A Ordem: O Círculo das Armas

By TattahNascimento

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A Ordem é uma irmandade milenar, cujo objetivo é oferecer conforto, cura e proteção as pessoas. Seus membros... More

Prólogo
A Ordem
A Lenda
A Hospitalidade
A Mão Assassina
A Família
O Guerreiro dos Mares
Uma Marca de Morte
Um Amuleto de Sangue
Nebulare
Analyn
Auriva
Maxine
Florinae
Vermelho
Castir
Zarif
Azul como o mar
O palácio do sul
Flyn
Manir
Sangue Deminara
Lunar
O círculo
Ishtar
Fios de luz e união
Dashtru
Naria
Assassino
Laio
Valesol
Sob a luz do luar
Traiçoeiro
O poder de um Castir
Sombras
Reencontro
Bórian
Érion
Tucsianas
Colina Merida
Em meio à tempestade
O sinal verde
Lâminas de Ar
Adeus
Depois da tempestade
Portões Abertos
Mirides
Nikal
Zefir
A cor do círculo protetor
O inimigo é a Ordem
Sobre mentiras e traições
Branco e Vermelho
Spectu to Castir
O círculo do fogo
Caixão de Ar
A voz da terra - [FINAL]

Firense

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By TattahNascimento


*

Um grito ecoou no ar, arrastando olhares assustados de vários ordenados. Melina interrompeu a caminhada e girou sobre os calcanhares. Inspirou fundo e com passos ligeiros foi até a jovem Irmã ordenada que gritou. A moça estava sendo amparada por um Mestre, enquanto tremia, fixando o vazio.

Muitas reações como aquela ocorreram por todo o caminho através da floresta petrificada e a Grã-mestra já não tinha mais paciência e sensibilidade para tratar o assunto com parcimônia. Ela pousou as mãos nos ombros da moça, fincando as unhas na carne magra dela até que uma expressão de dor deformou suas feições e a fez encará-la.

Melina estava prestes a falar coisas das quais se arrependeria assim que se calasse e, no momento em que entreabriu os lábios, a mão de Bórian alcançou seu braço. A grã-mestra travou o maxilar, fincando as unhas ainda mais na jovem, então esvaziou os pulmões antes de falar:

— Não sei o que você está vendo, mas não é real. — Segurou o rosto dela entre as mãos. — Mas se você continuar gritando assim, o medo e tantas outras emoções negativas dos seus companheiros irá aumentar. E isso fará o poder da floresta crescer e as visões se tornarão mais e mais realistas, até que todos estejam em pânico. Quando isso acontecer, os inimigos na Cidade dos Eleitos terão conhecimento da nossa presença e o seu pesadelo terá se tornado real. Então, inspire fundo e concentre-se!

Um instante longo se passou, até a moça balançar a cabeça, confirmando que havia entendido. Então, Melina a soltou. Ela olhou em volta, reparando no desconforto crescente entre os ordenados, cujo motivo não era a travessia da floresta e, sim, seus modos.

— Continuem andando! — Ordenou e retornou à dianteira do grupo.

Bórian a seguiu de perto.

Rude, mas eficiente. — Ele disse com um sorriso irônico.

— Não tenho tempo para ser condescendente. — Melina resmungou.

Não lhe incomodava a curiosidade dos ordenados em volta, que buscavam naquela inspeção apurada, encontrar a idosa que os comandava há décadas. Afinal, a grã-mestra que conheciam tinha um temperamento sereno, bem diferente da mulher rude que os guiava naquele momento.

Ela não se importava com o que eles pensavam, realmente. Pois, resolveu aceitar os conselhos de Tamar e aproveitar a juventude resgatada. Sendo assim, iria agir com a sabedoria que a idade lhe trouxe e com a impetuosidade da juventude.

Estamos quase lá. — Bórian informou.

Alguns passos atrás dele, Mestre Pitacus ergueu a face para o sol forte de quase meio-dia. Ele passou a manga da túnica azul marinho na testa em uma tentativa de diminuir a quantidade de suor que brotava nela e escorria para os olhos. Custava a ele, assim como ocorria a quase todos os ordenados presentes, aceitar o fato de que a Ordem marchava para uma batalha; não para auxiliar os feridos, mas sim como recurso bélico.

Era um disparate, ele pensava. Mas quanto mais odiosa a ideia lhe parecia, mais sensata também se tornava. Principalmente, quando recordava o ocorrido na Ilha Vitta, quase dez dias antes. Virnan e Melina se materializaram no meio do salão de refeições do castelo, atirando-os em uma realidade assustadora. E, assim, os preparativos foram feitos para que pudessem estar ali, naquele momento.

— O ideal seria que atacássemos à noite. — Observou Pitacus, mirando os ombros largos de Bórian.

O espírito lhe respondeu sobre o ombro:

Flyn não tem todo esse tempo. Quando saímos de lá, hoje cedo, duas barreiras haviam caído.

Senti quando a terceira barreira caiu pouco tempo depois que adentramos na floresta. — Melina informou. — Nesse ritmo, o exército do cavaleiro alcançará a última barreira ao pôr do sol.

Mestre Pitacus adiantou o passo para caminhar entre os dois. Baixou um pouco a voz para perguntar:

— Seja sincero, espírito. Acha que temos alguma chance contra esses monstros? — Conversar com um espírito era outra coisa que parecia irreal para o mestre, mas ele estava se esforçando para assimilar a nova experiência com a calma que se esperaria de um membro do círculo da sabedoria.

Bórian parou de andar para lhe responder:

Acho que diante da situação, só nos resta tentar, Mestre.

Um meneio de cabeça de Bórian trouxe um sorriso gentil ao rosto do mestre. Então, o espírito castir o empurrou para trás ao mesmo tempo em que fazia uma coluna de pedra se elevar do chão. Flechas atingiram a coluna, mas nem todas foram barradas e alguns ordenados foram atingidos.

Aturdido, Mestre Pitacus rolou até a base da coluna. Enquanto os guardiões se adiantaram ao grupo para formar uma linha defensiva, ele conjurou um escudo para os ordenados que prestavam socorro aos feridos. Melina agachou-se ao lado dele, retirando o arco das costas. Ela passou a mão sobre a aljava vazia e uma flecha se materializou.

Bórian moveu a terra, erguendo barreiras à frente do grupo.

Parece que a diversão começou. — Disse o espírito. Ele tocou o chão com a mão espalmada e uma luz forte percorreu seu braço até penetrar na terra. — Estão bem à frente. Há uma elevação a quatrocentos metros daqui.

Os guardiões se abrigaram atrás das barreiras que ele ergueu, tomando seus próprios arcos e iniciando o revide.

— Há um grupo menor se deslocando a seiscentos metros a oeste. Dez ou doze inimigos, acho. É difícil ter certeza, diante da magia deste lugar. Eles estão vindo em nossa direção. — Ele fez uma pausa, enviando nova onda de magia para a terra e aumentando a distância percorrida pela magia de integração. — O grupo de Voltruf e Marie está quase no limite da floresta, a uns dois quilômetros daqui e também tem companhia.

Com tranquilidade, Melina prestava atenção às palavras de Bórian. Ela encaixou a seta no arco com cuidado e conjurou chamas nela, então a atirou no chão, próximo a um dos guardiões. Repetiu o feito mais três vezes em espaços regulares, de modo que todos os protetores tivessem acesso às chamas.

— Usem o fogo. — Ordenou.

Então, aguçou seus sentidos, pegou nova seta e juntou-se ao ataque.

**

— Este lugar é assustador. — Resmungou um dos soldados à frente de Verne.

O badir se esforçou para não concordar em voz alta. Sentia a atmosfera negativa da floresta se tornando mais densa e, para piorar, espíritos surgiam a cada metro percorrido. A maioria deles nada fazia; apenas observavam sua passagem. Entretanto, alguns os seguiam, unindo-se aos homens. Era quase impossível não sentir o medo dos soldados, diante da companhia indesejada.

Após percorrerem um trecho bastante difícil, onde as árvores petrificadas eram muito próximas umas das outras, o grupo alcançou uma pequena clareira, que deu indicativos de que estavam prestes a entrarem nas terras da Cidade dos Eleitos.

— Por que eles estão nos seguindo? — Emya indagou para Voltruf.

— E por que não podem fazê-lo? — Devolveu a falecida castir. — Estamos em um território dominado por eles.

A princesa abanou a mão à frente da face.

— Você não entendeu a minha pergunta. Quero saber o que os está atraindo para nós. Nem todos nos seguem. — Observou.

O espírito sorriu para ela, com ar presunçoso. Contudo, não era intenção de Voltruf parecer arrogante, então, antes de explicar, tomou o cuidado de perguntar:

— Você compreende que a existência deste mundo está ligada a de mais dois mundos e que há milhares de anos eles foram um?

Emya inclinou a cabeça em assentimento.

Na realidade, a princesa só entendia a necessidade de lutarem contra o cavaleiro; afinal, ele era um sujeito mal e ponto. Quanto a verdadeira natureza do mundo que habitavam, ainda lhe parecia confuso pensar nisso, mas chegou à conclusão de que era muito menos desgastante aceitar a história de Virnan como um fato e isso lhe poupou muita dor de cabeça nos últimos dias. Não pensava em como as coisas funcionavam, apenas admitia como elas eram.

Bem, assim fica mais fácil. — Voltruf continuou. — Há dois tipos de espíritos neste mundo. Apesar de sua origem primordial ser Inamia, eles não nascem exclusivamente lá. Se fosse o caso, não poderiam atravessar para cá, já que os Portões estão fechados há milênios...

Interrompeu-se quando Marie gesticulou algo. Desta vez, Voltruf compreendeu o que ela disse e deu de ombros se desculpando:

— Está certa, é melhor não me aprofundar na explicação. — Tornou a olhar para Emya. — Desculpe, Alteza. Voltando ao que dizia... Existem dois tipos de espíritos. Aqueles como eu e aqueles que chamamos de "naturais". Estes últimos, tendem a manter-se afastados do contato com humanos e florinae, mas alguns podem se sentir atraídos pela magia espiritual de magos poderosos; e nós estamos atravessando um lugar onde há muitos espíritos naturais ao lado de uma maga, cuja magia espiritual é muito mais abundante do que a que eu tive em vida.

Ela olhou para Marie, que se empertigou ao seu lado, enchendo as bochechas de ar com evidente desconforto. Voltruf fez um gesto displicente.

— Ah, eu compreendo eles mais do que gostaria, Mestra. Depois da nossa conversa em Valesol, consegui compreender o motivo de me sentir tão incômoda na sua presença e das suas amigas. Na realidade, esse "desconforto" é a minha percepção da sua magia como espírito. É como se vocês estivessem banhadas em um perfume intoxicante, que me faz desejar estar ao seu lado. Estou certa de que para os naturais o efeito é ainda maior. Por isso, a seguem na esperança de que você eleja um deles como seu spectu.

Marie balançou a cabeça e gesticulou algo com veemência.

— Eu sei que você não quer um spectu, Mestra. — Sorriu, indulgente. — É provável que Melina esteja passando pelo mesmo.

Alguns passos atrás delas, Verne resmungou:

— Isso é exaustivo! Este mundo poderia ser mais simples...

Fenris concordou com um balançar de cabeça vigoroso, mas não se manifestou além disso.

— Se não estão aqui para ajudar, como nos livramos deles? — Emya indagou. — Mesmo que não seja sua intenção, estão nos atrapalhando.

— Não se preocupe. Eventualmente, irão desistir ou recuar quando sairmos da Floresta de Pedra. — Voltruf deu de ombros.

Lorde Verne cofiou a barba, reduzindo os passos para que as três mulheres emparelhassem com ele. Estavam próximos do fim da clareira e o vento soprou forte, trazendo o aroma de plantas vivas à frente. Mais algumas centenas de metros e alcançariam o primeiro de seus objetivos: A Cidade dos Eleitos.

— Às vezes, desejo não ter conhecimento sobre a estranheza deste mundo. Cada vez que me revelam algo, tenho dores de cabeça. — Ele sorriu cúmplice para Emya.

A esposa devolveu o sorriso com charme. Nos últimos dias, a relação deles se tornou mais intensa e Emya percebeu que Verne estava diferente e se esforçava para lhe demonstrar seu carinho por ela. Não eram poucas as vezes em que ela se deixava cair em divagações sobre o que aconteceu com o marido na viagem até Flyn. Naquele momento mesmo, esses pensamentos lhe cruzaram a mente, mas foram abandonados quando algo penetrou o abdômen do badir, jogando-o para trás.

Emya sufocou um grito ao vê-lo cair aos pés de Fenris que, sem demora, se agachou na frente dele, erguendo o escudo para protegê-lo. Verne gemeu de dor, enquanto mais flechas cruzavam o ar, impetuosas. Como a maior parte do grupo ainda estava em campo aberto, as setas encontraram caminho livre até os soldados e os gritos de dor, misturados as ordens dos comandantes se elevaram, quebrando o silêncio do lugar.

Fenris puxou Verne para trás de um tronco petrificado, deixando um rastro de sangue na terra seca. O cavaleiro passou a lâmina da espada diante do escudo, partindo a meia dúzia de flechas que o atingiu. Mais atrás, os homens se dividiram em pequenos grupos e entraram em formação. Ergueram os escudos, formando uma espécie de barreira de proteção sobre suas cabeças e nas laterais.

— Parece que perdemos o elemento surpresa. — O cavaleiro falou o óbvio.

— Você acha?! — Verne ironizou, apertando a ferida com força, antes de quebrar a haste da flecha, deixando a ponta ainda em seu corpo. Sangue escorria farto do ferimento e a dor tornava a respiração uma tarefa sofrida.

Com esforço, o lorde retirou a espada da bainha, enquanto procurava por Emya e Marie. As mãos tremeram em volta do cabo e ele gemeu alto. Encontrou o olhar preocupado da esposa e fez um gesto, indicando que estava bem. Ela estava ao lado da irmã e Voltruf, agachada atrás de uma rocha. Dois soldados flanqueavam a rocha, aumentando a proteção com os escudos.

Um corte largo vertia sangue na bochecha esquerda de Emya, revelando que escapou da morte por pouco, não fosse a agilidade de Marie, que a puxou no momento exato em que a flecha se aproximou. Voltruf não teve a mesma sorte.

Por estar em um campo onde espíritos se materializavam, a falecida castir também podia ser ferida, razão pela qual ela urrou de dor quando uma flecha se abrigou na sua panturrilha. Coube a Marie a tarefa de retirar a flecha, mas a cura teria de esperar um momento mais ameno.

— Por que flechas? — Fenris se perguntou em voz alta. — Eles são monstros cheios de magia; não seria mais rápido e fácil acabar conosco com seus poderes?

— Talvez achem que não valemos o esforço — sugeriu um soldado, que também se abrigava atrás do tronco largo que ele dividia com Verne.

Flechas em chamas cortaram a distância que separava os dois exércitos, atingindo os escudos de madeira dos soldados. As chamas cresceram neles, quebrando as formações. Mas um fio de água circulou sobre suas cabeças, apagando as labaredas. Verne o acompanhou com o olhar, até perceber que estava conectado a Voltruf. Ela o brandia no ar, como se fosse um chicote líquido e quando mais flechas foram lançadas, o espírito as partiu antes que tocassem seus alvos.

***

Chamas engoliram algumas árvores e o grupo de soldados que se abrigava debaixo delas. Gritos de terror se elevaram dos guerreiros em volta, que assistiram a agonia dos companheiros inertes. Tamar e o espírito Joran correram em direção a eles, mas já era tarde demais.

— Estão todos mortos! — Afirmou um soldado apavorado.

O medo imperava nos rostos em volta e o comandante Brenum, que apagava as chamas nas pernas de um ferido com a própria capa, ergueu a voz e berrou ordens sem piedade, então se afastou na direção de outro tumulto.

Com poucos gritos, ele devolvido a concentração dos homens.

— Ele é um cretino, mas admito que sabe como comandar. — Tamar resmungou, agachando-se ao lado do soldado que Brenum ajudou e começou a curar as feridas dele.

Seguindo os planos, Virnan a levou para o exército aliado um pouco antes de transportar Marie e Melina para as proximidades da Floresta de Pedra. Desde o início, ficou claro para as ordenadas que seria necessário dividir o grupo delas se quisessem ter uma chance real contra Érion.

Havia muitos magos entre os aliados, mas a magia deles só serviria para reforçar a proteção dos homens e curar os feridos. Precisavam de uma força de ataque capaz de oferecer oposição às Sombras, assim como ocorreu em Valesol; e somente as ordenadas e os espíritos castir poderiam fornecer o poder necessário para isso.

— Líderes não precisam ser amados, apenas obedecidos. — Joran declarou, usando sua magia para conter o fogo das árvores, a fim de evitar que se espalhasse.

O vento soprou parte da fumaça em direção a Tamar; ela tossiu forte algumas vezes e encolheu-se quando o som animalesco do dragão Zefir atravessou a floresta, plantando novo terror no coração dos homens. Uma centena de metros adiante, novo ataque transformou a vegetação densa em cinzas. Felizmente, não havia soldados naquela área.

Tamar endireitou-se, respondendo a Joran:

— E você conhece bem essa posição, não é?

O espírito a mirou de esguelha e encerrou sua tarefa. De fato, ele sabia bem do que falava e reconhecia as dificuldades de estar no comando. Por isso, dedicava algum respeito ao comandante Brenum, apesar de concordar com a mestra sobre seus modos desrespeitosos e personalidade desagradável. Tinha passado poucas horas ao lado daquele homem e já queria matá-lo.

— Parece que ele já foi. — Brenum retornou, olhando para a copa das árvores e, depois, para a clareira que o ataque do dragão deixou.

Desta vez, Anton o acompanhava.

— Os batedores não voltaram. — Disse o mago, apontando para os troncos queimados, de onde fumaça ainda se elevava. — E depois disso, é certo supor que não estamos mais incógnitos.

— Como você é esperto! — Brenum ironizou. — Estou emocionado por ter alguém tão sábio sob meu comando.

Anton o ignorou e permaneceu em silêncio, atento aos movimentos de Tamar. Ela encerrou a cura do soldado e percorreu o entorno com o olhar, procurando mais alguém que necessitasse dos seus cuidados. Entretanto, muitos magos se deslocaram para o local e cuidavam dos feridos.

Satisfeita, Tamar sentou uma das mãos no queixo, pensativa.

— Estaria bem surpresa se eles não tivessem conhecimento da nossa presença. Afinal, que exército caminha para a guerra sem prestar atenção à retaguarda?

Ela caminhou até Joran e ele antecipou a pergunta que faria:

— Acho melhor nos prepararmos. Temos que mantê-los ocupados o máximo possível, até que Volt, Bórian e as suas amigas destruam o amuleto no Templo Castir.

Brenum fez uma careta para o espírito, dizendo:

— Mal consigo conter minha ansiedade para levar meus homens para a morte certa nas mãos dessas bestas!

** **

Os ordenados se dividiram nas tarefas de criar uma proteção mágica para todos e em curar os feridos, enquanto os guardiões revidavam o ataque usando flechas com as chamas que a magia de Melina gerou.

— Guardião Finis, você está no comando. — Delegou Melina. — Continuem atirando em intervalos regulares. O restante de vocês, mantenham a formação de defesa.

Ela escolheu os três guardiões mais hábeis do grupo para acompanhá-la. Falou para Bórian:

— Nos guie até o grupo menor.

Eles saíram da proteção e correram seguindo o ritmo imposto pelo espírito. Os cabelos de Melina, cujas tranças haviam se desfeito com a corrida, agitavam-se às costas dela. Naquele momento, a grã-mestra se permitiu admitir que aquele esforço seria impossível de realizar, caso seu corpo mantivesse a forma condizente com a idade.

Eles passarão por aqui em breve. — Bórian parou de correr.

Estavam no fim de um pequeno declive. A grã-mestra apontou para rochas específicas e os três guadiões escalaram elas. Então, Melina atirou uma flecha flamejante em cada uma delas e os guerreiros prepararam os arcos.

— Atirem à vontade. — Ela disse, indo para a direção oposta com o espírito.

Bórian a puxou para trás de uma pedra comprida, que um dia foi um tronco caído, no exato instante em que os inimigos apareceram. Eles seguiam em uma corrida lenta e assim que passaram diante dos guardiões, foram alvejados por eles.

Imediatamente, as Sombras se voltaram para a direção do ataque, deixando as costas expostas para Bórian e Melina. O espírito saiu do esconderijo empunhando a espada. Com poucas passadas, encontrou o primeiro adversário e decepou a cabeça dele. Avançou para o próximo, girando o corpo para escapar da lança que foi de encontro ao pescoço. O movimento o fez cair de lado e ele rolou por meio metro até parar diante de outro adversário, cuja a espada desceu em direção ao seu peito. Bórian travou a lâmina dele com a sua espada; rilhava os dentes com a força que empregava.

Ele arqueou uma das pernas e acertou o rosto da Sombra, fazendo-a recuar um passo. Ainda no chão, Bórian girou a espada, partindo as pernas do oponente ao meio. Quando ele caiu, o espírito fincou a espada no peito dele.

Antes de se colocar de pé completamente, outra Sombra jogou o espírito contra uma rocha e o prendeu ali. Bórian sentiu-se ser esmagado pela magia avassaladora do atacante e amaldiçoou a dor dos ossos se partindo em seu corpo. Enquanto isso, outra sombra fez a rocha em que um guardião se abrigava, partir. O protetor caiu e foi esmagado pelas pedras que despencaram após ele.

Agachada, Melina se esgueirou até outra rocha. Seu olhar cruzou com o de Bórian, enquanto retirava uma flecha da aljava. A atirou nas costas da Sombra que o aprisionou, e chamas violentas consumiram o corpo dele. Bórian caiu, cuspindo sangue, e enfiou as mãos na terra, sussurrando:

Teranae tereto.

Nesse meio tempo, Melina conjurou uma proteção para si e disparou flechas nos inimigos, mas eles estavam atentos e conjuraram proteções, que se tornaram inúteis quando a magia de Bórian ondulou pelo chão rochoso, tornando-o arenoso. Eles foram sugados até a cintura, antes que a terra tornasse a se solidificar.

Com uma careta, Melina disse:

— Firense.

E eles foram consumidos pelo fogo.

Bom trabalho. — Bórian gemeu, esforçando-se para ficar de pé.

Melina assistiu o bailar das chamas por um momento longo, então caminhou até o corpo do ordenado falecido, murmurando uma oração fúnebre, a qual os companheiros dele repetiram. Não tinham tempo para um ritual funerário e isso lhes trouxe um profundo pesar. Mas assim era a guerra, eles sabiam. E este fato se tornou mais doloroso por serem eles, a Ordem, quem estava guerreando.

Por um breve momento, o espírito do falecido se materializou diante do próprio corpo, ele inclinou-se em um cumprimento singelo e desapareceu, atraído pela magia dos Portões em Flyn. "Ele não tinha morrido, apenas começado um novo ciclo", Melina pensava. E essa crença a ajudou a conjurar um pouco mais de fogo para cremar o corpo do guardião, que se tornou cinzas quase que instantaneamente.

Engolindo o choro que se avizinhava, a grã-mestra girou sobre os calcanhares, dizendo:

— Vamos! Ainda não acabou!

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