"Tenta relaxar Adriana" grita Clara enquanto Bruno faz a manobra de Heimlich para que Adriana jogue para fora o que a engasgou.
Uma ... Duas... Adriana já está toda vermelha e sua respiração falhando, quando finalmente na terceira a azeitona pula de sua garganta no meio da mesa.
― Toma, beba um pouco de água! - diz Louise lhe oferecendo um copo.
Adriana solve a água e respira fundo até tudo parecer normal.
― Obrigada gente!
― Você se sente melhor?- pergunta o pai do Bruno.
― Ótima! - Adriana se levanta- vou buscar a sobremesa.
― Fique tranquila eu pego - diz Louise.
― Não, faço questão. Assim eu me acalmo e respiro melhor... Já volto!
Adriana caminha lentamente até a porta da cozinha e quando percebe que não podem vê-lá, ela dá uma corridinha e se encosta na geladeira.
― Qual é o teu problema comigo Deus? Tu tá me testando ou tá me zoando mesmo?- ela fala olhando para o teto- O que o lobo mau gay tá fazendo aqui?
― Que você disse?-pergunta Clara.
― Ai que susto Clara! Resolveu testar meu coração também pra ver se não infarto?Eu hein! Parece gato, não faz barulho...
― Eu ouvi bem, você disse lobo mau gay? Até aqui tu fica pensando nesse cara?
― Xiii... Fala baixo- ela puxa Clara pra mais perto- Não tô pensando... Ele tá aqui!
―O único cara além do Bruno é o pai dele e que... Ai meu Deus...
― Olha depois falamos disso, eu preciso levar as sobremesas...
Adriana coloca os pedaços da torta mousse de chocolate nos pratinhos, põe o chantilly por cima e pede para Clara ajudar a levar os pratinhos para mesa.
Clara dá um pratinho para o Bruno e Louise e se senta, Adriana entrega um prato para Clara e coloca o outro para o Eduardo. Que em silêncio observa todos os movimentos de Adriana.
Ela volta à cozinha e pega um pratinho pra ela. Todos saboreiam a torta, enquanto Adriana mantém os olhos em sua sobremesa...sente por canto dos olhos que Eduardo a olha.
Quando termina o jantar, Adriana ajuda Louise e tirar a mesa e levar tudo para a cozinha. Eduardo, Bruno e Clara vão para a sala.
Adriana está limpando a mesa quando adentra Samuel com Jéssica. Ela para por um instante e olha para ambos.
Louise vem a sala de jantar e encontra com Samuel e Jéssica.
― Boa noite!- diz com voz rouca Samuel.
― Que bom que você chegou Samuel-diz Louise.
― Esta é Adriana. Ela que vai fazer o jantar- e virando-se para Adriana - Este é Samuel e esta é Jéssica sua filha. Jéssica vai me ajudar na limpeza da casa.
― Prazer Adriana! Tenho a sensação que já te vi antes.
― O prazer é meu!Pode ser...
"Você é o homem que roubou o lobo mau de mim". Pensa Adriana.
Como ele pode ter roubado algo que não é seu? Fora que o lobo mau não é gay.
Diz sua consciência, a alertando do fato.
― Adriana, pode deixar que eu e Jéssica terminamos de limpar tudo. Vá descansar afinal, você tem uma lista para fazer e tem que acordar cedo para o café.
― Não se preocupe... Eu posso fazer isso.
― Aproveita e descansa- Diz Samuel- Louise sabe o que diz.
― Você passou a tarde toda fazendo esse jantar maravilhoso com o pouco que tinha... Merece um descanso.
― Bom, nesse caso vou tomar uma ducha então. Obrigada e boa noite a vocês.
Adriana caminha e vê que os três continuam na sala conversando. Ela sobe a escada correndo pra evitar conversa, porém ao correr, tropeça no último degrau da escada e cai, quase dando de cara no chão.
Todos olham para ela, que se levanta sem graça e corre para o quarto.
― Fui cagada pelo urubu e não percebi. Só pode! Que merda, tá acontecendo comigo?- fala sozinha sentando na cama.
Ela apanha a roupa na mala, coloca sobre a cama e vai para o banheiro. Toma um banho demorado. Enrola-se na toalha e volta para o quarto, apanha a calcinha, veste...
― Você tá bem?
― Porra Clara! Que susto! Deus me livre.
― Calma. Tá nervosa por quê?
― O que você acha? O cara que tenho o maior despencamento tá embaixo do mesmo teto que eu, é pai do meu amigo, não é gay e até agora a única coisa que preste que eu fiz foi... NADA.
Ela termina de se vestir e senta na cama.
― Pensei que essa sua paixonite fosse só um fetiche... Tudo bem que realmente o meu sogro é bonitão, deve chover mulher na horta dele e ...
― Clara, tu não tá ajudando... Eu gosto mesmo dele... Não é só fetiche. No início eu também achei... Mas não sei explicar o quanto ele mexe comigo...
― Faz algum tempo que você fala dessa sua paixão, mas de um tempo pra cá, tá mais intenso... Por que ? E eu vi e seu joelho tá marcado pra provar...
― Provar o quê? - entra Bruno - a porta tá entreaberta.
― A queda pelo lobo mau - lembra Clara, que ri.
― Isso amiga, ri da minha vida desgraçada- fala Adriana olhando seu joelho -pode ser porque a faculdade tá pra acabar e eu posso nunca mais ver ele.
― Ainda essa história da chapeuzinho? Esquece esse gay Dri.
―Ele não é gay!- diz Clara.
― Como você sabe? Conheceu o cara?
― Eu conheço e você também.
Adriana levanta e coloca uma meia.
― Eu conheço?Quem é ?
― Tá sentado lá na sala vendo tv.
―Mas na sala tá meu pai e o Samuel...
― Seu pai amor!
Bruno começa a ri sem parar...
― Que bom que minha vida azarada diverte vocês- diz Adriana.
―Dri desculpa, mas é serio isso?-pergunta Bruno.
― É. Agora vê se tu não abre essa boca na frente dele e acaba com minha vida de vez. Gente, eu tô desesperada... Tô feliz em saber que ele não é gay, mas nunca na minha vida, imaginaria que ele fosse seu pai. Me ajudem, parem de ri e me ajuda! O que eu faço?
― Já tentou esquecer?- pergunta Clara.
― Se eu não consegui achando que ele era gay... Imagina agora...
― Já tentou falar pra ele?- pergunta Bruno.
― Eu caí e tu que bateu com a cabeça?!
― Às vezes o que parece menos óbvio é o mais correto.
― Tá doido mesmo... Como que eu vou chegar pro seu pai e dizer "Olha Eduardo eu tô a fim de você, rola ou não?" No minimo ele vai rir da minha cara como vocês estão fazendo agora.
― Adriana, o mais difícil tu já fez que foi beijar ele...
― Eu tava bêbada. Bruno tu é filho dele... Me ajuda. Me dá umas dicas...
― O que eu posso fazer?
― Primeira pergunta... Cadê sua mãe?
― Que eu saiba morta. Mas Adriana não vou poder te ajudar muito... Não vejo meu pai com ninguém desde que minha mãe se foi. Se tem, ele é super discreto.
― Desculpe. Eu não sabia. Sinto muito. Pode me dizer algo que ele goste...
― Trabalho. Ah... Chocolate. Aprendi a ser chocolatra com ele. Talvez isso possa ajudar. Mas ainda acho que ou você desiste ou conta logo pra ele.
― Surtadinho você- diz Adriana- contar pra ele, se ele nem olha pra mim?
― Então desiste...
― E faço o que com tudo que sinto por ele por todo esse tempo? Gente eu não fico com ninguém desde que conheci ele. Conheci, não. Vi.
― Sério? Mas e aquele cara que tu saiu do pub uns meses atrás ?- pergunta Clara.
― Não deu em nada. Trocamos uns beijos e o cara trocou meu nome... E eu só queria um motivo pra cair fora...e ele deu.
― Bom, tenta dormir... Vou buscar algo pra você colocar nesse machucado.
Adriana viu seu relógio marcar meia noite, uma, uma e meia e nada do sono chegar.
― Quer saber... Vou adiantar o café da manhã.
Ela tira o pijama, veste um camisão, um short de malha, calça o chinelo e desce a escada tentando não fazer barulho.
EDUARDO
Fiquei chocado ao ver chapeuzinho vermelho sentada em minha mesa de jantar. Creio que foi uma surpresa para ela também já que engasgou com uma azeitona.
Achei até engraçado o desespero dela em sair da mesa e evitar me olhar.
Como sempre, todos dormem e a insônia, companheira de todas as noites vem me visitar. Resolvo ir para o escritório pegar um livro e ler, coloco uma dose de whisky no copo. Já passa de uma da manhã, quando ouço um barulho vindo da cozinha.
Levanto e vou verificar o que ou quem é. Aproveito para pegar gelo.
Chegando à cozinha vejo chapeuzinho tentando apanhar um pote com açúcar. Ela está na ponta dos pés o que levanta o longo camisão que está usando. Isso faz com que eu fique na porta admirando a silhueta dela com aquele short colado em seu corpo, desenhando suas curvas.
"Para com isso Eduardo. Ela é uma criança pra você ". Minha consciência me alerta.
Resolvo ajudar. Caminho até ela com o copo de bebida na mão. Chego por trás de suas costas e pego no pote de açúcar.
― Deixa eu te ajudar!
Ela se assusta, esbarra o braço no meu copo, fazendo com que o mesmo caia se tornando vários pedaços.
― Meu Deus, vocês tem almofadas nos pés que não fazem barulho ao caminhar?- pergunta ela ao se virar assustada pra mim.
― Cuidado para não pisar nos cacos. Vou pegar uma pá. E uma vassoura pra retirar isso- digo a ela.
Coloco o pote de açúcar sobre a mesa e começo a caminhar para a área de serviço ...
― Pode deixar que eu cato... Ai
Olho e vejo que ela cortou o dedo. Instintivamente corro, seguro sua mão e coloco seu dedo em minha boca. Evitando que fique sagrando...