Cada Acidente [jikook]

By namucchon

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Se a história de Park Jimin e Jeon Jungkook fosse um filme, os dois teriam encontrado seu final feliz muito a... More

00. Avisos!
01. Antes & Durante.
03. Santa Mônica, Coincidências & Roteiristas.
04. Olhos Grandes, Jung Hoseok e Macarrão Instantâneo.
05. Estações de Metrô, Fantasmas & Roupas secas.
06. Memórias, Decorações Temáticas & Dinamarca.

02. Agora.

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By namucchon

[AGORA]

Se reunir no Choigozip acabou se tornando uma tradição. Começou por acaso, já que o lugar não tinha só o BBQ de melhor custo-benefício em Hongdae, como também era estrategicamente posicionado perto da estação de metrô e do lugar onde Seokjin morava.

Esse último era de fato um ótimo ponto, porque não era incomum que perdessem a noção do tempo entre uma rodada de somaek e outra. Quando davam por si, eram os últimos no restaurante e o metrô já estava fechado há um bom tempo. Na divisão entre táxis e aqueles que estavam bem o suficiente para se aventurar nas linhas de ônibus, sempre sobravam um ou dois para passar a noite no apartamento de Seokjin até o metrô reabrir nas próximas horas.

Com todos os aniversários, a aprovação de Namjoon no mestrado, o pódio do 3J no Festival de Amadores de Seoul e a efetivação de Yoongi como produtor musical, era automático se reunir ao redor da mesa 13 para encher a cara e o estômago sempre que houvesse algo a celebrar. Os funcionários mais antigos já os conheciam pelo nome, e os donos do restaurante nunca conseguiam ser sutis em seu claro favoritismo por Namjoon, não importava quantos copos, garrafas e porções acabasse derrubando. Seokjin e Yoongi derrubaram uma garrafa de soju uma vez e a Sra. Choi nunca mais olhou para os dois da mesma forma. Talvez porque isso tenha acontecido enquanto faziam um torneio de queda de braço no meio do restaurante, com os gritos de incentivo de Taehyung e Jimin – mas isso era outra história.

Jimin puxou o celular do bolso da jaqueta pela quinta vez nos últimos dois minutos, passando stories no feed do Instagram sem prestar muita atenção. Taehyung recomendando músicas, fotos de café, Seokjin cumprindo a cota de selcas diárias, a vista do décimo sétimo andar de algum prédio comercial, Hoseok filmando trechos das aulas do dia, seu irmão mais novo em um passeio com a namorada em Busan. O relógio não se moveu mais do que um par de minutos, e Jimin sentiu a inquietação em seu peito aumentar ao constatar que seus amigos ainda não tinham chegado.

Não faziam nem dez minutos que Jimin estava parado ao lado da entrada da estação de metrô, ponto de encontro fixo do grupo. A inquietação que estava sentindo provavelmente não passava de uma bobagem infundada, mas ele não precisava de muito para entrar em espirais. O convite de Seokjin para que se reunissem não tinha sido apenas repentino, como também mais uma intimação do que outra coisa. Se fosse o caso de se reunirem pra falar bobagem, encher a cara e esquecer um pouco do estresse da rotina, teriam ido para o bar perto do estúdio de Yoongi, com rodadas duplas de somaek nas quartas-feiras. O que significava que a escolha pelo Choigozip tinha um motivo – algo importante o suficiente para que Seokjin não desse detalhes de antemão. E Seokjin odiava fazer suspense. A intuição lhe dizia que algo estava por vir, e Jimin sabia que sua intuição dificilmente se enganava.

Jimin suspirou, considerando acender um cigarro. Pensou no número de dias quase redondo em seu progresso no app e acabou optando por puxar a moeda em seu bolso. Vinte e cinco centavos de dólar que deslizavam na palma de sua mão como se tivessem sido feitos pra isso. Deslizou a moeda por entre os dedos subindo e descendo um par de vezes, se concentrando em fazer o truque ao invés de bancar o Doutor Estranho e tentar conjurar todos os milhares de cenários possíveis para o desfecho daquela noite. Não valia o esforço e nem sujar os pulmões.

Alguém puxou a moeda de sua mão antes que ela voltasse a subir por entre seus dedos, e Jimin estava prestes a pegar George Washington de volta na base da porrada até perceber que evidentemente é um de seus amigos. Hoseok, claro. "O cara estampado na moeda xingou a sua mãe pra você estar com essa cara?"

"Não, mas eu vou xingar a sua se você não me devolver." retrucou, vendo Hoseok falhar miseravelmente em tentar imitar um dos truques que costumava fazer. Pouco impressionado, Jimin pegou a moeda de volta e a guardou no bolso, voltando a atenção para Namjoon e retribuindo o sorriso. "Oi, hyung."

Namjoon acenou de forma gentil. "Fizemos você esperar demais?"

Jimin deu os ombros. Sempre que precisava esperar parecia demais. Talvez fosse hipocrisia sua, ou no mínimo o troco do universo por estar atrasado para todo e qualquer compromisso na maior parte do tempo. "Os outros já estão lá?"

"Se duvidar já estão até comendo" Namjoon riu. "Da última vez que falei com Yoongi ele disse que tinha pulado o almoço e estava começando a considerar mastigar um dos microfones do estúdio."

Jimin seguiu os amigos pela calçada movimentada, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta. Por um momento considerou perguntar aos dois se sabiam o que estava acontecendo, mas acabou decidindo não dizer nada. Sua mente ansiosa e exagerada era de conhecimento geral, mas não precisava ser anunciada sempre que surgisse a oportunidade. Até porque o tiro poderia sair pela culatra – supondo que houvesse mesmo algo acontecendo e Namjoon ou Hoseok estivessem a par do assunto, provavelmente tinham recebido ordens bem claras para não dizer uma palavra. O que seria sua ruína, porque apesar de serem péssimos mentirosos, os dois desgraçados levavam seus segredos pro tumulo – só não eram piores do que o próprio Seokjin. Jimin não ia perguntar porra nenhuma pra ninguém.

A grelha mal tinha pego brasa e a garçonete – Sara, se não falhava a memória -, mal tinha terminado de colocar copos para todos na mesa quando Jimin decidiu que sua paciência e capacidade de auto contenção tinham chegado ao limite. "O que aconteceu, afinal? Nós não estamos aqui só porque você acordou pensando que queria muito pagar uma rodada de somaek pra todo mundo hoje."

Seokjin encarou Jimin por um instante antes de entornar uma dose inteira de soju. Namjoon e Hoseok se entreolharam, enquanto Yoongi não parecia muito impressionado. Seokjin secou os lábios com o guardanapo com uma serenidade e finesse que seriam caricatos se ele fosse qualquer outra pessoa. Assim como Taehyung, seus trejeitos eram dotados de um toque pomposo e esbelto que ninguém era capaz de reproduzir. Talvez fosse característica dos Kim. Talvez fosse um gene recessivo em Namjoon.

"Em primeiro lugar, eu sou um ótimo hyung. Eu poderia muito bem só ter decidido ser ainda mais legal do que eu já sou." Uma pausa. Yoongi disfarçou o riso com uma tosse. Seokjin optou por ignorar. "Segundo. Sim. Eu. Nós. Temos algo pra conversar."

Jimin se aprumou em seu lugar com um sorriso largo no rosto, encarando os demais com sua melhor expressão de "Park Jimin Tinha Razão", os olhos brilhando com o contentamento de estar certo sobre alguma coisa. Ninguém parecia partilhar do seu entusiasmo, mas Jimin não dava a mínima.

"Nós? Como assim? Você, o Hoseok e o Namjoon finalmente resolveram a tensão sexual entre vocês três? Decidiram aderir ao poliamor? Porque isso é ótimo. E saibam que eu apoio muito a escolha de vocês. Estou orgulhoso." Jimin disse, claramente brincando. É. Brincando. Com certeza. "Ou então vocês vão adotar um gato? Um cachorro? Uma calopsita? É um vira-latas? Porque se sim, eu quero ser o padrinho. Yoongi-hyung, nem adianta tentar. Eu vou lutar por esse título. Ele já é meu."

"Animais de estimação não são permitidos no prédio, então não." Seokjin respondeu, com uma calma que não correspondia aos seus olhos. Até porque se olhares pudessem matar, a cabeça de Jimin estaria decorada com uma coroa de flores. "E por que diabos eu iria precisar de um padrinho para um animal de estimação?"

"Apadrinhamento de pets é muito útil no dia-a-dia além de permitir que seus bichinhos formem laços valiosos." Yoongi enfiou alguns pedaços de carne na boca enquanto falava, apontando seus palitos na direção de Jimin. "E fala sério, moleque. Eu acabaria contigo em questão de dois toques. Você sabe de onde eu vim?"

Seokjin revirou os olhos. "Ninguém vai adotar pet nenhum."

"Monstro" Jimin resmungou. "Então vocês vão aderir ao poliamor?"

"Não."

E essa foi a última coisa dita na mesa por uns bons instantes, enquanto Seokjin colocava pedaços de carne na grelha e tentava disfarçar o rubor em seu rosto. Hoseok e Namjoon sequer tinham a decência de disfarçar o quanto eram completamente abobados por ele.

"Ei. Hobi. Joon." Yoongi apontou para o canto da própria boca. Os dois saíram de seu transe – olhar para Seokjin com um sorriso completamente idiota – e tocaram o rosto em um movimento quase sincronizado. "Vocês estão começando a babar. Vai pingar na mesa."

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, Seokjin bateu as duas palmas das mãos. Talvez um pouco alto demais, já que as mesas vizinhas voltaram sua atenção para eles de forma constrangedora. Jimin bebeu um gole de sua cerveja em uma tentativa de disfarçar o riso. O gosto da Blonde Ale, além de forte, também sempre tinha o sabor levemente familiar e acolhedor das boas memórias que tinham feito ali. Com a música ambiente agradável e o ambiente caloroso, Jimin quase estava esquecendo o que os tinha trazido até ali e o sentimento de ansiedade e angústia que vinha revirando sua intenção o dia inteiro. Não durou muito tempo.

"Bom, vocês devem estar se perguntando o porquê de eu tê-los reunido aqui hoje." Seokjin anunciou, dessa vez em um tom de voz comedido que não atraísse a atenção de clientes e funcionários nos arredores. "Imagino que vocês já estejam sabendo, não é?"

"Sabendo o quê?" Jimin perguntou, sentindo o nó em seu estômago voltar a se formar.

Ninguém disse nada. Todos trocaram um olhar que Jimin não foi capaz de entender ou decifrar, e que não fez nada além de aumentar a sensação de mau presságio que começava a tomar conta de si. De repente o restaurante não parecia mais acolhedor e agradável.

Namjoon estalou os lábios. "Ele não sabe."

"Taehyung sabe?"

Yoongi deu um gole no seu copo. "Olha, eu não contei."

Jimin encarou seus amigos com uma expressão parcialmente confusa e parcialmente apavorada. O sentimento de ser o único por fora de algo era péssimo, mas a cada segundo que passava ele tinha menos certeza se queria mesmo saber o que Seokjin tinha para contar.

A verdade é que uma parte dele já começa a suspeitar. Outra já sabe. Uma terceira parte genuinamente se esforça para acreditar que na verdade ele não faz a menor ideia. Que seja lá o que for, Jimin não tem a menor ideia do que se trata porque não tem a menor chance de ser.

Hoseok tentou esboçar um sorriso tranquilizador na sua direção, mas os sorrisos tranquilizadores de Hoseok nunca funcionavam com ele. Jung Hoseok só dava sorrisos desse tipo quando as coisas estavam mais pra lá do que pra cá. "Você vai ter que contar."

Seokjin olhou para Jimin por um momento. Jimin sentiu seus músculos se retesarem, só então se dando conta de como estava segurando sua cerveja com mais força do que o necessário, como se aquela fosse a última âncora que segurasse as pontas do universo. Seu corpo estava pronto para largar em disparada a qualquer momento, numa tentativa desesperada de se preparar para o que vinha pela frente, ou desesperadamente implorando para toda e qualquer entidade existente que sua intuição falhasse ao menos uma vez-

Seokjin virou os pedaços de carne na grelha com muita calma e então largou a bomba.

"Jungkook voltou."

Bom. Puta que pariu.

"Show." Jimin piscou um par de vezes, processando aquelas duas simples palavras uma por uma, de novo e de novo. "Show. Show. Show. Sem grilo, crocodilo. Show."

"Sem grilo, crocodilo?" Yoongi repetiu. "Acho que ele quebrou e vai ter um treco."

"Yoongi" Hoseok censurou, se virando para Jimin com um olhar preocupado. "Tudo bem? Jimin?"

"Pensei que ele não pretendia voltar." Jimin entornou um gole de cerveja. A Blonde Ale de repente tinha ficado amarga até demais. "Como vocês ficaram sabendo?"

"Eu descobri" Seokjin respondeu, parecendo quase orgulhoso de si mesmo. "Ele começou a vender algumas coisas no Facebook. Achei estranho ver Jeon Jungkook vendendo equipamento de musculação, então perguntei o que estava acontecendo. Ele estava se desfazendo das coisas que não ia conseguir trazer pra cá."

"Ele ia contar de qualquer forma, seu intrometido." Yoongi revirou os olhos, roubando um pouco de Kimchi do prato de Hoseok. "Namjoon e eu já sabíamos, mas ele pediu pra não estragar a surpresa."

"Bom, eu acabei descobrindo também" Hoseok deu os ombros. "Ele ligou para o escritório pedindo ajuda pra Jiwoo-noona com alguns documentos. Acho que ele esqueceu que a minha irmã é uma tremenda fofoqueira."

"Santa Mônica e a Naughty Dog são ótimas, mas do outro lado do mundo. Já fazia um tempo que o Kook queria voltar pra casa, mas só agora que ele conseguiu uma oportunidade bacana aqui em Seoul." Namjoon disse, suave. "Hoseok conseguiu reserva na Pulse e nós vamos dar uma festa de boas-vindas pra comemorar."

Jimin não tinha certeza do motivo pelo qual estavam dizendo tudo isso, explicando e contando com tanto tato e cuidado. Não deveria fazer muita diferença para ele se Jungkook estava em Seul ou na costa da Califórnia.

"Guk disse que está feliz de voltar pra casa" Seokjin explicou, suave. "E que está ansioso pra ver todos nós outra vez."

Jimin apertou os lábios. "Todos não quer dizer Eu."

Seokjin suspirou. "Quer, sim. Todos. Você sabe disso."

Não fazia sentido para Jimin. Quando Jungkook foi embora, eles não tinham ficado em termos ruins, mas também não eram exatamente os melhores. As coisas eram complicadas e definitivamente estranhas demais para não deixar o clima no mínimo um pouco esquisito. Jimin não conseguia imaginar por que ele gostaria de estar ali, ou por que Jungkook iria querer que ele estivesse.

"Quando?" Jimin perguntou, num fiapo de voz. Sua cabeça continuava reprisando as palavras de Seokjin, numa tentativa de se convencer de que aquilo não lhe afetava de forma alguma. Não estava dando muito certo.

"Ele chega na quinta" Yoongi respondeu os olhos fixos no celular enquanto digitava alguma coisa. Provavelmente estava falando com Taehyung. Jimin mal podia esperar para ter a chance de fazer o mesmo.

"Você quer dizer amanhã?" Jimin quase rosnou. Agora toda a agitação e urgência faziam sentido. "O que mais? Vocês vão me pedir pra buscar ele no aeroporto, também?"

"Se você quiser ir – "

"Cala a boca, Yoongi" Seokjin interviu. "A Pulse é na sexta, pra dar tempo de ao menos dormir um pouco e se recuperar do jetlag da viagem."

Jeon Jungkook. Em Seul. A partir de amanhã.

Puta que pariu.

Verdade seja dita, Jimin sabia que lá vinha coisa quando Seokjin disse que eles precisavam conversar – mas no fundo ele esperava que fosse algo mais simples. Yoongi ia pedir Taehyung em casamento e queria ajuda para alugar um dirigível e contratar um coral. Namjoon tinha mandado seu orientador do mestrado pra casa do caralho em um surto de raiva depois de ter que reescrever a tese pela terceira vez. Hoseok recebeu mais uma confissão amorosa de uma das mães de seus alunos da turma infantil. Seokjin tinha descoberto um filho perdido e agora precisava assumir a criança. Jimin era adotado e seus pais eram reptilianos. Algo desse tipo.

Jimin queria muito que a grande notícia em questão fosse seu sangue reptiliano.

"Tudo bem?" Hoseok perguntou pelo que pareceu a milésima vez naquela noite.

Não. Não exatamente.

Jimin bateu a mão na mesa com um pouco mais de força que o necessário, um riso nervoso e baixinho morrendo no fundo de sua garganta. E então ele pegou a garrafa quase intocada de Namjoon – ele bebia muito devagar – e a entornou em um movimento seco.

"Tudo certo." A mentira foi mais para si mesmo do que para os outros. Ele precisava dela por enquanto. "Pulse na sexta, então? E o esquenta, vai ser onde?"

Os outros quatro se entreolharam. Yoongi pediu e Namjoon passou a tigela do arroz. Seokjin mudou de assunto como se nunca sequer tivessem falado sobre aquilo. Se Jimin dissesse que prestou mais do que meia atenção no que foi dito pelo resto da noite, seria mentira.

Uma parte de si de fato estava cogitando a possibilidade de pedir um empréstimo e ir recomeçar a vida na Nova Zelândia. Outra parte não conseguia deixar de pensar em certo par de olhos grandes e profundos, se perguntando se mesmo depois de tanto tempo eles ainda brilhavam como se carregassem o universo inteiro.

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