Água e Fúria (Entre os Véus 2...

Door escrevethais

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- = POSTS ÀS TERÇAS E SÁBADOS =- -= PRIMEIRA VERSÃO, NÃO REVISADA. A versão final tem umas tantas alterações... Meer

Sinopse e Avisos
Prólogo
UM - Parte 1
UM - Parte 2
DOIS - Parte 1
DOIS - Parte 2
DOIS - Parte 3
DOIS - Parte 4
DOIS - Parte 5
TRÊS - Parte 1
TRÊS - Parte 2
CINCO - Parte 1
CINCO - Parte 2
CINCO - Parte 3
SEIS - Parte 1
SEIS - Parte 2
SEIS - Parte 3
SETE - Parte 1
SETE - Parte 2
OITO - Parte 1
OITO - Parte 2
OITO - Parte 3
FINAL

QUATRO - Parte 1

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Door escrevethais

Eu não quero falar sobre isso com Vanessa. Seguro o copo de café com as duas mãos e olho para o quintal da hospedaria. Ou melhor, para a mata lá no fundo.

Ter deixado uma muda de roupas na hospedaria foi uma ótima ideia, no fim das contas. Assim que voltamos, eu já fui tomar um banho gelado em um dos banheiros de hóspede e estava até começando a me sentir gente de novo mesmo antes de Nero avisar que tinha comida na geladeira e café pronto. Ficar aqui quer dizer que posso respirar e descansar um pouco, e ao mesmo tempo não vou precisar ver meus clientes, porque nenhum dos hóspedes vem na cozinha.

Suspiro e tomo um gole de café. Sei muito bem o que eu ia pensar se alguém virasse para mim e perguntasse se eu sabia que tem um homem-cobra morando no meu quintal. Ou melhor, na floresta que começa no quintal. Algo assim. E eu ia achar que qualquer pessoa que falasse isso é louca. Não, obrigada. Não vou trocar um rótulo por outro. Ao menos aqui Vanessa não acha que sou uma garota mimada que não está preparada para o mundo real só porque nunca consegui parar e fazer uma coisa só. Ela está tentando me ajudar. Se de repente ela começar a achar que estou doida porque estou tendo alucinações...

O pior é que não tenho a menor dúvida de que isso foi real. Nenhuma duvidazinha. Eu sei o que aconteceu. Sei que vi o homem duas vezes. Que caí no rio e ele me tirou de lá, de algum jeito, e depois, quando ele realmente apareceu para mim, visível e...

Foi real. Ponto. O que quer dizer que não tenho outra opção a não ser falar com Vanessa, mesmo que ela ache que sou louca. Não. Ela sabe de alguma coisa. Se não soubesse – se ela e Nero não soubessem de nada – não teriam falado tudo o que me disseram sobre a mata.

— Dai?

Balanço a cabeça e olho para a porta que dá para dentro da hospedaria. Claro que Vanessa ia chegar agora. Claro. Eu estava pensando que precisava falar com ela e ela simplesmente brota.

— O que tem de especial na mata? — Pergunto.

Vanessa olha para trás e fecha a porta. Interessante.

— O quê?

Tarde demais para tentar desconversar.

— O que tem na mata? Por que as pessoas desaparecem?

Ela cruza os braços e balança a cabeça.

— Eu não...

— Eu sei que tem alguma coisa, Vanessa — interrompo. — Acha mesmo que eu ia ficar três dias dentro da mata e não notar nada?

Vanessa solta o ar com força e balança a cabeça antes de vir na minha direção.

— Eu juro para você que não quero fazer isso. De verdade, Dai. Mas...

— "Mas" nada. Você sabe alguma coisa e não quer me contar, só isso.

Vanessa respira fundo e apoia as duas mãos na bancada, bem na minha frente.

— Sei. E não vou contar.

Encaro a bancada e bato o punho fechado nela. De todas as reações que eu imaginei, não esperei por isso. Não mesmo, não de Vanessa. Achei que ela era melhor. Que podia confiar nela.

— Você...

— O que é que você fazia na floresta quando era criança? — Vanessa pergunta.

Balanço a cabeça.

— Isso não...

— Por que é que vocês foram embora da cidade?

— Eu não...

— Por que você não se lembra de nada?

Engulo em seco. Isso não tem nada a ver. Não tem. É completamente diferente do que aconteceu quando eu estava na mata. Estou falando de uma coisa que aconteceu ontem, não de anos atrás.

Não. Não.

Me endireito de uma vez e encaro Vanessa.

— Eu pensei nisso. Sobre eu não me lembrar de nada, nem de perguntar o que importa. Eu pensei que podia ter alguma coisa a ver, que no mínimo era mais uma coisa estranha...

E os sonhos. A sensação de que eu conheço aquele homem.

— Mesmo se você tivesse conseguido perguntar, eu não teria respondido nada — Vanessa fala. — Nem Nero. Não podemos arriscar sem saber de onde vem isso tudo sobre sua falta de memória.

— Eu não...

— E o risco não é só para você — ela me interrompe. — Se fosse, sim, seria sua escolha. Mas não é.

— Então você não vai me contar nada até eu me lembrar do que aconteceu aqui quando eu era criança.

Vanessa balança a cabeça.

— Me desculpe, de verdade. Mas não posso contar nada.

Não. Não assim. Eu preciso saber o que está acontecendo e pelo menos a resposta de Vanessa já serviu para me dar certeza de que não foi uma alucinação. E isso tem a ver com tudo o que eu esqueci, de alguma forma.

Bebo o resto do café de uma vez e me levanto.

— Obrigada.

Não sei como ainda consigo falar isso. Minha vontade é xingar, só isso. Vanessa tem as respostas. E se ela não vai falar nada...

Rafaela. É isso. Rafaela é louca o suficiente para acreditar em mim e para me contar se souber de alguma coisa.

Vanessa não fala nada quando pego minha mochila e saio pela porta que dá para o quintal. Ótimo. Eu entendi o que ela falou sobre não poder me contar por que tem algum risco e tudo mais. Juro que entendi. Mas... Eu preciso saber. Simples assim. Preciso entender. Minhas memórias, o rio, o homem-cobra... Tudo está ligado e eu não consigo ignorar essa sensação de que estou perdendo alguma coisa importante.

Não me dou ao trabalho de dar a volta na casa para sair na rua de novo. Não. Eu vou é direto atrás de Rafaela. Sei que deveria estar cansada, mas não estou. Quer dizer, não o tanto que achei que estaria depois de três dias de caminhada, então andar mais um pouco não vai me matar.

Atravesso a propriedade vazia do lado da hospedaria e entro na mata de novo. Dessa vez é só um atalho – é mais fácil atravessar por aqui até a trilha que vai para a casa de Rafaela do que dar a volta toda para ir para a rua, seguir o caminho para a praia e depois virar na trilha certa. Não que eu tenha ido muitas vezes na casa dela, mas... Isso parece certo.

Rafaela é conhecida como a bruxa da cidade. Ela mora sozinha em uma casa um pouco fora do caminho entre a cidade e a praia e nos meses mais movimentados, quando por algum motivo aparecem pessoas de fora para curtir a praia, ela vende lembrancinhas, artesanato, leituras de tarô e mais umas tantas coisas do tipo. No resto do ano ela vende ervas e chás medicinais para o pessoal da cidade e eu não faço ideia de como é que ela consegue viver disso.

E ela é amiga de Vanessa, o que quer dizer que foi uma das primeiras pessoas daqui que conheci. Não que eu tenha tanto contato assim com ela, mas Rafaela às vezes precisa de ajuda com as compras quando vem na cidade, uma vez a cada duas semanas ou menos.

É. Tem isso também. Quando Rafaela vem na cidade, ela faz compras. A ponto de precisar de ajuda, e isso levando em conta que ela tem uma picape. Não tinha pensado nisso antes, mas ela mora sozinha. Não tem nem como usar tudo o que compra. Não mesmo.

Eu acho que estou ficando paranoica.

Ajeito melhor a mochila nas costas – a essa altura o peso dela já virou coisa normal – e acelero o passo. Quando antes chegar na casa dela, melhor.

Não demoro para achar a trilha que dá na casa de Rafaela. Essa é a vantagem de uma cidade tão pequena: tem tão poucos lugares para ir, que não tem como me esquecer do caminho para os que já fui algumas vezes.

A casa de Rafaela é pequena. Mais que o suficiente para uma pessoa morando sozinha, com certeza, e mesmo assim maior que o apartamento onde eu cresci. As paredes do lado de fora são verde musgo e nada me faz parar de imaginar que ela está tentando se camuflar no meio das árvores.

Paro na porta. Não estou ouvindo nada, mas é quase impossível Rafaela não estar em casa. Pelo menos é o que parece. Só vejo ela saindo para fazer compras ou então passar um tempo na hospedaria. Mais nada.

— Rafaela?

Escuto um ruído abafado. Alguma coisa batendo na parede, parece.

— Já vai!

Coloco minha mochila no chão, apoiada na parede ao lado da porta. Okay, acho que a coisa sobre não estar cansada era uma ilusão, porque agora a vontade de desabar na cama e dormir por dois dias está batendo de uma vez só.

Escuto passos pesados e Rafaela abre a porta.

— Dai? Pensei que estava fazendo trilha com os pesquisadores ou coisa assim.

Indico a mochila com a cabeça.

— Estava. Mas preciso falar com você.

Ela me encara por um instante e levanta as sobrancelhas.

— Ceeeerto... Vamos, entra logo, então.

Empurro a mochila para dentro e paro. Ela mudou a sala de novo desde a última vez que vim aqui. Os quadros nas paredes são outros, minimalistas e abstratos, as cadeiras baixas de fio trançado são novas e o tapete de crochê também. Acho que é a terceira ou quarta mudança que eu vi.

Empurro a mochila para dentro e desabo em uma das cadeiras. Rafaela só balança a cabeça e fecha a porta.

— Quer alguma coisa? — Ela pergunta. — Água, café, energético...

Balanço a cabeça.

— Estava tomando café na hospedaria. Se tomar mais não durmo depois. Só vim aqui porque... — Dou de ombros. — Preciso conversar com alguém que não vai achar que sou louca.

Rafaela suspira e se senta também.

— E obviamente a louca da cidade não vai achar que outra pessoa é louca.

Algo assim. Mas não vou nem falar isso em voz alta.

E agora não sei o que falar.

— O que foi? — Rafaela pergunta.

Só tenho que perguntar se ela sabe o que acontece na mata. Só isso. Primeiro. E depois... Depois pergunto sobre ele.

Dou um pulo na cadeira quando alguma coisa cai mais para dentro da casa. Alguma coisa quebrou com toda certeza.

— O que foi isso?

Rafaela faz uma careta.

— Gatos sendo gatos.

Gatos?

— Você tem gatos?

Ela dá de ombros e revira os olhos. Tá, pergunta idiota, certo.

E se ela não está nem aí para o barulho, não sou eu que vou me preocupar. Não é minha casa.

Ou seja, de volta ao que me fez vir aqui.

— Você sabe por que as pessoas desaparecem na mata?

Rafaela se inclina para trás na cadeira.

— O que você quer saber, sem ficar dando voltas?

Balanço a cabeça com força. Ela não vai responder. Argh.

Me levanto e paro. Não tem espaço nem para andar de um lado para o outro aqui. Quer dizer, não o suficiente para me acalmar ao menos um pouco.

— Exatamente isso. Se você sabe por que as pessoas desaparecem na mata.

— Sei.

Olho para Rafaela. Ela continua sentada na mesma posição, me encarando como se não tivesse falado nada demais. E... Não é a Rafaela que eu conheço. Tem alguma coisa na sua expressão, na forma como está me encarando...

— Bruxa — murmuro.

Ela levanta as sobrancelhas.

— Não é só como te chamam — continuo.

Rafaela não fala nada, mas não preciso de uma confirmação. Não disso. Eu não faço ideia do que "bruxa" quer dizer, de verdade, mas não é só um apelido. E, agora, não me importo.

Se ela tem alguma coisa de diferente, então talvez realmente saiba sobre ele.

— O que acontece na mata? — Repito. — Por que as pessoas desaparecem?

Ela solta o ar devagar e a impressão de algo a mais desaparece. É só Rafaela ali, a mesma pessoa que passou noites bebendo comigo e com Vanessa, contando casos e rindo.

— Quem desaparece é porque estava onde não devia — ela fala. — Quem só se perde acha o caminho de volta.

— E se eu não tivesse ido com os pesquisadores?

Rafaela dá de ombros.

— Teriam desaparecido, provavelmente.

— Por quê?

— Você viu alguma coisa. Isso quer dizer que estavam onde não deveriam.

Desabo na cadeira de novo. Simples assim. Como se fosse óbvio e...

Eu vi alguma coisa, sim.

— Vi um homem. Só que ele não era humano.

Rafaela abre a boca e para, me encarando.

— Você viu um homem — ela repete.

Assinto.

— Que não era humano — Rafaela continua.

Assinto de novo.

— Um homem que era meio cobra — completo.

Rafaela respira fundo e balança a cabeça antes de se levantar.

— Eu até gosto de você, sabe. Mas não o suficiente para comprar uma briga com ele por ter te falado alguma coisa.

Ela sabe. Eu sabia. Ela conhece ele.

E não é tão simples assim.

— Por favor. Eu... Não sei explicar, mas preciso entender o que aconteceu. O que eu vi, ele...

Rafaela balança a cabeça.

— Talvez esquecer seja mais fácil.

Fácil. Fácil para ela que não tem um pedaço da vida faltando.

— De novo?

E não sei se é por isso que não me lembro de nada de quando era mais nova, mas faz sentido. Faz sentido até demais.

Rafaela dá de ombros.

— É a única coisa que posso fazer para ajudar.

Paro e olho para ela. Isso quer dizer...

— Foi você que me fez esquecer.

Não. É loucura. Agora estou passando do limite mesmo. Não tem como uma pessoa apagar a memória de outra assim. Nem uma bruxa, seja lá o que isso seja de verdade.

Ela abre a porta. Certo. Entendi o recado.

Me levanto e pego minha mochila. Dessa vez não consigo nem espremer um fio de educação para agradecer antes de começar a andar pela trilha que vai dar na cidade de novo.

— Daiane?

Olho para trás. Rafaela ainda está parada na porta, me encarando.

— Não fui eu. Nem estava aqui na época que sua família se mudou. Mas provavelmente foi alguém como eu.

***

N.A.: licença rapidinho que preciso resmungar porque SOCORRO que capa mais difícil de acertar aaaaaaaaaaa faz mais de um mês que eu estou tentando terminar a capa desse livro. sem brincadeira. tinha esquecido o tanto q detalhes pintados são um saco de fazer com mouse... e isso porque nem tive que pensar em cabelo ainda.

enfim, é isso, só queria resmungar mesmo hahahaha e aliás, se tiver algum erro bizarro aí no meio, sorry mas to escrevendo ou logo depois de acordar ou no auge da madrugada. duvido nada que esteja passando umas coisas bem estranhas kkkkk

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