Do Diário da Baronesa 2

By CristianeSerruya

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Lady Chloé descobriu que, no Solar Beardley, flertes inocentes podem se transformar em escapadas sexuais erót... More

Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Epílogo

Capítulo 4

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By CristianeSerruya

Os Ingleses e suas Paixões


Chá no Solar Beardley não é apenas uma tradição obrigatória e suntuosa, é também imutável. Servido rigidamente às quatro e meia, é um ritual solene, que acontece habitualmente, dia após dia.

O cardápio obrigatório consiste em chá indiano ou do Ceilão servido em bules de prata e em delicadas xícaras de porcelana, uma seleção de deliciosos sanduíches – incluindo, é claro, sanduíches de pepino finamente fatiados – bolos, doces e bolinhos com creme de leite e geleia de morango caseira.

A ordem é fundamental para o chá. A parafernália – bules, xícaras, coadores, colheres – que é necessária para realizar o ritual da maneira complicada ditada pela tradição. É o respeito desse senso de ordem esperado que torna as festas de chá tão encantadoras.

No entanto, ontem houve um distúrbio dessa forma ordenada que me faz escrever essa página.

Charles Burgess, o sétimo conde de Burgess, sua esposa, Lady Margaret Burgess, e sua mãe, a condessa viúva, Lady Aileen – que fez questão de me fazer saber que ela era Lady Burgess, o que não é verdade – chegaram para uma breve visita.

Quando lhes mostrei os quartos, contei-lhes sobre algumas das nossas tradições e disse: — O nosso ponto alto é o chá.

— Alto-chá não é o mesmo que chá da tarde — Lady Burgess me corrigiu com uma fungada. — O alto-chá é o que os servos comem por volta das 18h, depois que nos servem o nosso chá da tarde.

Como se eu não soubesse disso. Suspirei por dentro e dei a ela um sorriso de lábios fechados, engolindo minha réplica. Eu não disse alto-chá, mas que o nosso destaque do dia era o chá.

Depois que fiz um tour pela casa com eles, fui até a cozinha para ter certeza de que tudo estava perfeito. Essa era a minha chance de brilhar, para mostrar que eu era de fato a dama da mansão.

Então, por que desejei estar de volta naquele galpão, chupando o pau do meu jardineiro? Minhas bochechas coraram quando pensei no encontro de alguns dias atrás, quando tudo parecia, bem, perfeito. Eu tinha uma tarefa e executara essa tarefa de maneira adequada o suficiente, ou assim parecia.

Mas foi muito mais do que apenas o ato. Foi como Salvatore me ajudou a me levantar do chão, consertando meu vestido e me beijando levemente, até eu florescer sob seu toque. As palavras que ele sussurrou em meu ouvido eram de sua língua materna, mas senti o carinho delas. Houve essa mudança em nosso relacionamento, que agora estava marcado pela chegada repentina do meu marido e agora desses convidados.

Pressionei minha cabeça contra a moldura da porta antes de ir para o salão.

Servi o chá para todos eles, meu marido, minha sogra e três de suas amigas, além dos convidados que estavam observando cada movimento meu, esperando que eu desse um passo em falso para que eles pudessem sussurrar nas minhas costas. Embora só estivessem aqui há algumas horas, desejei que todos fossem embora logo, inclusive meu marido.

Acima de tudo, desejei que Salvatore estivesse aqui, sorrindo maliciosamente no canto.

Eu sorria e conversava, era a imagem da beleza, mas por dentro, ah, por dentro eu estava morrendo lentamente.

Era como se eu não pudesse ser a mulher que sou quando eles não estavam aqui, que a qualquer momento alguém iria me forçar a sair da minha mansão por ser tão devassa.

Sentei-me ao lado do meu marido no sofá, observando enquanto todos pegavam as xícaras que pertenciam a alguma rainha antiga e bebiam o chá como se tivesse sido adoçado com arsênico.

— É bom ter visitas — minha sogra comentou depois de seu primeiro gole. — A mansão pode se tornar entediante sem novas conversas e tenho certeza de que Chloé se cansa de ouvir minha conversa interminável.

Não pude acreditar nos meus ouvidos! A baronesa-mãe sempre foi apaixonada por sua própria voz e suas próprias histórias, falando incessantemente, mesmo que não estivesse fazendo sentido. Eu queria concordar, ah, queria, sim, mas sabia que isso causaria mais conflitos do que os dois segundos de alegria que isso traria para mim. — Claro que não. Você torna meus dias muito mais suportáveis.

Ela me deu um sorriso leve antes de se virar para os nossos convidados e eu pude ouvir a aprovação na respiração do meu marido. Suponho que era seu desejo mais sincero que a mãe dele e eu nos déssemos bem e, para não arrancar meus cabelos, tentei manter a paz.

Isso, e eu não queria tê-la bisbilhotando em minha vida pessoal.

O pessoal da cozinha trouxe o delicioso lanche da tarde que eu tanto gostava, alguns que minha sogra me pediu para não comer, pois eu poderia ganhar um pouco de peso para a minha estrutura e enojar meu marido.

Havia sanduíches de natureza desconhecida, misteriosamente saborosos e bastante deliciosos, e aquele pão-de-especiarias muito especial. Bolo de anjo, que se derretia na boca, e o bolo inglês, seu companheiro mais corpulento, estourando com casca crocante e passas.

Estendi uma bandeja com os famosos bolinhos inglês quentes. — Scones?

Skon, nunca esquone, Chloé — minha sogra me corrigiu distraidamente, como fazia todos os dias.

Ouvi a risadinha da viúva Burgess, mas ignorei-a, embora minhas bochechas ardessem com a correção. Nunca vou pronunciar scones como os britânicos. Mas amo comê-los.

— Para tomar seu chá da tarde como um conhecedor, você deve seguir o conselho de Lady Burgess — disse meu marido, apenas aumentando a minha ira em relação a tal senhora.

— Ah, é? Como exatamente?

A nova risadinha de Lady Burgess não passou despercebida quando ela gentilmente pegou sua xícara. — Não mexa seu chá com sua colher de chá.

— Devo usar o garfo então?

— Os movimentos para a frente e para trás são o caminho correto — ela continuou como se eu não tivesse dito nada, e me mostrou como fazê-lo. Então ela pegou minha mão, seus dedos bem cuidados me segurando com força, como se eu fosse uma criança prestes a quebrar uma colher delicada. Fiz uma careta quando ela moveu minha mão e minha colher. — Imagine que sua xícara é um mostrador de relógio. Agora, mova da meia-noite para as seis horas.

Eu cantarolei na minha cabeça enquanto obedientemente movia a colher de um lado para o outro, imaginando o que os amigos do meu marido pensariam se eu jogasse a colher contra a parede forrada com papel de parede, bem acima da cabeça da viúva Burgess. Detestava ser tratada como uma criança. Eles não sabiam que eu tinha mais experiência no meu dedo mindinho do que em toda a sua vida? Eu aprendi tudo que uma dama deve aprender no convento. E mais, nos braços de Salvatore, experimentei e executei atos que eu tinha certeza que essas mulheres nunca imaginaram, muito menos discutiram.

Quem se importa como mexo meu chá?

E um pensamento estranho insinuou-se em minha mente: O que meu marido acharia das minhas novas habilidades na cama?

Quase ri em voz alta. Oh, sei que ainda tenho muito a aprender, mas o problema é: ele não quer saber de nada. Não, ele só quer plantar sua semente na minha barriga e ver seu herdeiro crescer.

Mas então houve aquele comentário feito pela minha sogra há algumas semanas: — Você deve estar disponível para todos os seus caprichos, Chloé, não importa o quanto eles sejam perturbadores.

O que ela quis dizer com aquilo?

Ontem à noite, tentei tocar seu pênis antes dele me penetrar e ele recuou como se eu estivesse prestes a cortá-lo com uma faca. Tinha sido um deslize, minha mão tinha gostado de agarrar o de Salvatore, mas pelos olhos arregalados do meu marido fazer aquilo com ele não estava nos seus planos.

Na verdade, ele praticamente saiu correndo do quarto, deixando-me a pensar que havia algo de errado com o homem.

— O chá é servido com leite, nunca com creme.

— Oh, non?

— O creme é muito pesado e mascara o sabor do chá. — A viúva continuou, franzindo o nariz como se o chá tivesse azedado de repente.

Se ela soubesse o que estava passando pela minha cabeça um momento antes, teria feito mais do que apenas enrugar o nariz. Sem mais nem menos, me perguntei o que a viúva Burgess pensaria da minha situação atual. Ela também teria podres a esconder?

— O leite é adicionado por último. Sempre! Você não sabe o quanto o chá está forte antes de despejá-lo na xícara.

E ela continuou a falar sem parar sobre suas regras ridículas: nunca adicione limão com leite, pois o ácido cítrico do limão fará com que as proteínas do leite coalhem. E scones são quebrados com as mãos, não cortados com talheres, e os sanduíches de chá devem ter suas crostas cortadas e devem ser apresentados na forma de triângulos, retângulos ou – como prefere a casa real! – em pequenos quadrados.

Bon, e deveria haver coisas mais importantes na vida do que garantir o tamanho correto de trinta centímetros quadrados de um guardanapo de chá, n'est-ce-pas?

Mais tarde, andei pelo corredor perto da sala da frente, esperando encontrar um lugar para respirar sozinha por um tempo. Sentia como se as paredes estivessem se fechando a minha volts. Entreter convidados dos quais eu não gostava estava começando a drenar minhas energias e eu ansiava por pelo ar livre e alguma travessura que me levaria para longe daquele lugar.

Me encolhi quando vozes saíram da sala da frente, a porta entreaberta apenas alguns centímetros. Era a viúva Burgess e soube imediatamente que ela estava falando de mim com minha sogra.

— Mas ainda assim, você viu o quanto ela comeu durante o chá? Será que ninguém lhe disse que é altamente impróprio comer como uma devassa?

Eu sorri, incapaz de me conter. Se eles soubessem o quão devassa eu poderia ser, os sanduíches seriam a menor das suas preocupações. E, s'il vous plaît, não como tanto assim!

— Você acredita que ela esteja grávida?

— Talvez — disse minha sogra em um tom de voz preocupado. — Tenho certeza de que Joseph está fazendo tudo o que pode para engravidar a esposa.

Meu sorriso desapareceu e me aproximei, esperando que ninguém me atrapalhasse a escutar essa conversa tão importante. Até hoje eu não sabia por que meu marido precisava de um herdeiro e duvidava que ele fosse o tipo de homem que ansiava por ser pai. Non, havia outra razão, uma que eu ainda não tinha descoberto.

— Com certeza. Afinal, o dinheiro está ligado ao herdeiro, não a ele.

— Que nada! Isso é apenas um boato — minha sogra respondeu, sua voz um pouco alta demais. — Você sabe como todos gostam de fofocar.

— Vamos, minha querida amiga, sei que não é um boato. Você pode se abrir comigo — disse a viúva Burgess com firmeza. — Eu mesma ouvi a discussão entre Joseph e meu Charles. Joseph precisa de um herdeiro para poder colocar as mãos na fortuna considerável que foi reservada até o nascimento da geração seguinte. Seu pai estava garantindo seu futuro, sem dúvida. De que outra forma você consegue que um homem deseje produzir descendentes?

Fiquei chocada. Era essa a razão pela qual meu marido vinha à minha cama com tanta frequência, embora seu entusiasmo em querer produzir um herdeiro fosse muito decepcionante, para dizer o mínimo. Não é de admirar que ele não tenha desistido.

Bem, eu não podia culpá-lo, eu acho. Se eu soubesse que meu futuro estava ligado a engravidar, poderia ter tentado ainda mais.

Eu me afastei da porta antes de ser pega.

Mas pelo menos agora eu sabia pelo que meu marido era apaixonado: dinheiro.



NOTA DA AUTORA

Há muita confusão em torno do High-Tea (Alto Chá) e do Afternoon-Tea (Chá da Tarde).

Até mesmo na Inglaterra, certos hotéis 5 estrelas propagandeiam o Chá da Tarde como High-Tea, porque aos estrangeiros parece que o high, que significa alto, seria mais chique e importante.

Ledo engano.

O Alto Chá foi originalmente criado para a classe trabalhadora nos séculos 18, e não é uma refeição leve de sanduichinhos e scones, muito pelo contrário. Nada de comidas delicadinhas ou doces. Por volta das 18h-19h, servem-se carnes, peixes, tortas, batatas, pães.

Normalmente é comido em uma mesa normal, mais alta (high/higher) do que as do Chá da Tarde. Seria quase uma ceia (supper).

Já o Chá da Tarde, usualmente servido em mesas mais baixas, é uma refeição mais leve para os adultos que sentem fome entre o almoço e o jantar.

Aliás, essa foi a razão pela qual foi criado o Chá da Tarde.

Conta a lenda que o Chá da Tarde foi invenção da sétima Duquesa de Bedford, por volta do ano de 1840.

Nessa época, as lâmpadas de querosene começaram a ser usadas nas casas das famílias ricas, e o jantar foi postergado para depois das 20h.

Só que, na época, o hábito era fazer duas únicas refeições por dia: um tipo de brunch ao final da manhã e o jantar.

Assim a Duquesa de Bedford, durante uma visita ao Duque de Rutland, no seu ancestral castelo Belvoir, em Rutland, sentia-se mal à tarde, pois ali se jantava às 20h30 e ela almoçava ao meio-dia. Logo, um chá, acompanhado de sanduíches e bolinhos, passou a lhe ser servido.

Logo depois a Rainha Vitória, grande amiga da duquesa, começou a tradição real de tomar o Chá da Tarde.

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