Jogando os Dados com o Prazer...

By LeticiaBlack

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Aviso e 1. Impasse

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By LeticiaBlack

Olá!

Depois de ter meu email e minha Netflix hackeados 3x por conta de vazamentos de dados do Wattpad e anos de insatisfação com as atualizações da plataforma, decidi que era hora de largar o osso e sair daqui.

Por conta disso, todos os meus livros foram retirados e estão sendo movidos para outros lugares.

Caso tenha interesse, Jogando os Dados está disponível para aluguel e venda na Amazon e em versão física. O link para meu catálogo está disponível no meu perfil.

Caso tenha interesse, pode me procurar em alguma das minhas redes sociais. Estou sempre aberta a mensagens, dúvidas e para conversas também.

Desculpe o transtorno e tenha um bom dia <3

- Será que eu te vejo mais tarde, moça?

Esse cara. Esse cara era um idiota, mas basicamente o único amigo que ela tinha. A garota sempre fora meio comportada e quieta e até tinha outros colegas que saiam com ela uma ou duas vezes durante as férias, mas seu tempo livre, suas conversas e confissões, tudo era com ele. E eu sempre tive a certeza que tudo o que ele queria era entrar no meio das pernas dela - nunca entendi como ela não reparara nisso.

Era a famosa Friendzone, era óbvio. Se tomasse coragem, ele ia agarrá-la e não iria deixá-la fugir de jeito nenhum.

Ela sempre foi uma moça bonita, a Ludmila, sempre zangada e certinha. Não gostava de se exibir, de ser o centro das atenções e nem sequer gostava muito de sair. Acho que ela sempre teve uma zona de conforto muito rente e curta que a impedia de curtir a vida alopradamente como as outras garotas bonitas. Não bebia, não fumava e eu tinha impressão que ela também não era muito adepta do sexo e do rock'n'roll. Ela só era aquela criatura contida, carregando livros por aí, estudando e tomando latinhas de Pepsi com pacotes de biscoito Fofura. Chegava a ser patético, a beleza desperdiçada com apenas aquele idiota do Léo rodeando-a.

Bom, eu podia ter conseguido ela antes, é claro, mas eu estava ocupado com outras garotas mais fáceis para me concentrar apenas nela, embora gostasse de desafios. E também tinha aquele problema de aversão que ela parecia ter desenvolvido por mim desde o instante em que colocara os olhos em meu corpo maravilhoso - o que era bastante estranho, na verdade.

Era culpa do seu blábláblá qualquer sobre violência desnecessária.

Ela riu à pergunta de Léo, ressonando como a gatinha carente que era. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, envergonhada, flertando sem que ele sequer percebesse porque ele era um burro. Acho que ela nem fazia por mal, era mais uma questão de não ter mais nenhum cara rodeando-a, então todo o seu charme infantil era jogado para o amigo.

- Talvez - ela respondeu, doce. - Mas acho que só vou dormir até a semana que vem.

Ele riu, acompanhando, acostumado a fingir sentir graça de suas piadas depreciativas desde que se conheceram, no segundo período. No quinto, quase dois anos depois, eles tinham aquele entendimento silencioso, embora houvesse uma aura de desconforto pelo romance não concretizado.

Ele, fracote que era, não tomava iniciativa; ela, apenas não achava que devesse arriscar o único amigo que tinha em uma tentativa que podia ser frustrada.

Acho que ela aceitaria qualquer outra opção que lhe aparecesse, mas sua tentativa de permanecer invisível a todas as pessoas do campus era completamente bem sucedida.

Talvez eu fosse a única exceção, embora estivesse ignorando-a publicamente em boa parte do tempo.

- Bom, então acho que nos vemos em fevereiro - ele disse.

Em uma das raras vezes que ele se atrevia a ter algum contato físico com ela, deu-lhe um tapinha nas costas e um beijinho na bochecha. O clima desconfortável se instalou entre os dois porque ele sabia - todo mundo que tivesse algum conhecimento sobre Ludmila sabia - que ela teria três meses tediosos, implorando por algum evento social na cidade, que normalmente ficava vazia porque os estudantes retornavam todos para a casa de seus pais.

Algumas vezes, ela dava sorte; outras, apenas ficava em casa com a cara enfiada em livros e mais livros ou com o nariz inchado de tanto chorar vendo filmes românticos bregas.

Se esse fosse um cara esperto, podia abdicar umas férias para ficar com ela e tenho certeza que ele conseguiria o que queria sem muito esforço, mas - e eu ficava muito contente com isso - ele nunca pensou nisso, então o clima de despedidas era sempre desconfortável porque ambos sabiam que ela estava sendo abandonada para mais meses de tortura e reclusão.

- Eu vou tentar voltar antes e te ligo todos os dias! - Ele prometeu.

E essa história de ligar era mentira porque, como já relatei, ele era burro. Nem para se esforçar em mostrar interesse, ele conseguia. Ligava nos primeiros dias, trocava mensagem por, as vezes, duas semanas. Aí parecia encontrar algo mais interessante para fazer. Talvez tivesse mais desenvoltura com garotas desconhecidas ou tivesse alguma prima que ele pegava nas férias, mas esquecia-se de Ludmila com facilidade.

Ela sabia disso, então apenas lhe sorriu de forma triste, querendo acreditar, mas já não conseguindo. Léo não ligaria, não mandaria mensagens e retornaria em cima da hora para as aulas do próximo período. Talvez, se ela estivesse com azar, só retornasse depois do carnaval. Por isso, ela revirou os olhos para ele e, sem jeito, passou os braços ao redor de si mesma, um abraço que eu tinha certeza que ela gostaria de ter dado nele, mas havia alguma aversão a contatos físicos por ali, em algum lugar entre os dois.

- Tudo bem - ela disse, ao invés de gritar e acusá-lo de negligência, como ela provavelmente faria comigo.

Bom, toda essa solidão era por conta do pai dela, claro. Se ele não fosse um babaca ausente - e ela estava rodeada desse tipo -, ela não precisaria passar por esse tipo de coisa. Na época, eu não sabia porque ela escondia a informação, também se ocultando, mas o pai dela era um grandão em Brasília, um ministro importante. Ele apenas casara de novo em algum momento durante o seu primeiro e segundo período e dissera para ela que a nova esposa não queria ter contato com ela e que ela podia ficar onde ela quisesse.

Ludmila tinha todo o dinheiro que precisasse, mas era só. Podia viajar, é claro, para qualquer outro lugar, mas eu acreditava que ela devia achar isso um pouco chato de se fazer sozinha e nunca convidava Léo porque ele sempre tinha seus próprios planos.

Então ela se mantinha trancada no seu quarto na torre, esperando ser resgatada, como uma romântica.

Como já disse, era patético.

- Vou dar uma passada na xerox pra pegar uns papéis e me vou. - ele disse - Se você quiser me levar na rodoviária mais tarde, vou agradecer, tá?

Ela concordou com a cabeça, então ele se arriscou e lhe deu mais um beijinho na bochecha e se foi. Ludmila soltou um suspiro decepcionado, sempre esperando a melhor possibilidade quando se tratava de Léo, e deu de ombros, sacolejando a mochilinha que carregava. Se arrastando e dando adeus à sua vida social pacata, ela chegou a lanchonete e pediu um sanduíche natural e Pepsi. Enquanto o atendente pegava seu pedido e o troco, uma das minhas maravilhosas fãs cutucou-a e entregou o papel da minha corrida da noite.

Corrida, essa, que eu iria vencer porque eu sou demais.

Ludmila revirou os olhos assim que a garota lhe deu as costas, amassando o papel e jogando na lixeira de qualquer jeito, quase errando devido à sua péssima mira. Eu tenho certeza que tinha uma foto muito sexy minha no folheto, mas, talvez, a cara feia do meu adversário profi-babaca-ssional a tenha assustado.

O que eu estava falando? Balela. Ainda era tudo sobre o blábláblá de irresponsabilidade no volante.

Ela soltou um suspiro resignado, como se a lembrança da minha existência fosse algo que realmente a incomodasse e quase não notou o atendente da lanchonete acenando atrás de si para lhe dar os seus pedidos porque eu cruzei seu caminho naquele momento.

Ela me deu seu tradicional olhar zangado e raivoso, mas foi interrompida pelo atendente, que resolveu berrá-la para chamar sua atenção. Eu nem me incomodei, continuei meus afazeres habituais, perturbar e sacanear a qualquer um que pudesse me irritar.

Porque eu podia.

Ludmila pegou sua comida e se sentou encostada em uma árvore perto da entrada do prédio da faculdade, talvez na esperança de ver Léo passar na saída ou de que ele fosse falar com ela mais uma vez antes de ir, mas se distraiu com o livro que abrira em seu colo e não o viu passar. Ele, preocupado em terminar de fazer as malas, também não a viu.

Eu era o único ligado na situação e vi os dois.

- BRIGA! BRIGA! BRIGA!

O grito ecoou por todo o campus apenas alguns momentos depois, fazendo Ludmila levantar os olhos do seu livro, olhando ao redor para saber o que estava acontecendo e tornar-se a defensora da paz e da tranquilidade que tinha nascido para ser.

Minha primeira aparição nessa história. Por favor, não se apaixonem tanto.

E lá estava eu, rindo em toda a minha glória, com um bando de gralhas ao meu redor e Léo caído a minha frente, a mão na boca exatamente onde meu punho estivera. Esperava que ele tivesse perdido um dente ou dois, mas quando ele afastou a mão, eu pude ver que só tinha um pouquinho de sangue. Ele estava sendo apenas frouxo mesmo.

- O quê? - Ludmila apareceu, empurrando as pessoas roda que se formara ao redor de mim e de seu amigo, apenas para lançar um olhar resignado ao encontrá-lo estirado no chão.

Minha vontade era dizer: Sim, baby, ele é um babaca e um fracote. Não dê atenção à ele. Dê para mim. Quis dizer a atenção, mas se você quiser outra coisa...

Mas não disse e ela também não me daria ouvidos, então ela apenas ajoelhou-se ao seu lado, parecendo devidamente preocupada e checando seus lábios com cuidado e atenção.

- Eu estou bem, Ludmila, me deixe - ele murmurou, zangado.

Cerrei os olhos. A garota não tinha culpa da incompetência e falta de habilidades físicas dele. Ou simplesmente não ter nenhum tipo de hombridade de permanecer em pé e revidar quando apanhava. Eu estava esperando uma luta quando impliquei com ele, não um massacre. Estava me sentindo um pouco envergonhado, até. Dele. Não de mim, porque minha perfeição nunca teve limites e eu não fiz nada vergonhoso.

- Quem você pensa que é? - Ludmila virou seu rosto zangado em minha direção e antes que pudesse terminar a frase, estava de pé, o dedo em riste apontando para mim.

Eu não contive o meu sorriso e cutuquei Marcos, meu fiel companheiro, com o cotovelo. Como nos entendíamos assombrosamente bem, Marcos sabia a minha piada antes que eu pudesse dizer e já estava rindo dela.

- Veja só, o idiota do Léo precisa de uma garota para defendê-lo! - eu ri também porque era muito engraçado.

Patético, na verdade. Se eu tivesse uma garota dessas, amiga ou algo mais, ela ficaria bem revoltada atrás de mim, enquanto eu lutaria as batalhas dela por ela, se assim quisesse. E continuaria inteira. Para a minha própria apreciação depois.

- Mas você não tem escrúpulos mesmo! - ela berrou, apertando a mão que não apontava para mim na latinha de refrigerante que havia comprado na lanchonete.

Ludmila estava irada. Seus olhos estavam cerrados, as mãos estavam tentando fechar-se em punho, suas narinas inflavam enquanto sua respiração alterava subia e descia rapidamente os seus maravilhosos peitos.

Ela provavelmente não havia percebido que era o centro das atenções no momento e que alguns caras estavam encarando a sua movimentação graciosa, embora irada, com olhares cobiçadores e queixos caídos. Eu tinha percebido tudo e eu não gostava.

Era estranho, mas me incomodava.

- Ah, linda, você não tem culpa se seu namoradinho não tem colhões pra se defender como gente - eu disse.

Ela abriu a boca para responder, a língua feroz que tinha e com quem eu já havia tido o prazer de discutir algumas vezes, embora nunca tivesse visto perder tanto o controle para a raiva. Porém, sua resposta nunca veio.

- Ela não é minha namorada! - Léo berrou, logo atrás de si, surpreendendo-a e fazendo com que ela engolisse seja lá o que iria dizer.

Ah, as coisas idiotas que nós homens falamos quando temos nossa masculinidade afetada. Ele provavelmente nem se dera conta de que podia ofender a garota ou que poderia se perder ainda mais em vexame.

Eu achei que a humilhação dele estava concluída e não disse mais nada. Estava um pouco distraído pela expressão decepcionada-irada de Ludmila e por seus seios se movimentando ainda por sua respiração irregular.

- Vamos sair daqui, Ludmila - Léo disse.

Ele estava de pé novamente e as pessoas começaram a se distanciar, achando que a briga estava finalizada. Segurou nela pelo pulso, mas ela sacudiu o braço, afastando-se do aperto. Marcos, ao meu lado, bocejou.

- Você pode ir sozinho - ela disse, calmamente.

Léo piscou, em dúvidas sobre a tranquilidade que ela tentou passar pela sua voz, mas sem conseguir esconder toda sua hostilidade e ironia. Pobre garoto, apenas concordou com a cabeça, tendendo a pensar o melhor dela.

Ele estava encrencado. Ela já devia estar bastante zangada por estar ficando abandonada em mais um verão e ele havia acabado de estragar tudo, mas não era esperto o suficiente para ver.

- Tudo bem - disse.

E, empurrando as pessoas, sumiu de vista. Assim que ele se foi, voltei a encarar Ludmila, que estava tomando mais um gole de sua Pepsi pelo canudo, planejando voltar a ficar invisível logo em seguida.

- O que você está olhando? - ela questionou, claramente revoltada por estar chamando atenção.

O sorriso foi aos meus lábios antes mesmo que eu pudesse controlá-lo. Ah, eu sabia muito bem o que eu estava olhando. Eu estava vendo uma das garotas mais gostosas que meus olhos já haviam batido sobre.

Seus cabelos eram de um tom escuro, muito preto e quase ninguém conseguia aquele tom natural. Seus olhos eram grandes, em um castanho especial, que poderiam capturar qualquer um por uma eternidade, sem nem causar cansaço ou tédio e a sua pele era dourada, de quem passava horas deitada nos vastos gramados do campus, lendo e fazendo seus trabalhos, não querendo retornar para a solidão da sua casa.

E as curvas, ah, as curvas. Ela não era exatamente magra, o que era muito bom, porque suas curvas eram muito mais bonitas. Tinha a cintura definida pelo quadril largo, seguido das coxas grossas, que eu já tinha reparado que raramente ficavam desnudas por aí. Seus seios eram simplesmente deliciosos, grandes, bem do jeito que eu gostava.

Uma beldade à minha altura, embora desacreditada. Uma boa dose de autoconfiança e nós poderíamos ser Romeu e Julieta, sem as mortes e sem a família. O ódio ficaria por nós mesmos.

Mas descontaríamos na cama, é claro.

- Seus peitos - eu respondi, deliberadamente.

Sem resposta pela segunda vez nos últimos minutos, Ludmila abriu e fechou a boca várias vezes, enquanto Marcos ria ao meu lado e eu exibia o meu mais irritante e charmoso sorriso só para ela.

Algumas pessoas ainda estavam olhando a cena de longe, mas a maioria havia perdido o interesse quando Léo se afastara para o ponto de ônibus. Perto, rodeando mesmo, estávamos apenas nós três, Ludmila, eu e Marcos, e mais dois rapazes que pareciam querer comer Ludmila com os olhos, além de uma garota - a peguete atual de Marcos.

O que foi bom, visto que Ludmila jogou todo o resto de sua Pepsi bem na minha cara.

Estufei o peito, tentando manter a calma, enquanto Marcos segurava a respiração, sem saber o que fazer. Minha reação mais natural era dar um soco na pessoa que me irritava e se ela passava dos limites, como Ludmila havia acabado de fazer, eu podia bater um pouco mais.

Mas era Ludmila. Era uma garota, muito gostosa por sinal, e sem nenhuma chance contra mim. Nenhuma.

E eu não queria machucá-la, também. Não queria bater nela, nem espancá-la ou matá-la. Eu só estava com raiva, muita raiva, principalmente do seu sorriso convencido ao segurar a latinha com os dois dedos e derrubá-la no chão antes de pisar, uma metáfora clara de que era o que ela queria fazer com isso.

Eu deveria ter dito: Sim, baby, pode pisar em mim a hora que quiser. Na minha cama ou na sua, com saltos altos e o sapato pode ser vermelho. Vou adorar.

Mas o que eu fiz foi levar minhas duas mãos à costura da sua blusa no decote e puxá-las à extremidade, arrebentando-a bem ao meio e me dando uma visão maravilhosamente deliciosa dos seus seios cobertos apenas por um sutiã de renda rosa.

Rosa. Eu nunca imaginaria que ela era uma garota do tipo rosa.

A boca de Ludmila caiu antes que ela pudesse puxar as duas bordas rasgadas da sua blusa uma contra a outra, se apertando em um abraço envergonhado, enquanto suas bochechas ganhavam um tom rosado que me lembravam da cor de sua lingerie.

Ao redor de nós, Marcos e os outros dois garotos estavam quase uivando à visão, o que estava me dando coceira nas mãos. Havíamos chamado a atenção de mais gente, outra vez, mas estavam apenas virando os rostos e entortando pescoços para ver se ainda estava interessante ou não.

- Você rasgou minha blusa! - ela exclamou o óbvio.

- Você jogou seu refrigerante em mim. - eu retruquei - Temos um impasse.

Por uma eternidade, nós dois nos encaramos, avaliando o potencial inimigo (eu confesso que estava avaliando outras coisas, mas Ludmila cerrava os olhos para mim e eu cerrava para ela porque... Bom, porque sim). Ela estava furiosa, envergonhada, revoltada, decepcionada e queria descontar tudo em mim. Eu não era o tipo de cara que gostava de levar na cara sem bater, mas gostava de travar minhas batalhas à altura, na maior parte do tempo. E socos não seriam nem perto de à altura com ela. Gostaria de sugerir um campo mais neutro.

- Acho que teremos que jogar os dados - eu disse.

Depois de correr, era uma das coisas que eu mais gostava de fazer e ter as duas coisas quase sempre juntas era um júbilo sem fim. Era ótimo ganhar meu próprio dinheiro, fazendo apostas altas ao meu favor. Eu tinha feito uma grana muito boa assim, visto que durante os meus três anos na faculdade, eu nunca tinha perdido nenhuma corrida. Trinta e sete corridas, eu tinha comprado um carro novo com meu próprio dinheiro e não tinha que fazer contabilidades para saber se eu estava apertado ou não. Eu nunca estava.

- Jogar os dados? - ela me perguntou, devidamente confusa.

Sua raiva estava subjugada pela confusão e pela vergonha. Ela estava apertando os pedaços da blusa ao seu redor e olhando para os lados, como se procurasse alguém olhando para que ela pudesse lançar seu pior olhar maligno.

- Apostar.

Naquele momento, eu sorri porque eu encontrei minha motivação para vencer. Ah, eu sabia o prêmio que eu queria e era muito melhor do que dinheiro.

- Sua corrida? - ela questionou, com um sorriso irônico.

- É claro - eu lhe respondi.

Ludmila estalou a língua, ponderando minha proposta, mexeu os braços de forma tensa ao redor de si, querendo que a blusa ficasse presa por si só e eu já estava quase arrependido, mas o meu pensamento sobre minha premiação estava me levando aos céus.

Ela.

Ao meu dispor.

- Se você perder - ela sussurrou, me impressionando ao aceitar tão rápido, provavelmente para resolver adiar logo nosso enfrentamento e ela poder se vestir apropriadamente. - Você nunca mais vai participar dessas corridas ou bater e implicar com qualquer pessoa no campus.

Claro que ela queria e achava que eu perderia aquela corrida. Estavam todos achando que eu não era o suficiente para vencer o profissional idiota, mas eu era. Ainda mais agora.

Porém, seu pedido me chocou. Eu estava disposto?

Ah, mas que diabos, estava sim. Que os dados rolassem.

- Se eu vencer, quero que você passe suas férias comigo.

O pedido pegou-a desprevenida e eu a vi avaliar mentalmente se aquela era uma ideia de todo o ruim, não ficar trancada em casa pela primeira vez desde que o pai se casara de novo, mas o problema era que ela era uma espécime zangada de mulher.

- Mas são três meses! - Ela resmungou.

- O meu é para sempre e você me vê reclamar? - perguntei. - O que foi, está com medo de perder?

Porque eu não estava e ao vê-la cerrar os olhos, eu sabia que ela havia encontrado sua própria certeza. Porém, minha motivação estava no céu e o poder de mudar o jogo era meu. Eu que correria, se eu perdesse, eu perdia tudo. Se eu ganhasse, eu ganharia tudo.

Corridas, apostas e Ludmila. Parecia soar muito bem.

- Te vejo na rua - ela me disse, com os olhos ainda cerrados.

Sorri-lhe e ela virou as costas para se afastar. Rapidamente, coloquei minha mochila aos meus pés e a abri, me abaixando.

- Ei, Ludmila! - chamei.

Assim que ela se virou, joguei minha camiseta de botões que eu havia colocado por cima da branca naquela manhã, mas o calor não deixara que eu continuasse a utilizar. Ela pegou-a no ar, com as duas mãos, me deixando ter um deslumbre de seu sutiã rosado mais uma vez.

Seu olhar encontrou com o meu, confuso com uma demonstração de piedade e eu continuava sorrindo despreocupada e convencidamente.

- Não vai me dar um beijo de boa sorte? - eu questionei.

Ela cerrou os olhos, sem entender qual era toda a minha tramoia naquela situação.

- Merda pra você! - disse o cumprimento comum dos artistas, passando os braços pelas mangas da camisa e virando-se de costas novamente, indo embora.

E eu ri porque eu sabia que seu desejo era literal.






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