— Então a rainha sentiu minha falta mesmo, não é?
Um vento frio bateu na minha pele e todos os pelos de meu braços se arrepiaram, mas me esforcei para manter a postura e não tremer. Além de tudo, aquele lugar asqueroso era úmido e frio.
Ele me olhou de cima a baixo como um sorriso malicioso como se quisesse me comer viva.
Me esforcei mais uma vez para não tremer, só que dessa vez por causa de seu olhar dominador.
Ele me olhou de cima a baixo de novo só que dessa vez me avaliando, se percebeu meu tremor não sei.
— Oi — ele disse piscando.
— Bem, você queria falar comigo, não queria?
Ele abriu mais um daqueles seus sorrisos com os olhos cravados em mim.
— Eu acho que podíamos nos entender melhor se você entrasse aqui.
Cruzei os braços.
Dei um passo para a frente em direção à cela e fiquei de frente para ele, mas ainda mantendo uma distância e agradecendo mentalmente por aquelas grades que nos separavam serem de ferro.
— O que vocês querem?
— Queremos muitas coisas, minha rainha — Ele respondeu enfatizando na palavra "minha" com um sorriso malicioso.
Respirei fundo para não esmurrar ele.
— Vocês queriam Clarkson fora, por que ainda continuam nos atacando?
— Esse seu reizinho está muito devagar, temos planos melhores.
De fato, Maxon estava muito sobrecarregado com a anulação do sistema de castas. Ele estava encontrando dificuldades em vários quesitos: muitos do próprio povo relutavam, alguns conselheiros da época de Clarkson eram contrários à proposta e ainda tinham as próprias questões emocionais que Maxon tinha que contornar. Por mais que ele fosse forte e corajoso, perder os pais em um só dia foi realmente difícil para ele.
Mesmo assim, eu sabia que ele estava dando o seu melhor pelo povo.
— Maxon Schreave é o melhor rei que Illéa poderia ter — afirmei.
— Tem certeza, minha rain...?
— Eu não sou nada sua! Pare de me chamar assim! — Falei já irritada aumentando o tom de voz.
— Começou a falar do jeitinho que eu gosto — ele sorriu — Sabia que me disseram que você era assim mesmo? Esquentadinha?
— Quem disse?
Ele sorriu e ficou em silêncio.
— Quem disse? Responda! — Falei nervosa.
— Eu gosto disso entre nós dois, sabia? — Ele disse movendo o indicador na minha direção e depois na dele.
Balancei a cabeça enjoada.
— É sério, a gente se daria bem, quando nós dois nos juntamos só falta pegar fogo.
— Eu vou perguntar só mais uma vez. — Disse devagar e com raiva entre dentes — Quem. Disse?
— Como cão e Gato, não é excitante?
— Responda minha pergunta!!— Vociferei.
— Se você quer as respostas deveria me dar um tratamento melhor, não acha?
Respirei fundo novamente.
— Qual o seu nome?
Ele abriu um sorriso extrovertido. Em outras circunstâncias talvez eu até o achasse carismático se não fosse sua loucura e tudo o que ele tinha feito.
— Jason McGregor — ele disse com um sorrisinho.
— Muito bem, Jason McGregor — Falei dando ênfase em seu nome como um desafio. — É melhor você falar para mim agora do que eles fazerem você falar. Desista. Não vê que não tem mais para onde ir?
— Aí que você se engana.
Ergui a sobrancelha questionando.
— Vocês colocaram o maior inimigo de vocês na mesma casa que vocês vivem e ainda acham que estão por cima.
Outra onda de frio bateu em minhas costas e me arrependi de não ter colocado um casaco de lã por cima da blusa.
Dessa vez eu tremi.
Ele também parecia sentir frio, pois colocou os braços ao redor do seu próprio corpo e tremeu junto comigo.
— Você está preso, não pode fazer nad....
— Errada de novo — ele me interrompeu.
— Você não me respondeu ainda, o que vocês querem?
— Pergunta errada. O que vocês querem? — Ele retrucou dando ênfase na palavra "vocês".
Ele já estava me irritando com seus joguinhos.
— Que audácia a sua! Você está preso e ainda acha que está na posição de nos oferecer alguma coisa? Você quase matou meu marido! Você é louco!
Ele gargalhou.
Parecia estar realmente se divertindo.
— Vocês que não vasculham o passado de quem entra na própria casa e eu que sou o louco?
— Do que você está falando?
— Um enigma para você, rainha — disse com um sorriso triunfante no rosto. — Entrou de branco parecendo um anjinho, mas quando você menos esperar vai revelar o demoniozinho.
Eu só podia ser desesperada mesmo para estar perdendo tempo com esse louco, mas eu queria ajudar Maxon, eu queria com todas as minhas forças. Maxon precisava de mim...
E eu não seria uma mulher omissa só preocupada com chás e vestidos sem mover um dedo enquanto meu marido lutava com todas as forças para salvar esse país.
— Do que você está falando? Seja mais claro e quem sabe possamos te tirar daqui.
— De todas as coisas que me falaram de você, a única coisa que omitiram é que você era mentirosa. Você sabe que seu maridinho não vai me soltar nunca. Mas eles não estavam errados sobre sua aparência. Você é mesmo uma go...
— Calado! — Gritei.
Ele sorriu com os lábios para dentro como se segurando a risada.
Ele estava me deixando perdida. Ele estava me confundindo, uma hora omitindo o porquê de eles ainda atacarem, outra hora não respondendo sobre quem conhecia minha personalidade e falou de mim para ele, em seguida falando que tem algo que nós queremos, depois dizendo sobre um anjo de branco...
Eu não estava entendendo mais nada e nem sabia mais o que perguntar.
— De quem você está falando? O que está dizendo de anjo de branco?
— Resolva esse enigma e volte aqui.
Coloquei os dedos nas têmporas já sem paciência.
— Só me diga o que vocês querem então e eu vou embora.
— Entenda uma coisa: é mais útil você se perguntar o que vocês querem — ele disse falando baixo e enfatizando a palavra "vocês".
— Como assim? — Perguntei sem entender absolutamente nada.
— Chegue mais perto, rainha.
— Nem pensar.
— Eu só confio em você. Não posso arriscar que ninguém descubra isso.
— Eu não deixei nenhum guarda me seguir. Eu disse para eles ficarem longe para que pudéssemos conversar a sós.
Olhei ao redor e não tinha nenhum guarda perto, pois eu queria convencê-lo a me contar. Os guardas me obedeceram quando eu gritei dizendo que era a rainha e que estava no controle. Eles me deixaram entrar.
Eu estava realmente sozinha com aquele rebelde maníaco. E isso de alguma forma de desesperava. Mas lutei para não deixar transparecer.
— Como eu disse, não posso arriscar — ele sussurrou.
Ele ergueu a mão e fez um movimento com os dedos me chamando para mais perto.
Dei só um passo para mais perto e parei.
— Nós temos algo que vocês querem muito — ele sussurrou quase inaudível.
— O quê? — Perguntei baixo.
Outra onda de vento frio nos atingiu, dessa vez tão forte que as velas quase se apagaram por completo.
Meu coração gelou de medo.
O rebelde começou a tremer muito.
— O que houve?
— Me ajude, me ajude — ele disse baixo, mas desesperado — Me ajude por favor.
— O que você tem?
Ele não respondeu, só tremeu e tremeu, aumentando ainda mais a velocidade do movimento assustador. Então disse com dificuldade:
— P-por favor...
— Olha, se isso é mais de um de seus joguinhos, saiba que eu não vou abrir a cela para você. — Eu falei irritada apontando o dedo para ele, mas ele não respondeu brigando como sempre fazia, apenas continuou se tremendo.
Poderia ser verdade. Se eu estava sentindo tanto frio e era minha primeira vez nesse lugar asqueroso e úmido, imagine ele que já estava preso há dias...
O tremor piorou.
Me aproximei da cela preocupada e tudo aconteceu em uma piscar de olhos. Quando cheguei mais perto para falar com o rebelde, ele segurou meu pulso com força e me puxou contra a grade.
Então...
Sorriu.
Escrito Por Bruna ❤