✘ toxic.

By svtmol

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[ wonchan | mermaid!au ] onde chan é uma sereia e wonwoo tem medo do mar. © svtmol, 2020. More

Prólogo.
1. Primeiros versos de uma canção.
2. À deriva.
3. Ondas do passado.
5. Quando a maré abaixa.
6. Diamantes sobre as ondas.
7. Penas púrpuras.
8. O Oceano.
9. Quando as ondas quebram na praia.
10. O destino de Andrômeda.
11. A tempestade se aproxima.
12. O som das conchas.
13. Promessas sussurradas entre as ondas.

4. Lágrimas peroladas.

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By svtmol

"Mas uma sereia não tem lágrimas, e, portanto, ela sofre muito mais."
— Hans Christian Andersen

Wonwoo não conseguiu dormir depois daquele pesadelo.

Ficou acordado o resto da madrugada, esperando o horário de se levantar e se arrumar para a faculdade. Às vezes o rosto de Seulgi aparecia em sua mente, seus olhos pequenos e brilhantes, que diminuíam toda vez que ela sorria. Seulgi e Wonwoo eram inseparáveis, principalmente, por terem quase a mesma idade. Seulgi adorava o mar, fora uma grande ironia ter sua vida tirada justo por aquilo que mais amava. Aquele vazio, aquele sentimento de inutilidade, preencheu o coração de Wonwoo. O garoto voltou a chorar, deixando-se consumir pela culpa, pela tristeza e pela saudade.

Ele devia ter feito mais, não devia? Se amava tanto Seulgi do jeito que dizia, por que não a salvou? Por que não puxou sua mão? Por que ficou parado? Por que deixou o medo paralisa-lo?

E então, seu despertador tocou. Ficou parado por mais um tempo, tentando parar de chorar, antes de se levantar e ir tomar um banho. Guardou os materiais dentro de sua mochila e pegou as apostilas das aulas que teria hoje. Ao sair de casa, se deparou com Doyeon, ela trancava sua porta e parecia pronta para estudar. Fora só naquele momento que Wonwoo percebera que não se lembrava de ter voltado para casa. A última lembrança que tinha era de estar no quarto da garota, jantando.

— Ei, Doyeon. — Ele a chamou e se aproximou dela.

— Oi, Wonwoo! — Ela acenou e guardou as chaves em sua mochila — Dessa vez saímos juntos, olha só!

— Pois é. — O garoto riu nervoso e alternou o peso do corpo de um pé para o outro — Hm... Aliás, ontem, como eu voltei pra casa?

— Ué, você não se lembra? — A menina ergueu as sobrancelhas — Você levantou e disse que estava com muito sono porque ficou a tarde inteira estudando, ou sei lá o quê. E aí foi embora.

— Ah, sim, verdade. — Wonwoo sorriu, sem graça — Acho que eu estava com muito sono, pois, não lembro de nada.

— Coitadinho. — Doyeon riu e deu tapinhas em suas costas — Mas, então, vamos? Não quero chegar atrasada pra minha aula.

O trajeto fora tranquilo, porém, a cada passo, Wonwoo achava difícil ignorar o ácido em seu estômago, pensando que, talvez, aquilo que Doyeon lhe contara não fosse o que aconteceu de verdade. Ao entrarem na faculdade, se despediram, e cada um fora para suas respectivas salas. Quando Wonwoo se sentou atrás de Seungkwan, percebeu que o amigo não o vira chegar; o loiro observava algo pela janela com um olhar distante e entorpecido.

— Seungkwan? — Wonwoo o tocou, e o garoto pulou de susto — Opa! Tá tudo bem?

— Sim! — Seungkwan suspirou e balançou a cabeça — Pensei ter visto alguma coisa, desculpe.

Novamente, Wonwoo sentiu o ácido queimar seu estômago. Havia algo errado, mas o quê? Não teve tempo de pensar muito, pois, sua professora chegara na sala. Mais tarde, naquele dia, Wonwoo e Seungkwan encontraram os amigos na cantina, e, após pedirem seus almoços, sentaram-se em uma mesa.

— Wonwoo, eu te vi chegando com uma garota. — Mingyu disse, atraindo a atenção de todos — Quem é? É sua namorada?

— Você tem namorada? — Jeonghan perguntou, exasperado.

— Não! Não tenho, não. — Wonwoo tratou de explicar rapidamente — Ela é só uma amiga, moramos no mesmo complexo. Somos vizinhos.

— Ah, sim. — Jeonghan sorriu, aliviado. Mingyu, Seungkwan e Jun lançaram um olhar malicioso na direção de Wonwoo, este apenas os ignorou, e voltou a comer. Joshua suspirou e resolveu criar outro assunto para conversarem.

As coisas ainda estavam complicadas entre Wonwoo e Joshua, mas Wonwoo tentava de tudo deixar a situação menos estranha. Conversou, animadamente, com seus amigos, se sentindo cada vez mais relaxado diante deles. Por um momento, sentiu um arrepio na espinha e desviou sua atenção da conversa, seus olhos indo parar direto nele. Chan o encarava com dúvida no olhar, porém, Wonwoo apenas o ignorou e voltou a responder seus amigos. Chan sentiu o estômago pesar, e fez uma careta.

— Ih, o que foi? — Seokmin cutucou o braço de Chan — Seu nerd não está te dando atenção mais?

— Mais ou menos isso. — Chan resmungou e voltou a olhar seus companheiros.

— Vai ser melhor assim, não? — Hansol ergueu uma sobrancelha — Ele é amigo de Jeonghan.

— Ele ainda guarda rancor do Chan? — Soonyoung franziu a testa — Gente, mas esse aí não sabe superar mesmo.

— Não julgo o cara. — Minghao deu de ombros e, sutilmente, desviou o olhar até um dos garotos daquela outra mesa. Ele era tão bonito que Minghao sentia vontade de observá-lo o dia inteiro.

— Não foi culpa do Chan se o fulano lá se jogou do penhasco. — Soonyoung revirou os olhos — Ele que era emocionado demais.

— Humanos... — Hansol balançou a cabeça.

— Podemos não falar sobre esse assunto, por favor? — Chan estalou a língua e observou Jihoon se mexer inquieto em sua cadeira — Além do mais, temos um humano com a gente.

— Ah, é verdade. — Soonyoung apoiou o rosto nas mãos e sorriu — Nosso Jihoonie.

— Hm... Vocês descobriram alguma coisa sobre a morte do veterano? — Jihoon limpou a garganta.

— Não. — Seokmin resmungou e rangeu os dentes — Não encontrei ninguém suspeito, e muito menos o motivo desse furdúncio todo. Nós, sirenas, não deixamos restos para trás. Não desse jeito!

— No máximo sobram os ossos, mas a gente enterra. — Hansol comentou.

— Eca. — Minghao fez uma careta e olhou Jihoon — Você não tem medo de ser devorado, não?

— Seokmin me prometeu que não faria isso comigo. — Jihoon disse, timidamente, e tocou a mão do namorado — Eu confio nele.

Seokmin encarou a mão do outro sobre a sua e desviou o olhar até o rosto de Jihoon, este lhe olhava com expectativa, seus olhos brilhando. A sirena suspirou, cansada, e entrelaçou seus dedos nos de Jihoon.

— É.

Jihoon sorriu que nem um idiota, sentindo o coração acelerar em seu peito, e apoiou a cabeça no ombro de Seokmin, arrancando risadinhas de Hansol.

— Por que você não namora comigo, Jihoonie? Eu poderia te amar mais. — Soonyoung esticou o braço para tocar Jihoon, mas Seokmin bateu em sua mão.

— A questão não é essa, precisamos descobrir quem foi! Temos que nos preparar caso ela ataque de novo.

— O único jeito viável, na minha opinião, é ficar de sentinela aqui no campus à noite. — Chan falou, tomando um gole de seu suco.

— Cansativo demais, eu preciso do meu soninho de beleza. — Soonyoung fez uma careta, e Minghao concordou.

— Eu também.

— Misericórdia. — Seokmin apertou a ponte do nariz com sua mão livre.

— Sem estresse, Seokmin. — Hansol riu — Vai dar tudo certo, uma hora vamos descobrir quem é.

Depois disso, Chan não prestou mais atenção na conversa, sua mente começou a girar em torno de Wonwoo. Ele estava diferente, parecia cansado. Algo aconteceu? Ele estava bem? Chan queria bater em si mesmo. No dia anterior, pediu para que Wonwoo o esquecesse, e agora, aqui está ele, todo preocupado com o garoto. Às vezes Chan queria ser uma sirena, não sentir emoção alguma, principalmente, amor, deveria ser ótimo. Seokmin e Hansol nunca reclamaram. Após um tempo, tivera que voltar para suas aulas no período vespertino, seu curso era biologia marinha. Por mais irônico que fosse, Chan gostava do mar, era um mundo tão diferente, tão diversificado. Ele sentia falta de lá.

Nem viu quando parou de andar. Olhou para o lado e se deparou com o altar de Seungcheol, sentindo a garganta fechar ao ver a foto sorridente do rapaz. Chan sentia falta dele. Sentia falta dos seus toques, da sua risada, da sua voz. Porém, junto da saudade, vinha a culpa. Seungcheol não merecia o fim que teve, e o responsável por este fim fora, unicamente, Chan. Ele sabia das complicações, então, por que não se afastou enquanto ainda havia tempo? Por que se deixou levar pelos sentimentos? Chan, agora, tinha medo de amar, medo de levar outro alguém a fazer o mesmo que Seungcheol.

O rosto de Wonwoo apareceu em sua mente. Não podia perdê-lo também. Talvez afastá-lo tivesse sido a melhor opção. Entretanto, por que Chan não conseguia esquecê-lo? Por que, de tempos em tempos, o sorriso adorável de Wonwoo aparecia em sua mente? Chan odiava ter sentimentos.

— O que faz aqui?

O garoto se virou rapidamente e deu de cara com Joshua. O mais velho o encarava com ódio no olhar.

— Eu... Estava só olhando. Sinto falta dele.

— Você não tem o direito de sentir falta dele. — Joshua rangeu os dentes — Foi culpa sua!

— Mas você sabia! — Chan rebateu — Você sabia e não fez nada para ajudá-lo!

Joshua não soube o que responder. Talvez Chan tivesse razão, mas Joshua não queria aceitar. Balançou a cabeça e passou pelo garoto, o empurrando no processo. Chan fungou e olhou a foto de Seungcheol mais uma vez, lembrando dos momentos que passaram juntos, antes de ir para sua sala.

Não muito longe dali, Minghao estava numa fila, esperando sua vez de xerocar um texto para sua aula teórica de dança. Estava tão distraído, que nem percebeu a fila andar.

— Com licença, você tá na fila?

Minghao piscou e procurou o dono da voz, sentindo o coração pular ao perceber que era o garoto bonito da cantina.

— Ah, estou sim.

— É que ela andou um pouco.

Minghao olhou para frente e viu o imenso buraco na fila, causado por ele. Tratou de correr e retomar seu lugar, sentindo o rosto queimar de vergonha.

— Desculpe.

— Sem problema. — O garoto sorriu, e Minghao jurou nunca ter visto um sorriso mais belo.

— Eu sou Minghao.

— Jun, prazer.

— Você é um dos calouros de dança, não é? — Minghao continuou puxando assunto, se sentindo cada vez mais encantado por Jun.

— Sim. — O garoto ergueu as sobrancelhas — Você também é? Não lembro de te ver nas aulas...

— Ah, não, eu sou seu veterano. — Minghao sorriu, e Jun se sentiu extasiado.

— Oh. — O mais alto murmurou, não sabendo o que responder, já que, de repente, sua mente ficara enevoada.

Minghao arregalou os olhos e desviou o olhar, xingando baixinho. Ele fez sem querer, de novo. Odiava, com todas as suas forças, esse poder de sedução que as sereias tinham.

— Espero que nos encontremos mais vezes. — Ele disse, ainda sem olhar Jun. Um sentimento melancólico tomou conta de seu coração, seus olhos perderam o foco enquanto se aproximava do balcão para tirar sua xerox.

— E-Eu também. — Ouviu Jun responder.

Logo pegou seu texto xerocado, e saiu dali rapidamente. Minghao fungou e entrou no banheiro, olhando seu reflexo no espelho. Ele era bonito, seus cabelos pretos emolduravam seu rosto fino, e sua boca era avermelhada e bastante convidativa; seus olhos eram felinos e intensos, iguais aos da maioria das outras sereias. Porém, ele odiava ser assim. Ele odiava os dons com os quais nasceu. Nada é sincero numa relação com uma sereia, todos se apaixonavam por Minghao, todos queriam Minghao, e uma vez que o provavam, sempre queriam mais, chegando a fazer absolutamente de tudo para conseguir.

Ele queria se apaixonar de verdade, queria ser conquistado de verdade, queria entrar num relacionamento aos poucos, iguais nos filmes que assistia. Mas, como? Como ele conseguiria se todas as pessoas que se aproximavam dele queriam algo em troca? Minghao se sentia como um objeto, um ser sem valor. Minghao odiava ser uma sereia. Ele queria tentar com Jun, mas será que ele seria diferente dos outros? Quais as chances? Ele deveria arriscar? Jun valeria a pena?

Talvez. Mas, por enquanto, Minghao se contentou em lavar o rosto e ir para casa.

Na saída da faculdade, encontrou Hansol. O garoto estava apoiado no portão, alegando que esperava alguém, então Minghao apenas seguiu seu caminho. Hansol continuou lá, aguardando, e então, sorriu ao ver quem se aproximava dele, distraído com algo em seu celular.

— Oi.

Seungkwan deu um pulo de susto e se virou na direção da voz, quase deixou o celular cair ao perceber que era Hansol, o dito cujo que ainda assombrava seus pensamentos com aquele sorriso ladino e voz grave.

— Oi...

— Você não lembra de mim?

— Claro que lembro. — Seungkwan respondeu rapidamente, mas se sentiu envergonhado em seguida.

— Isso é ótimo. — Hansol suspirou, analisado o rosto alheio com cuidado. Seungkwan era lindo, talvez o garoto mais bonito que vira naquela faculdade, sua boca salivava apenas por pensar em como seria seu gosto — Você pensou na minha proposta?

— Que proposta? — O loiro ergueu uma sobrancelha.

— Sobre sairmos juntos. — Hansol respondeu calmamente, enfiando as mãos nos bolsos da frente de sua calça — Como eu disse antes, eu gostei de você.

— Ah... Não, desculpe.

— Como é? — Hansol estreitou os olhos e o tom de sua voz mudou, fazendo Seungkwan arfar baixinho — Você tem certeza de que não quer sair comigo?

Seungkwan quase disse sim, a voz de Hansol estava tão doce que a mente do loiro ficara entorpecida. Teve vontade de fazer tudo que Hansol lhe pedia, mas, então, lembrou-se do que Jeonghan lhe dissera sobre não se misturar com Chan e seus amigos. Hansol era amigo de Chan.

— T-Tenho. — Seungkwan disse, com toda a força de vontade que existia em seu ser, e fechou os olhos, respirando fundo — Com licença.

E saiu correndo. Hansol trincou os dentes e rosnou baixinho, os olhos brilhando em amarelo. Quem aquele garoto pensa que é? Ninguém diz não a Hansol. Ele provaria o gosto de Seungkwan, essa seria sua meta de agora em diante. Ninguém resiste a Hansol, não por muito tempo. A sirena andou pelo campus à procura de Seokmin, quando encontrou dois rostos familiares. Sorriu e se aproximou deles; na mesma hora, Joshua segurou o braço de Jeonghan com mais força.

— Josh? — Jeonghan disse, num tom preocupado — O que foi?

Hansol parou uns metros de distância dos dois e ergueu uma sobrancelha, Joshua respirava pesadamente e lançava um olhar de ódio para Hansol, como se o alertasse do perigo que correria se ousasse se aproximar do garoto ao seu lado. Hansol quase riu, ele era muito mais forte que Joshua, mas o brilho azulado nos olhos do outro fez Hansol recuar. Talvez não fosse uma boa hora para brincar. Continuou sua caminhada e voltou a pensar em Seungkwan.

Na biblioteca da faculdade, um lugar muito tranquilo e confortável, Mingyu procurava um livro que sua professora pedira para a próxima aula. Olhava, calmamente, pelas prateleiras, já havia avisado sua família de que demoraria um pouco para voltar para casa, então não estava com pressa. Mingyu estava animado com seu curso, mal acreditara quando conseguiu passar, e nem precisara sair de sua tão querida cidade, ou se afastar de sua família. Mingyu não poderia estar mais feliz.

No entanto, sua paz fora interrompida por um corpo que se chocara com ele bruscamente. Se Mingyu não tivesse se equilibrado, teria caído com tudo sobre as estantes de livros. Arfou de susto e se virou, irritado. Um garoto de cabelos laranja ria alto, mesmo recebendo olhares tortos da bibliotecária.

— Ei! — Mingyu gritou, sussurrado — Tenha mais cuidado! E fale mais baixo, você está numa biblioteca!

— E quem é você? O senhor certinho? — O garoto sorriu e piscou seus olhos puxadinhos.

— Fale baixo! — Mingyu repetiu.

— Me obrigue, bonitão.

O mais alto trincou os dentes e revirou os olhos, decidindo apenas ignorar aquele garoto de cabelos chamativos e voltar a procurar seu livro. Entretanto, aquele gesto acabou atiçando a curiosidade do outro, fazendo com que puxasse o braço de Mingyu.

— Qual o seu nome? — Ele sussurrou. Mingyu suspirou e o observou dos pés à cabeça.

— Mingyu.

— Eu sou Soonyoung. — O menino sorriu e piscou novamente, se inclinando sobre o corpo de Mingyu — Você é novo aqui?

Mingyu olhou ao redor, ninguém prestava atenção nos dois, mas o garoto ainda estava constrangido com aquela aproximação repentina.

— Sou sim.

— Me desculpe ter caído em você, eu devo ter tropeçado em meus próprios pés. — Soonyoung continuou a falar, colando mais ainda seu corpo no de Mingyu — Você é muito bonito.

E então, Mingyu sentiu. Sentiu aquele cheiro doce com uma pitada de brisa do mar. Oh, não. Tudo menos aquilo. O mais alto empurrou Soonyoung e fechou a cara.

— Obrigado, Soonyoung. Agora, se você puder me dar licença, eu tenho que estudar.

E tratou de correr para longe daquele garoto. Soonyoung colocou a mão sobre o peito, sentindo-se completamente extasiado. Um desafio, finalmente! Todas as vezes que chegava em alguém, nunca tivera nenhuma resistência, a pessoa simplesmente aceitava tudo que Soonyoung dizia. Já era de se esperar, pois, ele é uma sereia, mas, ao mesmo tempo, Soonyoung sempre sonhou em receber um não. Soonyoung sempre imaginou como seria a sensação de cortejar alguém, de correr atrás, de sempre tentar se superar. Tentara com Jihoon, mas o garoto se perdeu nos encantos de Seokmin, então não tinha mais como. Entretanto, o fato de Mingyu tê-lo rejeitado, apenas excitou Soonyoung ainda mais.

Soonyoung nunca sentiu tanta vontade de provar alguém quanto estava sentindo agora. Precisava contar para seus amigos. Tratou de correr para fora da biblioteca, na qual só entrara para procurar alguém para lhe tirar do tédio enquanto matava aula, e começou a procurar seu grupo.

Seokmin estava na cantina e ainda pensava no assassinato de dois dias atrás. Definitivamente, fora uma sirena, mas qual o motivo? Sirenas se alimentam de humanos, isso é verdade, mas, agora, diferente dos tempos antigos, esses incidentes raramente aconteciam, e, nunca, mas nunca mesmo, sirenas deixavam os restos dos humanos para trás. Então, por quê? Pra quê?

— Voltei! — Jihoon se sentou ao lado de Seokmin, o acordando de seus devaneios. O garoto fora comprar uma lata de Coca-Cola, e pediu que o namorado o esperasse — O que foi?

— Como assim? — Seokmin franziu a testa.

— Você está fazendo aquela cara que sempre faz quando fica pensativo. — Jihoon abriu e bebeu seu refrigerante — Ainda pensando no assassinato?

— É. — A sirena suspirou e massageou as têmporas — Tudo está saindo de meu controle novamente...

— Não se cobre tanto, eu sei que você vai conseguir encontrar essa sirena. — Jihoon afagou o braço de Seokmin e sorriu — Você é inteligente.

Seokmin observou o rosto de Jihoon por um tempo. Ele era adorável, mas, ao mesmo tempo, tinha traços fortes e únicos; seu corpo era maravilhoso; tudo em Jihoon era perfeito. A sirena se aproximou e beijou o garoto, se deliciando com seu gosto, com a forma que Jihoon se submetia totalmente a ele. Sentiu as pequenas mãos do outro subirem por seus braços, trêmulas e incertas. Seokmin se afastou e observou o rosto vermelho de Jihoon, ele ofegava e suas pupilas estavam dilatadas. Nada. Seokmin não sentiu nada. Estalou a língua, tentando ignorar a coceirinha em seu estômago, e voltou a beijar Jihoon.

— Ei, bonitinhos, vocês estão em público. Vamos acalmar esse fogo?

Seokmin desviou o olhar até Hansol e rosnou baixinho, Jihoon engoliu em seco e se encolheu em sua cadeira, constrangido.

— O que quer?

— Nada, tô frustrado porque não consegui pegar o Seungkwan ainda. — Hansol suspirou e se sentou ao lado de Jihoon.

— E por isso você vem atrapalhar minha transa?

— Seokmin! — Jihoon o repreendeu, sentindo o coração acelerar com as palavras do namorado.

— Vocês têm todo o tempo do mundo para se pegarem, e você tem o mundo inteiro para pegar, Seokmin, então aquieta o facho.

Jihoon tentou ignorar a última frase de Hansol. Doía ser lembrado, repetidamente, que Seokmin não o amava de verdade, e que, quase todas as noites, ele ficava com alguém diferente. Porém, eram momentos assim, em que Seokmin o beijava de repente, sem motivo aparente, que acendiam a chama da esperança em Jihoon. O garoto amava Seokmin com todo seu coração, sabia das consequências ao pedi-lo em namoro, mas estava disposto a arriscar por ele, e estava disposto a descobrir se a lenda de que sirenas não podem se apaixonar era mesmo verdadeira.

— Gente! — Soonyoung gritou, atraindo atenção dos três na mesa, e, consequentemente, de toda cantina — Vocês não vão acreditar no que aconteceu!

— E lá vamos nós. — Hansol revirou os olhos e Seokmin riu.

O sol se punha no horizonte quando Chan resolvera caminhar pela praia. Já tinha voltado para casa — um imenso complexo no qual ele, Hansol, Seokmin, Soonyoung e Minghao dividiam —, e, após fazer suas lições, decidiu relaxar. Tirou as sandálias e suspirou ao sentir a areia em seus pés, começando a andar e a observar as ondas se quebrando. O barulho do mar o acalmava, lhe passava uma sensação de conforto e segurança. Nem percebeu para onde estava indo, seu inconsciente o levara para a parte da praia mais afastada da cidade, onde ficavam os rochedos. Onde o complexo de Wonwoo ficava.

Xingou baixinho ao perceber o local em que estava. Não devia estar ali, ele devia se afastar de Wonwoo, não se aproximar dele. Estava preparado para dar meia-volta, quando viu uma pessoa andando pela praia, indo na direção do mar. Ela vestia uma regata branca e um short preto, seus pés estavam descalços. Chan arfou ao perceber que era Wonwoo. Correu até ele no momento em que o garoto parou, ainda com os olhos cravados no mar. Eles estavam fundos e vazios, aquilo preocupou Chan.

— Wonwoo? — Ele disse, e Wonwoo virou o rosto até ele.

— Chan? O que faz aqui?

— Eu estava espairecendo. — Chan mordeu o lábio inferior, o observando com preocupação — E você?

Wonwoo ficou em silêncio por um tempo, desviando o olhar até o mar novamente.

— O amor é irônico, não é? — Ele disse, sua voz se mesclando com o barulho das ondas. Chan não soube o que responder — Você diz que ama alguém, mas, no final, não consegue salvá-la. Dizer que sempre estará lá por ela, mas, quando ela mais precisou de você, você fugiu.

Chan sentiu o coração pesar em seu peito. Lembranças e sentimentos, até então guardados no fundo de sua alma, vieram à tona, o consumindo e o sufocando. Wonwoo soluçou e enterrou o rosto em suas mãos, começando a chorar como uma criança. Chan se aproximou dele e o abraçou, afagando suas costas em seguida. Wonwoo entrelaçou seus braços na cintura fina do garoto e começou a chorar em seu ombro, apertando o corpo alheio contra o seu.

— Vamos voltar pra casa, Wonwoo. — Chan sussurrou e beijou, suavemente, o rosto do mais alto.

Logo, os dois estavam no quarto de Wonwoo, ambos sentados na cama, de mãos dadas. Wonwoo estava com a cabeça apoiada no ombro de Chan, enquanto este afagava sua pele com o polegar. Wonwoo sentiu suas inseguranças sumirem aos poucos.

— Quando eu tinha 12 anos, minha família resolveu viajar pra praia. — Ele sussurrou, atraindo a atenção de Chan — Fomos até uma cidade litorânea onde meus tios moravam. Minha prima, Seulgi, também morava lá. Éramos melhores amigos, sabe? Tínhamos a mesma idade, os mesmos gostos... Eu amava ela. — Chan não falara nada, então Wonwoo continuou — Um dia, toda minha família, incluindo ela e meus tios, resolveu ir para praia. Seulgi sempre adorou o mar, ela até surfava, era legal. — Wonwoo sorriu com a lembrança, sentindo os olhos marejarem — Ela me levou para água, disse que não soltaria minha mão, já que era minha primeira vez no mar. Ela disse que me protegeria...

— Wonwoo... — Chan sentiu o coração quebrar quando o outro começou a soluçar.

— Mas o mar estava muito forte aquele dia, as ondas estavam grandes. Tão grandes, que me fizeram soltar a mão de Seulgi. — Wonwoo tremeu e apertou a mão de Chan, as imagens que tanto tentou esquecer agora inundavam sua mente — Eu travei, eu estava morrendo de medo. Seulgi começou a se afogar, as ondas a levando para longe de mim. Ela me olhava, Chan, chamava meu nome, pedia por ajuda, mas eu... Eu não consegui fazer nada. Eu não consegui protegê-la.

Chan afagou os cabelos escuros de Wonwoo enquanto ele chorava desesperadamente.

— Eu sinto que falhei com ela. — Wonwoo continuou, em meio aos soluços — Desde então, não consigo chegar perto do mar.

— Não foi sua culpa, Wonwoo. — Chan disse, suavemente — O mar é indomável, temperamental. Nunca sabemos como ele vai se portar em determinado dia. Além disso, tenho certeza que Seulgi não iria querer que você se culpasse desse jeito.

Wonwoo não respondeu, apenas continuou a chorar. Era tão difícil pensar daquela maneira, a culpa ainda o consumia, a sensação de que poderia ter feito alguma coisa ainda o sufocava. Seulgi não merecia o fim que teve, e, se Wonwoo não tivesse sido um covarde, ela ainda estaria viva. Foi surpreendido pela mão de Chan em seu rosto, o puxando até ele. Wonwoo fechou os olhos e sentiu o corpo se arrepiar quando os lábios alheios tocaram os seus.

Sempre que Chan o beijava, Wonwoo sentia uma euforia tão intensa, nada se comparava àquilo. Sua mão livre agarrou os ombros de Chan e inclinou a cabeça, se entregando por completo ao beijo. Seus pensamentos foram silenciados, e suas dores, diminuídas. Naquele momento, apenas Wonwoo e Chan existiam, e mesmo após se separarem, Wonwoo ainda se encontrava entorpecido pela sereia.

— Eu não consigo parar de pensar em você. — Ele confessou, sua voz grossa não passava de um sussurro — Mas eu não sei se são meus sentimentos verdadeiros, ou se é fruto do seu poder sobre mim.

— Talvez seja os dois. — Chan respondeu na mesma altura, se perdendo na imensidão escura dos olhos de Wonwoo — Sereias apenas intensificam os sentimentos, eles precisam existir antes do nosso poder agir.

Wonwoo suspirou e fechou os olhos apoiando a testa no ombro de Chan, o abraçando em seguida. Uma das mãos da sereia afagou o cabelo de Wonwoo enquanto a outra o trazia para mais perto de seu corpo. Chan sentia seu coração batendo rápido, quanto tempo fazia desde que seu coração batera tão rápido assim?

— Eu devo me afastar de você por causa de Jeonghan, mas eu não consigo. — Wonwoo confessou novamente, sua respiração batendo no pescoço de Chan, o fazendo se arrepiar — Não consigo, e nem quero.

Chan sorriu, sentindo o coração se acelerar mais ainda, e ergueu, inconscientemente, os olhos até a janela de Wonwoo. Sufocou um grito ao ver Seungcheol parado lá, com uma expressão triste e com os olhos inchados de tanto chorar. Sua boca abriu, e Chan conseguiu ouvir claramente sua voz:

— Você não me ama de verdade?

Chan empurrou Wonwoo e arfou, os olhos se enchendo d'água imediatamente. O maior franziu a testa, preocupado, e segurou os ombros da sereia.

— Chan? Chan, o que foi?

O garoto piscou rapidamente, tentando se livrar das lágrimas, e voltou a olhar a janela. Nada. Não havia nada. Chan soluçou e se encolheu, abraçando as pernas.

— Ah, Wonwoo, eu também não consigo parar de pensar em você, mas... É errado. Não podemos ficar juntos. — Chan balançou a cabeça — Eu queria te conhecer melhor, mas não posso. Não devo.

— Por quê? — Wonwoo apertou seus ombros, fazendo o outro o olhar — Por que não?

— Porque eu quero que você viva. — Chan respondeu, finalmente deixando as lágrimas rolarem em seu rosto.

— Eu ainda posso viver com você.

— Amar uma sereia é diferente de amar um humano, Wonwoo.

— Nós resolveríamos esse problema, resolveríamos juntos! — Wonwoo colocou as mãos no rosto de Chan, limpando as lágrimas que caíram de seus olhos. Aquelas palavras acertaram Chan bem no fundo de sua alma, fazendo o garoto chorar mais ainda.

— Você está realmente cogitando a ideia de entrar em um relacionamento comigo? Mesmo depois de tudo que você viu?

— Sim. — Wonwoo soltou Chan e sentou sobre suas pernas, analisando o rosto cansado do outro — Você, não?

Chan não soube o que responder. Claramente ele ainda não esquecera Seungcheol, mas, ultimamente, Wonwoo vinha tomando conta de seus pensamentos. Ao mesmo tempo que Chan queria tentar um novo relacionamento, o medo e a culpa ainda o consumiam. E se Wonwoo tivesse o mesmo fim que Seungcheol? E se, como na última vez, Chan também não conseguisse salvá-lo? Ainda era muito cedo, muito arriscado.

— Eu não acho que devamos nos relacionar, Wonwoo. — Chan disse, finalmente.

— Então pare de aparecer, de repente, na minha casa! — Wonwoo se ergueu da cama, sentindo o estômago doer com a resposta de Chan — Pare de me beijar! Pare de me confundir! Se você não quer nada comigo, me deixe em paz!

Chan já tivera seu coração partido antes, sempre achou que conseguiria suportar a dor quando seu coração se partisse novamente, mas, após Wonwoo dizer aquelas palavras, a dor fora excruciante. Chan não queria se afastar. Chan não queria deixá-lo. Porém, ao lembrar do rosto de Seungcheol, sua garganta fechou, o fazendo se erguer da cama de Wonwoo, e sair de sua casa.

olá!!!

espero que estejam gostando do desenrolar da história 🥰 vocês já têm um personagem favorito? os meus são o soonyoung e o mingyu hihi

clica na estrelinha se gosto eh nos ❤️

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