Black - O Lado Escuro do Cora...

By Ju-Dantas

22.7K 1.9K 554

Atenção Este é o Ato II do livro Black. O Ato I está disponível completo na Amazon. Para ler este livro, é pr... More

Avisos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4

Capítulo2

1.7K 335 100
By Ju-Dantas




Alex

Rebato a bola com fúria, a raquete vibrando em minha mão, com a força do impacto, e observo meu adversário desviar rápido quando ela passa como um borrão, o fazendo xingar quando percebe que perdeu a jogada.

— Cacete, Black, queria me matar? – Sebastian volta os olhos indignados pra mim.

Solto um riso baixo, limpando o suor da minha testa e caminhando até o meio da quadra.

Sebastian me encontra lá e batemos as mãos.

— Aceite que perdeu, doutor Green.

Sebastian é meu companheiro de tênis há alguns anos, e sempre que possível marcamos uma partida, sempre às quartas, na hora do almoço, próximo do escritório de advocacia que ele é sócio.

— Você está mais agressivo hoje ou é impressão minha? — Sebastian me estuda de forma perspicaz, enquanto caminhamos para o vestiário.

A pergunta não me pega desprevenido. Este é Sebastian. Ele tem um dom para ler as pessoas, por isso talvez tenha se saído tão bem na profissão que escolheu.

Arranco minha camisa e me sento no banco frio, passando os dedos pelos cabelos molhados.

Eu não havia contado a ninguém sobre Nina. Sobre minha nova secretária ser a mesma garota que foi acolhida em minha casa há tantos anos e que eu julgara esquecida.

Me parecera um plano interessante quando decidi contratá-la para trabalhar comigo. Seria um bom meio para conhecê-la. Saber quem era Nina Giordano hoje. E então eu poderia contar quem eu sou, e que de alguma maneira, conseguiríamos ao menos recuperar um pouco da proximidade que tínhamos quando criança. 

Porém, nada saiu como eu planejei.

E agora estou vivendo em um inferno particular.

— Ainda é o pau no cu do Jack? — Sebastian insiste. — Fiquei sabendo da última. Ele não vai deixar pra lá não é?

— Jack vem me irritando há tempos e sinceramente, começo a me arrepender de ter tomado partido.

— Era sua irmã, de que outra maneira poderia agir?

— Poderia obrigá-la a voltar e lidar com as consequências dos seus atos, mas não é Charlotte o meu problema no momento.

Ele se senta ao meu lado, esperando que eu continue.

Somos amigos desde que eu me mudei para a casa dos Black. Ele morava com a mãe na dependência de empregados e foi meu pai quem pagou sua faculdade.

Eu sei que posso confiar em Sebastian, mas ainda hesito por alguns instantes em contar sobre Nina.

— Você lembra quando me acompanhou junto com a Aria até minha antiga casa?

Ele franze o olhar, tentando acionar a lembrança.

— Vagamente. Lembro que era bem longe e Aria reclamava muito de estar cansada, mas você insistiu... E a casa estava vazia quando chegamos. Acho que Aria te delatou para sua mãe e ela brigou contigo. Quando eu perguntei se queria falar sobre isso, porque achei que estava chateado, você disse que não. E nunca mais tocou no assunto mesmo.

— Lembra que eu te falei sobre uma garota chamada Nina?

— Nina? Acho que era sua irmãzinha de criação ou algo assim?

— Os pais dela morreram quando tinha sete anos e ela veio morar com a gente. Meu pai era padrinho dela. Nós ficamos muito próximos, eu a protegia como uma irmã. Mas minha mãe não gostava dela, alguma coisa a ver com a mãe da Nina, por quem meu pai foi apaixonado acho. Pra falar a verdade nunca entendi direito essa história. Mas meus pais começaram a brigar e minha mãe decidiu ir embora. Naquela época não achei que perderíamos contato, mas depois do divórcio, meu pai vendeu a casa e nunca mais eu soube dele... Ou de Nina.

— Por isso a casa estava vazia.

— Sim. Eu fiquei chateado, claro. Era meu pai. E eu gostava de Nina como uma irmã. Mas a vida seguiu e, há algum tempo eu decidi reencontrá-la.

Prefiro deixar os detalhes dos motivos que fizeram com que eu decidisse isso de fora.

— E a reencontrou?

— Sim, há alguns meses. Eu contratei um detetive e enfim... — Poupo Sebastian dos detalhes. — Eu a contratei para ser minha secretária.

— E aí? Como foi isso?

— Ela não sabe quem eu sou — confesso e agora ele está assombrado.

— Como é?

— Eu a segui por um tempo...

— Alex, que merda andou fazendo?

— Eu sei, parece coisa de algum maluco obcecado, mas eu não sabia como ela me receberia. Eu disse que ia voltar e encontrá-la e a deixei para trás.

— E daí? Eram crianças.

— Eu só sei que por um tempo hesitei em me apresentar.

— E ela não te reconheceu?

— Eu não tenho mais o mesmo nome. E não somos mais crianças, eu mesmo não a teria reconhecido se passasse por ela na rua.

— E como ela é?

— Linda.

Agora ele levanta a sobrancelha e acho que estou corando como um colegial.

— É este o problema? Está com tesão na sua irmãzinha?

— Porra, cala a boca, ela não é minha irmã.

— Mas era assim que você ainda pensava nela.

— Sim, tem razão. É este o problema .

— Este e o fato de que não contou a ela ainda quem é de verdade, presumo?

— Não.

— Por que não? Está meio confuso pra mim.

— Eu não sei. Apenas... Tem algo com ela, que não consigo entender. Ela parece... traumatizada com alguma coisa.

— Como assim?

Como explicar a Sebastian o que nem eu mesmo entendo?

— Ela não tem amigos. Nunca parou em um emprego por muito tempo, sua vida é um completo mistério e ela age como se estivesse distante emocionalmente de tudo, ou como se tentasse.

— O que acha que a deixou assim?

— Eu não faço ideia. Quando eu a observava de longe, intui que algo estava errado. Me pareceu uma boa ideia trazê-la para a Black. Eu poderia ajudá-la.

— Ajudá-la como?

— Primeiro eu queria conhecê-la e depois dizer quem eu sou.

— Está protegendo ela ou a seu rabo cheio de culpa?

Eu solto uma risada sem humor.

— Os dois, acho. Eu tive medo de que ela guardasse mágoas.

— Acha que depois de todo este tempo ela iria ter raiva de você?

— Talvez sim. As coisas não eram fáceis para Nina naquela época.

— E acha que ficaram piores em algum momento?

— Eu tenho certeza, só não sei como e nem quando.

— Então, ela virou sua secretária e nem sabe quem você é de verdade?

— Sim, achei que fosse simples, mas...

— Está atraído por ela.

— Sim.

— Quanto?

— Muito.

— Ela sabe...?

Eu sei do que ele está falando.

— Eu contei a ela há poucos dias.

— Espera... Contou a ela que gosta de um sexo pervertido mas não contou que era seu irmão?

— Já falei que não somos irmãos.

— Entendeu o que eu quis dizer.

— É tão complicado. Eu sei que deveria contar. Mas ainda não sei se é o certo. Eu descobri coisas sobre ela... — Hesito em contar a Sebastian. — Enfim, a situação é mais complicada do que eu previ. Nina é mais complicada do que eu previ.

— Você é mais complicado do que eu achei que era – rebate com ironia e não posso discordar.

— Mesmo sabendo que tinha essa atração inesperada, eu mantive meus planos. Eu tentei me aproximar, disse a ela que seríamos amigos. E achei que estávamos indo a algum lugar, que em breve ela confiaria em mim o suficiente para que eu  pudesse dizer que eu era Will, sem que ela me mandasse a merda, mas...

— Mas...

— Nós transamos.

— Hum... Então ela sente o mesmo por você? E agora?

— Eu disse que seria só uma vez, perguntei se ela entendia que nada mais poderia acontecer. Mas agora eu não sei se será possível.

— E o que vai fazer?

— Ainda não sei. Talvez eu deva contar a ela e esperar que entenda porque não pode rolar mais nada.

— Mas você ainda teme contar. Por quê?

— Porque eu tenho medo que ela vá embora.

— Bem, não duvido que seja isso que aconteça.

— Eu não quero que ela se afaste. Não posso deixar. Sinto que não deveria tê-la deixado naquele dia, há tantos anos. Que deveria ter cumprido minha promessa e voltado. Alguma coisa aconteceu que a transformou nessa mulher que é hoje. E eu preciso não só descobrir o que foi, mas como ajudá-la de alguma maneira.

— E acredito que isso não inclua fazerem sexo.

— Não — digo com firmeza.

Sebastian não precisa saber de todas as nuances de meu envolvimento com Nina. É particular.

Não precisa saber que desde que nossos olhares se encontraram eu sentia que de alguma maneira ela estava implorando para ser punida.

Como se soubesse o que se passava em minha mente. Mesmo quando eu  sabia que estava errado.

Aquela era Nina, a menininha que eu segurei a mão para dormir.

Não era qualquer mulher que eu pudesse submeter a meus desejos, mesmo ela achando que era o que precisava.

A culpa por tê-la machucado, quando transamos em Nova York ainda queimava em mim.

A culpa e o prazer.

Eles andavam entrelaçados em mim. Eu não podia negar que tinha gostado, que não tinha fantasiado algo assim há algum tempo nos meus sonhos mais proibidos.

Que não tinha desejado repetir a cena desde então.

E isso definitivamente era um problema.

Vê-la com Oliver hoje de manhã, me fez sentir ciúme. E também preocupação pelos motivos de que ela estava atraindo Oliver de novo.

Eu não entendia Nina.

Ela era uma incógnita. Um livro fechado que eu queria ler inteiro.

E quando percebi que na verdade, não era Oliver que ela queria atrair e sim a mim, eu senti raiva.

Senti desejo de puni-la, como ela mesma tinha insinuado.

Seria tão fácil deixar acontecer de novo. Por um momento, eu ansiei deixar de lutar, fazer o que ela mesma estava suplicando com seu olhar.

Mas não podia.

— E o que vai fazer? — Sebastian interrompe meus pensamentos.

— Eu não sei. Preciso de um tempo.

— Eu lhe aconselharia a contar a verdade a ela.

— E seu eu perdê-la de novo? — confesso o medo que o menino que fui um dia ainda guardar no peito.

— É um risco que talvez tenha que correr, amigo. — Ele se levanta, livrando-se do short na minha frente.

— Porra, cara, tira isso da minha frente! — Faço uma careta, o fazendo rir alto enquanto se encaminha para o chuveiro.

— Precisa se conformar que meu pau é maior que o seu, amigo.

É a minha vez de rir, enquanto me livro da minha roupa para fazer o mesmo.

— É o que está dizendo.

E estamos rindo juntos enquanto nos encaminhamos para o chuveiro e eu esqueço momentaneamente meus problemas com Nina.

Quando saio do clube, pego meu celular e há algumas mensagens.

Uma é de Victoria. Ela pergunta se pode ir para minha casa hoje. Eu a ignoro por enquanto.

A outra é de Aria. Essa eu não posso ignorar, porque sei que é pior.

Aria ainda mora com o marido e as filhas na casa da família Black. Assim como Charlotte também morou até o dia fatídico do seu casamento que nunca aconteceu. Porém, diferentemente de Aria, que mesmo depois que se casou com Max Duran permaneceu na casa do pai, Jack havia construído uma casa especialmente pra ela.

Uma casa agora que estava vazia.

Os  gritos infantis me alcançam assim que entro na casa e não posso deixar de sorrir quando Arianna e Isabella pulam em cima de mim, animadas.

— Tio Alex! — Arianna agarra minha cintura enquanto Isabella tenta pular nas minhas costas.

— Vamos derrubar ele — Isabella, a mais audaciosa grita e eu decido fazê-las feliz caindo no chão com um suspiro fingido.

— Vocês duas venceram, são muito fortes!

— Trouxe presente pra gente? — Arianna monta na minha cintura e eu me mexo rápido para que Isabella não tenha a mesma ideia e atinja minhas partes baixas como fez uma vez.

— Meninas, saiam de cima do tio Alex! — Aria surge e as meninas obedecem a mãe, me liberando.

— Louise está esperando vocês para fazerem aula de piano – ela diz séria.

A rotina de Arinna e Isabella era repleta de aulas de balé, piano e sei lá mais o que Aria inventasse. E de nada adiantava dizer que sobrecarregava as crianças. Aria não escuta ninguém a não ser a si mesma.

— Eu não quero! — Isabella bate os pés no chão.

— Eu quero ficar com o tio Alex! — Arianna insiste.

— Acho melhor obedecer a mamãe — eu peço.

Elas acabam concordando e saem da sala.

— Posso saber o que queria falar comigo de tão urgente? — Encaro Aria.

— Nora ligou e disse que decidiu esticar a viagem e está com Charlotte agora.

Minha mãe estava fazendo um cruzeiro com amigos pelo mediterrâneo há algumas semanas. Ela não parecia feliz desde que meu pai morreu e eu tinha insistido para que ela viajasse.

Porque definitivamente eu não era a melhor companhia desde que Christopher morreu. Principalmente para minha mãe.

Não queria dizer que mantê-la longe enquanto eu estreitava meus laços com Nina também era meu objetivo.

Eu não sei o que Nora diria quando soubesse que eu tinha reencontrado Nina.

E em algum momento teria que enfrentá-la, mas não ainda.

Na verdade, eu odiava confronto com Nora. Nada de bom podia sair dali e eu sabia disso há tempos.

— E por que isso era urgente?

— Isso não é problema. O problema é que o cretino do Jack ligou para ela e ficou insistindo que tinha que contar onde Charlotte estava.

— E ela contou?

— Ela disse que queria contar! Que por isso foi ver Charlotte, para fazê-la voltar pra casa e encontrar o Jack, antes que ele destrua a todos nós.

— Pelo amor Deus, isso aqui não é uma novela da tarde! Para de ser exagerada.

— Exagerada? Ele está ficando cada vez pior. Você disse que ele ia esquecer e nos deixar em paz, mas está piorando. Virou uma obsessão e ele quer se vingar de nós pelo o que a Charlotte fez!

— Olha, sinceramente, estou de saco cheio dessa confusão do Jack e da Charlotte, eu tenho coisas muito mais importantes para me preocupar.

Ela estreita o olhar curiosa.

— O que? Está com algum problema? É na Black?

— Não.

— É pessoal? Tem que me contar, posso ajudar? — Ela segura minha mão.

— Aria, não é nada que possa me ajudar, ok? — Desfaço o contato e olho o relógio. — Preciso voltar ao trabalho.

— Não esqueceu da festa beneficente que eu e Max estamos organizando não é?

Max, o marido de Aria, era um ex jogador de tênis, que tinha inclusive jogado em Roland Garros. Hoje, ele vivia ainda de sua fama como esportista, o que queria dizer que não fazia nada de útil. Ele não era uma das minhas pessoas preferidas no mundo, embora, antes dele se casar com Aria, fôssemos amigos.

— Não, não me esqueci. — Resmungo e me despeço.

Queria encontrar Nina antes que ela fosse embora.

Aria toca meu braço.

— Você está estranho.

Suspiro, cansado.

— Não é nada.

Mas eu sei que Aria percebe. Ela também me conhece muito bem. Infelizmente.

— Certo, não quer falar. Mas uma hora eu vou descobrir! — ela sorri — que tal jantarmos hoje? Podíamos ir naquele bar de Jazz incrível e...

— Tenho um compromisso.

— Com a tal mocinha ruiva?

— Não é da sua conta. Por que não chama seu marido para ir com você?

Seu rosto se fecha.

— Como se Max fosse querer ir comigo.

— Estão com problemas? — De novo, quero completar.

Ela faz um sinal de descaso com a mão, mas vejo que há algo mais.

Porém, hoje não tenho tempo para os problemas de Aria.

— Tudo bem, eu vou ver se minha mãe quer ir comigo, preciso espairecer.

— Isso, chame Helena.

Aria era bem apegada a mãe.

— Não vou atrapalhar as meninas, porque sei que não gosta. Mas diga que domingo eu virei almoçar com elas, ok?

— Direi.

Volto para a empresa e decido que chamarei Nina para jantar. Sei que estou rindo na cara do perigo, mas preciso estabelecer as bases do nosso relacionamento. Voltar ao plano original. Amigos apenas.

Sei que Sebastian tem razão, e talvez contar a verdade seja o correto a fazer, mas sinto que ainda não estou preparado.

Sinto que Nina ainda não está preparada também e temo que a verdade apenas a afaste de vez.

Porém, quando chego ao escritório, a mesa de Nina está vazia.

Vou para minha sala e quando me sento à minha mesa, há um envelope com meu nome sobre ela.

Eu o pego e abro.

É uma carta.

A carta de demissão de Nina.

Antes

Alex

Um mês antes

A ansiedade que senti enquanto entrei no prédio da Black naquela manhã me fez lembrar o jeito que me senti no primeiro dia de aula da escola de meninos ricos a qual fui mandado depois que me mudei para a casa dos Black.

Ainda me recordava de sentir minhas mãos suando quando saía do carro junto com Aria e Sebastian, meus olhos um tanto assustados para a horda de crianças saindo dos carros com motoristas, todos com seus uniformes azuis impecáveis, as meninas com saia e camisa branca, os meninos com seus ternos azuis e gravatas vermelhas.

Aria havia caminhado na frente, me ignorando como ela fazia a maior parte do tempo, encontrando um grupo de amigas ruidosas e muito parecidas com ela.

— Relaxa, cara.

Sebastian bateu o ombro no meu, enquanto ajeitava a mochila nas costas.

— Eu queria ter continuado na minha outra escola.

— Aqui o ensino é da hora. Vai conseguir entrar em uma boa faculdade.

Sebastian tinha minha idade, mas às vezes parecia mais velho, pois sempre estava falando em entrar em uma faculdade, ou ter um carro ou algo adulto do tipo. Aria sempre ria e desdenhava "até parece que um filho de empregada como você vai ter um carro!"

Ele não parecia se importar com seu desdém.

— Olha só, o pé de chinelo arranjou um namorado branco? — Um garoto passou por nós rindo, batendo na cabeça de Sebastian, que bufou irritado, mas não fez nada para conter a onda de piadas idiotas dos garotos que continuaram em frente.

— Vai deixar eles falarem assim? — Eu me ofendi mais que Sebastian, provavelmente.

A situação toda me lembrava o primeiro dia da escola com Nina.

— Você se acostuma.

— Eles mereciam uma surra.

Sebastian riu.

— Cara, eu estudo aqui porque o Sr. Black faz caridade. E todo mundo sabe disso. Sabe quantos garotos negros tem nessa escola? Ou pobres? Se eu ousar dar um sopro nesses ricos de merda eu estou fora em três segundos. Minha mãe ficaria arrasada. Eu não posso perder a oportunidade de estudar aqui. Por isso aguento.

— Não é justo.

— É assim que as coisas são.

— Provavelmente eles vão me zoar também. Não sou um deles. Sou como você.

— Não é como eu. É um Black agora. Não precisa ter medo, eles nunca vão mexer com você.

— Mas se mexerem com você, eu posso revidar então.

— Cara, você é maluco ou o que?

— Deixa eles virem.

Eu deixei o medo do lado de fora das portas do colégio.

E alguns dias depois, eles vieram.

E levaram o troco que mereciam por mexer com Sebastian.

Eu fui suspenso, mas não mais do que alguns dias, afinal, como Sebastian disse, eu era um Black agora.

Foi a primeira vez que senti aquele poder.

Não só do nome Black, mas da violência em meus punhos.

Talvez Christopher tenha se preocupado com minha fúria mal contida ser direcionada para o lugar errado e me matriculou em uma aula de boxe.

Deixei a memória desvanecer na minha mente, enquanto caminhava para minha sala sabendo que ela devia estar lá. Eu já tinha me certificado na recepção.

Hoje de manhã, quando eu a ajudei a se levantar, ela havia me ignorado. Seu olhar pousou nos meus cheios de vergonha e receio, antes de se transformar em gelo.

Nem um pingo de reconhecimento.

Seguiu em frente sem olhar para trás, sem fazer ideia que ia me encontrar de novo em poucas horas.

Sentia-me ansioso e temeroso ao mesmo tempo, para finalmente, conhecer quem Nina é agora. Que tipo de pessoa ela era por trás do rosto bonito.

Um rosto que não tinha saído do minha cabeça desde que pousei os olhos nela de perto. Isso não era nada bom e me fazia sentir vulnerável. Sem controle algum do que estava vindo a seguir.

E eu não gostava de não ter controle no jogo que eu mesmo tinha inventado.

Passei por sua sala e estava vazia, mas havia uma bolsa pousada na cadeira, denunciando sua presença.

Ela estava ali, meu coração disparou de forma ridícula e avancei para minha sala para encontrá-la lá dentro. Ela vestia uma saia cinza de lã e uma camisa branca de mangas cumpridas. Parecia elegante e insípida. Mas não menos interessante. Seu corpo era magro e com curvas suaves. Óbvio que eu já tinha reparado em suas leggings de corrida. Era algo natural.

Agora, eu a olhava de outra maneira. Uma maneira puramente masculina e apreciativa, do jeito que que a saia justa moldava seus quadris, do suave volume da blusa sobre seus seios, querendo imaginar como ela seria sem as roupas.

A ideia fez meu pau se agitar e eu me irritei.

Inferno, que merda estava fazendo?

— São minhas sobrinhas. — Resolvi denunciar minha presença.

De repente ela se virou, assustada ao me ver e deixou o porta retratos que tinha na mão cair no chão.

Os olhos eram como eu me lembrava.

Verdes e límpidos.

Percebi quando ela me reconheceu, não como Will, mas sim como o homem que atravessava seu caminho nas corridas de manhã.

Isso me deixou de novo frustrado sem que conseguisse evitar.

Assim, como não consegui evitar o fio de atração que me puxou em sua direção. De manhã, suada e sem maquiagem ela já era estonteante.

Agora, mesmo estando com uma aparência discreta e profissional ela me parecia incrível.

E ela era minha secretária.

Quão fodido eu estava?

Eu me aproximei e apanhei o porta retrato do chão, o colocando sobre a mesa.

— Eu sou Nina Giordano a... secretária. Nova secretária, senhor Black, é... — Ela gaguejou, mais amedrontada do que eu supus que estaria.

Ela estava com medo de mim?

Sim, ela estava.

Depois de sua postura fria ao praticamente fugir de mim de manhã, esperava que ela fosse profissional e distante. Surpresa por seu novo chefe ser o mesmo homem que atravessava  seu caminho, ou até mesmo desconfiada que aquela coincidência era bem estranha.

Mas não esperei que ela estivesse com medo.

E, com um laivo de culpa, percebi que em algum nível do meu fodido subconsciente, isso me excitava.

Alimentava o monstro que guardava dentro de mim. Trancado a sete chaves.

E ter essa noção me fez ter ainda mais raiva de mim mesmo.

— Sim, eu imaginei. — Minha voz saiu mais brusca do que eu queria. Mas não consegui evitar.

Queria tomar o controle da situação de novo.

Ela balbuciou desculpas, algo sobre estar bisbilhotando e isso nem tinha me passado pela cabeça, enquanto abaixava o os olhos, muito vermelha.

Sua postura é quase...

Submissa?

Provavelmente meu cérebro estava me pregando peças.

Estendi a mão e me apresentei formalmente, de novo tentando voltar ao controle. Aquela ainda era uma situação profissional. Embora, Nina estivesse ali porque assim eu engendrei, ela não fazia ideia.

E decidi que não ia fazer. Não por enquanto.

Sua mão estava suada, comprovando a teoria do medo. Será que ela sentia, em algum nível, o que eu lutava para ocultar do mundo?

Ou será que era apenas um medo normal de uma situação nova, pela qual, todos nós passamos alguma vez na vida?

Será que ela teria o mesmo medo se soubesse que sou Will?

Deu a volta na mesa e a instiguei a sentar-se na minha frente. Abri o notebook, apenas para ter algo para fazer com as mãos.

Eu sei de cor sua ficha. Assim como sei de cor o relatório do detetive.

Eu tinha esperança que Nina dissesse mais sobre ela quando foi entrevistada por Maria, mas ela fora reticente. Ainda lembrava de minha diretora e RH cética quanto a sua contratação. Eu não era o tipo de executivo que contratava funcionários sem que esses tivessem total capacidade de exercer suas funções. Nunca indiquei ninguém por ser da família, ou amigos. Maria havia estranhado quando pedi que ligasse para Nina e oferecesse o cargo de minha secretária. Fui claro e não lhe dei satisfação, apenas dizendo que era para entrevistá-la e contratá-la de qualquer jeito — sem revelar que tinha sido uma indicação minha.

Eu realmente não estava na cidade quando Nina compareceu a Black pela primeira vez, o que agora eu lhe esclareci, quando ela me encarou ainda com um olhar confuso. Ela sabia que era estranha sua contratação, mas não entendia por quê.

Expliquei a ela sobre o que esperava de uma secretária, algo que faria qualquer profissional que fosse contratada para a função. Sabia que estava sendo frio e até mesmo assustador, mas não conseguia evitar. Achei que o tempo inteiro esperava o momento em que ela ia arregalar o olhar em reconhecimento.

Mas isso não aconteceu.

Decidi puxar as cordas um pouco.

— Aqui diz pouca coisa sobre você.

No mesmo instante, ela se retraiu. E antes que pudesse insistir, Hannah entrou na sala nos interrompendo e a levou embora.

Acompanhei o movimento dos seus quadris enquanto ela se afastava, suspeitando que estava aliviada por ter se livrado do meu escrutínio.

Mas é era para sempre, Nina.

Não vai se livrar de mim.

Não sei quem é você hoje, mas preciso saber. Quero que me conte sua história. Quero lhe contar a minha.

Eu te darei tempo. Farei com que confie em mim, como confiou um dia, quando éramos apenas duas crianças.

Eu te encontrei e agora desejo mais do que tudo descobrir o que está escondendo em seu olhar assustado.

Eu te prometi que seria seu amigo para sempre. E é isso que vou ser.

Apenas tenho que aprender a ignorar o monstro espreitando por baixo da minha pele.

_____________________

Nota da autora

Olá!

E aí, curtindo o friozinho de inverno?

Pelo menos aqui onde moro está frio!

Bora ler mais um capítulo do ato 2 e para quem quer saber quando lança, eu não tenho mesmo a data, sorry.

Estou em processo de escrita ainda e a previsão é para algum momento de Julho.

E mais uma vez obrigada para quem está acompanhando e comentando!

Lembrando que temos uma playlist babado no Spotify (Link na bio) e também um grupo de discussão no WhatsApp (link também na bio)

beijos e até quarta-feira

Ju

Continue Reading

You'll Also Like

148K 16.5K 28
Camila é uma jovem que depois de terminar seu relacionamento, resolve curtir a vida sem se importar com nada e após uma louca noite de curtição, sua...
1.7M 168K 64
Anelise tem uma paixão platônica desde muito tempo por Theo e decide que irá conquista-lo. Passando o tempo mirabolando planos para sua conquista, a...
300K 22.9K 45
"𝖠𝗆𝗈𝗋, 𝗏𝗈𝖼ê 𝗇ã𝗈 é 𝖻𝗈𝗆 𝗉𝗋𝖺 𝗆𝗂𝗆, 𝗆𝖺𝗌 𝖾𝗎 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈 𝗏𝗈𝖼ê." Stella Asthen sente uma raiva inexplicável por Heydan Williams, o m...
420K 34K 49
Jenny Miller uma garota reservada e tímida devido às frequentes mudanças que enfrenta com seu querido pai. Mas ao ingressar para uma nova universidad...