Corações de Papel

By asteroyid

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Uma gravidez, para uma pessoa formada, com uma estabilidade financeira e um ótimo emprego, não era problema n... More

Esperanças;

Pecar;

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By asteroyid


Rush: uma parte do dia em cidades grandes com tráfego cheio e congestionamentos nas ruas e estradas, além do transporte público, que geralmente lota nestes momentos.

Flat: são apartamentos comuns, mas com algumas diferença marcantes. Enquanto um apartamento comum tem marcações padrões entre cômodos e todos os apartamentos do mesmo prédio seguem esse padrão, os flats podem diferenciar entre si pelas marcações, podendo ser cada um de um jeito.

Demo: vídeo feito para demonstração ou apresentação.

capítulo um: pecar;
escrito por asteroyid.


O membro mais novo da pequena família Jeon, vulgo Jungkook, andava em passos rápidos em meio a multidão das badaladas ruas de Busan, pois além do horário de rush¹, a agitação também acontecia pelas diversões — sejam elas permitidas pela lei ou não — proporcionada pela cidade litorânea em finais de semana. Suas mãos suavam, assim como seus pés molhavam as meias e sua garganta estava seca. A ansiedade — e a saudade — eram tantas que a cada dois centímetros andados, um e meio eram interrompidos por quando esbarrava em alguém, recebendo xingamentos na maioria das vezes, porém não se preocupava.

Não seria o primeiro encontro, muito menos a primeira vez que o veria, não! Mas por poderem se ver somente em um dia da semana, sendo mais específico às sextas-feiras as noites no tempo em que seus pais assumiam a responsabilidade sobre o turno da noite em uma farmácia vinte e quatro horas pequena em que eram sócios, fazia com que todos os dias parecessem o primeiro, com as mesmas sensações, já que nem mensagens podiam trocar, dado que seu celular antigo era duramente monitorado por seus pais.

Assim que se pôs a frente da portaria de aparência confortável, viu ele lhe esperando em frente ao prédio glamouroso, como sempre fizera desde que começaram a ter um envolvimento. Com um casaco grosso de moletom de cor branco, uma calça do mesmo tecido, mudando somente a tonalidade para cinza claro e chinelos, Park Jimin conversava despreocupadamente com o senhor que trabalhava como porteiro para o condomínio.

Com as bochechas naturalmente avermelhadas, interrompeu o assunto mesmo não querendo ao que chegou mais perto deles, murmurando baixo um breve cumprimento educado ao idoso e a Jimin, que apesar de não ser necessário seguir todas as regras de formalidade com o outro, ainda precisavam manter as aparências de meros bons amigos. Depois de encerrarem qualquer assunto que tiveram com o trabalhador, com um breve até mais, se dirigiram num silêncio mais que confortável até o elevador, onde o Jeon fez questão de apertar diversas vezes o pequeno e  único botão disposto ali, ganhando uma risada discreta do namorado.

Bufou irritado enquanto olhava o painel indicando que a lataria descia lentamente — ou talvez não. Só parou com sua mania de morder o lábio inferior de quando estava ansioso no momento que o som característico soou pelo hall de entrada, anunciando finalmente que o “meio de transporte” o levaria para o tão aguardado flat², entretanto não sendo o suficiente para que não esmagasse repetida vezes o botão do décimo andar.

Queria beijar todo seu rosto fofo e abraçar o corpo quentinho que tanto trazia-o conforto e segurança, todavia se conteve, ali continha câmeras de seguranças, afinal. Contudo todo seu autocontrole fora ralo abaixo quando se viu dentro do apartamento com poucas divisórias entre os cômodos.

Nem deu a chance para que o alheio cumprisse com o dever ensinado às crianças de tirar os sapatos na entrada de casa, apenas o abraçou fortemente e juntou seus lábios no daquele que amava em um beijo necessitado e cheio de saudades, após jogar sua mochila contendo os materiais pesados do último ano do ensino médio em qualquer lugar. 

Como era possível estar tão apaixonado em apenas sete meses? Julgue de bobo, trouxa ou outra coisa do tipo caso queira, mas sendo sincero, não se arrependia de nada até aquele momento.

Ainda se lembrava claramente do dia no qual viu Jimin pela primeira vez: encostado no seu carro luxuoso com uma pose tão confiante, com seu irmão mais novo ao lado com o mesmo ar de superioridade, com o cabelo preto brilhante e bem cuidado. Era como se chamasse Jungkook  para pecar, embora não tenham trocado palavras nesses dia, apenas olhares, ao contrário do dia seguinte que o mais velho chegou em si no horário da saída com a desculpa que procurava o irmão — descobrindo mais tarde que ele estudava em outro turno e só esteve ali na primeira vez por fazer parte do time de algum esporte que não se preocupou em saber qual.

Apesar de ainda sentir um fogo, Jungkook preferiu trocar o sexo por uma noite de filmes, vestindo uma blusa do Park que não ficava tão grande em si como esperava, por conta da pouca diferença de tamanho, com as pernas enroscadas uma na outra. Mas havia algo de errado: fugindo do habitual, Jimin estava calado e aéreo; distante.

— Estava com muitas saudades Minnie. — Disse manhoso, enfiando a rosto no vão do pescoço naturalmente perfumado do moreno — que se negava a usar perfumes — entretanto não recebera respostas. Não era a primeira vez no dia. — Está tudo bem, meu amor? É sua família de novo?

Mesmo sendo unida, amorosa e compreensiva, os anfitriões da família Park eram relutantes quanto a carreira escolhida pelo filho: ser cantor. Segundo os próprios, não era uma carreira sólida ao contrário do que era oferecido pela empresa que detinham maior parte das ações, já estabilizada no mercado nacional e internacional.

— Precisamos conversar sério. — Apesar das palavras secas, seu olhar era sereno, mas Jungkook só notou ser algo realmente sério quando ele desfez o abraço que estavam para se sentar no colchão de frente para si. 

— Tudo bem. — Colocou-se de frente para o anteriormente citado. — Aconteceu alguma coisa? 

— Você se lembra do SeokJin, certo? — Assentiu. Kim SeokJin era o melhor amigo de Jimin e o que mais o ajudava na realização de seu sonho, até mais que o próprio Jungkook. — Ele foi para os Estados Unidos recente e levou uma demo³ minha para uma gravadora pequena que ele achou por lá da última vez. O produtor geral ouviu e gostou das músicas. 

— Isso é ótimo, amor. Estou tão feliz por você! — Sorriu realmente alegre pelo companheiro, levantando rápido dali já que se sentou na beirada da cama, pegando uma garrafa longneck de cerveja para Jimin e uma lata de Coca-Cola para si. — Mas eles têm alguma filial por aqui ou você terá que ir mandando para eles? — Perguntou quando retornou para cama, com a garrafa e a latinha já abertas. 

— Vou para Nova Iorque em três dias. — Disse rápido, em um único fio de voz. — Minha mãe me permitiu ficar em um apartamento da família até que eu conseguisse me firmar por lá, incrivelmente.

O silêncio outrora tão confortável se tornou doloroso. Jungkook não conseguia e não queria processar todas as informações que foram jogadas sem dó alguma sobre si.

— E a gente? — Falou a primeira coisa que lhe viera à mente.

Não queria ser o motivo de Jimin abandonar os seus sonhos, jamais! Porém faltava tão pouco para que completasse a maioridade e pudesse sair das amarras de seus pais e viver livremente com ele. Poxa, esse era o plano desde que confessaram sentir algo a mais, que transpassasse o rótulo de amigos de foda. Entretanto não podiam apressar as coisas, não quando seus progenitores eram loucos, capazes de inventar sequestros somente para incriminar o amante, sem remorso algum.

— Eu te amo muito, mas não posso desistir disso Jungkook! É meu maior sonho, porra, você sabe disso melhor que o Jin. — Levantou-se em rompante, colocando a garrafa de vidro ainda intocada que havia sido entregue momentos antes, em uma estante disposta ao lado da cama. — Não é a maior gravadora, mas é o suficiente para lançar um disco.

O mais alto sentiu sua garganta arder e os olhos começarem a ficar úmidos. Caralho, não conseguiriam manter contato estando em países diferentes quando estando apenas em bairros diferentes conseguiam.

— Jimin, você lembra do nosso plano, não é? — Seu tom era de desespero. Ele não poderia o abandonar agora, quando já havia se apagado tanto. — Falta menos de um mês para que eu faça dezoito, certo? Você não pode conversar com o seu patrão e pedir que ele espere um pouco mais? Vamos poder ir juntos assim que der meia noite, eu juro. — Afirmou, com o rostinho já banhado em lágrimas à medida em que se agarrava a cintura do mais baixo, o olhando nos olhos, implorando com o olhar que mudasse de idéia.

— Não, Jeon, não dá. Eu não vou cantar na minha língua, preciso treinar muito e ainda traduzir todas as minhas músicas escritas para o inglês, sabe o trabalho que isso dá mesmo tendo estudado a língua antes? Qualquer dia a menos é prejuízo. Fora que é a minha oportunidade de mostrar aos meus pais que eu posso sim cantar. — Suspirou, desistindo de interromper o abraço do mais novo em si. — Não vai ser você que vai me impedir. Custa você me apoiar?

— Eu sempre te apoiei do jeito que podia! — Gritou, empurrando para longe, mesmo não tendo forças. — Só estou te pedindo para tentar porque eu não quero me afastar de você, é tão difícil compreender? Você não se importa tanto quanto eu de não poder te ver mais nem na porra do único dia que dá? 

Novamente, o silêncio. Talvez até mais doloroso que o outro. A falta de respostas o matava. Não era possível que havia se iludido tão facilmente e realmente com aquilo, que estava correndo riscos de ser pego pelos senhores Jeon na única noite em que eles trabalhavam a noite e ser castigado por isso, em uma mentira. Não queria acreditar que todos os eu te amo que saíram daquela maldita boca haviam sido mentiras tão descaradas.

— Então acabou, é isso? — Seu tom tinha diminuído a sussurros sofridos. 

— É o melhor. Não podemos manter contato de qualquer forma, por conta de seus pais. E também não fará bem a você ficar me aguardando quando nem mesmo eu sei quando será minha volta ou se um dia voltarei. — Era tão frio. Não era o mesmo Jimin que se apaixonou.

O mais novo não teve outra reação a não ser se levantar rápido, vestir seu uniforme escolar amarrotado por estar jogado de qualquer jeito no chão, calçar seu tênis, pegar sua mochila e se dirigir para a mesma porta em que naquele mesmo dia se sentira tão feliz em vê-la. 

— Jungkook! — Não se virou, apenas parou abruptamente ainda com a mão na maçaneta. Era tão idiota assim ter um pingo de esperanças do alheio ter mudado de ideia e falar que o esperaria? — Fique bem, por favor. — Pois então era um completo idiota.

O caminho até sua casa foi um desastre total. O transporte estava lotado e por causa do balanço, seu fone de ouvido saía do lugar toda hora. As poucas músicas proporcionadas pela rádio não era as que o moreno gostava. Além de poder jurar que a menina atrás de si passava os seios em suas costas sem o mínimo pudor e a senhora sentada no banco à sua frente ter colocado todas as sacolas de supermercado em cima de seu pé, causando formigamento quando saiu da estação.

Tirou com pressa a única chave que tinha, estranhando quando sua mãe abriu a porta, com a tão costumeira carranca de brava e impaciente. Ela não deveria estar com seu pai, trabalhando? 

Não disse nada, apenas pediu a benção da mais velha como lhe foi ensinado desde pequeno e pediu licença, sendo olhado com uma decepção escancarada por todo o processo. Ao entrar, encontrou seu pai sentado na poltrona que dizia ser somente sua, para demonstrar que ele era o patriarca da família, o chefe.

Sabia que sua cabeça iria doer na manhã seguinte.

Bem, aconteceu o que já previa. Gritos por parte dos mais velhos e um choro silencioso vindo dele.

Desde sempre seus pais lhe impuseram diversos “limites”: não converse com tal pessoa, seja lá qual o motivo — na maioria não o contavam — não faça isso ou não faça aquilo. Todavia, nunca se importou verdadeiramente. Não tinha motivos para quebrar essas regras, então sempre seguiu tudo à risca. Mas isso mudou quando o conheceu. 

Começou a conversar com ele, algo que seu pai havia lhe proibido de fazer quando o encontrou na porta de sua escola em sua companhia. Depois passaram para os beijos escondidos. sua mãe sempre lhe dissera que alguém de respeito não ficava de amassos com alguém no qual nem era compromissado perante aos pais, principalmente com homens. Deus abominava. E por fim, namoraram. 

Ouviu tudo calado, desde o: “Você tem que seguir o que dizemos, por ser o melhor para você!”, até o: “Você é a decepção da família”. Pasmem, isso tudo porque havia chegado mais tarde do colégio.

Quando o falatório terminou, subiu diretamente para seu quarto, e sem se preocupar com mais nada, deitou na sua cama. Seus olhos se encheram d'água mais uma vez naquele dia, sua cabeça começou latejar e suas costas clamarem por uma posição melhor, então ficou ali até dormir.

Na manhã seguinte, acordou um pouco mais cedo que o de costume. Como castigo, agora seria acompanhado por um de seus responsáveis até a escola, sendo igualmente buscado. Não pôde nem mesmo contestar. 

Tomou banho, vestiu-se com a farda escolar obrigatória, calçou os mesmo tênis, pegou sua mochila e se dirigiu a cozinha. Tamanho era o seu desânimo.

E seria uma manhã normal se não tivesse sentido seu estômago revirar ao sentir cheiro do café forte invadir suas narinas.

——————————

nem demorei muito, né?! KK rindo com o medo de flopar mais ainda pelo horário, mas vida que segue.

enfim, eu fiquei muito satisfeita com esse capítulo em relação ao outro, principalmente por ter conseguido desenvolver melhor as situações e o diálogo dos Jikook.

mas me digam, o que acharam? ficou bom? 🗣️

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até o próximo! <3

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