Strawberries&cigarettes

By vantefh

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Em um mundo completamente diferente do nosso, onde os seres são divididos por cores e qualquer tipo de intera... More

IMPORTANTE - antes de ler.

capítulo I - a descoberta.

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By vantefh

🌫

"Em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser conhecida."

— Carl Sagan.

Jeongguk nunca fora de obedecer as regras de sua própria terra, a tão temida cidade de Gray. Sempre foi um rapaz um tanto desafiador, o que desde sempre fora motivo de muitas conversas e fofocas alheias de diversos cidadãos cinzentos quando o garoto passava. Apesar da coragem, nunca gostou de se aventurar demais;

Jeon sabia que qualquer ato fora da lei, a cidade de Gray não teria pena. Não mesmo. Seja quem for.

Era mais um de tantos outros dias literalmente sem cor de Jeongguk. Onde não se esperava absolutamente nada, apenas viver miseravelmente em um mundo onde nem gostaria de estar. Ele se sentia invisível, então apenas existia. Ele gostava de pensar até se cansar.
Nada era simples para Jeon, o rapaz sempre gostou de coisas complicadas e complexas, mesmo que não fossem tanto assim; era como se isso o nutrisse. Por isso, costumava tentar encontrar um significado de sua própria vida, apesar de ser um tanto desafiador.

Naquela dia, Jeongguk não acordara tão cansado como em seus últimos, e isso já poderia se considerar uma conquista. Estava respirando e sentindo um vazio. Mas não era um vazio ruim; às vezes, ele só precisava de um vazio para descansar e parar de pensar a mil por hora. Uma tarde tranquila, que apesar de pouca ventania, estava um clima agradável para um cidadão viver.

— Você está aí? — disse, ao olhar debaixo de sua rocha. — Arrá! Te achei.

Haviam duas coisas favoritas para Jeon:
A primeira, era seu livro; seu fiél companheiro.
E a segunda, era sua pedra de estimação.

— Estava querendo se esconder de mim, hm? — pensou. — Não julgaria se quisesse, até eu gostaria de me esconder de mim às vezes.

Algumas pessoas achariam estranho se o encontrassem conversando com uma pedra, mas era algo terapêutico. Ela lhe ouvia atentamente, e sempre estava ali para ele.

Haviam inúmeras pedras em Gray, mas aquela ali era especial. Ela tinha um detalhe brilhante, e foi isso que fez Jeon dar tanta atenção à ela.
Acontece que, em uma certa noite cujo o cinza se sentia frio e nebuloso como uma poeira de inverno, aquela pedra brilhante o aconchegou.

Era como se ela dissesse "tudo bem, eu estou aqui."

Até hoje Jeongguk não entende muito bem o que ele sentiu naquela noite, mas era algo consideravelmente bom, que o fez apegar-se à pedra.

Ah. — suspirou alto. — Permaneça aqui, vou buscar algum alimento.

Jeon não era um rapaz faminto, ele conseguia e passava dias sem comer, mas naquela hora estava realmente com fome.

Não há muita coisa para comer na cidade cinza, e os mais deliciosos frutos ficavam longe dali.

— Se bem que... é muito longe. Eu não quero comer pinheiro hoje. Acho que aquilo nem é comestível. Mas os frutos estão tão longes.

Olhou para trás, e avistou uma longa caminhada.

— Mas você está com fome! — disse, forçando uma voz grossa, e mexendo sua pedra.

— É, eu estou mesmo. — pausou para pensar. — Tudo bem, você venceu. Vou me sacrificar para me manter vivo.

Mesmo receoso, começou a caminhar em busca de alimento. Percebeu que o caminho não era tão longe assim, mas teria de enfrentar outros cinzentos, e isso era um tanto frustrante.
De fato, um sacrifício.

Sem muita demora, conseguiu — infelizmente — avistar outros seres como ele.

Todos eram tão inconvidativos.
Seus rostos juntamente à sobrancelhas franzidas, seus olhos semi-cerrados e suas bocas bufando, assim eram os cidadãos daquela terra.

— Ora, rapaz, saia daí e venha ajudar!

Jeon olhou para trás e avistou um gray de idade. Esses eram os mais rabugentos; eles não entendiam que apenas por você ter mais "experiência" não quer dizer que você tem o direito de ditar o que os mais novos devem ou não devem fazer e/ou falar. Provavelmente nunca entenderiam.

— Eu não trabalho aqui.— respondeu, com o semblante vigorosamente sério.

— E eu por acaso estou te perguntando alguma coisa?

"mal educado", pensou.

Talvez fosse maldade pura, mas o rapaz não nega o desejo de que esses tais cidadãos simplesmente sumam para todo o sempre. Isso seria harmonioso de se ver.

Alguns Gray's trabalhavam, para manter a cidade estável. Eles não ganhavam nada em troca, a não ser uma terra para morar, e isso já era o suficiente. Eram escolhidos à dedo quem iria trabalhar em uma certa época, e Jeon torcia, com todas as suas forças, que os cinzentos apenas esquecessem da existência dele, para que nunca o chamassem.

Continuou a andar.
Pouco depois, o rapaz conseguiu chegar nas árvores de Gray.

— Finalmente. — disse, quase como um sussurro.

Pegou quatro frutos, e isso era o suficiente por um bom tempo. Segurando-os firme, voltou para sua moradia às pressas. Primeiro, porque estava com fome. Segundo, porque aquelas pessoas eram irritantes demais para ele e o ambiente não era nada agradável.

Seu pulmão clamava para ele sair de lá, mais um motivo para não frequentar o lugar muitas vezes.

— Sobrevivi. — dramaticamente, suspirou.

Com muito prazer, deu uma mordida. E duas. E três. Era realmente ótimo ter algo para comer.

Os frutos eram frescos, pouco amargos e refrescantes. No ponto certo.
Tinham vezes em que vinham estragados; quando isso ocorria, eles cortavam as árvores pela sua raiz, pois acreditavam que a mesma estaria amaldiçoada e seu propósito era apenas envenenar a cidade.

Jeon deitou-se sobre a terra, ao lado de sua querida pedra, e fechou os olhos.

Naquela hora, o garoto sentiu sua mão tocar algo um pouco duro; estranhando, logo despertou, como um transe, de seu minúsculo descansar de pálpebras.

Era seu livro.

Jeongguk costumava escrever e esboçar alguns desenhos nele. Certamente era um ótimo apoio moral, pois nunca o criticava, apenas servia para recordar e desabafar suas mágoas em forma de escrita.

Com um semblante pensativo, pegou sua tinta (que foi um achado em meio as trevas) e decidiu deixar com que seus dedos fossem dirigentes ao rumo do que estaria por vir.

Não fazia muita luz, então isso não era um problema para ele, visto que seus olhos não eram tão sensíveis.

Porém, em meio a calmaria, algo chamou sua atenção. A vida do garoto sempre foi monótona, por esse motivo, não era difícil notar quando algo diferente surgia.

Não para Jeon.

Quando abriu seus olhos, (com uma certa dificuldade, pois estava realmente gostando daquele tranquilo vazio), o rapaz avistou um pequeno pássaro. E isso, por não ocorrer em dias comuns, realmente lhe chamou muita atenção.

Curioso e extremamente observador, percebeu o quanto o passarinho cantava. Ele estava feliz. Coisa que não se via em Gray. Sem preocupação, (e certamente desconfiado), o observou a todo momento; era uma ave com não muitos pelos, e nem voava tão alto. Jeon admite que achou muito bonito, pois era algo diferente; não tinha coloração, era cinza assim como ele, o que o fez acreditar que era inofensivo. Até que, como um suspiro, o passarinho saiu voando repentinamente. Não desesperado, nada às pressas, apenas lentamente.

Era como se estivesse o chamando.

O cinza não entendeu absolutamente nada. Estava sendo bom observar a ave. Melhor do que passar o dia todo deitado, como frequentemente fazia.

Sentindo-se culpado por achar que havia assustado o pequeno e simpático pássaro, e, certamente desocupado, o seguiu.

Era um caminho um tanto escuro, nunca teria passado por ali. Talvez ele preferisse ficar sempre no mesmo lugar de sempre, já que era o único em que se sentia seguro.

Certamente, havia muitos lugares que o rapaz nunca nem imaginava ter.

Era um caminho rochoso, na qual havia algumas plantas mortas, ou talvez vestígios de alguma floresta antiga; ele não sabia ao certo, mas era uma bagunça.
Apesar do ambiente desconhecido e não agradável, ele não estava com medo. Ele estava pensativo. Para onde aquela ave poderia o levar, afinal?
Era apenas uma ave.

A cada passo ficava escuro, e mais escuro. O rapaz apenas seguia o sonoro canto do pássaro, sem nenhuma expectativa do que iria encontrar.

Àquele ponto, nem mesmo sabia se ainda estava em Gray. E isso começou a assustá-lo.

— Para onde você está me levando? — disse, em vão.

A ave não parava de voar pelo caminho estranho, e agora dava até para ouvir suas asas batendo rapidamente.

Seu canto foi ficando mais intenso, porém menos audível.
E menos. E menos audível.

— Pelos céus, não me deixe aqui sozinho agora! — gritou. — Que idéia a minha de seguir um pássaro.

Quando já estava desistindo e se dirigindo à sua moradia novamente, uma forte luz o atravessou.
Assustado, resolveu olhar para trás.

E ele avistou algo.
Algo que, definitivamente, não estava esperando por tal.

Totalmente boquiaberta, Jeongguk andava lentamente para frente, afim de enxergar mais daquilo.

Era um lugar.

Um lugar bonito.

Esfregando seus olhos, para ver se era realmente real, o rapaz estava incrédulo.

Seria uma... cidade? Assim como a dele?

Era, de fato, um território amplo, assim como Gray. Mas definitivamente, não era como tal cidade.

Muitas e muitas árvores cercavam aquilo, haviam também muitas moradias: algumas pedras, outras rochas grandes, e até mesmo casinhas.
Flores de todos os tipos e de todos os tons da cor bonita, grama por toda a extensão.

Era completamente diferente de sua cidade, o que deixou o cinza mais curioso ainda.

Parecia ser um lugar extremamente tranquilo e harmonioso, com um ar puro e agradável, que o fez respirar fundo inevitavelmente. Estava fresco, e isso fez Jeon sorrir ainda mais. Ele se sentia muito bem naquele local.

E isso era estranho. Ora, ele nunca pisou os pés naquela terra, como poderia se sentir assim? Se alguém o visse, ele nem mesmo poderia imaginar o que aconteceria.

E o que diria? Que perseguiu um pássaro inocente e acabou encontrando um paraíso desconhecido?

Iriam é achar ele louco!

Enquanto encantava-se sozinho com o que acabara de encontrar, uma lembrança veio à mente como um flashback:

Morangos.

Jeongguk se lembrou de uma pequena aventura que teve com seu melhor amigo da época. Apesar de ter visto a mesma cor, tinha certeza de que nunca tinha pisado em uma cidade inteirinha dela. Era mágico.
Lhe trazia uma sensação de bem-estar misturado com nostalgia.

Se seu amigo ainda estivesse com ele, com certeza correria, neste exato momento, para descrever o que contemplava; mas infelizmente, o cinzento amigável sumiu. E ele nunca soube ao certo o porquê.

Muitas pessoas somem em Gray, mas ele não queria que seu melhor amigo fosse assim como o resto. Apesar da lembrança um tanto triste, Jeon sorria feito criança.
Seus olhos cinza-claros estavam brilhando tanto que pareciam uma constelação inteira.

Aquela cidade era... diferente, porém divertido. Totalmente distinto de tudo o que já vira antes.
Qualquer um que o visse perceberia que o garoto estava abismado.

Estava ali, sob seus grandes e redondos olhos, apenas uma dentre milhares de cidades que havia em seu misterioso mundo, porém que jamais fora visto por ele.

Até agora.

Uma terra onde não havia um resquício se quer de tristeza.

Era lindo.

Parecia até um outro mundo.
Um mundo feliz.

Um mundo, completamente....
vermelho.

🍓

"Só um sentido de invenção e uma necessidade intensa de criar levam o homem a revoltar-se, a descobrir e a descobrir-se com lucidez. "

— Pablo Picasso.

Grande parte dos dias de Taehyung são alegres. Com direitos à sorrisos bobos, cantos e poesias.

É, ele adorava escrever, tanto poesias quanto histórias das mais inimagináveis, e teorias também. Taehyung adorava imaginar tudo o que era possível, e impossível. Ah, e nem se fala em observar o céu! Era como um hobbie, sabia cada partícula daquela magnífica imensidão em forma de vermelho claro. De certa forma, isso lhe dava esperança.

Haviam dias em que ele se sentia triste, é claro.
E isso era... curioso; pois ele nunca sabia como iria se sentir no dia posterior. E, diferente das histórias que contavam sobre outras cidades, cada cidadão sentia algo diferente um do outro. Taehyung poderia estar feliz hoje, e Hadassa, sua amiga, poderia estar triste. Ou insegura. Ou com medo. E até... bom, era outra coisa que Tae não sabia explicar, muito menos sabia o nome, mas era um tanto frustrante.

Hadassa era uma boa amiga. Era alegre, criativa, assim como ele, um pouco chatinha às vezes, mas acontece. Ela o acompanhava em todas as suas aventuras. Aventuras que nunca saíram de suas férteis imaginações, é claro. Eles não costumavam ir muito longe, apesar de achar sua cidade espetacular.

Eram árvores para todos os cantos, das mais variadas espécies e tamanhos. Muitos, muitos frutos. Tons de vermelhos sem fim! Sua cidade era realmente encantadora de se ver, isso era certo. É o lugar perfeito para sua grande e maravilhosa imaginação funcionar. Às vezes, Taehyung se sentia o ser mais criativo de Berrie, sua tão bem falada cidade, porém não conhecida por todos.

Berrie.
Alguns nunca provaram daquela terra, outros achavam que provaram, e outros certamente conheciam;

Porém nem sempre isso era uma coisa boa.

Mas o avermelhado nunca soube disso. Todos os seres nunca souberam o real destino deles.

Talvez nem houvesse.

— Eu estou com fome e com sono.

— Ah, não me diga? você sempre está com fome.— caçoou Hadassa.

Não que aquilo fosse uma mentira. Taehyung costumava sentir muita fome mesmo, a todo momento. Mas é claro que o garoto nunca iria admitir isso.

Aff. Mas hoje é diferente, estou com fome e com sono.

— Eu lhe disse para não ficar acordado até tarde.

— Mas eu precisava terminar aquele parágrafo! Você sabe que quando começo algo, eu preciso terminar antes de fazer qualquer outra coisa.

— Sim, eu sei. Todos possuem defeitos.

— O que? Isso não é um defeito. É um traço de personalidade. — disse, orgulhoso de sua nova descoberta.

— Perso o que?

— Personalidade.

— E o que diabos é isso?— olhou dentro dos olhos do garoto.
— Inventando novas palavras de novo?

— Sim. Mas eu não só invento palavras.

— Hm. — resmungou Hadassa, a fim de que o garoto continuasse seu raciocínio.

— Eu sei o que elas significam! — falou Taehyung, baixinho, como se fosse um segredo.

— Se você inventa uma palavra, é claro que saberá o significado dela, ora. Foi você quem a inventou!

— Quanta insensibilidade.

— Só estou dizendo a verdade, como sempre.

— Mas às vezes, a verdade precisa ser filtrada. — retrucou. — Por falar em filtração, que tal você buscar água pra gente? Estou morto de sede.

— Sono, fome e sede. Mais alguma coisa?— disse risonha.— E espera, o que filtração tem a ver com água?

Ai Hadassa! Eu só falei.

— Ok, desculpe vossa excelência. — zombou. — Você está meio estressadinho hoje.

— Eu percebi isso também. Estou meio... ah, não sei dizer.

— Tudo bem. Vou pegar água para nós, também estou com sede.

— Ufa! — fez pausa para uma dancinha de comemoração.

— Céus. Você é ridículo! — disse sua amiga, rindo alto, o que fez Taehyung rir também.

Hadassa deu sua última fala, e foi logo pegar sua cesta para ir ao riacho e trazer água, para a felicidade do garoto.

-
Naquela tarde, Taehyung estava pensativo. Bastante pensativo, para dizer a verdade. Desde que acordou, sua cabeça estava pesada.

Não sabia dizer ao certo o que tanto lhe intrigava, e estava farto de tentar desvendar esse tipo de coisa. Então, para passar o tempo, começou a pensar na nova palavra que inventara ontem a noite.

Personalidade.

Isso era algo que Taehyung acreditava que todos os seres daquele vasto mundo desconhecido tinham. Mas o que era exatamente? Era nisso que Kim pensava a manhã toda. 

O rapaz sempre fora apaixonado por pessoas. Acreditava que havia belezas distintas que necessitavam ser apreciadas pelos olhos do mesmo.
Era isso que tornava as pessoas especiais: a singularidade. Como ele sabia dessas coisas? Pois observava, e assim chegava a conclusões. Seu objetivo era chegar ao ponto de bastar olhar para o ser para saber o que ele estava sentindo; se um dia iria chegar lá ele não sabia, mas mantinha suas sagradas anotações. 

É, ele anotava cada passo que as pessoas davam. Talvez, visto de fora, isso seria considerado algo estranho e até desconfortável para algumas pessoas. mas era apenas um método genuíno de aprendizado.

Hadassa estava demorando, e o vermelho já estava ficando cansado.
Então, fechar os olhos e descansar até a amiga vir parecia uma ótima ideia.

Um cochilo numa tarde tranquila era algo perfeito.
Seus olhos pareciam descansar profundamente sob uma brisa fria e gostosa que fazia naquele dia.

Cochilou por alguns longos minutos (que pareciam mais uma eternidade, de um jeito ótimo);
Até que, percebeu que algo estava errado ali. Seria tudo perfeito, se um sentimento estranho não estivesse o incomodando.
Com os olhos um pouco pesados, sentiu alguém lhe observando.
Não sabia dizer ao certo se aquilo era bom ou ruim, por isso resolveu olhar para o lado. E por um instante...

Seu coração parou.

Ele não sabia se estava acordado realmente, ou sonhando, já que isso ocorrera apenas três vezes em toda sua vida. Piscou os olhos diversas vezes, mas aquilo não desaparecia.

Era algo sem cor.
Sem vida.
Sem graça.

Nem mesmo em suas mais precisas observações, nunca teria contemplado aquilo.

Mas não era estranho, parecia até inofensivo. O ser desconhecido parecia ter encontrado um milhão de diamantes, pois seus olhos brilhavam, e muito. Ele parecia estar espiando, olhando para todos os cantos de Berrie. Sua cidade o deixara assim?

É, o rapaz não o julgava, qualquer um que visse aquela terra ficaria igual a ele. Mas o ser parecia inseguro. Feliz, mas desconfiado. Certamente, não notou a presença de Taehyung por um instante se quer. Parecia maravilhado demais para isso. Olhando diretamente a ele, começou a sentir algo estranho novamente; não sabia se isso era algo bom ou ruim.

No entanto, se lembrou de algo:

Fumaça.

Taehyung se lembrava de ter visto essa mesma coloração em uma fumaça. E isso não era uma lembrança tão agradável. O garoto lembrou-se de ter ouvido de uma vermelha mais velha que era perigoso. As pessoas que consumiram desta mesma fumaça, simplesmente sumiram.
Era realmente intrigante.

O que diria a Hadassa? Ela só teria mais motivos para continuar me chamando de louco.

Então, ele não contaria.

Ele deveria olhar de perto? Ou isso seria arriscado demais?
Milhões de perguntas vieram a sua cabeça em um instante. Taehyung pensou em ir embora dali, mas estava a espera de sua amiga e não poderia a deixar na mão.
Ignorando todos os pensamentos contraditórios, foi ver o que de fato aquilo era. Afinal, o diferente nem sempre precisa ser ruim, não é?

E isso era realmente diferente.
Era curioso e, de certa forma, bonito.
Ou,
misterioso.
Ou os dois.

Era algo completamente...
cinza.

🌫

Enquanto contemplava aquele maravilhoso e desconhecido lugar, algo mais curioso ainda lhe chamou atenção. Era um ser. Um ser vermelho.

Um ser assim como ele: cabelo, braços, mãos, olhos..

E que belos olhos.

Jeon não sabia dizer ao certo se aquilo mostrava-se perigoso. Afinal, era algo como ele; embora seja de outra cor. Isso afetava em algo? Eles sentiam as mesmas coisas?

Eles eram a mesma coisa?

O cinza obviamente não havia respostas pra nenhum dos questionamentos, então apenas ficou ali, observando.

Só que, inesperadamente, o ser vermelho começou a andar. Andar em sua direção. Jeongguk ao menos sabia que ele havia o notado. Não sabia o que fazer, provavelmente o expulsaram dali.

Era hora de agir. Então, colocou em prática seu plano-ultra-infalível para situações na qual ele não sabia o que fazer:

O cinza correu.

E como correu. Correu tão rápido que faltou ar em seus pulmões, assim como quando chorava demais em suas obscuras noites solitárias.

Para onde estava indo? O rapaz não sabia. Ora, nunca esteve em uma situação ao menos semelhante àquela!

Pode parecer irônico, mas correr sem rumo o acalmava, o fazia esfriar a cabeça e pensar com mais racionalidade. Quando percebeu que ou parava de correr ou certamente desmaiaria ali mesmo, apoiou suas mãos em seus joelhos e respirou fundo.

O que acabara de acontecer, afinal?
Era algo completamente fora do comum. Quando resolveu levantar a cabeça e olhar ao redor, viu que estava no início do local onde o tal pássaro o levou. Olhou para trás, e para frente novamente. Faltava pouco para chegar de volta à Gray, então apenas seguiu em frente, caminhando.

Mesmo se tivesse para quem contar, era certo que não poderia fazê-lo.
A partir de agora, era um segredo. Afinal de contas, segredo só é secreto se apenas uma única pessoa saber.

Então, naquela tarde, Jeon desenhou tudo o que inesperadamente vira.

Os papéis eram seu mais fiel amigo naquelas circunstâncias.
Por isso, logo logo seu livro ficou sabendo de tudo sobre sua recente aventura.

🍓

—Espera! — Taehyung gritou, inutilmente.

Carambolas!

O rapaz estava perdido. Não geograficamente, é claro. Mas confuso.

Parado em meio ao nada, depois de muito pensar e ao mesmo tempo não pensar, (pois era difícil raciocinar a situação) ele chegou a conclusão de que nunca chegaria a uma conclusão sobre aquilo.

Era algo que nunca jamais vira, e o que lhe restava era imaginar.

Inevitavelmente, um sorriso se abriu em seu rosto, demonstrando o entusiasmo que aquela ideia lhe trouxera. Era isso, iria imaginar tudo sobre o ser misterioso. Talvez até escreveria, para passar o tempo; apesar de que o rapaz acreditava que suas melhores criações eram guardadas apenas em sua grande imaginação, sendo assim incapaz de escrever em qualquer lugar que fosse. Essas criações iam além de palavras, e era isso que as tornavam mágicas.

— O que há com você, rapazinho? Já está falando sozinho, é? Acho que daqui a pouco terei que te chamar de senhorzinho.— disse Hadassa, em alto e bom som.

Reconhecendo muito bem a voz da amiga, Taehyung se virou rapidamente. Estava faminto e lembrou que ela teria trazido frutos.

—Muito engraçada você, daqui a pouco vou ficar vermelho de tanto rir!—disse o rapaz bem humorado.

Adorava fazer trocadilhos com sua cor.

— Onde estão os frutos?

Sua expressão passou de risonha para séria e confusa, vendo que não havia nada dentro dos cestos.

Frutos?

— Não se faça de boba Hadassa, você disse que iria colher frutos! Poxa, me deixou com expectativas. Estou faminto!— expressou seu desapontamento.

—Desculpa Tae, eu acabei me distraindo, só isso.

—Hm, distraindo, é? É a terceira vez que você diz isso. Está na hora de inventar desculpas mais criativas.

—Boboca.

O relacionamento de Taehyung e Hadassa era desse jeitinho. Eles conheciam cada olhar um do outro, poderiam se xingar a vontade que não teriam raiva, a não ser que fosse algo sério. Uma maravilha.

A lua estava próxima, no entanto, os amigos resolveram ficar ao ar livre esta noite. Observando as estrelas e falando sobre coisas. Esse certamente era um dos passatempos preferidos em sua amizade.

Preparados para descansar, Taehyung resolveu perguntar:

— O que você acha que há lá dentro?— o avermelhado questionou.

Estavam deitados sob a grama vermelha, apenas olhando para o alto com suas respirações tranquilas.

— Lá aonde? — rebateu Hadassa, distraída.

— Estou falando sobre o céu. Nós sempre vemos a superfície dele, mas nunca soubemos o que há dentro desta imensa cobertura que nos protege.

—Realmente.— a garota pareceu pensativa, embora não tenha pensado em muita coisa. —Talvez não haja nada.

E, por um momento, Taehyung prendeu a respiração sem ao menos perceber.

—Como assim, nada?— suas palavras saíram como se a amiga dissesse algo absurdo, o que fez ela rir baixinho.

— Como você disse, nós não sabemos o que tem lá. E a possibilidade de não ter nada existe.

— Mas isso não é legal. Nem trágico. Muito menos emocionante. Precisa haver alguma coisa! Afinal, é algo imensamente gigante, impossível não haver nada. Ora, nada...— mais uma vez, Taehyung demonstrou seu desapontamento naquele dia.

—Meu Deus, Kim!— riu ela.—Por que tudo precisa ter algo grandioso por trás? Você literalmente descarta qualquer possibilidade de não haver um grande significado em tudo.

Com uma expressão serena no rosto, Taehyung respondeu sem pensar muito:

— Pois é por isso que eu vivo, Hassi.

🌫

Naquela noite, Jungguk não estava triste. Mas também não estava feliz. Estava pensativo e inquieto.

Nem o cansaço o fez parar de pensar naquele dia. Contemplar a terra vermelha o fez refletir sobre diversas coisas. E a principal era: para que ele vivia? Quer dizer, questionar sobre sua existência não era incomum para ele, mas naquele caso, era diferente. É como se Gray não fosse o lugar certo, o lugar onde deveria estar. Jeongguk nunca se sentiu em casa, nunca teve um lar. Ele mergulhava suas lágrimas nas escritas de seu livro, mas aquilo não estava sendo o suficiente nesses últimos dias. Era confuso.

Jeon não deveria estar ali. Isso passava pela sua cabeça 24 horas ao dia, e nem é por odiar o local, é por simplesmente não se sentir em casa. Nunca. Ele nunca sentiu isso, e não sabia como era.

Nunca passou pela sua cabeça a possibilidade de algum dia saber o sentimento de estar em casa e ser amado, pois sabia que era tão impossível quanto ver porcos voando.
Ele apenas ficava se perguntando: Por quê? Por que tudo isso? Para onde sua vida o levaria? Ele iria apenas sumir como todas as pessoas na qual ele mantivera contato em sua medíocre vida? Então, qual o sentido de continuar vivendo?

Embora não soubesse o sentido de sua vida, não sabia como sair dali. Sair desse sentimento que tanto o prendia.

Mas ele precisava.

Respirou fundo, e se deitou.
Olhando para o cinza sob sua cabeça, e viajando mentalmente. Seus pensamentos aliviaram, já não pareciam uma metralhadora em sua cabeça. Agora, ele apenas pensava nas situações e nas coisas na qual vira a tarde.

Aquela cidade era realmente tentadora. Como seria viver lá? Aquele ser que vira mais cedo com certeza se sentia em casa, era impossível não se sentir confortável em um lugar tão belo. Se bem que, o tipo de coisas que mais viu ultimamente eram fora de lógica.

Cansado e alheio ao seus pensamentos, fechou os olhos e deixou-se levar pelo calor da noite.

— Há coisas que não nasceram para ser explicadas.— pensou alto, e logo logo, adormeceu.

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