JEON JUNGKOOK
Depois do que houve na sala do presidente, eu comecei a questionar se realmente acordei na manhã daquele dia, porque só podia estar num pesadelo.
Mas assim que no dia seguinte, quando Kim chegou às sete e quarenta e cinco em ponto e esperando seu café, tive certeza.
Não comentamos sobre o incidente e então resolvi ignorar também.
O almoço foi normal, o restaurante fresco dele estava em funcionamento e eu pude ir comprar e ele comer normalmente sem reclamar de nada, a não ser a falta de sal da salada.
— Quase me esqueci, nós temos que ir declarar nosso casamento o mais rápido possível, será que tem como desmarcar a reunião com o James? — pareceu completamente normal quando voltou a tocar na ferida do dia anterior.
Merda, não era pesadelo.
— Eu nunca concordei que iria me casar com você, senhor.— tentei parecer firme com a situação.
— Ah, é... Esqueci de te falar que vamos nos casar.
Senti o ar estufar no meu peito e não ser liberado, como é que se respira mesmo? Minhas mãos começaram a perder a força e de repente não via nada além de vultos e alguns marcadores de textos coloridos que estavam perto do meu rosto.
Casar-me? Com um monstro daqueles?
— Pode me explicar pelo menos? — senti meu peito finalmente esvaziar aos poucos.
— Eu ia ser deportado nesse fim de semana, então falei que a gente ia se casar.
— Só isso? Agora você decide se vamos nos casar ou não? Você nem sabia se eu era gay.
— Você não disfarçar muito bem.— semicerrei os olhos observando ele ainda ter aquela expressão vazia, como se não fosse nada demais.
Que absurdo, eu sou o gay mais hétero de todos!
— Não vamos viver um conto de fadas, só iremos casar, esperar o visto ser revalidado, o que durará uns três meses no máximo e logo depois a gente se divorcia.
— Se eu aguentar viver até lá.— rolei os olhos.
— Não quero me casar com você, mas não vou perder meu emprego, e você pelo visto ainda precisa pagar suas contas, então iremos nos casar quer você queira, ou não.
— Como você pode dizer isso dessa maneira? — perguntei incrédulo.
— Quer que eu me ajoelhe e peça sua mão? — arqueou as sobrancelhas e novamente rolei os olhos.
Frio, sem alma, sem coração e sem escrúpulos. Era com esse ser humano que eu iria casar.
Minha família era bem conservadora, o que me fez ficar muito receoso me assumir gay, mas a minha surpresa maior foi ouvir do meu pai que abandonar os negócios da família pra me tornar escritor era o pior que ele poderia ouvir de mim, o que na verdade foi um alívio.
Eu não era como minha família, conservador. Mas eu sabia que casamento era algo sério, sempre considerei algo importante, uma coisa pra vida. Agora mais do que tudo, pois tinha minha mão entregue a pessoa que eu mais odiava.
O que eu falaria para minha avó? "Oi vó, sabe o meu chefe cretino que esses dias eu xinguei de filho da puta, era tudo brincadeirinha com você, na verdade iremos nos casar!"
A crise é real, eu terei um infarto antes da velha.
[...]
Depois do almoço, fiz como Kim havia mandado, desmarquei a reunião com James, que não ia ser nada de importante, já que Taehyung vivia implicando com o mesmo, ele sempre marcava essas reuniões pra ter justiça, ou algo do tipo.
Forças ao ícone esforçado, Taehyung sempre ganhava no argumento e com aquela expressão vazia e incrivelmente sincera.
Ele me levou até o cartório em seu carro apenas para ter mais informações sobre o tal casamento, e já que seria mandando embora antes disso, teve que alegar a falta de tempo e fingir que foi tudo uma coincidência a data do casamento.
Logo depois de enrolar a moça do cartório com aquele sorriso que todos chamavam de armadilha dentária, fomos no despachante onde ele tinha que ir com o noivo confirmar o casamento.
Não trocamos nenhuma palavra, até porque ele sempre fez o que queria, nunca escutava ninguém, mesmo que o assunto fosse um casamento falso, ele se mantinha inabalável.
— Kim Taehyung e Jeon Jungkook, vocês são os próximos.— uma senhora mal humorada chamou.
— Se ele perguntar, deixa que eu respondo.— Taehyung avisa antes de se levantar e ir até a sala onde estávamos sendo chamado.
Eu tinha uma sensação estranha sobre tudo isso, o mais ridículo é que em nenhum momento eu questionei sobre o que eu queria naquela merda toda.
Sem muito pensar eu fiz o mesmo caminho que meu chefe, entrando na sala com um homem muito bonito e de uma idade não tão distante da nossa, vestido socialmente e sentado atrás de uma mesa de madeira velha.
A estante estava cheia de livros de direito e o nome escrito na placa "Dr. Jackson Wang"
— O que temos aqui?...— analisou alguns papéis e depois olhou para nós dois.
Eu estava obviamente tenso com aquele olhar que mais parecia estar lendo minha alma, do que minha ficha.
— Estão me dizendo que vão se casar? — abaixou os papéis e encarou Taehyung, que parecia como sempre inexpressivo.
— Sim.— respondeu o acastanhado, do meu lado simplista.
— E a família já sabe? — arqueou as sobrancelhas.
— Meus pais morreram, então não tinha como eles darem a bênção.— sorriu sem graça e falsamente.
Ele não tinha nenhum dos pais?
— E você? — olhou para mim desconfiado com meu silêncio.
— Íamos revelar no aniversário da vovó, oitenta e quatro anos, não é amor? — levou sua mão até a minha, que estava sobre uma de minhas coxas.
Por um instante esqueci o quanto ele era uma naja falsa e manipuladora capaz de mentir para a o país e forjar um casamento e só consegui perceber o quão delicada sua mão era.
Por que eu tinha medo dele? Com essa mão de neném ele não consegue nem me dar um tapa descente.
Na verdade se olharmos bem, não era só sua mão, seu rosto também era bem suave e natural, seu cabelo era bem macio e o cheiro de seu perfume era bem suave, quem vê ele assim cairia muito bem nos seus jogos.
— Senhor Jeon? — o advogado a nossa frente me fez sair de meus pensamentos nada coerentes.— Vocês iam contar no aniversário de sua avó?
Olhei para o Kim, que já havia puxado a mão de volta e então finalmente falei: — Ele é muito bom com octogenários, você nem sabe o quão bem ele se dá com vovó! Quase se tornou médico geriátrico na adolescência.
— Oh, sério? Isso é bom.
— Nós nunca nos vimos pessoalmente, porque minha agenda é muito apertada, mas iria conhecer ela no seu aniversário! — Taehyung ri sem graça levando a mão até os lábios e escondendo seu sorriso.
Eu, mesmo que nunca tivesse caído em sua armadilha dentária, achava seu sorriso muito bonito, não o suficiente para me fazê-lo escravo — porque eu já era e ganhava a vida com isso —, mas sentia que Kim às vezes sentia vergonha de seu sorriso quadrado, o que não fazia a menor diferença, só o deixava mais único.
O sorriso, não ele.
— E quando é o aniversário? — perguntou ele parecendo cair na armadilha.
— Fim de semana.— respondi.
Taehyung obviamente não lembrava da informação que eu havia acabado de dar, então mexeu-se na cadeira estranhando.
— Jeon, quero que antes de tudo, fique ciente sobre certas coisas.— o advogado retomou o assunto.
Eu não respondi, apenas confirmei com a cabeça em silêncio já sentindo que iria vir merda para o meu lado.
— Mentir sobre o casamento é crime, você terá que pagar ao governo uma quantia equivalente a novecentos mil wons além de responder a cinco anos de cadeia por mentir para a polícia coreana e ainda acobertar um estrangeiro.
— O Japão fica ali do lado, beleza - Taehyung pronunciou como se tudo que foi dito não fosse nada.
— Então senhor Jeon, irá se casar com Kim Taehyung? — perguntou sorrindo.
Senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem com aquela pressão toda sobre mim, eu poderia simplesmente jogar a toalha e ir embora dali, quem iria perder tudo seria Kim, não eu.
Mas eu vi oportunidade naquela situação, ele precisava de mim, certo? Então a partir de agora, vai ser do meu jeito também.
Taehyung pode controlar meu trabalho, mas não a mim.
— O senhor quer a verdade? — questionei cruzando as pernas.
O sorriso de Kim congelou, parecia tenso.
Ele agora comia na minha mão, porque dependia de mim.
— Sim, senhor Jeon. Qual é a verdade? — o advogado a minha frente muito esperto falou a minha frente.
— A verdade é que eu amo esse homem, como jamais amei ninguém.— levei minha mão até a bochecha de Taehyung.
A bochecha dele era incrivelmente macia e delicada, mais do que parecia ser.
— Ama?
— Amo, eu amo muito ele, nosso casamento era para ser surpresa, pois poderia atrair alguns olhares porque eu estou pronto para receber uma promoção.
O sorriso forçado de Taehyung se tornou uma risadinha e ele achou que era apenas uma atuação, então eu continuei.
— O meu docinho de coco, além da promoção irá publicar o meu livro.— sorri.
— Você irá publicar um livro dele? — perguntou para Kim.
— Claro, você não tem ideia de o quanto o meu amorzinho é talentoso! — sua expressão falsa sorridente me fez querer rir.
É tudo por hoje.
Espero que tenham gostado.
Até amanhã.
Beijos da Day!