Coelho de Tarpe • [taekook]

By vantepwr

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JungKook era um garoto sonhador e perdido na grandeza do seu mundo pequeno. Almejava ser tudo e nada ao mesmo... More

Considerações
Epígrafe ❁ A vida é um rio
Capítulo 1 ❁ Maçãs e dúvidas
Capítulo 2 ❁ Relógios de bolso
Capítulo 3 ❁ Trouxe o amor para o vazio
Capítulo 5 ❁ Azul da noite, rosa da manhã
Capítulo 6 ❁ Ilha dos elefantes
Capítulo 7 ❁ Rosas vermelhas anoitecem depois do chá
Capítulo 8 ❁ Terra dos sonhos
Capítulo 9 ❁ Caminho de Alice
Capítulo 10 ❁ Eternamente, perdão
Capítulo 11 ❁ Torno-me cruel
Capítulo 12 ❁ Choro frágil e cortante
Capítulo 13 ❁ Escolhas do coração
Capítulo 14 ❁ Espada de vidro
Capítulo 15 ❁ Melodias malucas
Capítulo 16 ❁ Seja lua ou seja mar, isto é para o amor que não consegui salvar
Epílogo ❁ Lábios e ti
Conto de Natal

Capítulo 4 ❁ Caminhos perdidos

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By vantepwr

Perdido.
    
Significa algo cujo estado é irremediável. O "estar perdido" trás diversos sentimentos, podendo oscilar a algo bom ou ruim.
    
O sentimento de perder o caminho de volta ou até mesmo de estar perdido, sozinho, caminhando rumo ao desconhecido, trás para muitos o sinônimo de paz.
   
Para outros, de pura euforia.
    
Sim, euforia.
   
Estado caracterizado por alegria, despreocupação e otimismo. O sentimento eufórico geralmente é momentâneo, podendo causar vício e dependência no sentir exagerado e alegre.
    
Caminhos amenos que o levam ao perdido, sentimentos eufóricos que camuflam o medo do desconhecido e, por fim, o vício e a utopia.
    
No caso de Tarpe, o vício na loucura.
    
Chás, belas frases, deslumbrantes paisagens e aprendizados levados para o seu "para sempre". Os poucos loucos de Tarpe.
    
O mundo desconhecido por humanos. Dois únicos seres foram capazes de vivenciar a experiência daquele mundo, nunca mais voltaram para contar suas histórias. Tarpe os deixa hipnotizados, ao ponto de esquecerem de sua verdadeira origem, até serem incapazes de distinguir o real do irreal. Contudo, sempre há entrelinhas e adversidades em palavras usadas para generalizar. 
    
Apenas uma contradição pode mudar o conceito de tudo. E essa entrelinha possui nome, sobrenome e um coração único.
    
Jeon JungKook.
    
Acordou no meio de uma floresta enorme e iluminada por raios de sol. Apesar de maravilhado com a cor única do esverdeado das árvores e o caminho de pedras brilhantes, sentiu-se deslocado, perdido.
    
JungKook caminhava entre as árvores enquanto ouvia o barulho dos passarinhos. Estava sentindo um mar inteiro de sensações misturadas. Dentre todas elas, o medo de estar só era o que prevalecia. Não tinha ninguém. Completamente sozinho. Chamava por alguém, qualquer pessoa além de si. JungKook estava beirando o desespero. Era incapaz de gritar, sua voz falhava.
    
ㅡ Dorothy? ㅡ Chamava por sua mãe, mas a única resposta que obteve foi o soar forte do vento ㅡ Eu estou com medo ㅡ Barulhos vinham das árvores. O verde tornava-se laranja, do verão vem o outono.
    
Laranja, vermelho, galhos marrons e folhas pelo chão, apesar de algumas árvores ainda estarem cobertas. Tempo frio, melancólico. Os pássaros voavam para o leste, ele corria para o oeste. Ouvia barulhos, patinhas ao chão, o pôr do sol era como um relógio antigo prestes a bater meia noite.
    
Estava sozinho. Até agora.
   
ㅡ Eu quero ir para casa ㅡ Parou, sentando no banco de madeira em frente a uma árvore. 
    
Esquilos corriam pelo caminho da calçada de ardósia antiga, à procura de um lugar seguro.
    
ㅡ Não gosto de ficar perdido ㅡ Sentiu lágrimas descendo pelo seu rosto e um nó chegar ao estômago. Podia ver as suas mãos, parecia consciente.
    
Era real.
    
Escondeu o rosto com as próprias mãos.
     
ㅡ Eu só quero acordar. Acorda! ㅡ Falou um pouco mais alto, contudo, ele não ouvia a si próprio.
    
Ele gritava, tentando acordar, mas nem mesmo os pássaros se assustavam.
     
O vento soprou e o pôr do sol parou, antes que pudesse escurecer completamente.
    
ㅡ O tempo não pode parar. O chapeleiro disse que não pode ㅡ Levantou, ainda sentindo seus olhos molhados e o rosto vermelho pelo recém choro.
   
Preso em um sonho.
    
Depois da tempestade há um sol radiante. Os dias de solidão são compensados por anos acompanhados por fadas e nuvens falantes.
    
Nada pode ser escuro para sempre. Tudo passa.
    
ㅡ Estou curioso, JungKook. Não encontrei outro modo, queria vê-lo ㅡ Uma voz atrás de si.
    
Suave, doce e calma. Singular. A conhecia, mas não se lembrava. Virou devagar, soava como a voz dos sonhos de noites anteriores. Era capaz de ver suas vestes, seu cabelo acobreado, seus pés descalços e o chapéu.
    
ㅡ Quem é você? ㅡ Perguntou, com medo.
     
ㅡ Desculpe, eu estou desacostumado ㅡ O garoto gargalhou, tirando o chapéu enorme e enfeitado de uma forma simples, fazendo uma reverência breve ㅡ É um prazer conhecê-lo pessoalmente. Eu vim de Tarpe, sou o chapeleiro.
    
ㅡ Você veio de Tarpe? ㅡ JungKook sorriu, animado, a tristeza havia sido levada pelo vento, junto com o sentimento perdido, de angústia e medo.
     
ㅡ Foi o que eu disse ㅡ Colocou o chapéu novamente, escondendo grande parte de seu cabelo ruivo ㅡ Senti em você um propósito que sou incapaz de entender e contestar. Agora estou aqui, sóbrio ㅡ Aquilo deixou o garoto sem palavras.
    
O chapeleiro usava terno, junto com uma blusa branca de botões abertos até o início de seu peito. As vestes somavam com sua forma extrovertida e boba, de um jeito incrível. Era diferente do garoto do primeiro sonho, na loja de música, mas não deixava de ser ele. Sabia quem era, o sentia.
     
Conheceu o chapeleiro na loja de música e agora sabe disso.
     
O sorriso dele era um caos eufórico de boas lembranças perdidas.
     
Cada momento em que o sentia perto era como se fosse a primeira vez. JungKook tentava decifrá-lo, prestando atenção em cada detalhe.
    
Os olhos dele eram adoráveis. Tão bonitos quanto o anoitecer. Ele estava se encontrando na imensidão de suas pintas, principalmente a que se encontrava na pontinha de seu nariz. Também naquela encontrada pertinho dos cílios inferiores. 
    
Desceu seu olhar, notando o mesmo colar de chave em seu pescoço. Subiu os olhos, recompondo-se e organizando pensamentos. Já havia notado esses detalhes anteriormente, mas não pareciam tão reais e irreais ao mesmo tempo.
     
Suspirou ao receber mais um sorriso, desta vez tímido. Ele era como um sonho. Um sonho tão bom quanto balas de gelatina.
    
ㅡ Como fazemos o tempo voltar? Ele parou.
    
ㅡ Você fez o tempo continuar ㅡ Sorriu, notando o dia escurecer.
    
ㅡ Eu não fiz nada, chapeleiro ㅡ Confuso. De fato, não havia feito nada.
    
ㅡ Taehyung.
   
ㅡ Desculpa?
   
ㅡ Quero que me chame de Kim Taehyung, esse é meu nome ㅡ Seu tom era sério, e JungKook podia sentir as vibrações de sua voz, não sabia como, nem o porquê.
     
Suas expressões… Instáveis, curiosas. Bonito.
Muito bonito. De perto? Ainda mais encantador.
    
O ruivo passou a língua entre os lábios e sorriu ladino, aproximando-se dele e segurando seu rosto entre suas mãos, apertando as bochechas com leveza.
    
ㅡ Você chorou... Por que? ㅡ Acusou, deixando JungKook surpreso.
    
ㅡ Como descobriu?
    
ㅡ Eu apenas sei, não é o bastante? ㅡ Perguntou.
    
Nesse instante era impossível saber se estava brincando ou falando seriamente.
    
ㅡ Por que chorou? ㅡ Repetiu.
    
ㅡ Eu tive medo, chapelei... Taehyung ㅡ Corrigiu-se antes mesmo de finalizar a frase.
   
ㅡ Medo? Não há o que temer, JungKook. Você é muito corajoso.
    
Não sabia o motivo, mas estava encantado pelo jeito que o chapeleiro agia.
   
Tudo na voz de Taehyung se tornava especial e original.
    
ㅡ Eu não sou corajoso. Eu tenho medo.
    
ㅡ Meu herói é o guardião da floresta, e ele está sempre assustado. Os heróis mais corajosos são aqueles que temem ㅡ Disse o ruivo, colocando as mãos nos ombros de JungKook ㅡ Gostaria de conhecê-lo além de sonhos ㅡ Continuou, sorrindo ㅡ Você nunca estará sozinho, sabe?.
    
Tudo escureceu e a lua nova surgiu.
    
O sorriso do gato preto.
    
O sumiço de Kim Taehyung.
    
Por fim, o despertar.

⊱✫⊰
    
ㅡ Acorde, já é tarde ㅡ Dizia Dorothy enquanto balançava seu corpo.
    
ㅡ Tarde? Que horas são? ㅡ respondeu, ainda entorpecido pelo sono.
    
ㅡ Faltam quinze minutos pro meio dia ㅡ Após a fala de Dorothy, JungKook praticamente pulou de sua cama.
    
ㅡ Nossa, eu dormi demais.
    
ㅡ O sonho deve ter sido muito bom, querido, suas bochechas estão vermelhas ㅡ Sua mãe deu risada, bagunçando seus cabelos.
    
ㅡ Eu não sou uma criança ㅡ resmungou.
   
ㅡ Já estavam bagunçados, agora vai tomar um banho pra acordar. Seu pai chegará daqui a pouco.
    
Dorothy mandou e JungKook assentiu, arrastando-se até o banheiro. Sentia a água quente molhar seu rosto, enquanto pensava em seu sonho da noite passada. Havia conhecido o chapeleiro, sabia até seu nome: Taehyung. E não tinha dúvidas de que tinha sido real. Porque ele sabia. Acreditava que era real.
     
Ele sentiu, sorriu, chorou. JungKook havia conhecido o escritor do diário, dessa vez teve controle sobre suas ações. Foi mais real.
    
Uma briga interna entre seu racional e emocional. Um dizia que era tudo coisa de sua cabeça, já que JungKook era completamente imaginativo. Já o outro dizia que a fantasia existia.
    
Além de tudo isso, ele queria vê-lo novamente. Ver Taehyung. Ouvi-lo, nem que fosse como no dia de seu aniversário. Tinha tantas perguntas que queria respostas.
    
ㅡ Para de pensar um pouco ㅡ Brigou consigo, ao notar que nem havia se ensaboado ainda. Se fosse para pensar, que ao menos o fizesse com o chuveiro desligado.

[...]
    
ㅡ O que aconteceu com os lápis quando souberam que o dono da Faber Castell foi embora? ㅡ Fazia duas horas que Alejandro tinha chegado da cidade e Dorothy e JungKook já estavam morrendo de rir.
    
ㅡ O que? ㅡ perguntou JungKook, aos risos.
    
ㅡ Eles ficaram desapontados com tamanha traição ㅡ Essa foi a gota d' água para que Dorothy levantasse do sofá para colocar comida para Pandora.
    
ㅡ Uma pior do que a outra ㅡ Ela disse, fazendo JungKook negar várias vezes com a cabeça.
    
ㅡ Corta essa, Dorothy, essa foi boa ㅡ Secou as lágrimas que desceram pelo seu rosto, enquanto respirava fundo, sentindo a barriga doer de tanto rir ㅡ Senti sua falta.
    
ㅡ Eu também ㅡ Disse Alejandro, aumentando o volume da televisão.
    
ㅡ Você não contou nenhuma história sobre a cidade, deve ter sido chato, só trabalho ㅡ Comentou, cobrindo seu próprio corpo com um cobertor.
    
ㅡ Infelizmente, JungKook. Mas eu trouxe um CD novo ㅡ Alejandro contou, tão animado quanto ele estava agora. Seu pai levantou do sofá, indo até sua mala não desfeita ao lado da porta. Colocou-a no chão e abriu, tirando algumas roupas e pegando o álbum de música enrolado em plástico bolha, para que não sofresse nenhum arranhão durante a viagem.
    
ㅡ Não brinca! ㅡ JungKook disse, ao notar de qual se tratava 
   
ㅡ Eu procurei em dois lugares, mas consegui achar ㅡ ele o abraçou, afinal, queria esse álbum do Maroon 5 há meses ㅡ Feliz aniversário.
    
ㅡ Obrigado.
    
ㅡ De nada, garoto. Agora vá guardar antes que o filme comece, a pipoca já parou de estourar.
     
Correu para o quarto, guardando "Hands All Over" com toda a cautela do mundo, como se aquele CD fosse seu bem mais precioso. Passaram o resto do fim do dia vendo filmes de comédia romântica ㅡ ao menos era isso o que seu pai dizia sobre "Crepúsculo".
     
Dez horas da noite ele acabou, os três foram para seus quartos e, mais uma vez, Ariel dormiu com JungKook e Pandora em seu terrário. Diferente dos outros dias, JungKook queria dormir. E, mais do que tudo, queria encontrar o chapeleiro novamente.

⊱✫⊰
     
Acordou com o barulho do liquidificador na cozinha, seu pai fazia alguma vitamina de frutas.
     
Dizia ser saudável, mas Alejandro enganava a si mesmo. Afinal, onde uma vitamina de morango, leite e sorvete de creme seria saudável? Esse era o café da manhã do Senhor Jeon.
    
O garoto levantou da cama, chateado por não ter sonhado com Taehyung como na outra noite. Na realidade, não havia sonhado com nada. Dormiu e acordou. Sem mais nem menos.
    
Resmungou baixo e coçou os olhos, escondendo seus cabelos com o capuz do moletom vermelho que estava vestindo.
    
ㅡ Bom dia ㅡ Disse seu pai, enquanto colocava a bebida "extremamente saudável" no copo.
    
ㅡ Bom dia.
    
ㅡ Sua mãe e eu vamos comprar tintas aqui perto pra pintar aquela parede do banheiro, você quer ir? ㅡ JungKook negou, o lugar era no meio do nada praticamente, nem perto da cidade ficava. 
    
ㅡ De que cor vai pintar? 
   
ㅡ Branco, é quase um retoque ㅡ Piscou um olho e sorriu pequeno, sentando ao lado de JungKook, que deu risada ㅡ Vamos levar Pandora ao veterinário também.
    
ㅡ E Ariel? 
    
ㅡ Semana que vem ㅡ ele assentiu.
    
ㅡ Vamos? ㅡ Perguntou Dorothy, entrando na cozinha ㅡ Não quer mesmo ir? ㅡ Olhou para JungKook, ele negou. Sabia que só tinha lhe oferecido porque sabia que lá não era nem perto do que era a cidade.
    
ㅡ Não voltaremos tarde, se cuide ㅡ Disse Alejandro. Logo depois os dois saíram com o carro, e JungKook estava novamente sozinho.
    
Tomou apenas o café amargo, sem açúcar, não sentiu fome. Andou pela casa, atrás da gatinha, e a encontrou abraçada com o diário do chapeleiro.
    
ㅡ Ariel, cuidado ㅡ Pegou devagar o diário, sentindo o acelerar de seu coração ao pensar na possibilidade das páginas estarem arranhadas ㅡ Ufa... tá tudo bem. Será que ele escreveu alguma coisa? ㅡ Perguntou, fazendo carinho nos pelos brancos de Ariel.
     
Abriu o diário, passando as páginas com cautela até chegar em sua última conversa com Taehyung. Novas letras douradas.

"Desculpe não ter visto você ontem, JungKook. Fui chamado pelas cartas do baralho azul."

Passou a língua entre os lábios, abismado. Ainda se surpreendia, mesmo já tendo notado que o mundo dele era diferente do seu.
     
ㅡ Não tem problema, chapeleiro. Cartas de baralho podem falar? ㅡ Escreveu, não tirando os seus olhos do caderno.
    
Dessa vez queria ver como as palavras surgiam. E ali estão elas, aparecendo letra por letra. Escritas em preto que foram clareando até chegar no dourado bonito.

"Está difícil para você me chamar pelo nome, não é? Yuyuyu
Suas cartas não falam? Seu mundo é estranho" ㅡ Escreveu ele.
     
ㅡ "Yuyuyu"? O que é isso? ㅡ JungKook perguntava no caderno, rindo fraco ㅡ Ele é quem está conversando comigo por um diário e aparecendo nos meus sonhos, e o meu mundo é estranho? ㅡ Agora perguntava para si mesmo.

"É como Yoongi ri quando escreve cartas, você não ri assim?" ㅡ Recebeu a resposta do ruivo, ainda mais rápido que antes.
    
ㅡ Quem ri com "Yuyuyu"? Isso nem soa como uma risada ㅡ perguntou para si. Até o modo de rir era diferente.
     
Como deve ser Taehyung realmente? O tom de sua voz é igual ao do sonho? Puxa, tinha tantas perguntas. Apesar de algo em sua mente o falar que ele nunca conhecerá o chapeleiro, ou Tarpe. Porque tudo aquilo estava apenas em sua cabeça, e JungKook estava enlouquecendo.
     
Até nosso cérebro é capaz de errar de vez em quando.

"Tenho que ir. Espero que não esqueça mais o meu nome.
ㅡ Kim Taehyung"
   
JungKook gargalhou. Ele havia até assinado a mensagem dessa vez.
     
ㅡ Queria poder conhecê-lo, Taehyung... De verdade ㅡ Disse baixinho, para si mesmo. Pensando que ninguém havia escutado.
    
Quando duas pessoas estão destinadas, não há maldade que possa separá-las. Não há loucura que as façam ir embora. Independente de obstáculos no caminho, as duas se encontrarão como ímãs.
    
É bonito. É feliz.

⊱✫⊰

Cidade de Tarpe
Início do inverno passageiro. 
    
Toda escolha implica em perdas, sejam elas necessárias ou dolorosas. O coelho branco tinha extrema ciência desse fato, sentiu na própria pele.
    
Bebia com Vrai Moi, mas não comemorava um feito. Na verdade tinha medo do motivo por trás de ter sido chamado naquela madrugada. Sentia falta de quando Vrai Moi era apenas pensamentos ruins de Kim NamJoon.
    
Seu melhor amigo estava dormindo no próprio corpo, dando luz a sua personalidade sombria.
    
ㅡ Como está, coelho branco? ㅡ Odiava ser chamado assim enquanto ainda era humano. 
    
ㅡ Estou bem, Vrai Moi, mas neste momento não sou um coelho ㅡ Retrucou, fazendo um sorriso cínico surgir no rosto do moreno.
    
ㅡ Sempre será um coelho para mim, humano ou não ㅡ Respondeu Vrai Moi, tomando um gole da bebida alcoólica amarga.
    
ㅡ Por que me chamou? ㅡ O coelho branco sempre via por trás dos olhos. Para ele, os de Vrai Moi não eram castanhos como todos viam, eram verde esmeralda, que brilhavam em desdém e maldade.
    
Aquela personalidade que tomou tudo de si era a razão que fazia o coelho branco odiar sábios. Era isso que Vrai Moi era para Tarpe: um sábio maldito.
    
ㅡ Tenho uma proposta para te fazer, meu caro amigo.
    
ㅡ Você não é meu amigo, NamJoon era ㅡ Sussurrou, deixando Vrai Moi com uma feição irritadiça.
    
ㅡ Não sou culpado por sua vida triste, coelho branco. Você fez as escolhas ㅡ rugiu. Se pudesse voltar atrás, ele faria. Se arrependia tanto de suas escolhas.
    
Vrai Moi mexia com o ponto mais doloroso: os sentimentos. O coelho branco era carregado de tristeza e mágoa, contudo, precisava sorrir. Tinha que estar sempre sorrindo, demonstrando felicidade.
   
ㅡ O que quer de mim, Vrai Moi? ㅡ Perguntou, olhando-o rapidamente.
    
ㅡ Quer Yoongi de volta? Traga o garoto para Tarpe ㅡ A proposta fez todos os seus pelos se eriçarem e um frio na barriga corroer todo o seu corpo, como o frio faria quando estivesse do lado de fora. Se estivesse em seu formato de coelho nesse exato momento, seu medo estaria claro.
    
ㅡ É mentira, está mentindo para mim novamente ㅡ Arrependeu-se ali mesmo por ter dito aquilo. Pôde escutar a cadeira em sua frente arrastando para trás e os passos lentos de Vrai Moi, que aproximou de si até ficar a centímetros de seu corpo.
    
Deixou a taça com a bebida avermelhada em cima da mesa, segurando o queixo do coelho branco a sua frente e fazendo-o olhar para si. 
    
ㅡ Suas palavras estão doidas demais, coelho branco… Sorria ㅡ Mandou, deixando que seu rosto tomasse seriedade e sua feição colocasse ainda mais medo no garoto.
    
ㅡ Desculpe… ㅡ Forçou um sorriso, sentindo os dedos gélidos soltarem seu queixo.
   
ㅡ Traga JungKook para Tarpe e eu tirarei a maldição de Min Yoongi ㅡ Disse firmemente. Mentia tão bem que até o coelho branco, acostumado com seu jeito mentiroso, caía em seus dizeres. Cada um deles.
   
ㅡ Por que está fazendo isso? É por causa do chapeleiro? Taehyung é doce, saiba que não deixarei você machucá-lo, e JungKook também não ㅡ Respondeu o loiro, umedecendo os lábios. Vrai Moi deu risada. Gargalhou como se tivesse ouvido a piada mais engraçada de Tarpe.
    
ㅡ Você me vê com olhos tão tristes. Seu amigo odiaria isso. Odiaria ver que só está vendo o meu lado ruim. Até mesmo ele vê bondade em mim ㅡ Finalizou com sarcasmo, referindo-se a NamJoon e tomando o último gole do vinho ㅡ Deveria estar feliz, você mora em Tarpe ㅡ piscou.
    
Ele sentia enjoo sempre que ouvia esse mesmo discurso. Era extremamente superficial, maldito.
   
ㅡ Eu trarei ele ㅡ Cedeu, levantando-se e tomando o caminho de pedras para voltar para casa.
    
ㅡ Um brinde a você, Park Jimin, o meu mensageiro ㅡ Levantou a taça, com um sorriso maldoso nos lábios, e o viu saindo do local, transformando-se novamente em animal.
   
O pensamento de poder ter seu amor de volta dava esperança a ele, que se tornou um preso no calabouço eterno de suas escolhas.
    
Passado molda o futuro. Mas se mudarmos o presente, o passado torna-se uma mera lembrança ruim, da qual odiamos ou rimos ao lembrar.
    
Cabia a Jimin escolher quebrar as correntes e se arriscar a fugir do calabouço, ou continuar sendo preso daquilo que iria assombrá-lo eternamente.

⊱✫⊰

Fim de tarde
Macieira do jardim 
    
JungKook descansava embaixo da macieira, enquanto esperava Dorothy e Alejandro para jantar.

Os fracos raios de sol passavam entre as folhas da árvore e batiam em seu rosto, fazendo-o encostar no tronco, sorrindo fraco.
    
Não fazia nada além de observar o céu, com poucas nuvens, não deixando de ser belo. Pintado de laranja e rosa, que avisam a chegada da noite.
    
Bocejou, bagunçando os fios castanhos e fechando os olhos.
   
Vestia um moletom vermelho vinho, sem capuz, junto com uma jardineira azul claro, parecida com a cor de um jeans, mas com um tecido confortável.
    
ㅡ O que tanto olha? ㅡ JungKook assustou, colocando a mão em seu peito e chegando para o lado.
    
Suspirou, aliviado e surpreso, ao notar ser um garoto de cabelos loiros, quase platinados.
    
Vestia uma camiseta azul claro, larga para seu físico pequeno, mas que claramente combinava com a calça preta folgada, presa em sua cintura por um cinto, que mais parecia uma corda trançada de cor branca.
    
ㅡ Desculpa, mas quem é você? Não o conheço ㅡ ele sorriu, sentando-se ao lado de JungKook.
    
ㅡ Você me conhece, apenas não se lembra de mim com essa aparência ㅡ Respondeu.
    
ㅡ Impossível, ninguém muda ao ponto de ser irreconhecível.
   
O garoto desconhecido deu risada, escondendo seus dentes com a mão direita.
    
ㅡ Agora entendo porque foi escolhido, JungKook.
   
ㅡ Escolhido? Por quem?
    
ㅡ Pelo destino ㅡ ele segurou-se para não responder que aquilo não existia. Olhou para o céu durante dez segundos, voltando a olhar para os olhos brilhantes de JungKook. Tirou a bússola de seu bolso.
    
Os ponteiros estavam girando, de forma constante, incapazes de parar.
    
ㅡ Estou perdidoㅡ falou, deixando o garoto ao seu lado confuso. A bússola estava quebrada ㅡ Você precisa vir comigo, JungKook ㅡ Ele disse, levantando da grama e estendendo sua mão, para que ele a segurasse.
     
ㅡ O que? Eu mal conheço você ㅡ protestou.
    
ㅡ Precisa confiar em mim ㅡ Disse o loirinho, com a voz leve e suave, além de um sorriso doce nos lábios.
    
Transmitia calor e uma onda de calmaria e confiança.
    
ㅡ Como posso confiar em alguém que não conheço? ㅡ Perguntou JungKook que, apesar de estar na defensiva, acabou por segurar sua mão. 
    
ㅡ Estou confiando em você, disse que nunca seria capaz de me machucar, lembra? ㅡ O dourado dos olhos de JungKook se encheram de brilho, ele era o coelho da floresta de dias atrás. Aquilo estava passando do impossível.
   
ㅡ Você é… Como? ㅡ Perguntou, fazendo o garoto rir fraco e baixo, um som que o fez querer sorrir.
    
ㅡ Você demorou para perceber ㅡ Respondeu, olhando para a bússola novamente, antes de guardá-la no bolso da calça ㅡ Precisamos ir, venha ㅡ Puxou o garoto pela floresta em frente a sua casa, rumo ao desconhecido.
   
ㅡ Posso ao menos saber o seu nome? ㅡ Perguntou JungKook, curioso, enquanto era puxado entre as árvores e arbustos.
    
ㅡ Jimin... Park Jimin ㅡ Respondeu, parando no lugar.
    
ㅡ E como sabe o meu nome? ㅡ ele sorriu, olhando seu rosto de relance.
    
ㅡ Destino, JungKook, destino.
    
Poucas árvores, longe do alcance de seres humanos. JungKook teve a sorte de estar ali duas vezes. A primeira foi dias atrás, quando viu Jimin pela primeira vez, como um coelho branco falante.
    
Agora ele estava em sua frente, humano, encarando-o e analisando cada pedaço de seu físico ㅡ e mental.
    
ㅡ Por que me trouxe aqui? ㅡ ele perguntou, aproximando-se de Jimin.
    
ㅡ Vrai Moi me mandou após ter uma visão. Você conhecerá o meu mundo. ㅡ Respondeu. O garoto não sabia dizer porque seu tom parecia tão triste.
    
Jimin sabia a verdadeira história de Tarpe. E qual o mais provável fim que JungKook tomaria. Porque os poucos que foram acabaram da mesma forma. A verdade é dolorosa, mas não se pode sonhar para sempre.
    
ㅡ Eu preciso alertá-lo, JungKook, nós não chegaremos ao mesmo lugar.
    
ㅡ O que quer dizer?
    
ㅡ Deixe-me terminar ㅡ JungKook se calou e Jimin sorriu fraco ㅡ Cairei diretamente em Tarpe, você irá para um lugar diferente, onde terá de encontrar sozinho o caminho. Não posso ajudá-lo. Sequer sei o que irá passar. Mas terá sorte. O chapeleiro disse que é especial, acredito em meu amigo. Não ande onde não conhece ou acabará em apuros, entendido? ㅡ JungKook assentiu a cada palavra dita por Jimin, que sorriu ao notar sua ansiedade para conhecer um novo mundo ㅡ Não se assuste ㅡ Foi sua última fala antes de pegar um pequeno cogumelo marrom preso no chão.
    
Que, ao ser tocado pelas mãos pequenas, transformou-se em vermelho, como em desenhos animados. JungKook estava surpreso, antes mesmo de conhecer o mundo escondido já o achava único.
    
Como seria Tarpe?
    
O cogumelo então transformou-se em um pó arroxeado, que Jimin salpicou sobre o corpo de JungKook, seus olhos se fecharam e quando abriu, até o formato das árvores estava diferente. Quando finalmente parou de admirar a paisagem, não era mais um garoto que estava em sua frente. 
    
Mas sim o coelho de Tarpe.
    
Que continuava perdido mas, agora, não tinha medo de JungKook. O focinho rosado balançou e ele pulou até perto do portal escondido, esperando o garoto. Arregalou os olhos dourados, após notar o que deveria fazer.
    
ㅡ Eu não vou entrar no buraco da árvore, sou grande demais ㅡ Coçou a nuca, confuso.
    
ㅡ Confie em mim, tudo é possível ㅡ Disse Jimin, desaparecendo.

JungKook pensou que o coelho estava chapado. O buraco era pequeno, muito pequeno. JungKook ajoelhou, olhando para dentro dele, vendo escuro. Chamava por Jimin, mas não obteve respostas, já deveria estar em Tarpe.
   
O tal portal era quatro vezes menor que o seu tamanho. Cavou um pouco em volta, retirando os arbustos que tornavam a passagem mais complicada, percebendo que uma parte inferior de seu corpo passava.
    
Puxou com calma pedaços de casca da árvore, abrindo mais e mais o buraco, vendo que poderia passar como passava por uma porta comum. O local, grande e escuro, o surpreendeu quando fechou atrás de si, como se nunca tivesse sido alterado.
    
Impossível
    
Caminhou e caminhou para dentro, sentindo seu coração pulsar violentamente dentro do peito. Sem ver nada, sentiu o chão abaixo de si terminar, e ele caiu.
    
JungKook estava assustado. O portal era pequeno por fora, um coelho gorducho não poderia passar, como ele coube lá dentro? JungKook buscava algo que pudesse segurar, nem isso era capaz. Apenas caía e caía, incessantemente. 
   
Escorregava entre as paredes de terra, que pareciam estar duras como pedra, nenhum grão caía dentro de seus olhos. Era como se estivesse descendo em um escorregador, um onde não fazia ideia de onde pararia.
    
Tentou novamente se segurar, uma tentativa falha que o causou um sentimento de desespero, afinal, qual a profundidade daquele buraco? Não tocava o chão. Não tocava nada. Caía cada vez mais.
    
Seu corpo começou a girar, o tamanho do portal aumentou. Gritava em meio ao breu sem fim. Não sabia quando seria capaz de tocar o chão novamente.
    
Se estivesse no mundo real, aquele era o início de uma queda que traria a morte. JungKook sentia apenas as vibrações de seus gritos falhos, era capaz de ouvir as batidas frenéticas de seu coração, como se estivesse ligado a uma caixa de som de uma guitarra elétrica.
    
Fechou seus olhos. Já não era capaz de ver nada pelo escuro do buraco, por que os manteria abertos? Temia a chegada ao chão, temia sentir uma dor constante, temia acabar machucado por ter confiado em um coelho.

Maldito coelho! Por que havia lhe escutado? ㅡ Ele se perguntava, julgando as próprias atitudes.
 
Sempre fora precavido, apesar de muito curioso, pensava várias vezes antes de realizar um ato. Contudo aceitou, depois de pouquíssimas tentativas, o pedido do garoto estranho.
     
Ainda cogitava a possibilidade de estar preso em um sonho. A queda parou e luzes acenderam. Abriu os olhos, ainda sem chão. Caía devagar, como se estivesse flutuando. 
     
Os olhares de JungKook tornaram-se ansiosos, as batidas altas de seu coração pararam, ficando mais calmas. Agora o que era terra transformava-se em uma madeira escura e bonita, como as de casas mais antigas.
   
Via livros de uma possível biblioteca caindo em seus devidos lugares, nas prateleiras que tomavam conta das laterais do portal do coelho de Tarpe.

Caiu ainda mais, sentindo-se apreensivo, como voltaria para casa? E Dorothy e Alejandro? Não havia pensado nas consequências de nada.
    
Estava longe, muito longe de casa.
    
Seus olhos chorosos derramavam lágrimas cheias de medo. Era angustiante não saber o fim. Estava tão sensível que nem percebeu quando parou de cair e flutuava ao lado de um lustre bonito.
     
Secou suas lágrimas, vendo as luzes do candelabro pendurado no teto piscarem, chamando sua atenção. Sem saber ao certo como fez, tocou o chão ao lado do lustre, vendo acima de si uma mesa marrom de cabeça para baixo.
     
Sobre a mesa havia um vaso de tulipas de cores puxadas para tons pastéis, misturadas em um degradê de branco, roxo e azul, além de um rosa levemente escuro nas pontas das pétalas. Assemelhava-se com as cores do amanhecer no campo, após uma longa noite chuvosa. O céu era belo.
     
As luzes pararam de piscar, foi quando JungKook notou um frasco de vidro com um líquido azulado dentro.
    
Espere… Como nada disso está caindo? Tudo está de cabeça para baixo ㅡ Pensou, notando finalmente sua situação. Era ele quem estava de ponta cabeça, e não a mesa ou as flores. Percebeu que estava alto, muito alto.
     
Novamente fechou os olhos, e então caiu ao chão, sentindo apenas o impacto de seu corpo com a madeira do piso. Sentiu também uma leve dor de cabeça, sendo impossível comparar com a dor que sentiria se tudo fosse em seu mundo mundano. Poderia ter quebrado um braço ou uma costela, mas sentiu apenas dor de cabeça.
    
Confuso, levantou, sentindo-se pequeno. O pé da mesa era maior que um golfinho. Se não fosse o vidro de cima, não veria nada. Estava minúsculo, como um elfo.
     
Via o vaso de flores e o vidrinho transparente com o líquido azul, rodeado por um rótulo que tinha escritas em preto: Beba-me. Algo novo que não havia percebido quando estava no teto é que, em cima da mesa, também havia uma chave.
    
ㅡ Como vou beber se eu não consigo alcançar você? ㅡ Perguntou alto, tentando subir pelos pés da mesa, acabando por deslizar até o chão em todas as suas quatro tentativas.
     
O máximo que conseguiu foi pendurar-se no vidro, na terceira vez que tentou, porém seu medo de cair foi tanto que desceu novamente.
    
Bufou, rodeando a mesa e encontrando uma caixinha na cor marrom escura, com detalhes em cinza. Ao abrir, havia um biscoito com gotas de chocolate, enrolado em um saquinho transparente com um laço roxo. Não menos importante, estava escrito: Coma-me.
     
Rodeou a sala, de tamanho mediano, com os olhos, estava sozinho.
     
Pensou várias vezes antes de considerar a possibilidade de comer o cookie, afinal, não sabia do que ele era feito. JungKook tinha uma forte alergia a pimenta, e se tivesse pimenta no biscoito ㅡ melhor, em que mundo alguém colocaria pimenta em um biscoito? Coisa de doido.
     
Lembrou-se das palavras de Jimin. O que mais queria era encontrá-lo para sentar-lhe na porrada. O coelho lhe disse para segui-lo, sem recuar, e se isso significava comer um biscoito, comeria.
     
ㅡ Por favor, não seja apimentado ㅡ Suplicou, mordendo um pequeno, e bem pequeno, pedaço do cookie. Não ardia, também não tinha gosto algum de biscoito com gotas de chocolate. Tinha gosto de morango e cheiro de caramelo e pêssego.
     
Seus sentidos estavam ficando malucos e deferindo, para JungKook, vários palavrões, não tenha dúvidas. Que tipo de comida tem cheiro de caramelo e gosto de morango?
     
JungKook assustou, seu corpo crescia, crescia e crescia cada vez mais. O lustre que estava a metros de distância do chão, estava agora em sua cabeça, era tão pequenino.
     
Olhou para a mesinha, agora pequena, e pegou o vidro da bebida e a chave. Tirou a rolha que fechava o vidro e bebeu o líquido azulado, que tinha gosto de manhãs ensolaradas e panquecas de amora no café. Não fazia ideia de como aquele gosto era possível, tão pouco sabia como foi capaz de descrevê-lo sendo tão específico.
    
O líquido azul o encolheu novamente, deixando-o despencar perto de uma porta de madeira, mais clara que a das paredes, do piso e da mesa. 
     
ㅡ Onde está indo, menino? ㅡ Perguntou a fechadura, tomando um susto com JungKook.
     
ㅡ Para Tarpe.
     
ㅡ Está cometendo um grande erro, volte ㅡ Mandou
     
ㅡ Você não manda em mim ㅡ colocou a chave na fechadura, que grunhiu em resposta ㅡ Abra.
     
ㅡ Seja educado, garoto cruel ㅡ falou abafado.
    
ㅡ Por favor, eu preciso conhecer esse lugar
     
ㅡ Este é seu lar agora, menino perdido de coração amável ㅡ A porta se abriu ㅡ Que o baralho o mantenha a salvo pela eternidade.
     
O coração doído, a mente medrosa e o corpo em êxtase pela recente adrenalina que o tomou. Nenhum ser toma decisões certas nesse estado de espírito. A luz do sol radiante a fora tomou o cômodo. 
      
Ele passou pela porta, que fechou atrás de si em um sopro e ele voltou rapidamente ao seu tamanho normal. Nem se aquela porta estivesse destrancada ele seria capaz de entrar. O desespero de estar muito longe de casa o tomou, por fim. Como voltaria? Onde passaria as noites?
    
Precisava achar Park Jimin, e o faria o mais rápido possível.
     
JungKook havia caído no Jardim de Borboletas. Marcado por pomares que não davam maçãs, davam cerejas. E, claro, além de se assemelhar mais a uma floresta que um jardim, era o lar de muitas borboletas de cores diferentes. Violetas, amarelas, alaranjadas, vermelhas e até verdes. Tinham aquelas, inclusive, da cor de Netuno, não o planeta ou o deus, e sim o tempo. Ele tem um segundo, a cor da borboleta.
      
No mundo dos humanos, a cor de Netuno é o azul. Tom que simboliza o céu, o oceano e o infinito. Opostos, como a tranquilidade e a depressividade.
     
Caminhava pela floresta, à procura de Jimin. Até que encontrou uma enorme mesa, cheia de bules de chá, biscoitos e xícaras, além de outras comidas, como um piquenique.
    
Não havia ninguém ali, nem mesmo aos arredores da floresta. JungKook viu-se sozinho, novamente. Foi até mais perto da mesa, sentindo o cheiro gostoso de chá quente. Pensou em tomar, mas não arriscaria mais uma vez, e se virasse uma borboleta?
    
Colocou a mão no peito, sentindo o coração acelerado, como se pudesse rasgar sua pele e pular para fora a qualquer instante.
    
Ouviu algo quebrar, uma xícara havia ido de encontro ao chão, molhando a grama com um chá avermelhado. Poderia ser de morango ou frutas vermelhas. Contudo, pelo cheiro, com certeza era morango.
    
Orelhas atentas e cinzas surgiram em uma das cadeiras. Estranhamente a orelha esquerda tinha uma cicatriz em forma de morango e estava caída. Seria fofo, se o dito ser desconhecido não tivesse assustado JungKook segundos depois.
    
ㅡ Quem é você? Está atrasado ㅡ Esbravejou com o garoto, descendo da cadeira no fim da mesa e mostrando-se por completo. Era uma lebre, andando em duas patas, que usava óculos arredondados, eles apenas deixavam mais claro as olheiras profundas nos olhos violeta ㅡ Espere… Emmaline não o conhece! ㅡ Ficou próxima de JungKook, que andou para trás, com medo ㅡ Ignorar Emmaline significa que está fugindo, por que está fugindo? ㅡ A lebre, que antes estava em sua frente, agora se encontrava atrás de si, apoiada em uma pedra e colocando chá em uma xícara de porcelana, até que esta transbordasse.
    
ㅡ Eu não tô fugindo ㅡ gaguejou.
    
ㅡ Você é tão lindo, mas é um péssimo mentiroso ㅡ A lebre se aproximou mais, deixando a xícara cair no chão e se quebrar em vários pedaços, assustando ainda mais o pobre garoto ㅡ Conte para Emmaline, huyendo del pájaro? No estás solo, corazón. Emmaline también se está escapando de Napoleón, ¡maldito pájaro! ㅡ Não entendia uma palavra. Estava com o coração na mão, tão quieto, quase mudo.
    
JungKook respirou fundo, sentindo os olhares pesados de Emmaline sobre si, esperando uma resposta. 
    
ㅡ Por que fala em espanhol? Eu não entendo ㅡ Tomou coragem, perguntando para a lebre, enquanto arrumava seu cabelo.
    
ㅡ Ah, então o nome disso é espanhol? Você é sábio.
    
Emmaline fechou sua expressão, puxando JungKook pela gola do moletom vermelho, fazendo-o engolir seco. Seus rostos estavam afastados por poucos centímetros.
    
Podia ver agora cada detalhe da lebre. A cor de seu pelo, era um tom entre o branco e o cinza. A orelha sem a cicatriz era enfeitada de qualquer forma com um laço vermelho cereja. Ela também usava um colar prateado, que tinha como pingente uma maçã verde brilhante, esmeralda.
    
ㅡ Emmaline vai matar você, não gosta de sábios. 
    
ㅡ Quem é Emmaline? ㅡ JungKook perguntou, mesmo sabendo a resposta, e sentiu todas as partes de seu corpo se arrepiarem. A lebre apontou para si mesma.
    
ㅡ Vocês, sábios e inteligentes, fazem Emmaline se sentir um nada. Ela não gosta disso, dói! Vocês nem são capazes de entender a si próprios, como podem entender tanto do mundo? Você, Jeon JungKook, não passa de uma triste alma que se droga com a leitura ㅡ Emmaline esbravejou com ele, rindo baixinho ao perceber suas reações. 
    
JungKook quase tremeu de medo ao sentir um beijo em sua bochecha, deixada pela lebre, que soltou a gola de seu moletom logo depois.
    
ㅡ Tome chá com Emmaline. Bienvenido a Tarpe ㅡ A água torna-se vinho, assim como a atmosfera mudou em um segundo. 
     
Emmaline havia sido avisada por Vrai Moi, ouviu a voz do mais sábio dos sábios em sua cabeça, dizendo para ela que JungKook não era um inimigo e não deveria ser morto.
    
A lebre segurou sua mão, que parecia enorme em comparação com a pata pequena. Guiou-o até a mesa de chá mas, antes que pudesse sentar para tomar a bebida quente, foram interrompidos.
    
ㅡ Não fez nada com ele, fez? ㅡ Perguntou Jimin, em sua forma humana.
    
ㅡ Emmaline não fez nada, Jimin. Foi avisada por Vrai Moi antes de matar esse sábio ㅡ Respondeu, sorrindo simplista, fazendo Jimin dar risada.
    
As conversas deles deixavam JungKook ainda mais confuso e perdido. Ouviu sobre Vrai Moi várias vezes, mas não sabia de fato o que, ou quem, ele era.
   
ㅡ Ele não é tal nome, Emmaline. É, na verdade, tão confuso quanto nós ㅡ Disse o loiro para a lebre, que entendeu perfeitamente.
    
Ele nem mesmo entendia as palavras simples, por que tudo naquele mundo parecia ter um significado diferente?
    
ㅡ Vamos, tem alguém que quero que você conheça ㅡ Disse Jimin, segurando a mão de JungKook, que apenas assentiu com a cabeça em um sinal positivo. Alívio foi o que sentiu com a ideia de deixar a mesa de chá e aquela loucura para trás ㅡ O gato logo virá para o chá, Emmaline.
    
ㅡ Vá pelo caminho de pedras, Jimin, hasta luego ㅡ Pediu, sorrindo.
    
Jimin e JungKook foram pelo caminho dito pela lebre, agora ele se sentia confortável por ver um rosto minimamente conhecido.
    
ㅡ Quem é Napoleão? ㅡ Perguntou JungKook, abaixando a cabeça e olhando para sua mão entrelaçada à de Jimin.
    
ㅡ É um pássaro mensageiro que faz com que todos sintam seus sentimentos transbordarem. Emmaline não gosta de Napoleão, sempre a faz chorar, os sentimentos dela são... intensos ㅡ Dizia Jimin, com cautela, de uma forma calma e clara para que o garoto pudesse entender.
    
ㅡ Pra onde estamos indo? Por que estou aqui? ㅡ Sentia-se confortável para perguntar agora, queria saber sobre tudo. Principalmente por ter estado a um fio de ser morto por um animal.
    
ㅡ Você adora perguntas, não é? ㅡ Jimin deu risada, soltando suas mãos e virando de frente para JungKook, passando a andar mais devagar por estar de costas.
    
ㅡ Gosto delas quando não deduzo as respostas ㅡ sorriu, envergonhado.
    
ㅡ Não posso dizer para onde estamos indo, ele me daria belos tapas. E você está aqui por causa do seu destino. Triste destino e tempo, que guiaram você até nós, como guiou outras pessoas especiais.
    
Jimin sentiu a brisa fria, que bagunçou seus fios loiros e o fez sorrir. Estava próximo.
    
ㅡ Quero que saiba que ele não é meias verdades, ele é sentimentos inteiros e intensos, que vivem misturados com seu jeito torto de viver ㅡ Jimin sorriu. 
    
Jimin ficou atrás do garoto, fechando seus olhos com as mãos pequenas e sentindo sua pele se arrepiar.
    
ㅡ Nunca o vi tão sóbrio, tão belo. Sentia falta desse garoto, e você o trouxe de volta. 
    
ㅡ O que tá dizendo, Jimin? ㅡ Perguntou JungKook, rindo fraco.
    
ㅡ Estou agradecendo você. ㅡ Continuou andando pelo caminho de pedras, com cuidado para não deixá-lo tropeçar.
    
ㅡ Mas… Eu não fiz nada ㅡ Sussurrou, sentindo seu corpo ser forçado a parar pelas mãos de Jimin.
    
ㅡ Está pronto? 
    
ㅡ Se eu disser que não, vai fazer alguma diferença? ㅡ Jimin riu.
   
ㅡ Pode ter certeza que não. 
   
ㅡ Então sim, eu estou pronto ㅡ As mãos pequenas foram tiradas de seus olhos, que fecharam um pouco, uma resultante da claridade.
    
ㅡ Taehyung, um amigo nos achou, você conhece? ㅡ O nome do ruivo mexeu com os sentimentos de JungKook.
    
ㅡ JungKook? Como entrou nos meus sonhos? Apenas eu faço isso ㅡ Sorriu de bochecha a bochecha, tirando os pés de dentro do lago encantado e correndo até eles.
    
ㅡ Ele está aqui, não é um sonho ㅡ Disse Jimin.
     
Ah, mas Taehyung era como um sonho.
   
Um sonho bonito do qual o fazia desejar nunca mais acordar. Dormiria para sempre se aquilo a garantisse ver o rosto singular de Taehyung pela eternidade.
    
Teve poucos sonhos com ele, mas depois do primeiro, o sentia por toda parte. Jurava que, se fechasse os olhos, poderia escutar sua voz. Cada detalhe que notou em seus momentos inconscientes era ainda mais nítido pessoalmente, e ainda mais bonito.
    
ㅡ É você mesmo? ㅡ Perguntou JungKook, coçando seus olhos e arrumando o cabelo.
   
Taehyung segurou sua mão, sorrindo ladino para Jimin, que logo transformou-se em coelho e saiu saltitando para fora da floresta.
    
ㅡ Estamos perdendo tempo, vem! ㅡ Puxou-o pela grama, saindo do caminho de pedras e seguindo em direção às árvores perto do lago, rodeadas por borboletas.
      
ㅡ O que foi? Tem algo pra me dizer? ㅡ Perguntou Taehyung ao notar os olhares de JungKook sobre si.
    
ㅡ Não… Puxa, eu tinha tantas perguntas, mas sinto que esqueci todas.
    
O chapeleiro encarou os olhos dourados, mordendo seu próprio lábio inferior e sorrindo pequeno.
    
ㅡ Seus olhos não estão mais cheios de água, JungKook… Você está feliz ㅡ Comentou, colocando os pés na água novamente.
    
O que estava acontecendo dentro de si, céus?
    
ㅡ Tulipas são flores bonitas ㅡ Ele pegou a flor de cores pastéis, que se encontrava no bolso da jardineira, JungKook não havia notado aquilo até então. Quer dizer, é claro que foi obra de Jimin Park, que deixou a flor ali sem que ninguém notasse. Taehyung colocou-a na orelha do garoto e sorriu ㅡ São como seus olhos, bonitos. Por que não fala comigo?
    
ㅡ Estou com medo de ser um sonho, chapeleiro, ser tudo um sonho. Você é real? ㅡ Suspirou, com o coração aberto, e abaixou a cabeça.
    
ㅡ Está muito difícil para você me chamar pelo meu nome, não é?
    
Taehyung segurou o rosto de JungKook com suas mãos, levantando-o e fazendo-o olhar para si. Logo aproximou-se, tocando seus narizes em uma carícia breve, como em um beijinho de esquimó, e se afastou, beliscando seu braço.
    
JungKook soltou um gemido doloroso que fez Taehyung rir alto, um som gostoso de ouvir, fazendo até seu chapéu cair no chão.
    
ㅡ Por que fez isso? ㅡ Perguntou, com um biquinho nos lábios.
    
ㅡ Está acordado. E eu não estou nos seus sonhos, não mais ㅡ Colocou o chapéu de volta, escondendo os fios acobreados bagunçados.

Você é uma parte do meu coração. E esta noite você pertence inteiramente a mim.
(tonight you belong to me)

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