Simbiose

By imbigoXxX

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simbiose substantivo feminino 1. ECOLOGIA interação entre duas espécies que vivem juntas. 2. FIGURADO (SENTID... More

1- Camila?
2- Gazela
3- Tucanos
4- Rêmoras
5- Borboletas, tigres e ...uma sapinha
6- Ohh, não. A chihuahua
7-Lombriga
8- Harpia
9- Canarinho
10- Louva-a-deus
11- Viúva Negra
12- Hamster
13- Suricatos
14- Doguinhos
15- Polvos
16- Camaleão
17- Lêmures
18- Pteranodontes
19- Siri
20- Leões
21- Pinguins
22- Calopsitas
23- Cobras
24- Corujas
25- Babuínos
26- Ouriço
27- Lobos
28- Cupins
29- Ursos
30- Simbiose
31- Pardela, Nemo e Anêmonas
32- Hipopótamos Pigmeus
33- Cigarras
34- Crocodilos
35 - Minhocas
36- Ornitorrincos
37- Baleias
38- Verme Aveludado
39- Pássaros Pavilhão
40- Vespas Mandarinas
41-Pangolins
43- Cangurus
44- Toupeiras Douradas
45- Mariposas
46- Bicho Folha
47- Civetas
48- Tarântula
49- Ostras
50- Elefantes
Epílogo- Água-Viva

42- Lontras

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By imbigoXxX

HEEY

Eu sei que eu tinha falado que esse seria o capitulo mais engraçado, mas não tive presença de espírito para ser tão engraçada, fiz o melhor que consegui, espero que sirva para vocês se distraírem um pouco de tudo.

A gente se sente um pouco impotente quando as coisas vão acontecendo assim sem podermos fazer muita coisa. Mas sei lá, estudem mais a respeito do racismo e de todas as formas que ele se desdobra, principalmente aqui no Brasil, muita coisa a gente nem sabe reconhecer e só vai aprender procurando a respeito disso e ouvindo de quem sofre.

VIDAS PRETAS IMPORTAM!!!!!

DEMOCRACIA TAMBÉM, OS FASCISTAS QUE SE EXPLODAM

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-A LAUREN CHEGOOOOU!!!!

Karla ouviu aquilo antes mesmo de conseguir estacionar o carro, acabava de chegar na casa tipicamente de sítio até onde foi guiada por Lauren. Aproximadamente uma hora antes havia assumido o controle do corpo e do carro, depois da quinta vez em que Alejandro fez Camila parar o veículo para ir ao banheiro, a mulher acabou perdendo a cabeça com o pai o que fez com que a outra personalidade surgisse.

Pegou-se em meio a uma viagem para conhecer a família de Lauren com seu pai a tiracolo, mas incrivelmente estava mais animada que assustada, de alguma forma saber tudo o que acontecia consigo, fazia com que encarasse melhor aquelas particularidades de se ter múltiplas personalidades. Não havia como mudar e aos poucos estava aprendendo a apenas aceitar. Conheceria a família da mulher que amava e pelo jeito que Lauren quase explodia de excitação, parecia com algo bom demais para se chatear.

-EU CHEGUEI!!!- Lauren gritou da janela como se não fosse óbvio. Do lado de fora uma multidão considerável começou a sair da casa mediana e quando conseguiu finalmente estacionar o carro e Lauren pulou para fora, já havia uma pequena platéia esperando.

Todos eram muito barulhentos, gritaram e dançaram com Lauren, de algum lugar surgiu comida e antes que Karla conseguisse sair do veículo, já tinha um bolo enfiado na boca e um bebê, que não sabia de quem era, no colo.

-Mia cara. - Um senhor de olhos verdes,como os de Lauren, disse quando ela finalmente saiu do veículo, para em seguida lhe surpreender com um beijo na boca. Ainda se recuperava do susto quando o homem fez o mesmo com seu pai, o beijando nos lábios e abraçando apertado.

-Papai, o senhor não deveria fazer assim com quem não está acostumado com os costumes da nossa família. - Lauren pediu, de olhos arregalados, olhando amedrontada para Alejandro que estava congelado no tempo depois do beijo.

-O pai da sua namorada acaba de beijar minha boca, Karla. - Alejandro evidenciou, como se a filha não tivesse presenciado o momento.- Depois você me pergunta o motivo de eu condenar suas escolhas, não existe limites nesse seu mundo.- Completou um pouco ríspido, se afastando o máximo que conseguiu da pequena aglomeração.

-Oh, me perdoe, eu fico um pouco eufórico às vezes. - Miguel explicou, com as bochechas rosadas, olhando na direção de Karla. Lauren temeu que tudo tivesse se estragado muito mais rápido do que queria, mas a professora apenas riu alto até saírem lágrimas dos olhos.

-Tudo bem, tudo bem, ele vai superar isso.- Garantiu, observando o pai que olhava para todas as pessoas com uma careta esnobe.- Eu realmente adorei essa criança, mas acho que preciso pegar minhas malas agora.- Concluiu, tentando identificar de quem era a pequena coisinha em seu colo.

-David!!!! Por que seu irmão não está com você???- Uma mulher gritou para o nada, enquanto resgatava o pequeno que passava de braço em braço muito sorridente, e de algum lugar escondido entre os outros, alguém se mexeu para responder.

-Eu precisava que alguém segurasse ele para abraçar a tia Lauren e ela parecia ser a única que não ia fazer isso no momento. - Um menininho explicou, dando de ombros.

Todos ao redor sorriram e aceitaram a explicação de bom gosto. Karla piscou confusa e entortou a cabeça, sempre achou que Lauren fosse uma peça única e rara, não compreendia como podia ter se desenvolvido daquele jeito tão peculiar, mas começava a entender que certas coisas da ilustradora não eram tão raras assim, pelo menos, não naquela família.

-Querida, não se preocupe com malas, os meninos vão levar tudo para o quarto. Venha conosco, nós estamos pensando em começar a vigésima guerra Jaguar de balões. -Seu Miguel disse, com olhos brilhantes e empolgados.

-Querido, elas acabaram de chegar de viagem, acho que precisam descansar um pouco. - Uma mulher negra e alta explicou, fazendo seu Miguel fazer uma pequena careta, mas assentir.

-Essa é minha mãe e aquele que você já deve ter percebido, é meu pai. Os outros você vai conhecer depois. –Lauren explicou na direção da professora e assim que ela assentiu, voltou o olhar para as outras pessoas. -Família, essa é Karla minha namorada,às vezes ela pode ser Camila, Lilith ou Karla Camila, todo mundo avisado.

-O sonho da Lauren era aderir a bigamia, mas como a mamãe faria churrasco dela, a safada conseguiu uma mulher que é várias em uma só. - Um de seus irmãos, Luke, o mais novo antes de si, debochou, fazendo todos sorrirem. Ele era o cara das pegadinhas e brincadeiras aleatórias, os dois viviam em guerra.

E sim, além de Íris, tinha uma porção considerável de irmãos homens, todos tão bobos quanto ela mesma. Além deles, haviam primos, primas e alguns tios reunidos no sítio, formando uma grande reunião familiar. De sua geração era a mais nova, o que significava que sempre era mais mimada que todos os outros e adorava isso.

Lauren havia explicado para todos muito rapidamente sobre a condição de Karla, mas mesmo assim não temia quanto a isso, sua família era a última que teria problemas com alguma diferença, no máximo fariam piadinhas sem graça como aquela de Luke, mas nada que fosse realmente ofensivo.

-Hum, mãe? - Chamou um pouco apreensiva, quando a mulher a olhou, apontou com o queixo para os dois carros que formavam um comboio as acompanhando até ali. - Karla trouxe alguns seguranças.... - Explicou, sem realmente explicar. Sua mãe piscou em confusão para a quantidade exagerada, olhando com desconfiança entre Karla e os seguranças, mas acabou dando de ombros e aceitando. Sempre havia mais um lugar a mesa.

-Acho que vamos precisar aumentar a porção de comida. - Disse para ninguém em especial.

Karla e Lauren se olharam, soltando suspiros mais tranquilos. As duas se viram envoltas por um frenesi absoluto, todos queriam matar a saudade de Lauren e conhecer mais de Karla, o que tomou completamente a atenção das duas por boa parte do dia.

No primeiro segundo de paz que encontraram, passeavam pelo sítio de mãos dadas, enquanto Lauren apresentava cada parte do local e contava histórias de infância. Seus pais sempre foram muito ambíguos, gostavam da tranquilidade do sítio, mas não deixavam de achar importante que aprendessem a viver na cidade, o que acabou fazendo com que morassem naquele lugar.

Era como estar em uma cidade do interior com direito a ser acordado pelos galos, mas a vinte minutos do centro da cidade. Acordava cedo para tirar leite da vaca quando era criança e logo depois pegava meia hora de metrô até a escola onde estudava. Sempre teve o melhor dos mundos.

Por mais que Karla fosse dona de um império dos rodeios, parecia muito encantada com as simplicidades do sítio, como qualquer outra garota da cidade ficava. No que se tratava dos animais, a mulher tinha mais conhecimento até do que seus pais, porém, nunca havia vivido daquela forma tão pacata. Tinha grandes rebanhos, grandes fazendas e nunca realmente tinha vivido nelas.

Enquanto Lauren tentava explicar como funcionava o aparelho super revolucionário de tirar mangas, que consistia em uma grande vara de madeira com uma garrafa cortada na ponta, as duas perceberam o pai de Karla passar quase correndo com Miguel o seguindo de perto.

-Caso eu volte a escutar sua voz no dia de hoje, essa será a última vez que qualquer pessoa do mundo vai ouvi-la. - Alejandro avisou para Miguel que sorriu largo para o outro homem.

O pai de Lauren havia decidido que os papais precisavam se dar bem, pois tinham funções iguais. Dessa forma o homem passou todo o dia perseguindo e tentando incluir Alejandro nas atividades familiares, mas a única que o homem realmente aceitou foi um jogo de basebol, mas até disso desistiu rapidamente, já que Karla avisou que estava proibido acertar o taco em coisas que não fossem as bolas, principalmente se essas coisas fossem as cabeças das pessoas.

-Eu adorei seu pai, ele é tão sério, você acha que ele me ensina como fazer essa cara de bravo? Preciso usar com as galinhas, sempre que vou pegar ovos elas correm atrás de mim com a fúria de mil penas,o vizinho me disse que elas só respeitam figuras de autoridade. Até agora elas só respeitam minha esposa, mas eu tenho certeza que se seu pai ensinar eu consigo. - Miguel falou, finalmente parando de seguir o outro homem para conversar com a filha e nora.

-Papai, essas suas galinhas sempre foram dodóis da cabeça, elas são piores que as outras. Eu ainda me lembro de quando uma delas comeu o pedaço do dedo daquele seu primo.- Karla arregalou os olhos em choque para a namorada que percebeu que precisava explicar a situação.- Ele estava tentando cortar lenha, mas digamos que ele tenha mirado um pouco errado e um pedacinho do dedinho mindinho ficou com deus e com a galinha das trevas que estava passando por ali naquele momento.

Karla piscou várias vezes tentando processar aquele acontecimento enquanto Miguel e Lauren sorriam da mesma forma em sua direção.

-Foi assim que a gente aprendeu que não se deve cortar as coisas com uma das mãos no caminho da lâmina e que as galinhas daqui não são confiáveis.

-Então como a sua mãe consegue mandar nelas?- Miguel perguntou em tom de dúvida.

-É a mamãe, um olhar e ela consegue mandar em qualquer ser vivo do planeta. - Lauren explicou, vendo o pai concordar com um aceno.

Tendo colhido uma sacola cheia de mangas, Lauren e Karla voltaram para casa na companhia de um Miguel animado, mesmo sendo mais velho o senhor parecia ligado em uma bateria de milhões de volts.

Mas assim que chegaram na frente da casa, Lauren percebeu pelo silêncio que havia algo errado acontecendo, sua família nunca ficava em silêncio. Ninguém estava à vista e até mesmo as crianças não faziam barulho nenhum, o sol nem tinha se posto ainda, o que excluía a possibilidade de estarem dormindo.

-CHEGOU O MOMENTO DA BATALHA FINAL, LAUREN.

A ilustradora arregalou os olhos ao reconhecer a voz de Luke e perceber o que acontecia, mas antes que pudesse avisar Karla, ouviu o grito de guerra e sentiu algo lhe atingir na barriga. Repentinamente começou toda uma gritaria enquanto eram rodeadas, por no mínimo umas dez pessoas.

Se o primeiro balão não tivesse acertado forte demais em sua barriga a deixando sem ar, teria avisado para a família que começar uma guerra surpresa com Karla perto de si, não era lá uma ideia muito boa. Foi apenas o tempo da mulher olhar em sua direção e perceber que havia sido atingida, para as coisas se tornarem um pouco mais violentas do que eles desejavam.

Em um segundo seus irmãos e primos tentavam cercá-las com sorrisos sacanas devido a brincadeira que era uma tradição entre eles e no outro corriam desesperados de uma Lilith irritada que apenas poupava as crianças.

-Socorro,Deus. - Ouviu Jack, um de seus irmãos, gritar antes de ser literalmente arremessado no chão com força, em um golpe de pernas. Pelo jeito que caiu mole, Lauren percebeu que havia perdido a consciência.

Lilith era implacável e incansável e que sua família estivesse molhada demais, para conseguir correr de forma apropriada, apenas facilitava o trabalho da latina. Ela com um pouco mais de um metro e meio, fazia os homens de mais de um e oitenta correrem gritando de forma desesperada. Como haviam muitas pessoas, a latina não se dedicava a machucar muito seus alvos, apenas os imobilizava de alguma forma e corria para o próximo.

Provavelmente era uma pessoa horrível, mas quando Lilith deu um cuecão em um de seus primos que urrou tão alto que provavelmente tinha arrebentado algumas cordas vocais, chegou a dar uma risadinha baixa.

-LAUREN FAZ ALGUMA COISA. - Luke gritou de longe, o que não foi uma boa ideia, pois além de atrair a atenção da irmã, acabou atraindo Lilith que o reconheceu como o primeiro a acertar Lauren.

-Você. - A latina apontou com um olhar sinistro no rosto. - Não machuque a Lauren. - Avisou, antes de começar a correr, fazendo Luke soltar um grito fininho, correndo a passos largos para longe.

Lauren ia atrás gritando com dificuldade, mas os dois eram muito mais rápidos que ela, impedindo que os alcançasse e se fizesse compreensível para a "namorada". Os dois deram duas voltas na casa e Luke parecia exausto enquanto Lilith nem mesmo piscava, parecendo aumentar cada vez mais o ritmo da perseguição

Em um canto na varanda, Alejandro sorria de toda a situação, divertindo-se com a confusão, enquanto a filha corria atrás do irmão de Lauren.

Finalmente a mãe da ilustradora apareceu no lado de fora da casa, dando atenção para a gritaria. Os parentes mais jovens que haviam participado do cerco, estavam todos escondidos com medo de serem reconhecidos e os mais velhos tentavam explicar a situação ou achar uma forma de parar Lilith.

Luke percebeu a presença da mãe e correu em sua direção escondendo-se atrás da mulher que ainda se esforçava para entender o que acontecia. Lauren ao ver Lilith correndo na direção de sua mãe, quase teve um ataque cardíaco, mas para sua surpresa assim que a mulher mais velha levantou a mão em um gesto de calma, a latina parou no lugar, ainda em posição de ataque.

-Ei, se acalme. - A mais velha pediu, escondendo o filho que sussurrava, em um tom desesperado, para que a mãe mantivesse a outra longe.

Lilith franziu o cenho, finalmente olhando com atenção para tudo ao seu redor. No calor do momento apenas se viu cercada por várias pessoas, com Lauren ferida ao seu lado, mas a visão daquele homem chorão atrás de uma senhora e todos aqueles olhos assustados em sua direção não parecia em nada com uma situação de perigo.

- Lilith. - Lauren chegou, falando sem ar, com as mãos no joelho e o rosto vermelho pela corrida.- Ninguém aqui é perigoso, são minha família, era.... era só uma guerrinha de balão, pode perguntar para seu pai.- Orientou, apontando para Alejandro que sorriu malicioso.

-Na verdade todos eles estavam tentando nos matar, principalmente aquele senhor mais velho. - Alejandro apontou na direção de Miguel que arregalou os olhos e levantou as mãos em sinal de rendição para Lilith.

A latina franziu o cenho reconhecendo Miguel de suas pesquisas a respeito da família de Lauren, inclusive reconheceu outros rostos familiares para si, o que lhe deu a certeza que não era nada do que pensava. Desfez a pose de ataque, bufando alto para a idiotice em que tinha se metido e foi embora dando lugar novamente para Karla que olhou em volta confusa com a mudança brusca de situação.

-O que está acontecendo? - Perguntou desconfiada, vendo como todos lhe encaravam com medo.

-Karla???- Lauren perguntou em dúvida, se aproximando com cuidado da mulher.

-Sim.... - A professora respondeu desconfiada, vendo um coro de graças a deus se formar ao seu redor. - O que houve?

-Talvez a Lilith tenha confundido a guerra de balões com algo mais sério...- Lauren explicou vagamente, vendo a outra fazer uma careta, olhando com culpa ao redor de onde estava.

-Desculpe....eu....eu não queria machucar ninguém. - Lamentou-se, grunhindo torturada.

-TÁ BRINCANDO???- Uma mocinha perguntou empolgada, aparecendo com um celular em mãos. - Essa foi a melhor cena da minha vida, tio Luke chorando igual uma menininha e se escondendo nas saias da vovó. Esse vai ser o vídeo do meu casamento. – A jovem comemorou, apontando para o tio enquanto sorria alto.

-"Mamãe, deixa ela longe, socorro". - A menina imitou, vendo o tio sair de trás da mãe um pouco envergonhado.

-Eu apenas estava evitando revidar, nunca bateria em uma mulher. - Luke explicou, fazendo todos ao redor começarem a rir alto. - Mas agora preciso ir no banheiro, acho que molhei a cueca. - Completou, correndo para dentro da casa.

-Não acredito que não me esperaram antes de fazer os homens molharem a cueca.

-IRIIISS.- Lauren gritou, se jogando nos braços da irmã mais velha que a segurou, mesmo que pega de surpresa.- EU PENSEI QUE VOCÊ NUNCA MAIS CHEGARIA.

-Estou aqui agora, dramática. - A mais velha respondeu, sorrindo.

-Pare de pular desse jeito nela, vai machucá-la. Além de que ela está tentando falar com o resto da família e você só atrapalha. - Um de seus primos repreendeu. Byl, maçã podre da família, poc enjoada que queria roubar a atenção de sua irmã mais velha como se tivesse esse direito, Lauren não gostava, nem um pouco.

-Cuidar da sua vida que é bom, nada. - Respondeu de maneira rude, enquanto Iris a colocava no chão.

-Você é egoísta. - Byl rebateu, sempre usando o mesmo argumento contra a de olhos verdes.

-E você intrometido, ninguém pediu para se meter na minha conversa com MINHA IRMÃ. - Respondeu, fuzilando o outro com os olhos.

Enquanto sua família sorria e revirava os olhos, acostumada com a rixa entre os dois, Karla franziu o cenho confusa. Nunca tinha visto Lauren tratar alguém com tanta brutalidade, não era do feitio da ilustradora.

-Venha comigo querida, os dois vão passar o resto da tarde e noite nessa discussão pela atenção de Iris e não existe forma de pará-los. - Falou com paciência, observando a filha mais velha ser puxada entre Lauren e Byl.

-Devo me preocupar?- Karla perguntou, começando a andar na companhia da sogra.

-Não, eles se amam. - Sua sogra respondeu tranquilamente.

Maya Jauregui era provavelmente a mulher mais firme e de sabedoria misteriosa que tinha conhecido na vida, a colocava até acima de Sinu e era difícil alguém superar sua mãe em qualquer coisa para si. Mas havia algo de profundo nela, uma influência potente sob todos os Jaureguis e outras pessoas em geral, que não precisou de mais do que um dia e as coisas que Lauren já tinha falado sobre a mulher, para perceber.

-Como você está? - A mais velha perguntou, assim que chegaram à cozinha da casa. Karla chegou a pensar que poderia levar uma bronca por fosse lá o que Lilith tivesse feito, mas a mais velha tinha uma expressão tão pacífica que descartou aquela possibilidade, se dedicando a tentar entender o que realmente queria com a pergunta.- Quero saber exatamente isso, meu bem. Como está? Lauren disse que descobriu a pouco tempo sobre sua condição e suponho que seja confuso.

Karla abriu um pouco a boca, não esperava um questionamento tão direto. Ninguém realmente tinha lhe perguntado aquilo daquela forma, com tranquilidade, sem parecer que mexia em um vespeiro. Mas Maya havia o feito enquanto lavava as mãos e se dedicava a mexer com uma massa de aspecto muito bonito.

-Eu não tenho me dedicado a pensar muito sobre isso fora da terapia, parece que se começar vou perder o restinho de sanidade que me resta.

-Sanidade é muito superestimada. - Maya respondeu com humor.- Um pouco impossível mantê-la atualmente, eu costumava me orgulhar de ter os pés no chão, até que entrei para a família Jauregui e aprendi que é possível ser racional, mesmo batendo asas por aí.

Karla piscou lentamente, absorvendo as palavras. Conectá-las com o que vivia podia ser um processo que abrangia várias vias diferentes e incrivelmente todas elas formavam um conselho valioso, não importando muito a interpretação que escolhesse, desconfiava que Maya sabia perfeitamente disso.

-Eu não tenho a mínima ideia de como pode ser isso que está passando, me parece abstrato até para entender.- Maya continuou em um tom maternal cheio de carinho.- Mas quando eu estava entrando nessa família, as avós de Lauren me garantiram que todos estavam aqui para o que eu precisasse e eu repasso isso para você. Não existe um Jauregui bom da cabeça, mas todos compensam em coração.

Karla ficou encarando a mulher com uma expressão vazia, perdia-se sucessivamente em ciclos confusos de pensamento. Mesmo que tivesse amigos próximos que sempre a apoiaram, não conseguia entender ao certo aquilo que a mais velha lhe oferecia. A vida para si sempre se mostrou cheia de ganâncias e injustiças motivadas por estas. As pessoas realmente ofereciam amor tão fácil assim? Que irreal.

Maya pareceu perceber o seu choque, pois levantou uma sobrancelha e sorriu baixinho.

-Desculpe a incredulidade tão óbvia, mas pelo que entendi, acabei de agredir alguns dos seus filhos e sobrinhos. Não entendo como pode abrir espaço para mim tão facilmente.

A mais velha sorriu mais alto.

-Lauren pode parecer boba, mas ela é tudo menos boba. Confio nela o suficiente para saber que você merece um espaço em nossa família. Aqui não é lugar de pessoas perfeitas, mas de pessoas que estão evoluindo como todos nós, minha filha te ama, isso é suficiente.

Karla não sabia o que responder, por isso ficou calada, mas Maya não pareceu ver isso como algo rude, parecia entender completamente o motivo de seu silêncio.

-Normalmente eu levo mais tempo para dizer algo como isso, deixo que primeiro as pessoas se insiram na família para depois apenas selar a coisa toda com palavras. Contudo, sinto que precisa saber agora, precisa de permissão para se permitir conectar com todos nós, então estou te assegurando que é bem-vinda.

-Isso.... -Karla se interrompeu, engolindo em seco. - Eu...obrigada. - Agradeceu simplesmente, tendo dificuldade para se expressar.

-Ahh, bom, isso é o de menos. A coisa toda está nas suas mãos, eles vão tirar sua paciência noventa por cento do dia, mas valem a pena de se ter por perto. Basta que queira.

Karla assentiu, queria realmente experimentar aquilo, ter uma família grande parecia empolgante.

-Outra coisa, ela corre risco?

-Pelo que entendi comigo não, nem com nenhuma das outras personalidades em mim. Mas existem pessoas que querem me machucar e talvez tentem atingi-la. - Respondeu com sinceridade, não queria mentir para aquela mulher, mesmo que isso pudesse lhe custar Lauren.

-Entendo. - A mais velha respondeu sem dizer mais nada.

Em seu interior tudo o que Maya queria era embrulhar a filha e sair correndo com ela, mas sabia que essa opção não existia, Lauren era adulta e infelizmente tomava as próprias decisões. Essa parte de ser mãe era-lhe a mais complicada, aceitar que tinha criado seus pequenos para o mundo e não poderia protegê-los de tudo.

Lauren sempre foi a que deu mais trabalho entre seus filhos, todos eram muito agitados, mas Lauren além de agitada parecia ter faro para situações inusitadas. Nunca havia tido grande bravura, mesmo quando pequena exibia os olhinhos verdes arregalados no menor sinal de perigo, porém, ainda assim ela caminhava rumo a ele, como se algo a compelisse a tocar o caos e ver do que ele era feito.

Como resultado de suas estripulias, visitaram alas do hospital um número incontável de vezes e quanto mais ela crescia, mais intensos se tornavam os dilemas em que se metia. Mesmo assim não podia contê-la, não podia tentar prender um espírito tão livre, ainda que lhe custasse algumas noites de sono.

-Eu sei que parece fora do meu controle, mas vou fazer tudo para mantê-la segura. - Karla garantiu, temendo ter perdido um carinho que mal tinha ganhado. Maya a olhou com preocupação, mas assentiu em concordância.

-Eu espero que consiga e que se mantenha segura também. - Respondeu com um suspiro preocupado. - Quer aprender a fazer pães? Lauren nunca se interessou e eu me recuso a pensar que posso ter netos que não vão experimentar minha receita especial se eu estiver longe.

Karla sorriu muito largo, sentindo o coração acelerar enlouquecido com a menção de netos. Assentiu com a cabeça e se juntou a mulher que passou a explicar do começo tudo o que precisava fazer. Mesmo com o incidente com Lilith, nada mudou com relação a família de Lauren consigo, na verdade os homens que tinham apanhado, estranhamente pareciam altamente encantados com sua pessoa.

Até a hora de ir dormir já havia recebido meia dúzia de propostas para namorar um Jauregui mais interessante que Lauren. Obviamente não passava de brincadeira, mas mesmo assim significava muito que todos parecessem tão gentis consigo, apesar das palavras de Maya, ainda se sentia culpada com todo o acontecido.

Lauren por outro lado estava exultante, que Karla se desse tão bem com sua família era perfeito. Temeu que ficasse com raiva de si ou estranha depois de descobrir tudo sobre as personalidades, mas a professora parecia mais aberta e tranquila do que nunca, como se tivesse tirado um peso das costas.

-Você parece tão feliz. - Lauren murmurou a abraçando na cama, quando se deitaram.

-Eu estou. - Karla confidenciou, não escondendo o sorriso largo.

-Pensei que ficaria com raiva.

-Por?

-Bom, toda a coisa com Camila. - Lauren sabia que talvez não devesse mencionar aquilo, mas já estava cansada de não ter tudo bem resolvido. - Pensei que brigaria por eu estar com as duas.

Karla ficou um pouco pensativa, mas não deixou de se apertar a Lauren, apreciando a sensação de estar colada ao corpo caloroso da namorada, era provavelmente seu lugar preferido no mundo.

-Em um primeiro momento eu fiquei chateada pela mentira, mesmo que entenda seus motivos, não acho que é o caminho certo.

-Me desculpe por isso. - A de olhos verdes murmurou baixinho.

-Tudo bem, só não faça mais coisas pelas minhas costas mesmo que para me proteger.- Pediu a beijando nos lábios com amor.- Quanto a Camila.- Começou em uma voz diferente e com hesitação.- Eu nunca realmente superei o medo de que me deixasse por ela, saber que não existe essa possibilidade é curiosamente bom. Ainda existe certa insegurança de que goste mais dessa outra personalidade do que de mim, mas suponho que seja mais coisa minha do que algo real.

-Eu te amo Karla Camila Cabello Estrabao. Amo todas as personalidades na mesma intensidade, mesmo que de formas diferentes. Por favor não duvide. - Lauren falou sinceramente, dizia com todo seu coração, não havia uma unha de seu corpo e pedaço de seu coração que conseguisse decidir ter preferência por uma das duas.

-Racionalmente eu sei disso e vou me esforçar para entender de forma sentimental também, tentar não me deixar sentir insegura. É difícil, mas acho que ando me saindo bem.

-Perfeitamente bem, eu adoro te ver leve assim.- Lauren elogiou a beijando mais e fazendo cócegas.

Na manhã seguinte a ilustradora acordou cedo e correu pelo sítio como costumava fazer quando morava com os pais, quando saiu Karla ainda dormia, mas assim que voltou, percebeu que a mulher já havia se levantado e pelo jeito que se vestia, não era mais Karla.

Camila estava bem no meio da mesa de café da manhã com toda sua família e pela forma que a olhavam, já havia conseguido enfeitiçar todos.

-Quando você disse que eram personalidades diferentes eu pensei que brincava, mas caramba, tem certeza que é a mesma? - Luke sussurrou baixinho, assim que se aproximou.

Camila esbanjava charme para todos na mesa, sempre era muito rainha e mesmo se não tivesse intenção acabava conseguindo súditos por onde quer que fosse. A viu de longe piscar de forma maliciosa para uma de suas primas mais novas, que quase caiu da cadeira com o impacto, Lauren nem prestava atenção na conversa, observar como Camila envolvia a todos parecia mais interessante.

Até que a latina mesma a viu, abrindo mais o sorriso irônico, a chamando com os olhos para perto.

-Eu disse, elas são pessoas diferentes no mesmo corpo. - Explicou para Luke, que assentiu com admiração.

-Olá, eu adorei isso de pular a parte chata da viagem e já acordar no destino. - Camila confidenciou em seu ouvido, assim que se sentou ao lado dela, fazendo com que sorrisse.

-Viu, existe lado bom em tudo.

-Karla é o lado bom de mim. - Respondeu com um olhar sombrio, mesmo que ainda sorrisse de lado. Lauren queria rebater, mas seu pai chamou a atenção de todos os convidando para passar um tempo no gramado no fundo do sítio.

A ideia agradou a todos e até mesmo Camila que não era muito de apreciar tempo ocioso. A questão é que a família de Lauren era tão absolutamente comunicativa e animada, que achava interessante ter tempo para conhecer mais deles, ainda não tinha aprendido o suficiente, de forma que os minutos do lado de fora, ouvindo as histórias malucas e observando a dinâmica que tinham, foram muito úteis para entender algumas coisas.

Entender aquela família lhe fez ter mais certeza que a coisa mais certa que poderia fazer na vida, era se afastar de Lauren assim que terminassem aquela viagem. Talvez não tenha sido discreta o suficiente com aquela constatação, pois a de olhos verdes a encarava com uma expressão preocupada em pequenos intervalos de tempo. Mas a quem poderia enganar? Aquele não era seu lugar.

Para todos os lados que Camila olhava tudo o que via era amor, amor em cada gesto, amor em cada olhar, em cada meio sorriso e suspiro feliz, Lauren tinha uma família inteira repleta de amor e ver aquilo de perto lhe fazia entender mais o motivo da ilustradora ser daquele jeito, nunca tinha entendido completamente, mas naquele momento entendia, ela era fruto do amor de todas as formas possíveis.

Ao mesmo tempo que se sentia honrada por conhecer algo como aquilo, também se sentia deslocada. Sentia que nunca saberia como amar daquela forma e mesmo que essa certeza fosse algo completamente novo, sentia aquilo com cada personalidade em si.

Lilith nem mesmo sabia o que era amor, Karla sabia como amar, mas definitivamente não sabia como ser amada, Karla Camila não entendia o conceito de família e muito menos como um número tão grande de pessoas poderia ser confiável, não confiava nas pessoas, não achava que podia. E Camila, bom, havia passado tanto tempo fugindo e ignorando o amor que não sabia como lidar com ele.

Sempre magoava as pessoas, sempre dizia as coisas erradas e não conseguia ser sensível o suficiente para não machucar quem lhe mostrava espaços tão delicados dentro do coração. Seu mundo preto e branco, cheio de racionalidades e ações motivadas nesse sentindo, não se encaixava com sentimentos amenos.

Como poderia pedir espaço em um lugar tão harmonioso? Sua vida era sobre incertezas, inconstâncias sucessivas, um dia poderia ser ela, a rainha do Simbiose, que não sabia aceitar ajuda sem precisar quebrar sete muros para deixar alguém entrar, mesmo que no caso de uma ajuda simples. No outro dia poderia ser Lilith que mataria uma tia que lhe desse bom dia no tom errado, ou, Karla que se sentiria culpada por não ser perfeita ou pelas milhões de coisas que as outras já teriam feito.

Eram tão impossivelmente diferentes, uma sempre pediria algo que a outra nunca saberia receber.

Tudo ao seu redor era bagunça e não havia como consertar, sempre carregaria consigo essa multidão. Queria ter o poder de pegar o melhor de cada uma e juntar em apenas uma versão de si mesma, mas não conseguia, não tinha controle e em boa parte das vezes apenas conseguia ser o pior de todas.

Se não conseguia amar cada parte de si, como poderia pedir que outra pessoa fizesse isso?

-Sabe, eu adoro lontras. - Lauren declarou, sentando ao seu lado no gramado. Tinha um sorriso tranquilo e os olhos voltados para a própria família.

Não entendeu muito bem o que ela queria dizer com aquilo ou o motivo de ter começado uma conversa tão aleatória, mas aquela era Lauren, ela sempre era aleatória. Como se tivesse o poder de ler sua mente a mulher soltou uma risadinha infantil, dando de ombros.

-Elas são fofinhas e trabalhadoras, até mesmo as que vivem nos lugares mais gelados do mundo, continuam sendo fofinhas, elas conseguem se proteger do mundo sem perder o que de mais bonito existe na essência que possuem. Muitas vezes a gente se machuca tanto que pensamos que o mais indicado é se cobrir de espinhos,veneno e tudo o que for necessário para manter o outro longe e eu não posso acreditar que esse seja o caminho. Eu quero ser uma lontra, vou ter o couro mais grosso do mundo que vai me manter quente mesmo quando tudo estiver congelando do lado de fora, isso sem deixar de ser receptiva, sem deixar de ser um lugar confortável para quem quiser se aproximar.

Camila engoliu em seco para a forma como Lauren olhou dentro de seus olhos. Não lhe exigia morada, ou cobrava coisas como se exigisse algum direito de ficar, ela pedia com os olhos para permanecer. Pedia com carinho e amor coisas que ninguém antes havia tentado ter de si da forma correta. Já tinham tentado forçar morada, já tinham passado de visita sem intenção de ficar, mas nunca tinham lhe pedido daquela forma para permanecerem, tão carinhosamente, em uma enxurrada de cuidado e amor.

-Quando é a noite, as lontras dormem de mãos dadas. As ondas do mar são fortes e é tudo tão agitado que elas ficam a noite inteira se segurando para se manterem juntas até o próximo dia. - Lauren se aproximou mais, passando a mão pelo pescoço de Camila em um afago carinhoso. Colou o rosto no da mulher, deslizando os narizes um no outro, os olhos verdes brilhando com algumas lágrimas. - Eu vou ficar aqui Camz, eu vou segurar sua mão durante toda a noite, durante toda a escuridão agitada, se você me permitir fazer isso. Eu não quero te perder de vista, em todas as manhãs da vida quero que você seja a primeira coisa que eu vou ver e em todas as noites, minhas ou suas, eu vou segurar sua mão e nós vamos estar juntas, entende? Eu não vou soltar, prometo. Se deixar que eu segure, nunca vou soltar.

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