Anastásia tinha passado seus dias entre ficar no jardim e conversando com os empregados, Erik raramente era visto, e poucas vezes se juntava a ela para comer.
Numa tarde daquele mês, Anastásia estava entalhando um arranjo de mesa, era de costume a jovem se sentar no chão do jardim e passar horas com as madeiras.
Uma sombra a cobriu, Anastásia pensou que o tempo iria virar para chuva, ao levantar a cabeça viu Erik a encarando. O homem estava com um casaco preto e um guarda-chuva em mãos.
- Você realmente não é uma dama. O homem se curvou um pouco e observou a moça.
- Ah? Anastásia piscou para o homem.
- Você está toda suja, uma dama não ficaria todos os dias sentada no chão, em meio a sujeira. Erik continuou a observar a jovem.
Anastásia achou aquilo um ultraje, ela não estava fazendo nada... Ela só estava se distraindo.
- E você é um estranho por andar por aí com um guarda-chuva. Anastásia apontou para o objeto.
- Não é um guarda-chuva, e sim um guarda sol. Você não percebeu, está fazendo um sol horroroso. Erik balançou o guarda sol, e seu cabelo caiu em seu rosto.
- Tanto faz... Eu gosto de ficar aqui e fazer meus trabalhos com a madeira. Anastásia deu de ombros
" Ele está me provocando... E como ele sabe que eu fico todo dia lá?" A jovem questionou o olhando curiosa.
- E... Como você sabe que eu faço isso todos os dias, eu nem te vejo. Deixa-me ver... Hoje é a primeira vez que te vejo depois de ... Um mês escondido. Anastásia limpou a saia de seu vestido e se levantou.
- Escondido? Eu... Eu... Sou o que? Como você fala essas coisas, eu não estava escondido. Eu ando pela minha mansão a vontade. E não seja tão curiosa, damas curiosas são muito mal vistas. Erik começou a caminhar.
- Aonde você vai? Anastásia o acompanhou.
- Não ouviu... Damas curiosas... Erik olhou para a jovem.
- " são muito mal vistas" Anastásia imitou o homem.
- O que! Você está tirando sarro de mim? Erik parou e viu a jovem rir.
- Não! Claro que não... E me diga, onde você está indo? Anastásia continuou a acompanhar o homem.
- Me matar... Satisfeita? Erik continuou andando.
- Isso não tem graça! Um homem como você, não deve pensar nessas coisas... Na verdade, ninguém era para pensar nisso. Anastásia fechou a cara.
- Um homem como eu? Por favor senhorita, continue seu pensamento... Erik chegou perto do lago.
- Ah... Como você, sabe... Você tem essa mansão, tem amigos que realmente importam com você. Não é certo pensar em se matar assim tão naturalmente. Anastásia se sentou na beira do lago.
Erik observou a jovem, ela estava balançando os pés dentro da água, seu vestido já estava todo molhado e bagunçado.
- Você não me conhece... Erik continuou de pé com seu guarda sol.
Anastásia o olhou de cima, o homem era um pouco estranho. Num instinto ela puxou a mão do homem, que se agachou e a olhou sem entender nada.
- O que... O que você está fazendo? Erik deixou cair o guarda sol.
- Olha essa paisagem, não é bonita? Se você tirar um minuto de seu dia, e simplesmente admirar esse lugar, não teria pensamentos ruins... Eu... Eu... Realmente acho que você não é uma má pessoa e sou agradecida por você... Argh, pensava que você ia fazer algo comigo... Anastásia se lembrou dos rumores, e de tudo que na primeira vez naquela mansão aconteceu.
- Você fala demais... E, não há por que me agradecer por nada. Erik se levantou.
- Hey!! Aonde você vai... Anastásia correu para alcançar o homem.
- Para meu quarto, vai me acompanhar até ele também senhorita? O homem a fitou.
- N... Não!! Eu conheço os lugares que não devo entrar. Anastásia gritou e ficou sem jeito.
- Ótimo, pelo menos a senhorita é uma boa ouvinte. Erik desapareceu ao subir as escadas da mansão.
Anastásia sabia que tinha três lugares que a jovem era proibida de ir, o quarto de Erik, a sala de música e um quarto que vivia trancado no segundo andar.
- Querida, você finalmente apareceu. Eu sei que você me contou que fazia um ótimo ensopado de frutos do mar, e então eu queria pedir se a senhorita... A cozinheira da mansão tinha faltado aquele dia, e as empregadas estavam nervosas, pois ninguém sabia cozinhar.
- Oh, eu sei.... Vamos, eu ajudo. Anastásia sorriu e partiu para a cozinha.
- Anastásia querida ... Você realmente é muito experiente cozinhando. As senhoras estavam admiradas com a facilidade da jovem.
- Ah... Eu realmente gosto de cozinhar, eu era responsável pelas refeições na casa de minha madrasta. Anastásia cortava habilmente cenouras, vagens e batatas.
- Oh... Você é demais! Senhorita. A senhora bateu palmas para a jovem.
- Eu cansei de falar, me chamem de Anastásia só... Senhorita, parece que eu tenho muito direito de usar um título desse. Anastásia limpava mariscos e observou as senhoras tristes.
- Não achamos isso, Anastásia... Você é realmente uma ótima companhia e nos ajuda muito com o senhor Destler. A senhora a olhou.
A jovem olhou as mulheres, se sentia tão bem lá. Não era nada comparado aos mal tratos de sua madrasta.
- Pronto! Podemos nos servir. Anastásia arrumou os pratos e serviu cada uma das senhoras.
- Ohhh está divino! Edmund tinha entrado na rodinha de conversa com as empregadas.
- Uma delícia!! Mas não podemos comer, temos que servir o senhor Destler... Céus, ele vai ficar furioso. Uma das senhoras deu pulo da cadeira
- Não se preocupem, eu faço isso... já arrumo a sala de jantar. Vocês podem aproveitar o prato. Anastásia rapidamente pegou os pratos e os talheres.
Erik estava sentado na mesa, era estranho, aquele horário ele já estaria jantando. E agora não tinha notícias de nenhuma das empregadas.
- Oh... Erik, você já chegou. Pensei que você ia comer no quarto. Anastásia se assustou ao ver o homem.
- E você ainda está toda suja... De Lama. Erik olhou nos pés da jovem.
- Eu não pude me trocar, mas ... espere. Aqui, por favor coma. Anastásia serviu um pouco de ensopado para o homem.
Erik sentou aquele aroma tão delicioso, aquele prato parecia muito apetitoso.
- Sente aqui comigo também... Erik indicou a cadeira para a jovem.
- Ah... Eu preciso me limpar, né? Devo ter me animado na cozinha... E aí, perdi a noção do tempo. Anastásia estava sem jeito.
- Uma hora a mais ou a menos não irá fazer mal, sente-se aqui. Vamos jantar. Erik continuou insistindo.
Anastásia não queria ser mal educada, apenas obedeceu ao homem.
- Huuum!!! Que delícia!! Realmente, frutos do mar frescos dão um outro sabor para o prato. Anastásia soltou um suspiro de satisfação.
- Está boa. Erik falou seco.
- Só boa? Está delicioso!! Você é um homem muito sem graça. Anastásia ficou chateada, tinha feito aquilo com tanto carinho, e ganhou apenas um "está boa".
" Homem insensível....eu fiz com tanto amor, para ele" a jovem tinha perdido o juízo mesmo.
- Certo... O que faço, hum... Depois do jantar que está bom, vou lhe mostrar algo e te agradecer pela refeição. Satisfeita? Erik gesticulou com as mãos.
- O que você vai me mostrar!! Anastásia ficou curiosa.
- É surpresa, e antes disso ... Você precisa se trocar e depois me encontre aqui. Erik apontou para a barra toda enlameada do vestido da jovem.
- Certo... Vou terminar isso logo. Já subo. Anastásia deu de ombros para o comentário do homem.
" Christine realmente iria te ensinar boas maneiras, se ela te conhecesse vocês seria bastante amigas" Erik lembrou de sua amada esposa, era fato que Christine adorava fazer amigos, diferente de Erik que era tão fechado.
Ao terminar o jantar, Erik ficou esperando a jovem. Iria permitir que Anastásia entrasse na sala de música, estava com saudades de tocar também, seria uma distração.
Anastásia tomou um banho rápido, e trocou o vestido. Queria saber o que Erik queria mostrar.
- Céus.... Você nunca usa sapatos? Erik olhou a jovem correndo.
- Ah... Verdade né? Me esqueci. Posso voltar pegá-los. Anastásia olhou para os pés, era acostumada a andar descalça, não parecia ser algo ruim.
- Não, não precisa. Vem me segue. Erik andou até a porta da sala de música.
- Ohhh... Você vai me deixar entrar?! O que.... Anastásia se admirou, a sala era tão grande, como todos os outros cômodos eram.
- É uma sala de música, e sim... Você pode entrar. Erik caminhou até o meio da sala.
Anastásia deu um passo e parou, mais à frente tinha um piano, mesmo ele estando diferente, aquele piano...
" Sim!! É o piano de minha mãe!!" Anastásia estremeceu e começou a chorar.