Água e Fúria (Entre os Véus 2...

By escrevethais

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- = POSTS ÀS TERÇAS E SÁBADOS =- -= PRIMEIRA VERSÃO, NÃO REVISADA. A versão final tem umas tantas alterações... More

Sinopse e Avisos
Prólogo
UM - Parte 1
UM - Parte 2
DOIS - Parte 1
DOIS - Parte 2
DOIS - Parte 3
DOIS - Parte 4
DOIS - Parte 5
TRÊS - Parte 2
QUATRO - Parte 1
CINCO - Parte 1
CINCO - Parte 2
CINCO - Parte 3
SEIS - Parte 1
SEIS - Parte 2
SEIS - Parte 3
SETE - Parte 1
SETE - Parte 2
OITO - Parte 1
OITO - Parte 2
OITO - Parte 3
FINAL

TRÊS - Parte 1

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By escrevethais

Encaro o mar. É tão estranho sair do meio da mata direto para a praia e ver o mar logo ali à frente. Sei lá, parece que está faltando alguma coisa, uma transição. Se bem que de acordo com o que Marcos falou, existe um tipo de transição e é exatamente por isso que quiseram parar aqui. A última parada. Amanhã cedo já começamos a voltar para a cidade... Não que isso vá ser uma coisa demorada. Se eles não insistirem em parar toda hora, dá para estar na hospedaria logo depois do almoço.

E isso é só mais uma das coisas estranhas nisso tudo. Três dias andando no meio do mato – tudo bem que dei várias voltas para ir nos lugares que eles precisavam – sendo que no fim das contas estamos muito perto de casa. Mas, ao mesmo tempo, parece que estou num lugar completamente diferente.

As barracas estão montadas em mais uma das várias clareiras que estão por toda parte. Até pensei na possibilidade de montar o acampamento aqui na praia, mas isso foi antes de lembrar que íamos estar na areia, porque essa cidade é cheia de coisas estranhas assim. Ou seja, sem estabilidade nenhuma, melhor ficar dentro da mata. Pelo menos estamos longe do rio.

Um arrepio me atravessa e não vou nem fingir que é frio. Pode até estar ventando um pouco, mas ainda está quente. Quanto o sol terminar de se por provavelmente vai esfriar um pouco, mas não tanto quanto ontem à noite.

Ontem à noite. Isso é mais estranho que qualquer coisa que já ouvi que aconteceu na cidade. Eu tenho certeza absoluta de que aquilo aconteceu – eu saindo da barraca e correndo, o homem me perseguindo e eu caindo no rio. Só não consigo entender o que veio depois. Como eu fui parar de volta na barraca, como se nada tivesse acontecido. Não faz sentido. Nem um pouco. É tão mais fácil pensar que foi só um sonho. Mas foi real demais. Não tem como não ter sido real.

E o homem. Eu não consegui prestar atenção nele. Não consigo nem me lembrar do rosto dele. Mesmo assim... Não sei. Agora que deu para pensar melhor no que aconteceu, não parece que ele queria fazer alguma coisa comigo. Aquele "não" logo antes de eu cair no rio... Não sei. Só isso. Não sei.

Cruzo os braços quando um vento mais frio sopra. Certo. Melhor voltar para o acampamento, mesmo que seja logo ali atrás. O sol está quase sumindo no horizonte e depois vai escurecer bem depressa. Não quero correr o risco de me perder na mata. De novo.

Eles acenderam uma fogueira, de novo. Não vou nem reclamar.

— Como que a praia está? — Marcos pergunta.

Dou de ombros.

— Deserta.

Obviamente.

— É sempre assim? — Clarisse pergunta. — No tempo que estamos aqui foi raro ver gente na praia.

Como é que eu vou saber? Estou na cidade faz só uns meses.

— Nem ideia. Quase não vim aqui.

— O que provavelmente já responde — Marcos fala. — Os moradores da cidade mesmo não devem vir tanto aqui.

Possível. No meu caso, foi mais porque estava preocupada demais tentando dar um jeito de não ter que voltar para a casa da minha mãe. Quase todas as vezes que vim perto da praia foi porque estava ajudando Rafaela com alguma coisa.

Robervan me passa um sanduíche e me sento no chão, perto da fogueira. Pensei que fossem fazer alguma coisa quente, já que se deram ao trabalho de fazer a fogueira e tudo mais, mas pelo visto a preguiça falou mais alto. Ou o cansaço. Não que eu esteja reclamando, de qualquer forma.

A fogueira.

Isso é loucura. Com certeza é loucura. Mas não tenho outro jeito de saber.

Pego mais um sanduíche e continuo comendo em silêncio, enquanto os três discutem sobre o que gravaram, fotografaram e recolheram hoje. Não consigo entender metade do que estão falando, de qualquer forma. As palavras fazem sentido separadas, mas as frases parecem outra língua. Não que isso seja uma surpresa. Não entendo nada sobre as áreas deles. Meu negócio é coisas que posso fazer.

Não demora muito para Marcos espreguiçar e começar a olhar para a barraca. Ótimo. Isso quer dizer que daqui a pouco vão dormir.

— Podem deixar que eu apago a fogueira — falo.

— Tem certeza? — Robervan pergunta. — Porque aí você vai ter que esperar...

Dou de ombros.

— Não estou com sono mesmo.

O que não é uma mentira. Ainda estou remoendo o que aconteceu ontem. Não vou conseguir dormir até ter uma resposta – mesmo que essa resposta seja só uma confirmação de que eu estou ficando doida.

— Não sei como, considerando o tanto que andamos... — Clarisse comenta.

Rio e dou de ombros de novo. Errada ela não está. Só que minha cabeça não vai me deixar dormir.

Marcos se levanta e rola os ombros para trás.

— Então, já que você se ofereceu, eu pelo menos vou dormir.

Não falo nada. Já conheço a rotina: depois que o primeiro vai dormir, os outros não duram nem dez minutos.

Clarisse ainda se oferece para me fazer companhia, mas não insiste quando falo para ela ir dormir. Ótimo. Tudo o que eu quero agora é ficar sozinha mesmo, encarando o fogo e esperando o silêncio.

O barulho das ondas é calmante, de certa forma. É um ruído um pouco abafado, mas constante. Se eu só fechar os olhos e ficar ouvindo, a mistura disso com os barulhos da mata – os grilos, os animais pequenos correndo, uma coruja piando – não parece tão estranho a praia ao lado da mata. Tudo encaixa, de alguma forma.

E é familiar. Como? Eu me lembro de vir para a mata, mas não de vir tão perto da praia. Não me lembro de nada da praia, na verdade, o que não faz sentido. Mas os sons da mata...

Os sons que desapareceram.

Olho ao redor. A luz do fogo não é das mais fortes e não consigo ver nada além das silhuetas dos troncos das árvores ao redor da clareira. Mas não preciso ver.

Me levanto devagar. Ele está aqui. A sensação de que tem alguém me encarando é forte demais para não estar. Olho ao redor de novo, mais devagar agora. Acho que devia ter ficado com uma das lanternas, mas como estava do lado do fogo nem pensei nisso. Tarde demais agora.

Vou na direção das árvores. É loucura, mas já me conformei com isso. Só preciso saber.

Escuto o mesmo ruído de ontem – algo rastejando. Ele, mesmo que isso não faça sentido. E se está se movendo...

— Espera — chamo.

O silêncio parece que fica mais pesado e consigo ouvir o farfalhar das folhas quando uma brisa passa. Não sei o que mais posso fazer. Correr atrás dele? Não faço ideia de onde ele está. A única coisa que posso fazer é esperar e torcer para não estar louca.

Uma silhueta mais escura aparece no meio das árvores, bem na minha frente, e o ruído de algo rastejando começa de novo.

Continuo parada no lugar. A silhueta vem chegando mais perto, até que consigo ver um rosto de traços largos, com aquela coisa a mais que parece que chama a atenção por si só. Os olhos do homem são escuros e ele tem o cabelo comprido, caindo pelas suas costas e seus ombros. Braços definidos, sem chegar a ser musculoso, e eu acho que ele não está vestindo nada porque seu peitoral é tão definido quanto os braços e seu abdome também...

Engulo em seco e respiro fundo quando ele se aproxima mais do fogo. Agora o som de algo rastejando faz sentido. Até ele não estar vestindo nada...

É uma cobra. Onde deveria ser o quadril dele, a pele muda para escamas escuras e o que está ali não são pernas, é uma cauda grossa. O ruído rastejante volta e olho para trás. Uma cauda grossa e longa, porque ela está atrás de mim, também, me cercando.

Olho para o homem de novo. As escamas refletem a luz do fogo de uma forma estranha, mas isso é coisa para pensar depois. Agora eu deveria estar com medo, no mínimo. Pensando que realmente estou louca, talvez, porque um homem com cauda de cobra é impossível. Mas só consigo pensar que isso é certo, de alguma forma. Que um peso que eu não sabia que estava carregando desapareceu.

— Você não deveria estar aqui — ele fala.

Você não deveria ter voltado.

É como no meu sonho. É meu sonho, de alguma forma. Só que não é. Não é um sonho.

Estico uma mão na direção dele. O homem me encara por um instante antes de olhar para minha mão, mas não acho que isso seja um aviso. Pelo menos não parece ser.

A pele dele é fria. Mais fria que a minha, pelo menos. E real. Não é uma ilusão ou alucinação. Minha mão está no peito dele e consigo sentir o ritmo da sua respiração e a vibração quando ele solta um chiado baixo – um som mais perto do que uma cobra faria do que algo humano.

Isso não é novo. Nem estranho. Eu conheço isso. Conheço ele. Ou, pelo menos, deveria conhecer.

— Você é real — murmuro.

Ele me encara de novo e seus olhos brilham com um tom de verde que não tem como ser humano.

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