Uncover

By averyvelez

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Melanie nunca mais se sentiu a mesma desde que perdeu sua memória em um acidente. E realmente, ela de fato, n... More

The Accident
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Mau Pressentimento
Ela está de volta
Algo de errado com Joel
Desabafo Amigável
Certas coisas não mudam.
As consequências da bebida
Bipolaridade

Apenas amigos

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By averyvelez

JOEL

Essa semana estava sendo bem difícil para mim, tenho que confessar. Eu não conseguia ter cabeça pra ficar muito tempo no estúdio e o que tempo que ficava não conseguia extrair nada de criativo e muito menos alguma melodia. Os meninos perguntavam se eu estava bem e a resposta era sempre que estava. Até porque nem eu mesmo sabia o que eu tinha, não teria como explicar pra ninguém também.

Eu tentei fingir que estava tudo bem, estava conseguindo, de verdade. Até ouvir sem querer a conversa de Melanie e Zabdiel no provador. Eu mesmo já estava cansado de todo o drama diante da minha situação com ela. Queria evitar ficar mal e até chorar pelos cantos, mas certas coisas atingem mais forte que outras. No momento em que ela despejou tudo o que sentia e achava sobre mim, eu não sabia o que era pior: a definição dela sobre mim, ou o que eu representava na possibilidade de um relacionamento, o que nessa altura, eu já havia descartado a possibilidade faz tempo.

Demos certo uma vez e pronto, tivemos a nossa chance e nem foi um relacionamento oficializado. Não teve um pedido. Mas não que eu não quisesse namorar com ela naquela época, eu queria... e muito. Mas certas circunstâncias me faziam ter dúvidas, como por exemplo a chance de estragar a nossa amizade. Coisas que hoje em dia são completamente estúpidas para mim, visto como a situação da minha "relação" com ela se encontra no atual momento.

Há poucos minutos ela tinha me dado um remédio e me mostrado seu teto lindo, estávamos deitados lado a lado e eu não podia estar mais confuso ainda com ela. Uma hora ela falava mal de mim, na outra agia normalmente e me mostrava o teto, sendo totalmente descontraída comigo. As vezes acho que prefiro o desprezo dela do que algum fio de afeto por mim. Na teoria era mais fácil se fosse assim, já na prática tudo muda.

Literalmente não estava sendo fácil.

— Rolou alguma coisa? Vocês conversaram? Contou a ela que você a conhece há anos, só que ela não se lembra? — Erick me bombardeia com várias perguntas enquanto saíamos do quarto de Melanie. Ela tinha se apressado pra fazer a comida, então estávamos sozinhos.

Voltamos pra sala e os outros estavam sentados na bancada conversando entre si e provavelmente espionando o que Melanie estava cozinhando. O que me chocava era Erick estar comigo e não lá.

— Não para suas três perguntas. Sabe que eu não vou atrapalhar a felicidade dela com Christopher e ser totalmente egoísta revelando tudo. — respondo, observando Melanie cozinhar. Ela estava com os fones de ouvido, dispersa de qualquer coisa alheia e as vezes fazia uma dancinha com as panelas. Era divertido de ver.

— Tem razão, você prefere ser um mentiroso. — ele dá tapinhas em meu ombro. Estávamos no sofá, longe de todos, só assim Erick conseguia me perturbar em paz.

— Estou só ocultando a verdade pelo próprio bem dela.

— Claro. — ele diz, com um tom irônico.

— Ela está feliz, Erick. Isso que importa. — torno a olhá-la.

— É óbvio que ela está feliz, eu estou na vida dela.

— Claro. — é minha vez de ser irônico.

Depois de quase uma hora e meia, eu e os outros estávamos vendo um filme qualquer e confesso, o cheiro da comida estava ótimo. Christopher mal podia se concentrar no filme porque queria mais que tudo comer logo. Podia passar anos, ele não mudava.

— Sei que estão todos com fome, principalmente o Christopher, então podem vir comer. — Melanie nos chama, e eu sinceramente fico bem surpreso quando chego até a mesa.

Quando eu a conheci, ela não tinha nenhum dom culinário e aquilo ali agora estava incrível. Parecia até a mesa de ação de graças de tão bonito que estava.

— Eu fiz frango a parmegiana, arroz, salada e batata frita especialmente pros dois aqui. — ela aponta para Erick e Chris — Também fiz um molho especial e tem uma torta de limão quase pronta. Espero que vocês gostem.

Nos sentamos, e na primeira garfada que dei, já me senti no paraíso. Limpei a boca, e não pude deixar de elogiá-la:

— Isso tá muito bom. — digo, colocando mais do molho no frango.

— Obrigada. — ela sorri.

Todos também elogiam a comida dela e ela parece até uma ganhadora do masterchef. O sorriso ia de orelha a orelha e ver aquilo me deixava feliz, muito feliz.

— Ela é ótima, né? Nem sei porque vive pedindo comida fora se pode cozinhar tão bem. — Lexie a elogia, enquanto a abraça de lado.

— Você sabe que é só por pura preguiça. — Mel tenta justificar.

— Vocês nunca falaram como se conheceram. — Richard observa.

— Ah, longa história...

— Vamos contar, vai. — Lexie pede a Melanie, e não demora muito pra ela ceder, aceitando contar.

— Eu e Lexie nos conhecemos desde sempre praticamente. A gente se conheceu quando eu tinha 5 anos e ela 6. Nossas famílias eram vizinhas, e eu e ela não demoramos muito para ficarmos amigas.

— Ah, demoramos sim. — Lexie a interrompe — Você era toda gótica e antissocial. Quando finalmente decidia sair da toca, sua mãe te barrava.

— É, ela só era presente nos momentos errados. — ri fraco — Mas voltando, eu não era gótica, só ficava assim pela minha mãe. E enfim, eu não me lembro ao certo quando eu e Lexie viramos amigas, só sei que ficamos inseparáveis. Fomos crescendo juntas, passando por perrengues familiares juntas, e etc.

— Perrengues familiares? Como assim? — Zabdiel pergunta, despertando nossa curiosidade.

— Bom, eu não tinha pai porque ele saiu de casa quando eu tinha 2 anos e nunca mais procurou eu ou a minha mãe. E a Melanie tinha a mãe dela, mas sinceramente era a mesma coisa que nada. Se ela aparecia uma vez por mês em casa era muito. Aquela mulher acabou com a infância dela. Então minha mãe era como uma mãe pra Mel, e o pai dela eu considero meu pai também. Parece até história de filme, mas infelizmente é bem real. — Lexie termina de explicar e segura a mão de Mel.

Eu sabia que falar da mãe a deixava arrasada, então tentei mudar de assunto enquanto os outros não sabiam o que fazer e ficavam parados:

— Mas como foi a adolescência então? Contem alguma história.

— Ah, então. Não foi exatamente na adolescência, mas eu fui a primeira a arrancar um dente dela. — Lexie ri.

— É uma história que vou querer ouvir? — Erick pergunta meio receoso.

— É só um dente, você aguenta. — Melanie sorri. Ai ai, aquele sorriso...

— Continuando. — Lexie pigarreia — Melanie tinha um medo bizarro de arrancar dente e fazia um escândalo insuportável por isso. Toda vez que um dente ficava mole era um drama até ele cair. Mas, na primeira vez foi pior ainda, ela ficou tão desesperada que até parecia que o pai dela tinha morrido.

— Em minha defesa, eu sentia muita dor, por isso o meu escândalo totalmente justificável. — ela levanta as mãos.

— Cala a boca. — Lexie tampa sua boca — Enfim, ela não tinha coragem pra arrancar e o pai dela não estava em casa, ou seja, sobrou pra amiga aqui. A gente tinha visto na televisão uma vez que amarrar um fio na maçaneta da porta e depois no dente arrancava bem rápido. Foi o que eu fiz.

— NA PORTA? — Chris arregala os olhos.

— Sim, aquele dia tá na lista dos piores da minha vida. — Mel faz uma careta, provavelmente por lembrar disso.

— Tá, mas e aí? O que aconteceu depois? — pergunto bem curioso, já que Melanie nunca tinha me contado essa história. Eu nem sabia que ela tinha trauma de arrancar dentes.

— Bom, eu a sentei no vaso e consegui por um tempo acalmá-la. Quando ela menos esperou, eu fechei a porta com toda a minha força. — Lexie tenta segurar o riso — Se o chilique estava pior antes, depois disso foi ainda pior por conta de todo o sangue saindo muito rápido pela boca dela. Parecia que nem toda a água com sal do mundo podia parar aquilo.

— Foi um dia horrível, tá bom? O sangue não acabava e ela tinha deixado um buraco gigantesco na minha gengiva.

— Não tenho culpa se seu dente era enorme, minha filha. Mas, resumindo, no final deu tudo certo e a Melanie ficou uma semana sem falar comigo. Boba desde a infância.

Eu e os garotos não conseguimos conter a risada. Eu só conseguia imaginar a cena inteira, desde o dente sendo arrancado até a Melanie ficando brava com a Lexie.

— Fiquei mesmo! Daí em diante eu só ia arrancar meu dente no dentista e ainda pedia anestesia pra isso. — Mel esconde o rosto no braço de Christopher. Tive que me segurar bastante pra não soltar um suspiro ou ir abraçá-la.

— Pelo visto vocês têm muitas histórias mesmo. — Zabdiel diz, passando a mão na barriga. Não ia demorar muito pra ele abrir o zíper e se sentir menos cheio pela comida.

— Sim, temos. Uma vez a Lexie me arrastou pra uma festa muito ruim, e acaba que ela achou que estava saindo por cima, mas não era exatamente como ela queria.

— Como assim? — perguntamos.

— Lexie achou que estava pegando um homem, mas quando foi ao banheiro com ele, viu que não era bem um homem.

— E o que você fez? — pergunto, me virando para Lexie

— Ué, eu fiquei meio assustada por não ter diferenciado na hora, mas fiquei com ela mesmo assim. Somos até amigas hoje em dia. — ela pega o celular e nos mostra a foto. Realmente não parecia uma mulher, ela era, inclusive, mais bonita que eu.

— Mas e vocês? Não têm histórias pra contar? — Melanie pergunta.

— Sim, temos. — antes que qualquer um pudesse falar, Zabdiel toma a frente — A gente se conheceu no reality "La Banda", e eu e Christopher fomos os primeiros a realmente fazer amizade. Inclusive, se eu soubesse que hoje em dia ele ia ser três vezes mais insuportável, eu fingia que nem o conhecia. — Zabdiel recebe um soco forte de Christopher no braço. Sempre admirei aquela relação de amor deles.

— Eu sempre fui o mais legal e basicamente era amigo de todos. Todos me amavam. — ele joga a franja e pisca.

Típico.

— Voltando. — Zabdiel levanta o dedo, sinalizando para Christopher calar a boca — Nos conhecemos nesse reality, fomos convivendo, graças a Deus vencemos, formamos a banda e bom, temos tantas histórias que passaríamos a noite contando.

— Vou resumir. — Erick o interrompe — Christopher é o que sempre pega várias mulheres, então sabemos como são as histórias dele e sinceramente não sei como ele não tem nenhuma DST. Richard é o corno do grupo, então Lexie, por favor, não aumente mais o chifre do nosso amigo. Zabdiel quando a gente pensa que ele tá com uma, ele aparece com outra. Sorte nossa que ele não tá mais com a namorada louca e obsessiva dele. Chris só pega, Zabdiel já quer namorar e levar pra família conhecer. Tenho medo de acordar em um dia e ele dizer que está namorando com a minha avó, porque o nosso menino aqui só gosta das mais velhas que ele. Já eu faço o que posso quando ativo meu modo galã e levo todas as ficantes mais sérias pra Disney. — ele pisca — e o Joel: Pimentel. — todos riem da minha definição, menos eu. Cruzo os braços e encaro Erick.

— Eu não menti. — ele ri.

— Mas por que o Joel não tem definição de como seria as histórias dele? — Melanie questiona. Aquela altura eu só queria cavar um buraco e ficar nele para sempre.

— Porque ele é chato. — meus amigos dizem juntos, quase como um coro. Com amigos assim eu não precisava de mais nada.

— Não tenho culpa se não sou igual a vocês. — retruco.

— É até fofo. — Lexie aperta minhas bochechas, me deixando completamente sem graça.

Melanie só observava a cena e ria. Posso garantir que a Melanie de alguns anos estaria rindo de mim e falando que eu era um homem pra casar. Talvez eu não fosse, mas ela sim, e o homem que ela escolhesse ia ser o mais sortudo do mundo.

Eu por um momento fiquei disperso da discussão que tinha começado entre eles pelas definições de Erick, e minha atenção estava em Melanie. Provavelmente eu estava olhando pra ela de um modo incoveniente, porque ela sussurra para mim:

— O que foi? — ela diz, do outro lado da mesa.

— Nada. — sussurro de volta disfarçando, e posso ver que ela não se contenta com a minha resposta quando o copo em sua mão para na beirada de sua boca e recua até a mesa. Ela sinaliza para eu acompanhá-la e se levanta.

Eu só faço o mesmo e vou atrás dela, que entra em seu quarto. Creio que ninguém perceberia nossa ausência porque estavam entretidos demais na conversa entre eles e tenho certeza que demoraria até notarem.

Quando entramos no quarto, Melanie sentou na cama e eu permaneci encostado na parede ao lado da porta esperando ela emitir alguma palavra. Mas ela só olhava pras pernas pequenas enquanto as balançava.

Já era a minha segunda vez no dia ali, mais uma e eu pediria música.

— Tá tudo bem com você? — ela pergunta, erguendo a cabeça para me olhar.

— Sim. — pauso — Por que não estaria?

— Não sei, só senti que você não estava bem, e você também não disfarça a cara.

— É a única cara que eu tenho. — sorrio, caminhando até sua cama e sentando na mesma.

— Sabe fazer melhor que isso, Pimentel. — ela dá um soco fraco em meu ombro. Como eu não sabia o que dizer, fiz o mesmo.

— Você me chamou aqui só pra saber se eu estava bem? — eu estava realmente curioso pra saber a resposta.

Estávamos lado a lado, mas ela sobe os pés na cama e se vira de frente pra mim, cruzando as pernas. Agora eu era o único de lado ali.

— Sim, só por isso. — ela se aproxima pra ajeitar a minha bandana — Eu me preocupo com você, apesar de não parecer muito. — ela continua muito próxima e isso me causa um certo desconforto porque, além de ser estranho, eu não podia fazer nada pra aumentar mais a nossa proximidade.

— É, realmente não parece mesmo não. — digo, fazendo-a se afastar de imediato.

Ficamos em silêncio por um minuto e eu já até tinha aceitado que tinha a capacidade de estragar qualquer tentativa de comunicação entre eu e ela. Mas, pra minha surpresa, eu estava errado naquela hora. Melanie segura meu rosto, me fazendo olhar pra ela.

Sabe aquela sensação que todo homem idiota finge não ter? A sensação do frio na barriga e das mãos quererem começar a suar de tão nervoso que você estava? Então, era exatamente assim que eu estava me sentindo com o rosto "dentro" das mãos dela.

Se ela soubesse o quanto eu me perco naqueles olhos castanhos dela e do quanto aquilo me acalmava, ela faria isso sempre.

— Eu gosto de você. — diz, e eu posso sentir suas mãos um pouco trêmulas.

Eu travei e fiquei pior que suas mãos por dentro, estava paralisado, tentando assimilar aquela frase por um tempo. Meus braços queriam porque queriam subir para que minhas mãos pudessem entrar em contato com as dela, mas hesitei por um instante.

— O quê? — minha voz sai quase como um sussurro e minhas mãos finalmente entram em contato com as de Melanie. Meu corpo estava literalmente enrijecido.

Eu poderia ficar nesse momento para sempre, só de poder olhá-la assim, tão de perto, já bastava para mim.

— É. — ela sussurra, mordendo o lábio — Eu gosto muito de você como meu amigo, de verdade.

Um balde.

Aquilo ali tinha sido um balde de água fria pra mim. Eu era tão idiota de pensar que aquilo que ela tinha dito significava outra coisa. Eu sentia raiva e decepção, mas não dela e sim de mim. Na minha testa devia estar escrito "trouxa" bem forte.

Aos poucos desço minhas mãos, cortando o contato com a pele de Melanie e as preencho com meu cabelo. Levanto da cama de ímpeto e vou até a janela. Estava tentando pensar em algo pra dizer, mas todas as palavras pareciam escassas naquele momento. Nada saía pela minha boca e muito menos uma frase correta se formava em minha cabeça.

— Olha, eu só queria que você soubesse mesmo. As vezes eu não sou boa em expressar meus sentimentos, e não sei, eu precisava dizer isso. — ela corta o silêncio.

Viro de frente pra ela, tentando dar o meu melhor quase-sorriso. Eu tinha compreendido o que ela queria dizer.

— Tá tudo bem, eu te entendo completamente. — caminho de volta a cama e estendo minha mão, pedindo pela dela. Ela coloca a mão sobre a minha e se levanta.

Não podia dizer que agora estávamos cara a cara porque tecnicamente ela batia quase no meu peito. Tive que olhar um pouco pra baixo para encará-la e enfim fazer o que tenho vontade há um tempo: abraçá-la.

Ela não tinha culpa pelos meus pensamentos e expectativas idiotas.

Não me preocupo com o quão estranho aquilo estava sendo, naquele momento parecia a coisa mais natural do mundo. Fechei os olhos automaticamente quando seus braços passaram por minha cintura, apertando-a forte. O cheiro de seu cabelo dominava minhas narinas, misturado com o cheiro de seu perfume.

Eu queria tanto poder eternizar esse momento. Era tão pouco, mas significava muito pra mim. Eu não a abraçava assim há muito tempo, pra ser específico, há meses, anos que eu não fazia isso. Ninguém podia entender a falta que eu sentia dela e eu nunca me acostumei com a sua ausência. Todos os dias eu tinha déjà-vu com momentos assim, com os abraços, beijos, sorrisos dela. Em alguns dias tudo isso era mais intenso que em outros, mas a falta dela sempre foi constante desde o dia que ela tinha ido embora, isso é um fato.

Perdi a conta de quanto tempo ficamos assim. Na verdade, só fomos interrompidos porque alguém apareceu.

— Estou atrapalhando algo? — Zabdiel pergunta. Olho pra ele e sua cabeça estava encostada no batente da porta e ele intercalava o olhar entre Melanie e eu.

Sinceramente me senti aliviado por ser ele, não queria que fosse Christopher e ele pensasse coisas equivocadas sobre isso.

— Não, claro que não está. — Melanie se desvencilha de mim e vai até Zabdiel, depositando um beijo em sua bochecha e depois vira pra mim, lançando um olhar reconfortante acompanhado de um sorriso. Depois some pela casa.

Zabdiel olhou confuso sobre o ombro e riu, caminhando até mim. Eu ainda estava parado no mesmo lugar, assimilando tudo.

— Ainda estou me acostumando com as maluquices dela. — ele toca meu ombro — Você tá bem, cara?

— Acho que tô. Melhor irmos pra casa, não? — sugeri.

Há poucos minutos eu queria poder ficar eternamente aqui, agora eu já estava quase implorando pra ir embora. Melanie tinha desenvolvido o dom de me deixar confuso a ponto de ficar atordoado.

— Sim, eu vim aqui justamente pra falar isso. Amanhã temos que estar cedo no estúdio.

— Então vamos logo.

Voltamos pra sala e antes de me despedir de Melanie, ela me entregou um pedaço de sua torta para a viagem. Eu até tinha me esquecido disso, com certeza comeria no caminho. Fui falar com Lexie e ela de novo apertou minhas bochechas, depois dei um abraço sem jeito em Mel e saímos.

[...]

Como eu, Chris, Erick e Zabdiel morávamos no mesmo condomínio, seguimos a mesma rota até o elevador. Eu e Erick morávamos em cima, e Zabdiel e Chris em baixo. Eu e Zabdiel decidimos isso porque sabíamos que Chris morando em cima da minha cabeça não daria certo. Richard preferiu comprar uma casa porque acreditava ser melhor pra Aaliyah e nenhum de nós discordamos. Mas nada fazia muita diferença porque vivíamos sempre na casa um do outro, intercalando.

Nos despedimos de Zabdiel e Christopher e seguimos até nossa porta.

— Tá, agora que finalmente chegamos em casa, vai me contar por que ficou tanto tempo com Melanie lá dentro? — Erick pergunta, fechando a porta e jogando as chaves no sofá.

— Já percebeu que vocês dão muita atenção pra Melanie e eu? Por que não se concentram mais nela e Christopher? Afinal, eles que estão juntos. — engoli minha irritação e tentei suavizar a voz. Aquilo estava me estressando de uma forma surreal.

— Os outros eu não sei, mas eu dou porque sei da história toda. — ele diz como se fosse óbvio.

Talvez fosse.

— A gente só conversou. — dei de ombros, abrindo a geladeira pra pegar um copo de suco.

— Vocês sempre só conversam, quero ver quando vai ter coragem e contar a verdade pra ela. Não é como se ela e o Chris fossem almas gêmeas e você contando estragasse a vida deles.

— É, mas talvez seja exatamente isso. — falei, já farto de tudo isso. Se nem ele que é meu melhor amigo entendia, ninguém mais iria.

— Tá bom. Faça o que quiser, sabe que vou te apoiar. Mas não quero ouvir o seu choro quando for tarde demais. Vou tomar banho e me deitar, boa noite. — ele faz nosso toque e sai do cômodo.

Lavei meu copo e segui para meu quarto. Sentei na cama e fitei o criado mudo, decidindo então abrir a última gaveta. Ali dentro tinha uma caixa e nela havia algumas fotos minhas. No meio delas eu guardava uma que eu tinha com a Melanie. Fazia um bom tempo que eu não precisava ver aquela foto, nem quando ela voltou eu precisei ver, mas ali, agora, era quase como uma necessidade.

Olhando pra foto, pude lembrar do quão fácil foi me apaixonar por ela. Lembro que nesse dia era o aniversário dela e tiramos essa foto junto com o seu pai. Eu quis revelar porque sempre gostei de revelar fotos, ainda mais as com ela. Quando ela viu, lembro dela ter falado pra cortar o pai pra ficar apenas nós dois, e ela mesma resolveu cortar na mesma hora.

Foi nesse dia, no dia do seu aniversário, que eu comecei a ter indícios sobre os meus novos sentimentos por ela. Ela sempre tinha sido apenas minha amiga, mas eu não pude evitar começar a vê-la com outros olhos. Parecia que era natural, e na verdade era. O fato de já sermos amigos facilitou muita coisa, o que deu errado foi nunca desapegarmos desse título para nós dois. Sempre fomos "só amigos".

Guardei a foto de volta na gaveta e comecei a tirar a roupa, indo até o banheiro e ligando o chuveiro em seguida. Enquanto eu lavava o cabelo, fiquei pensando: melhor ela gostar de mim como amigo, do que sentir total indiferença em relação a mim.

Afinal, voltamos ao que éramos antes: apenas amigos.

(A foto que Joel estava vendo)

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