Beijos de Mentira (LIVRO COMP...

By Mogridd

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Eli Sally é uma garota reservada e calma, aquele tipo de pessoa que jamais se envolveria em uma briga. Porém... More

¹ Justiça.
2 Luta.
⁴ Sorrisos.
⁵ Invasão.
Para todos que leram Bdm.
BDM NA AMAZON

³ Tornado.

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By Mogridd

Beijos de Mentira está na Amazon
Capítulo 3.

O vento soa forte e faz minhas palavras voarem com ele. Kai leva o cigarro aos lábios, sem tirar os olhos frios dos meus. Faço uma careta, quando ele solta a fumaça lentamente para cima e joga o cigarro no chão.

- Não é muito indicado usar maconha na escola. - Avisa calmamente, deixando-me completamente confusa.

Ele se apoia em sua moto e cruza os tornozelos. Suas mãos estão dentro dos bolsos, enquanto ele me analisa com um olhar divertido.

- O quê? - Rebato, confusa. Uma risada sai baixa de seus lábios e percebo que ele está debochando da minha cara.

- Você me atacou hoje de manhã. Me acusou de algo que não fiz e me chamou de babaca. Durante a Educação Física, parecia pronta para socar meu rosto bonito ou talvez me chutar. - Aponta com suavidade. Sua mão se afunda em seus cabelos, enquanto ele sorri.

O cheiro irritante de cigarro corre ao nosso redor. Mordo os lábios com força, nervosa.

- Você não tem um rosto bonito. - Minto, vendo seu sorriso crescer.

- Fingir ou lutar. - Ele leva uma das mãos aos meus cabelos. Permaneço parada.

Posso sentir o cheiro forte de nicotina em seus dedos e sua pele quente. Estou pronta para tirar seu toque de mim, quando ele pega uma pequena grama presa em meus cabelos. Kai fica em silêncio e, então, foca seus olhos nos meus.

- Você quer ser minha namorada, Eli Sally?

Sua pergunta sai baixa e arrastada. Meu nome em seus lábios parece algo tão estranho. Resolvo ignorar o fato de ele ter perguntado quem eu era hoje de manhã e, agora, misteriosamente, saber meu nome.

- Eu jamais seria a namorada de um cara idiota como você. Prefiro o Maxon ou talvez o Arin. - Revelo, com total sinceridade. Kai junta as sobrancelhas ruivas e morde os lábios. Parece pensativo. - Eu quero uma troca de favores. - Me apoio na moto ao seu lado. Respiro fundo, sentindo o metal quente da moto tocar minha pele. - Um acordo. - Encaro seu rosto pensativo e posso ver sua total atenção em minhas palavras. Sorrio, me sentindo vitoriosa.

- Eu não tenho nada a ver com aquela lista idiota. - Ele coça a sobrancelha fina e depois desliza os dedos por suas sardas claras nas bochechas. - Eu jamais seria tão cruel com alguém.

Fico em silêncio, sem saber como duvidar de suas palavras calmas e seus olhos cinzas solitários.

Os boatos que correm pela escola são o total oposto do que sai de seus lábios. Já ouvi sobre uma briga em que ele participou, que jogaram milk-shake em um menino, apenas por ele ler livros de Romance.

Meus olhos caem na cicatriz em sua bochecha e me lembro do alvoroço que teve na escola por causa dela. Não se sabe o verdadeiro motivo, mas dizem que ele brigou com um cara armado na pista de corrida onde eles apostam.

Mais e mais boatos fervem em minha mente, enquanto o ruivo fica em silêncio. Estou completamente mergulhada em meus pensamentos, quando ele toca meu cotovelo com o seu.

O material grosso de sua jaqueta, me traz a realidade e observo seus olhos delicados e seus cabelos chamativos como fogo. Um contraste que, novamente, chama minha atenção.

- Eu não quero mais uma pessoa espalhando boatos falsos sobre mim. - Suas palavras são cortantes. Questiono o que realmente sei sobre ele.

Em êxtase, limpo minha garganta e respiro fundo.

- Não irei fazer isso. - Mordo os lábios com força, não acreditando que realmente cogitava fazer tal coisa. - Mas eu quero um acordo. - Encaro seus olhos, confiante em meu plano.

Kai brinca com a pequena grama em seus dedos. Me lembro de seu ato repentino para tirar isso dos meus fios e como meu coração estava se remexendo. O jeito estranho que minha mente funciona deixa claro o porquê de eu ter vindo em sua busca.

Kai parece uma muralha, forte o suficiente para passar uma mensagem às pessoas que acham que sou um chão encardido.

- Eu vou ajudar você a conquistar a garota que você ama. - Encaro seu rosto iluminado pelo sol, torcendo para o boato, que escutei no banheiro, ser real. - Mas você terá que ser meu namorado falso. - Admito, fazendo-o me encarar com as sobrancelhas juntas e um olhar confuso.

- Eu sempre tive certeza que você era uma fadinha perfeita. Uma garota que jamais errava ou tirava uma nota baixa. - Sua afirmação vem rápida, ao mesmo tempo em que ele se afasta. - Não posso acreditar que a senhorita perfeita precisa do cara babaca para ter um namorado. - Sua voz é suave e calma, mas é fácil sentir a repulsa em seu tom.

Kai pega o capacete preto. Seus dedos largos se embolam um pouco para colocar o objeto em sua cabeça. Ele sobe em sua moto com facilidade e ajeita as costas largas sob a jaqueta grossa.

- Eu não sou uma marionete, Eli. E a coisa que eu mais odeio, são mentiras. Procure outra pessoa para ser seu namorado falso. - Mesmo não podendo vê-los, posso sentir seus olhos cortantes sobre mim.

A moto faz um barulho alto quando Kai a liga e, sem falar mais nada, saí em disparada do estacionamento.

Observo a poeira subir pelo estacionamento e a marca que seus pneus grossos deixaram no chão. Meus olhos vagam lentamente pelo lugar vazio e tento entender o que aconteceu.

Com um nó na garganta e uma garrafa quebrada na mão, respiro fundo, entendendo que fiz minha jogada e perdi a única pessoa que poderia me ajudar.

QUEBRA DE TEMPO.

Termino o meu banho com calma. O cheiro de frutas vermelhas do meu sabonete corre pelo banheiro todo.

Respiro fundo.

Meu peito ainda se remexe quando penso no acontecimento de mais cedo, na maneira como ele me olhou e como tentou esconder sua raiva perante a minha proposta idiota.

Com uma vergonha súbita de mim mesma e das coisas que fiz, saio do banho e me encaro no espelho. Meus olhos estão um pouco inchados por causa do choro de mais cedo. O sentimento no estômago aumenta quando percebo que chorei na sua frente, que deixei aquele demônio ruivo ver minha forma mais frágil.

Mordo os lábios, aliviada por ele não ter comentado nada sobre isso.

Seco meus cabelos com uma toalha amarela e passo um creme de pêssego nos fios úmidos. A imagem de Kai saindo rapidamente do estacionamento em sua moto, invade a minha cabeça. Lembro de como pisei no cigarro que ele jogou no chão até não aguentar mais.

O sentimento de humilhação não deixa minha boca, causando um gosto amargo. Aquele garoto sempre foi um idiota perante meus olhos, porém, agora, não sei exatamente quem ele é. Foi como se a imagem que eu tinha dele, esse tempo todo, tivesse se desmanchado.

"Eu não sou uma marionete, Eli"

Sem perceber, estou no pé da minha janela. O tecido fino da cortina azul se remexe lentamente com o vento suave. O sol já está descendo, trazendo um enorme céu estrelado para nossa cidade. Do outro lado da rua, numa casa com janelas fechadas e um quintal bem cuidado, está Kai. Vejo ele jogar o lixo fora com rapidez. O jeito que ele parece outra pessoa com uma camisa branca simples e os cabelos molhados, é estranho.

Suas mãos tocam a tampa da lixeira e Kai a fecha. Sua cabeça está baixa, parado enquanto observa o objeto. Ele parece pensativo e isso só deixa um sentimento de curiosidade em meu peito.

"Boatos falsos"

Minha mente ferve ao relembrar de hoje a tarde. Da frase curta e agressiva da menina no banheiro, do vento calmo no estacionamento, no contraste que existe nos olhos delicados de Kai e seus cabelos como chamas.

Lembro da nossa conversa e de como ela terminou, lembro do seu deboche disfarçado.

Lista dos não-beijáveis. Meu peito se aperta só de lembrar dessa lista idiota.

Sozinha em meu quarto, enquanto observo secretamente o garoto que chamei de babaca, chego a conclusão que as pessoas são cruéis e carentes.

Mamãe um dia me disse que o ódio costuma nascer apenas para proteger o amor, mas ela está errada. O ódio é inconstante e intocável, algo desnecessário e que machuca. Já o amor é palpável e constante. Dá para sentir no ar quando duas pessoas se amam.

Seguro a cortina branca e foco minha atenção em Kai. Ele me chamou de fadinha perfeita mais cedo. Isso só demonstra que não sabemos nada um sobre o outro e apenas criamos opiniões que podem não condizer com a realidade.

Me aproximo do vidro e posso ver seus olhos cinzas encarando minha casa seriamente. Meu coração acelera e prendo a respiração com um medo repentino de ser pega.

Sem aviso, seus olhos se encontram com os meus. Seu olhar é rígido e firme. Sinto minha pele se arrepiar. Saio da frente da janela com rapidez. Meu coração está acelerado, pulando freneticamente enquanto me escondo no canto do meu quarto.

Meu rosto está quente e limpo a garganta. Fecho as cortinas rapidamente, me sentindo uma total idiota por todas as coisas que fiz desde ontem. Na minha mente fazia total sentido meu relacionamento falso com Kai ser a solução. A garota considerada não-beijável da escola namorar com o senhor "garanhão" parecia a solução perfeita para meu problema.

Então, a garota que ele gosta sentiria ciúmes e, depois de um tempo, Kai "terminaria" comigo para ficar com ela.

Rio, com vergonha de mim mesma.

Afinal, talvez eu realmente esteja lendo livros de Romance demais.

Só que no fundo, sei que mesmo que ele aceitasse, nada mudaria. O ódio simplesmente não tem explicação.

Deixando todos os pensamentos que envolvem o ruivo de lado, me concentro em vestir uma roupa confortável e cuidar um pouco da minha pele. Estou concentrada em colocar uma máscara para cravos com cuidado em meu rosto, quando meu notebook começa tocar alto.

Saio do banheiro com rapidez, sentando na cadeira confortável da mesinha do computador. Encaro a chamada de vídeo que toca sem parar. Suspiro.

- Eli! - Lana grita assim que atendo. Vejo ela morder os lábios e esconder uma risada. - Está ocupada? - Indaga, analisando meu rosto de forma risonha.

- Estava. - Murmuro, me levantando e pegando um lenço umedecido. Lana come um pirulito, enquanto me observa limpar o rosto. - O que aconteceu? - Pergunto, vendo seu quarto azul arrumado. Lana tem uma maquiagem leve no rosto e cabelos castanhos bem bonitos.

- Hoje terá corrida. - Avisa, deixando-me calada. Mordo os lábios, aproveitando o cheiro doce que vaga pelo quarto.

- Você pretende ir? - Aperto meu mindinho, vendo um sorriso crescer em seus lábios pintados de rosa suave.

- Vamos. - Ela afirma, animada. - Pode ser uma maneira de conhecer pessoas novas, de fazer eles verem que não somos total estranhas. Quem sabe até peçam desculpa por te colocar naquela lista. - Suas palavras tocam uma ferida ainda aberta em meu peito.

Desvio o olhar, lembrando da frase ríspida da garota mais cedo, dos olhos frios de Kai.

Penso na maneira que a fumaça em suas íris ficou mais forte, quando ele me pegou espiando pela janela. Minha alma cresce nesse momento, uma rosa cheia de espinhos que desabrocha.

- Não. - Me encolho na cadeira. - Eu vou ficar em casa. Você pode ir. - Meu estômago aperta e me sinto impotente novamente.

Lana me analisa com calma pela câmera do seu laptop. Os olhos avelãs são carinhosos.

- Você está usando o vestido que te dei no seu aniversário. - Ela aponta, com um sorriso.

Passo a mão pelo tecido macio do vestido amarelo em meu corpo. Ele tem alças suaves e vai até acima dos joelhos. É confortável e bonito.

- Você sabe que é uma das minhas roupas favoritas. - Aviso, sorrindo.

- Você está bonita, Eli. - Encaro seu rosto, surpresa. - Seus cabelos estão hidratados e você parece bem. - Lana ajeita os fios claros atrás das orelhas. Ela sorri para mim, mesmo eu não estando totalmente bem hoje, ainda assim sua afirmação me deixa feliz. - Consegui roubar um sorriso de você. Eu mereço me divertir um pouco com minha melhor amiga hoje, não acha? - Emenda, animada.

Lana sabe que vou ceder. Ela é tão boa quando se trata de envolver os outros em furadas.

Suspiro alto, fazendo-a rir. Com o coração um pouco mais leve, resolvo deixar de lado as coisas que cutucam minha mente. Girando um pouco na cadeira, encaro Lana.

- Mas eu não prometo ficar até o final.

QUEBRA DE TEMPO

Analiso a mensagem que mamãe me mandou, com atenção. Meu coração acelera ao escutar as vozes dos adolescentes ao nosso redor.

"Não toque em nenhum tipo de bebida alcoólica e nem drogas. Tomem cuidado e se divirtam."

- Quero voltar para casa. - Aviso, completamente nervosa.

Meus olhos vagam pela pista de corrida improvisada perto do rio. A noite está escura, mas luzes coloridas brilham por toda a área, batendo na água e fazendo-a brilhar. Um som alto invade meus ouvidos, uma música eletrônica irritante.

- Acabamos de chegar. - Lana rebate, segurando minha mão e me guiando pela multidão de pessoas.

- Não conhecemos ninguém aqui. - Me aproximo de seu corpo, amedrontada com o tumulto de pessoas ao nosso redor.

Lana ri, nos livrando da multidão de gente.

Sentamos nos troncos de madeira um pouco afastados da pista. Respiro fundo, ficando mais calma.

Observo as pessoas espalhadas pela extensão do rio. A noite está fria e invade meus ossos, fazendo-me tremer de leve. Abraço meu corpo, observando as meninas da nossa escola mais a frente. Sem muita dificuldade, posso ver a menina de mais cedo no banheiro.

Desvio o olhar, me sentindo uma tola por ainda estar machucada.

- A noite está bonita. - Lana chama minha atenção. Ela encara o céu e sorri.

Observo as estrelas discretas acima de nós e brinco com a ponta do meu vestido amarelo.

Quando era menor, assim que papai morreu, mamãe me contou uma história sobre as estrelas. Mamãe me falou sobre uma pequena fada triste. Ela tinha asas escuras, completamente diferente das outras fadas, por isso, isolaram ela. Um dia, a pequena fada invejou a luz clara das estrelas. Ela, com suas asas negras, voou até os lindos pontos brancos. Ela navegou pelos céus, sentiu a brisa escura da noite encher seu peito, riu de si mesma quando atravessou uma nuvem e se molhou. Encontrou corvos de penas pretas, ela viu sua beleza diferente e se identificou com as aves tão temidas.

Eles voaram com ela até o topo do céu, viajaram pela galáxia e viram sua beleza escura. A pequena fada observou a luz clara das estrelas, mas era apenas uma luz, ela não poderia voar pelo céu escuro com elas.

Naquele momento, a pequena fada viu que o problema nunca foi ela, e sim, o brilho que cegava os olhos de suas outras irmãs fadas. Após cavalgar o céu com suas asas negras, a pequena fada aceitou sua beleza única e passou a morar com os tão julgados corvos. Ela percebeu que se não fosse pelo céu escuro que cobre o mundo tão vasto, as estrelas não poderiam ser vistas. Ela sorriu como uma guerreira naquele dia. Sentiu o orgulho se marcar em sua pele por causa das suas asas negras e fortes. Ela se amou.

Com a confiança crescendo em meu estômago, com o orgulho marcando minha pele e fazendo-me transbordar, ergo a cabeça e encaro a menina à nossa frente. Nossos olhos se encontram e ela ri de forma debochada, voltando a falar com suas amigas.

- Lana, vamos aproveitar a festa. - Peço rapidamente. Lana direciona sua atenção para mim e abre um sorriso bonito.

Lana não precisa saber sobre o que aconteceu hoje. Ela está bem, então é isso que importa.

Meu coração está acelerado, quando Lana segura minha mão e me leva até a beira do rio, onde tem algumas pessoas dançando e rindo. As luzes coloridas piscam lentamente, a música invade meus ouvidos, o mundo parece mais devagar.

- Não ligue para elas. - Lana para na minha frente. Suas mãos vão em minha cintura e eu pouso meus braços em seus ombros. - Eles não te conhecem de verdade. - Sua voz é suave, enquanto dançamos rindo.

- Nem eu me conheço de verdade. - Rebato calmamente, roubando uma balançada de cabeça positiva dela.

- Nós, humanos, estamos procurando incansavelmente descobrir quem somos. - Nós giramos como duas crianças e começamos a rir baixinho. - Mas a vida é uma grande interrogação para todos. - Lana completa, ajeitando os cabelos castanhos atrás das orelhas.

Ela não está errada. Meu coração bate rapidamente acompanhando a música. Seguro a mão de Lana e a rodo com calma. Nossos vestidos balançam e, lentamente, a cada risada e frase engraçada, as inseguranças vão se esvaindo de meu coração.

Desde que conheço Lana, ela tem esse poder.

A conheci um dia depois de meu pai morrer. Lembro de estar chorando sozinha no parque, enquanto encarava o cordão de sol que papai havia deixado para mim.

Estava confusa, a morte ainda era algo muito novo para minha alma. Lana chegou como uma pequena borboleta. Tão discreta e leve, que, por alguns segundos, a confundi com o vento suave do fim de tarde. Ela usava um laço rosa grande no cabelo, estava acompanhada de um sorriso puro e um picolé de morango.

Ela não ignorou meu choro silencioso, como as outras pessoas. Lana sentou ao meu lado e ficou calada. Não precisou de palavra nenhuma, ela apenas dividiu seu picolé comigo e me dirigiu um sorriso sincero e sem críticas. Foi fácil me sentir bem com ela a partir daquele dia.

- Eu te amo, Lana. - Revelo em um sussurro, deixando o vento frio da noite levar minhas palavras até seus ouvidos.

Lana pisca os olhos pequenos, quase amendoins brilhantes, e abre um sorriso bonito. Ela segura minha cintura e me abraça. É fácil retribuir seu abraço apertado, é incrível saber que, apesar de tudo, ela está aqui para mim, da mesma forma que estou para ela.

- Não me faça chorar, Eli. - Ela se afasta lentamente, segurando minha mão. - Estamos aqui para nos divertir. - Suas íris brilham. Posso sentir a animação nascendo em meus lábios e correndo por minhas veias. - Vamos aproveitar nossa noite como adolescentes rebeldes. - Ela pisca, fazendo-me rir.

Lana parece um anjinho puro, é quase impossível imaginá-la fazendo algo errado.

- Vamos nessa. - Ajeito meus cachos negros atrás das orelhas, seguindo Lana até a pista de corrida.

Sem aviso algum, Lana começa a correr pela extensa área ao lado do rio. Com risadas altas escapando de meus lábios, a sigo. A noite está fria e as estrelas parecem mais brilhantes. Meu coração bate freneticamente, enquanto sinto a juventude afogar meus neurônios.

Tecidos voando pelo céu, todas minhas dúvidas indo com eles. Só se tem dezessete anos uma vez, mamãe falou e, pela primeira vez, entendo o que ela quis dizer.

Empurro os ombros de Lana, correndo mais rápido que ela facilmente. O vento invade meus lábios risonhos, luzes coloridas piscam sobre meus olhos. Parece um conto doido de fadas. Paramos lentamente de correr, risadas suaves ainda escapando de nossas gargantas.

- Vão começar a corrida. - Lana ajeita os fios castanhos atrás das orelhas e respira fundo. Tem um sorriso feliz em seu rosto. - Obrigada por vim, Eli. - Ela se aproxima de mim e vamos juntas.

A noite está ficando cada vez mais fria, sinto isso facilmente quando me sento no concreto gelado das arquibancadas. Lana entrelaça nossos dedos, parecendo animada para ver as corridas tão comentadas na escola. Mordo os lábios, não evitando sentir meus músculos ansiosos por essa nova experiência. Parece uma pequena bomba perto do umbigo, pronta para explodir ao ver a poeira subindo e os gritos invadindo meus ouvidos. Ajeito meu vestido amarelo, observando a cor suave de rosa nas unhas de Lana.

Ao encarar a pista de corrida, mesmo com a multidão de pessoas ao redor dela, posso ver facilmente os fios ruivos balançando lentamente com o vento.

Tão suaves quanto as folhas que caem da copa das árvores, tão vermelhos quanto uma brasa quente. Kai está ali, suas costas largas, seus olhos delicados e solitários, sua postura firme. Meu interior grita que ele é bem mais do que eu vejo, um poço profundo, um mistério para aqueles que veem de cima.

O mundo parece se resumir àquele momento. Posso me ver em terceira pessoa, a menina de vestido amarelo e cabelos volumosos que encara o garoto na pista de corrida como um mistério que precisa desvendar.

Essa garota solta o ar lentamente, pelos lábios carnudos.

Desvio o olhar rapidamente, observando meus dedos brincando uns com os outros. Em algum momento, Lana soltou minha mão, mas não percebi.

Sim, eu estava certa, meu coração acelerado e minha pele estranhamente arrepiada, revelam o que eu vinha pensando.

Preciso manter distância desse furacão silencioso, me afastar o máximo possível, porque, lá no fundo, no apogeu da minha consciência, sei que Kai Sheen irá atormentar meus dias.

As estrelas brilham fortemente no céu, o vento corre pela extensa área ao nosso redor e condena meus cachos. Meus dedos apertam meu mindinho e meu coração se remexe, enquanto, lá embaixo, na pista de corrida, os olhos cinzas, como nuvens nubladas, de Kai me encaram. Nesse momento, com sua atenção sobre mim, sei que não se pode evitar furacões.

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