leves tapinhas sobre a minha, afagando em seguida.
ㅡ Meu Kihyun... Eu sou feliz aqui, filho, não se preocupe. Vejo que você e Chae estão iniciando uma vida agora, não é?
Intercalo meu olhar dela até Chae e assinto.
ㅡ Sim... Chae e eu somos amigos há muito tempo, muito tempo mesmo. Mas...
ㅡ Mas houve coisas que aconteceram e nos fizeram caminhar para lados diferentes. ㅡ ele toma a frente e sorri. ㅡ mas não foi nada ruim. Esse pequeno aqui. ㅡ toca a bochecha de Jiwan. ㅡ só veio por causa desse leve desvio que a vida fez, não é? ㅡ sorri para o bebê, e novamente sinto meu coração derreter.
ㅡ E quem é a mamãe desse bebê? ㅡ ela pergunta agora curiosa.
ㅡ O papai. Eu sou gay, mãe, anota aí. ㅡ brinco, mas vejo-a sorrir e negar.
ㅡ Eu sei, eu sei. Só me confundi. Então, quem é o outro papai dele?
ㅡ Park Jimin. É uma ótima pessoa. A senhora o conheceu uma vez.
Ela tende a baixar a visão e novamente franze o cenho.
ㅡ Acho que não me recordo... Mas já ouvi este nome em algum lugar.
ㅡ É um nome bastante comum. ㅡ digo.
ㅡ Mas ele é um grande pintor, senhora Yoo. ㅡ Chae diz. ㅡ saiu na capa da the Korea to the world como artista do ano na edição de fim de ano.
Surpreendendo a mim, Chae fala tudo de modo tranquilo e logo vejo minha mãe se erguer e caminhar até sua estante de livros.
ㅡ Então... ㅡ caminha de volta olhando uma de suas revistas dali. ㅡ o pai do meu neto, é este aqui?
Depositando a revista na mesa, eu sorrio ao ver Minie e um de seus quadros ao lado. Assinto para ela, e logo vejo-a intercalar o olhar de Jimin a Jiwan.
ㅡ Nossa, como são parecidos.
ㅡ Jiwanie tem mesmo muito do Minie. ㅡ falo e vejo o bebê choramingar em meu colo. ㅡ está com fome amor?
Com a ajuda de Chae retiro a bolsa, e deixo com ele a tarefa de retirar e verificar a temperatura de uma das mamadeiras prontas ali.
ㅡ Posso dar? ㅡ minha mãe pergunta erguendo os braços.
Assinto entregando-a devagar Jiwan, e vendo o modo em como Chae é cuidadoso ao entregá-la a mamadeira.
ㅡ Ele tem a mania de segurar a mamadeira. ㅡ aviso vendo o bebê ser rápido em procurar o bico de silicone e segurar o recipiente.
Se divertindo com o feito, vejo-a me deliciar no pequeno momento que está tendo junto ao neto, e aproveito para me aproximar um pouco daquele que também amo.
ㅡ Como se sente? ㅡ sussurro deixando um beijo sobre sua bochecha.
ㅡ Faminto. ㅡ sussurra de volta. ㅡ quando que vamos comer os biscoitos?
Sorrio de seu jeitinho comilão e nem me surpreendo. Depois do resultado positivo, e do ultrassom que constatou um pequeno feto de sete semanas dentro dele, Chae vem tendo o apetite mais elevado que o habitual.
ㅡ Podemos? ㅡ pergunto a minha mãe, apontando para a caixa e vejo-a apenas assentir. Vendo os olhos quase brilhar de Chae, eu abro a caixa e retiro um dos biscoitos polvilhados com açúcar e o entrego. ㅡ aqui.
Ele me agradece, mas é quando o põe na boca, que vejo os olhos se fecharem lentamente, enquanto produz um som de prazer.
Como se saciasse a fome de meses, Chae se delicia com apenas um biscoito. Minha mãe o olha não contendo o riso, e eu também a acompanho vendo-o daquela forma tão nova para mim.
Quando enfim os olhos são abertos, Chae parece se ligar do seu recém-feito, e instantaneamente suas bochechas coram.
Posso dizer o que, talvez nem seja mais novidade, mas... Estou completamente apaixonado.
É encarando o rostinho rechonchudo e vermelho do meu amado e em seguida o de minha mãe sorrindo para Jiwan que sei que tudo pode sim, um dia ficar bem.
[...]
ㅡ Voltaremos para te visitar mais vezes, é uma promessa.
É Chae quem diz. Estamos na entrada do local e junto a minha mãe está a governanta, responsável por levá-la de volta.
ㅡ Voltem, quero muito ver sua barriga crescer.
ㅡ Voltaremos antes disso. Resolveremos tudo para casarmos e assim venho te avisar de antemão. Precisarei de ajuda para escolher meu terno, não?
ㅡ Te ajudarei com todo gosto. ㅡ ela sorri e abre os braços. Sou rápido em repousar ali e abraçá-la de volta, sentindo o aperto no meu coração aumentar por ter que deixá-la.
ㅡ Até mais, meu Kihyun. ㅡ ela diz por último, me afastando e afagando meu rosto.
ㅡ Até mais mãe.
Recebendo um beijo na testa, nos despedimos de todos, e ajeitamos tudo para voltarmos.
A noite já havia chegado, e a lua iluminava quase que tudo, deixando o céu ainda mais bonito. Jiwan já dormia em sua cadeirinha, e Chae parecia relaxado e feliz, segurando firme minha mão, enquanto sorria para o nada, analisando cada coisa que passava através da janela.
ㅡ Você disse sério? ㅡ novamente sou eu quem corto o silêncio do carro. Chae ergue a cabeça para me olhar e assente um pouco sonolento.
ㅡ Sim... ㅡ responde baixo e sorri.
ㅡ Então... Iremos mesmo casar?
ㅡ Foi o que você me pediu enquanto me beijava e me fodia da forma mais gostosa, não foi?
Sorrindo ladino, ele encerra a frase e encosta sobre o banco. Eu assinto e busco a mão dele para deixar um selar sobre o dorso.
ㅡ Seremos felizes. ㅡ falo em um tom mais sério. ㅡ eu te prometo.
ㅡ Já somos. ㅡ ele fala ainda quieto e apenas alisa minha mão com seu polegar. ㅡ Apenas seremos mais felizes.
Eu suspiro assentindo e desejo chegar o mais rápido possível para apenas parar o carro e beijar meu homem da forma em que nunca beijei.
E é quando paro em frente à casa rodeada de árvores de jungkook, que corro para abrir sua porta, e então o agarro pela cintura, encostando o corpo até mais alto que o meu ali, beijando-o e saboreando do gosto de amar.
ㅡ Eu te amo. ㅡ apenas constato o fato o fazendo rir e me devolver o beijo. ㅡ te amo demais!
Ainda sentindo os lábios dele sobre os meus, eu ouço o barulho da porta grande se abrir, e logo Jimin e Jungkook aparecem em nosso campo de visão.
Retirando Jiwan com cuidado e para não o acordar, sou eu quem caminho até eles enquanto Chae traz a mala.
ㅡ E então, como foi? ㅡ Jimin pergunta ansioso, buscando o bebê de meus braços e depositando um beijo sobre a bochecha gordinha.
ㅡ Foi ótimo. ㅡ falo sorrindo.
ㅡ Venham, entrem. ㅡ Jungkook diz nos oferecendo espaço para entrar.
ㅡ Já estavam dormindo? ㅡ pergunto ao notar as roupas de ambos. Jungkook está com uma calça moletom cinza e uma regata preta. Jimin também veste uma calça moletom, mas a sua é preta e veste uma camisa branca maior que seu tamanho.
ㅡ Ah não. Estávamos no chalé, voltamos há alguns minutos. ㅡ Jungkook responde calmo, enquanto Jimin caminha com Jiwan até seu quarto.
ㅡ Aqui tem um chalé? ㅡ pergunto curioso.
ㅡ Sim. Seguindo o caminho de pedras. Foi uma ideia minha fazê-lo para que eu e Jimin pudéssemos... ㅡ sua fala é cortada quando seus olhos pousam sobre mim, mas assim como qualquer um, eu entendo o que quis dizer.
ㅡ Entendi. ㅡ sorrio. ㅡ tudo bem.
ㅡ Prontinho bebê no berço. ㅡ Jimin diz retornando a sala e senta ao lado de Jungkook. ㅡ me conta como foi.
ㅡ Ela se lembrou de mim. ㅡ conto alegre. ㅡ lembrou-se de muita coisa, e o que aconteceu hoje, ela anotou em post-its.
ㅡ Ela tem uma revista sua. Disse que Jiwan se parece muito com você. ㅡ Chae fala ainda um pouco envergonhado.
ㅡ Ah que fofa. ㅡ Jimin diz encostando a cabeça sobre o ombro de Jungkook e por alguns segundos em silêncio nos analisa. ㅡ Vocês estão diferentes, não é Kookie?
Jungkook franze o cenho e também nos analisa. Após segundos, sorri.
ㅡ Estão iluminados.
Eu olho para Chae, assim como ele também me olha e dou de ombros.
ㅡ Vocês querem falar algo? ㅡ Jimin indaga, me assustando um pouco.
Engolindo em seco, novamente olho para Chae e agora vejo-o com os olhos arregalados.
ㅡ Ok, contem logo. ㅡ Jungkook fala ajeitando a postura, e Jimin faz o mesmo. ㅡ sou muito curioso para não desconfiar dessas caras de vocês.
ㅡ Bom... ㅡ começo sem saber o que falar. ㅡ ter, até temos, mas... hm...
ㅡ Iremos nos casar. ㅡ Chae fala de toda uma vez, como se apenas jogasse no ar, livrando-se de tudo. ㅡ e também estamos grávidos.
Olhando-o rápido pelo devido susto que tomo com tudo isso, desvio rápido para o casal à frente, que assim como Chae, agora tem os olhos bem abertos.
ㅡ Espera aí. ㅡ é o que Jungkook diz. Seu corpo se ergue, e a mão logo vai para a cintura assim como a boca se abre. ㅡ Um bebê? Vocês terão um bebê? ㅡ seu sorriso é grande.
ㅡ É... ㅡ assinto rápido, intercalando o olhar dele para Jimin, que permanece quieto e nos olhando. ㅡ não vai dizer nada? ㅡ pergunto para ele.
Jimin se põe rápido de pé e apenas pega por minha orelha, fazendo-me resmungar de dor e logo ficar de pé, caminhando desse modo até a cozinha.
ㅡ Mas o quê?! ㅡ indago o olhando e me solto de suas mãos. ㅡ aí! Doeu... ㅡ comento agora alisando a orelha.
ㅡ Olhe só Kihyun! ㅡ diz apontando o dedo na minha cara. Seu tamanho inferior não o impede de parecer totalmente intimidador. ㅡ Se você ousar ser um idiota com o Chae apenas porque ele está gravido, eu te mato, entendeu? ㅡ diz sério. ㅡ Faço pedacinho de você!
ㅡ O quê? ㅡ estou confuso, mas ele ainda mantém o dedo erguido.
ㅡ Se você fizer toda aquela palhaçada outra vez...
ㅡ Jimin, calma. ㅡ Chae pede, parando ao meu lado.
ㅡ Chae, desculpa, é que ele já foi um babaca uma vez. Sei que mudou, mas vai que né...
ㅡ Minie! ㅡ protesto.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Chae sorri e abraça meu corpo. ㅡ eu tive sim, medo, admito. Mas tive que contar de qualquer jeito e acho que de algum modo... Ou Jiwan, ou o coração novo fez com que aquele homem ruim e sem coração, deixasse de existir.
Ouvindo cada palavrinha que ele diz, eu sorrio e ouço Jimin suspirar. Quando o olho, ele também sorri, e então põe uma mão sobre o coração.
ㅡ Um bebê! Jiwanie terá um irmãozinho.
ㅡ O primeiro. ㅡ digo sendo observado. ㅡ eu sei que vocês também têm sonhos de terem seus filhos. Não deixem nada do que aconteceu tirar esse sonho. Uma criança significa amor, brilho para a vida.
Caminhando devagar, Jungkook abraça Jimin, nos olhando e então deixa um beijo sobre os cabelos do outro.
ㅡ Conversamos sobre isso mais cedo, e decidimos que primeiro cuidaremos do trauma. ㅡ Jimin diz também abraçando Jungkook.
ㅡ A perda dos bebês deixou muita coisa marcada em nós dois, hyung. Jimin disse que vai tentar, e eu também tentarei junto. Talvez esse sonho realmente esteja se apagando, mas resolvemos apenas deixar a vida levar. Seja o que o destino quiser.
Assinto sentindo estranhamente orgulho de sua fala, e ouço um bocejo de Chae.
ㅡ Está cansado? ㅡ pergunto a ele e vejo-o negar, mas seus olhos tornam a ficar menores, indicando que seu sono está próximo. ㅡ Vamos para a casa, você precisa descansar.
Despedindo-me dos dois, retorno desta vez para casa, e apenas ajudo Chae a retirar seus sapatos quando adentramos meu apartamento.
ㅡ Você tem fome? ㅡ pergunto o depositando a cama, mas apenas vejo-o negar novamente. ㅡ descanse um pouco, certo? Quando acordar farei algo reforçado para que coma.
Chae assente, e quando fico de pé para apagar o abajur que está ao seu lado, sinto sua mão pousar sobre meu pulso e quando o olho encontro seu sorriso.
ㅡ Deita comigo?
Sem pensar sequer novamente, aceito o pedido e apenas retiro toda minha roupa, deitando de cueca ao lado dele. Sinto o corpo magro enroscar-se ao meu, e logo sua cabeça busca apoio em meu ombro.
ㅡ Posso te confessar algo? ㅡ ele fala baixo. Apenas murmuro concordando. ㅡ Quando Jimin te puxou pela orelha, eu pensei que ele estivesse chateado comigo.
ㅡ Jamais. ㅡ falo fechando os olhos e iniciando um cafuné nele. ㅡ Minie sofreu muito por minha culpa. Ele estava apenas tentando te proteger.
ㅡ Ele te pegou de jeito. ㅡ brinca sorrindo. ㅡ sua orelha ficou até vermelha. ㅡ toca o músculo, acariciando-o.
ㅡ E você acha graça?
ㅡ É claro que acho. ㅡ diz.
Viro-me para encará-lo de frente e vejo as mechas claras caindo sobre os olhos. Afasto-as e sorrio ao vê-lo de olhos fechados e com um bico lindo e natural na boca. Aproximo-me para deixar um selar ali, mas sou surpreendido quando ele toma iniciativa e aprofunda o toque, fazendo com que um beijo lento seja dado.
Suspiro quando o toque é findado, e levando minhas mãos até seu rosto, o afago.
ㅡ Você é tão lindo, amor.
ㅡ Não sou mais que você. ㅡ fala baixo, o sono tomando conta.
ㅡ Mas é claro que é. ㅡ rebato. ㅡ o mais lindo de todo o mundo.
Chae sorri, mas fica quieto por segundos. Chego a achar que se entregou ao sono e ao cansaço quando sequer ouço falar mais nada, apenas sua respiração calma e lenta. Porém, quando o sinto se remexer, e o observo, vejo-o se aproximar e então ele me beija, me pegando totalmente desprevenido.
Ofegando surpreso, vejo-o ele sorri e então abrir os olhos, apenas para me encarar de perto, e me deixar ainda mais louco por ele.
ㅡ Você aceita mesmo casar comigo? ㅡ pergunto mais um entre tantas às vezes.
Diferente de antes, ouço a resposta que quase me faz ter um colapso.
ㅡ Eu aceito.
Sorrindo feito louco, eu volto a beijá-lo e deixo que os pequenos estalos preencham todo o nosso quarto, junto a sua risada, e toda a minha paixão.
ㅡ Eu te amo. ㅡ falo para que ele não tenha dúvidas. ㅡ Amo você e essa sementinha aqui. ㅡ beijo-o mais uma vez enquanto minha mão passeia por sua barriguinha lisa.
Chae se encolhe em meus braços e então libera uma risada divertida. Perdido em tudo o que ele me faz, eu o vejo suspirar e então olhar para onde minha mão está.
Deitando novamente frente a frente, ele sorri e sussurra a última coisa antes de me matar totalmente amor.
ㅡ Eu amo a nossa família, anjo.
Continua...