Emma acordou com Melinda entre seus braços. Ao se levantar ela teve cuidado para não a acordar, mas pela quantidade de álcool que ela tinha bebido ontem provavelmente dormiria por mais algumas horas. Quando se sentou na cama, Emma a observou e caiu na tentação de alisar uma mecha do seu cabelo, colocando-a para trás de sua orelha. Ela lembrou do que Melinda tinha dito antes de adormecer.
Emma também sentia aquilo. Sentia muito. Ela queria poder desfazer tudo isso, mas como não podia, daria o seu melhor para elas voltarem a pelo menos se falar como antes. Isso iria dificultar seu processo de superação? Definitivamente. Mas não estava valendo a pena. Ela não estava feliz e pelo visto Melinda também não. Não estava sendo uma superação, estava sendo uma tortura.
Estava na hora de ser madura e aceitar as coisas como elas são. Não adiantava nada esse conflito entre elas duas.
Emma tomou um banho e pediu comida chinesa para Melinda comer quando acordasse, e para ela o bom e velho hambúrguer com batata frita.
Enquanto ela comia assistindo um documentário, Melinda saiu do quarto meio atordoada.
- Ei. – Emma falou de boca cheia, mas logo repetiu de uma forma descente. – Ei. Pedi chinesa pra você. – Ela apontou para a mesinha de centro.
Melinda passou a mão na cabeça e soltou um gemidinho de dor.
- Obrigada... Preciso de um banho. E de um remédio.
- Você pegou pesado ontem. – Emma deu uma risadinha.
- Meu Deus... Eu não bebia tanto assim há muito tempo. Estou acabada.
Emma riu enquanto Melinda entrava no banheiro.
Meia hora depois ela estava comendo ao lado de Emma, que já tinha devorado toda sua comida e beliscava a de Melinda, assistindo um filme de ação.
Emma sentiu falta daquilo. Daquela paz ao estar perto de Melinda, de sua companhia para fazer coisas simples como ver tv. Esperava que todos os dias fossem fáceis assim, mas isso era pedir demais, não era?
- Posso deitar no seu colo? Ainda estou com muita dor de cabeça, mereço um cafuné. – Melinda pediu com voz manhosa enquanto colocava o resto de comida em cima da mesinha de centro.
- Uhum. – concordou Emma sem pensar muito, se ajeitando no sofá.
Melinda descansou a cabeça no colo de Emma e voltou a se concentrar na tv. Emma enfiou os dedos suavemente entre os cabelos dela e começou a acariciar. Melinda deu um suspiro muito parecido com um pequeno gemido e fechou os olhos por um momento. Emma a observou.
Melinda estava vestida com uma blusinha de alça que mostrava nitidamente a marca de seus mamilos, um pedaço de sua barriga aparecia acima do short de tecido fino e ela balançava uma perna de um lado para o outro, fazendo um movimento sutil de abrir e fechar as pernas. Ela tinha um corpo maravilhoso e bem desenhado...
Emma suspirou disfarçadamente e mexeu no próprio cabelo com sua mão livre, voltando a se concentrar na tv tentando tirar esse tipo de pensamento de sua mente, ou tudo seria ainda mais difícil.
- Isso é tão gostoso... – disse Melinda ainda com aquela voz manhosa.
Emma sentiu seu corpo se arrepiar levemente quando se lembrou da última vez que Melinda tinha falado algo desse tipo. Deus, isso seria mais difícil do que ela pensava.
Emma continuou com o carinho em sua cabeça, até que Melinda se virou, ficando de barriga pra cima e olhou Emma diretamente nos olhos, o que fez seu coração pular. Emma esperou Melinda falar alguma coisa, mas ela ficou apenas a olhando, com os olhos preguiçosos piscando lentamente. Merda, ela era realmente linda, mesmo nessa meia luz com apenas a imagem da televisão a iluminando.
- O que? – Emma perguntou baixinho quando ficou sem jeito.
- Eu senti falta disso.
- Eu também.
- Eu não quero perder nossa amizade, Emma.
- Eu também não quero...
Melinda sorriu de lado, demonstrando estar cada vez mais relaxada, e então fechou os olhos.
- Sabia que quando eu estou com você eu sinto como se nada no mundo existisse mais? – Melinda falou com uma voz baixinha e rouca.
O coração de Emma acelerou um pouco mais nesse momento.
- Eu também sinto isso. – Emma queria ter algo além de "eu também" para responder, mas era a pura verdade.
Emma ainda acariciava sua cabeça com suaves cafunés e então Melinda subiu a mão até seu braço e acariciou suavemente. Aquilo foi o suficiente para o corpo inteiro de Emma se arrepiar como se tivesse ganhando um beijo na nuca ou algo do tipo.
Os olhos de Melinda a fitaram novamente e elas se encararam por alguns momentos, momentos que pareceram uma eternidade. A troca de olhares foi profunda e mais íntima do que uma troca de carícias. Pelo menos Emma sentiu como se fosse.
Melinda puxou a mão de Emma até alcançar o polegar dela com os lábios, onde deu um suave beijo. Emma acariciou a macia boca de Melinda, contornando as curvas de seus lábios. Ela lembrou instantaneamente de como era seu beijo e foi como beijá-la. Emma ainda podia sentir o doce gosto da boca de Melinda na sua.
Alguém bateu na porta, tirando Emma com violência daquele delicioso devaneio. Merda. Emma suspirou e tirou a mão do rosto de Melinda, com visível chateação.
- Provavelmente é o Jacob. – disse Emma sem alegria.
Melinda se sentou e respirou fundo.
- Sim, vou atender.
Quando Melinda se levantou, Emma se derramou no sofá, se deitando e esfregando os olhos.
- Ei, princesa. Como você está? – Jacob soava preocupado. – Tentei mandar mensagem, mas você não respondia, então vim ver se estava tudo bem.
- Eu estou bem. – respondeu Melinda suspirando. – Só estou tendo a enxaqueca do século, mas vou ficar bem. Já comi e tomei um remédio. – Melinda observou como Jacob estava vestido. – Você vai sair?
- Ah, sim, tenho uns assuntos para resolver, a gente se ver mais tarde?
- Ah... – Melinda hesitou. – Sim, você me avisa quando chegar.
- Cadê a Emma?
Emma se sentou no sofá para que Jacob pudesse vê-la.
- E aí.
- Ei, brow. Hoje vai rolar uma social no meu apartamento, o Luca chamou alguns amigos, não vai ser nada como minha festa de aniversário, vai ser pouca gente, aparece lá mais tarde pra a gente beber alguma coisa e bater um papo.
- Claro, mais tarde apareço lá. – Emma pensou em negar, mas não queria dar mais motivos para Jacob desconfiar de seu jeito estranho.
Jacob voltou sua atenção para Melinda e lhe deu um rápido beijo na boca.
Nesse momento Emma voltou a se deitar fazendo uma breve careta para o que tinha acabado de ver.
- A gente se fala depois então. Se cuida, ok?
- Ok, você também. – disse Melinda com sua voz carinhosa.
Quando Melinda voltou, ela se sentou no braço do sofá.
- Vocês estão bem? – perguntou Emma, como quem não quer nada.
- Sim, tudo bem. – houve um pequeno silêncio constrangedor, uma coisa que não acontecia com elas, mas agora era rotina. – E você e a Serena?
Emma riu baixinho.
- O que tem eu e ela?
- Vocês estão bem?
- A gente não é um casal. Somos amigas.
Melinda franziu a testa.
- Não foi isso que eu vi ontem.
Emma arranhou a garganta e mexeu no cabelo, olhando para a tv.
- Somos só amigas. Apesar de... você sabe. – Emma sorriu maliciosamente mesmo sem olhar para Melinda.
Melinda riu baixinho.
- Você não presta. – ela falou num tom de brincadeira.
Emma olhou para Melinda ainda com meio sorriso malicioso nos lábios. Mas antes que o clima ficasse mais tenso, ela se levantou.
- Lembrei que preciso dar uma saída. – não, ela não precisava. Só não queria ficar sozinha com Melinda naquele momento ou acabaria fazendo algo que se arrependeria.
Emma foi em direção ao quarto para se arrumar.
- Pra onde você vai?
Emma não achou que Melinda perguntaria isso para ela. Ela não havia perguntado nem para Jacob. Emma tentou improvisar uma resposta.
- Ah... Eu... Vou ver a Serena. – foi a primeira mentira que ela conseguiu pensar. Merda. Ela era péssima nisso. Serena nem estava em casa, tinha ido encontrar seus pais para passar o domingo.
Emma saiu o mais rápido que pôde, sem saber para onde ia.
Ela caminhou pelo tranquilo bairro que sempre cheirava a terra molhada e teve um momento de tranquilidade. Era sempre frio ali, mas ela gostava. Ela caminhou cerca de quarenta minutos e parou de frente para um bar que nunca tinha notado que existia.
Era um local bem rústico, com uma fachada de tijolos, mas o que lhe chamou a atenção foi uma bandeira colorida na frente. Curiosa ela resolveu entrar. Como ainda não tinha anoitecido Emma considerou normal não ter muita gente ali. Ela pediu uma cerveja e olhou ao redor.
Mesmo sendo antigo, era um lugar aconchegante e tinha públicos mistos. De jovens a idosos, apesar de dar para contar com os dedos das mãos a quantidade de pessoas que tinham ali. Num canto havia uma mesa de sinuca meio empoeirada, mas que estava sendo usada.
Emma reconheceu um dos caras que estava jogando. Era o atendente da loja de roupas. Quando ela acenou ele demonstrou ficar animado em lhe ver. Ele se despediu dos outros dois jogadores e foi em direção a ela. Lhe cumprimentando com um beijo no rosto.
- Ei. Como está? Não achei que ia te encontrar aqui.
Emma estava com um sorriso largo, realmente gostava da energia que ele emanava.
- Estou indo bem. Você disse que ia para a festa naquele dia, mas não te vi por lá.
- Pois é! Tinha muita gente! Você se divertiu naquele dia?
- É, foi bem legal, aconteceu umas coisas confusas, mas até que me diverti.
- Sei como é! – o garoto riu.
- Me desculpa, você me disse seu nome? Eu realmente tenho uma péssima memória.
- Ah, não se preocupa. Eu não sei se cheguei a me apresentar decentemente. Pode me chamar de Tony. E você não é a única pessoa com a memória ruim.
- Emma.
Eles apertaram as mãos.
- Mas me conta, como você realmente está? Sua resposta não foi nada convincente.
Emma suspirou.
- Tem tempo?
- Todo o tempo do mundo. Bom, pelo menos hoje.
Emma realmente poderia fazer bom uso de um amigo hoje, e foi o que fez. Eles conversaram por algumas horas, um assunto atrás do outro que fluía tranquilamente. Ela não tinha uma conversa divertida assim há séculos, pensou.
Olhando seu celular para verificar a hora, ela xingou mentalmente. Tinha que ir para a social no apartamento de Jacob.
- Agora eu preciso ir... – Emma teve uma ideia instantânea. – Na verdade, meu primo ta dando uma social no apartamento dele agora, quer vir?
- E conhecer pessoalmente os personagens da história que você me contou? Ta brincando comigo? Claro que sim! – disse Tony animado.
Emma se animou mais para ir para a tediosa social, que agora não seria tão tediosa assim. Tony era uma perfeita companhia pra tudo, ela tinha certeza disso.
Ao chegar, Emma foi diretamente para o apartamento de Jacob com Tony. Batendo na porta ela aguardou Jacob atender.
- Eiii brow, pode entrar.
- Ei, trouxe o Tony, tudo bem?
- Claro! E aí cara. Gostei das tattoos. – Jacob estendeu a mão e Tony apertou.
- Oi, valeu! O famoso Jacob... – Tony fingiu que estava falando só pra Emma: – Ele é mais bonito do que o que eu esperava.
Jacob riu abertamente.
- Já ouviu falar de mim, é?
- Não sei do que você está falando. – disse Tony, brincalhão.
Eles entraram e depois de pegar uma cerveja se sentaram no sofá. Não tinha muita gente ali. Tinha umas embalagens de pizzas espalhada pelas mesas e no máximo sete pessoas fora eles.
- Cadê ela? – Perguntou Tony para Emma, em sussurro.
- Quem? A Melinda? Não sei.
- Droga, eu estava louco para ver uma intriga.
Emma riu.
- Não, isso não vai rolar.
- Se você quiser eu ensino umas coisinhas novas para o Jacob e aí seu caminho fica livre pra ficar com a Melinda.
Emma riu de novo e tomou um gole de sua cerveja.
- Olha, não queria cortar suas asinhas, mas eu não sei se ele curte.
- Eu faço questão de apresentar a ele esse mundo maravilhoso que é o nosso e ensinar tudo direitinho. Mas ele tem uma cara de quem já sabe de muita coisa, você não acha?
Emma não parava de rir com Tony. Cara, ela não ia largar mais esse garoto.
- Merda... – Emma não aguentava mais sentir seu coração acelerar toda vez que Melinda aparecia. – Olha ela ali.
Emma apontou discretamente para Melinda, que aparecia no corredor.
- Ual, ela é realmente linda.
- É... Merda, lá vem ela.
- Oi! – Melinda riu animada para Tony.
- Melinda, este é Tony. Tony, Melinda.
- Prazer em te conhecer! Como nunca ouvi falar de você?
- Como assim, não? Eu e a Emma nos conhecemos faz anos, somos como irmãos!
Emma teve que rir.
- Ele está brincando. Na verdade, a gente só conversou de verdade hoje.
- Oh. Mas que bom. Vocês querem alguma coisa para comer?
- Não, eu estou bem. – Emma respondeu.
- O que eu quero não está no cardápio, infelizmente. – Tony falou para Melinda sem receio algum.
Emma gargalhou e deu uma cotovelada nele.
Melinda fingiu entender e riu.
- Eu imagino.
- Mel! – Jacob a chamou, rindo enquanto conversava com dois amigos. – Você precisa ouvir isso.
Melinda olhou para Emma com pouca animação e disse:
- Já volto. – então ela foi em direção a Jacob.
- Ta na cara que ela não está na mesma vibe que ele. – Tony falou enquanto pegava um cigarro e acendia. – Quer?
- Não, obrigada. – Emma suspirou.
Emma e Tony continuaram conversando por um tempo até que Emma sentiu seu celular vibrar.
Puta. Que. Pariu. Emma olhou para Melinda sem acreditar no que tinha visto, enquanto guardava o celular de volta em sua jaqueta com certo desespero. Emma tomou um grande gole da cerveja, acabando com todo o líquido da garrafa. Não podia acreditar no que Melinda tinha feito.
De longe, Melinda guardou o celular e continuou conversando com Jacob e seus amigos, como se nada tivesse acontecido, dando apenas uma olhada de um segundo para Emma.
- O que aconteceu? Porque você ta com cara de quem viu um fantasma?
- Essa garota só vai parar quando me enlouquecer.
- A Melinda? O que ela fez? – perguntou Tony animado.
- Me mandou... umas fotos.
- Ela te mandou nudes? – Tony ficou surpreso.
Emma esfregou o rosto e os cabelos.
- Uhum.
Tony abriu um sorrisão malicioso.
- A tensão sexual entre vocês é absurda, não sei o que você ta esperando.
- Nem eu. – Emma fitou Melinda, dessa vez com um olhar de quem iria matá-la. Ou fode-la.
Atualização de personagens: Tony