Uncover

By averyvelez

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Melanie nunca mais se sentiu a mesma desde que perdeu sua memória em um acidente. E realmente, ela de fato, n... More

The Accident
Currently
Mau Pressentimento
Ela está de volta
Algo de errado com Joel
Desabafo Amigável
Certas coisas não mudam.
As consequências da bebida
Apenas amigos

Bipolaridade

205 20 19
By averyvelez

Eu e Lexie hoje tiramos o dia pra ir ao shopping, na verdade, ela tirou, eu só fui arrastada e muito contra a minha vontade. Eu esperava ir pra praia, mas acaba que paramos no shopping pra minha infelicidade total.

— Já percebeu que estamos andando em círculos? — paro no meio do caminho — O que você tá procurando? — pergunto a Lexie, já com toda a minha paciência esgotada me jogando no primeiro banco que tinha ali no shopping.

Observo Lexie mexer freneticamente em seu celular parecendo procurar algo e olhando ao redor, me ignorando por completo. Assim que tiro a minha atenção dela, reparo na loja a minha frente e instantaneamente lembro dos garotos quando vejo vários jogos de videogame.

Eu os conhecia há pouco tempo, mas me sentia a própria mãe deles quando os repreendia por ficarem tempo demais em frente a uma tela jogando. Aquilo fazia muito mal a vista e eles simplesmente ignoravam meus avisos. Na próxima consulta oftalmológica deles, vou fazer questão de ir junto.

— O que você tanto digita? Tá fugindo da polícia? — volto minha atenção pra minha amiga, a cutucando.

— Tô tentando falar com o Richard. — ela dá de ombros. Ele provavelmente estava demorando a responder alguma mensagem dela e ela odiava ficar esperando. Quando eu demorava muito pra responder ela só faltava voar no meu pescoço.

— Richard, ein. A noite do fim de semana pelo visto foi boa. — digo maliciosa.

— Você não imagina o quanto. —  ela dá um longo suspiro e finalmente decide sentar ao meu lado. Quando vejo que ela ia prolongar a conversa e contar os detalhes, a corto:

— Nem pense em me contar os mínimos detalhes, eu não quero de jeito nenhum saber. — tampo os ouvidos pra implicar com ela.

— Eu odeio o fato de você me conhecer bem e adivinhar o que eu ia falar. — ri — Anda, vamos. — ela se levanta e também me puxa.

Não iria questionar para onde iríamos, até porque ninguém vai ao shopping pra ficar sentado no banco. Bom, eu pelo menos espero que ninguém faça isso.

Continuo seguindo Lexie e tentando acompanhá-la nos passos, por mais rápido e difícil que esteja sendo. Eu tô dizendo, ela tá muito desesperada. Passamos em frente a loja favorita de itens de casa dela e ela nem sequer olhou pra ver se tinha alguma novidade — como ela sempre faz — e eu me questiono ainda mais o porquê da pressa.

Ando mais um pouco e paro, ou melhor, caio quando sinto meu corpo me chocando com o dela. Não a tinha visto parar e agora as duas patetas estavam caídas no chão. Olho pra cara dela ainda sem acreditar naquilo.

— Quer uma ajudinha aí? — olho pra cima e vejo Richard estendendo a mão e se segurando pra não rir. Ah sim, agora estava tudo explicado, tinha entendido o motivo da pressa. Lexie emocionada é um caso grave.

Pego sua mão e me levanto. Enquanto eu batia na minha calça pra tirar a poeira, procuro pelos outros e vejo os quatro mosqueteiros na fila do McDonald's. Christopher discutia com eles alguma coisa e eu não tinha dúvida de que fosse por comida. Zabdiel consegue me ver e manda um beijo, trazendo a atenção dos outros pra mim e eu aceno.

— Vamos, já peguei nossa mesa. — Richard nos apressa.

Tivemos que pegar aquelas mesas grandes e eu sempre pensei em quando fosse sentar em uma dessas. Tudo bem que eu tinha mais amigos na Argentina, mas nunca sentei assim, até porque nunca saíamos em sete pessoas. Se olhassem muito, iam pensar que nós éramos um bando de assaltantes, e eu não julgo.

Richard senta em frente a Lexie e eu sento ao lado dela. Os meninos ainda estavam na fila e pelo visto iam demorar mais um pouco.

— Vocês vão comer o quê? — ele pergunta.

— Acho que vou querer só um suco mesmo. — digo.

— Você sabe muito bem que não aguenta andar muito quando não come nada, pode pedindo um sanduíche agora. — assim como eu conhecia Lexie, ela também me conhecia. E ela com certeza não estava errada. Uma vez eu até desmaiei por sair de casa em jejum e demorar demais pra comer.

— Tá bom, vou querer um Big Mac então. — reviro os olhos, logo sorrindo pra ela.

Richard mandou mensagem pra eles falando o que queríamos e nos restava esperar. Reparo só agora que ele usava um boné e óculos de sol, além de usar umas roupas que não eram muito do estilo dele.

Acho que minha expressão de curiosidade ficou bem visível, porque ele começa a me encarar de volta.

— Por que essa roupa? E por que você tá usando boné e óculos dentro do shopping? Que eu saiba o sol ainda não deu um jeito de entrar aqui.

— E não é óbvio? Somos cantores, Melanie. Acho que algumas pessoas nos reconheceriam se nos vestíssemos do modo normal.

Só então eu percebo o quão idiota tinha sido a minha pergunta e resolvi me calar.

Reparei, mesmo eles provavelmente cogitando que eu não estivesse vendo, que a tensão sexual ali estava aflorando cada vez mais e eu aquela altura estava segurando vela, que daqui a pouco seria a tocha olímpica.

É muito louco pensar que esses dois acabaram ficando de alguma forma e que estávamos nessa situação, ele vindo no shopping por ela e ela doida pra encontrar ele. Há poucas semanas eu nem esperava conhecer novas pessoas e eu acabei em uma balada e depois dormindo com o Christopher. Eu não esperava e nem queria que aquilo ultrapassasse uma noite ou se repetisse, e não demorou muito pra eu conhecer os amigos do meu ficante e ainda por cima virar amiga dos amigos do meu ficante. Até chamando ele de ficante eu estava. No fundo, eu era grata por ter conhecido todos eles, mas a verdade é que pra qualquer um aquilo ainda era uma tremenda loucura.

Porém, eles eram os loucos que estavam me trazendo o lanche, então eu não iria mais reclamar de nada. Os quatro mosqueteiros haviam chegado com os lanches e Zabdiel me entregou o meu.

Enquanto eu comia, reparei que todos, assim como Richard, estavam vestindo roupas bizarras de tão feias. Fiquei ainda mais surpresa pelo fato de Joel se sujeitar a isso, porque ele era o mais chato em relação a "visual" ali. Ele estava com um conjunto de moletom cinza, boné e também óculos escuro. Eu sabia que uma fã que era uma fã iria reconhecê-los mesmo com toda essa camada de roupa feia, não tinha como não saber. Mas resolvi guardar isso pra mim.

— Então... — tomo um gole de suco pra começar a falar — Eu quero saber como vocês vieram parar no shopping na mesma hora que eu e a Lexie. — os cinco se olharam, surpresos pela pergunta e pareciam entrar em um consenso de quem iria falar.

— Pergunta ao Richard, porque eu não tenho nada com isso. — Erick levanta as mãos e volta a comer suas batatas fritas. Eu já sabia a resposta, mas queria ouvir deles.

Olho pra Richard esperando uma boa justificativa.

— Tá bom, tá bom. Eu queria ver a Lexie, só isso. — ele até tenta esconder o nervosismo, mas está estampado na cara dele. Eu acho até fofo.

— Que nível de carência é esse?! — digo, agora encarando Lexie.

— Quer falar de quê? Você vê o Christopher quase todo dia e ninguém reclama. — ela cruza os braços.

— É verdade, e ainda come nossa comida. — Erick provoca.

Os olho incrédula.

— Eu conheci o Christopher e recebi em troca os amigos estúpidos dele. Bom saber. —  jogo batata neles — E se o problema for comida, vocês só não aparecem na minha casa porque não querem. Eu até que poderia cozinhar pra vocês, mas... — mexo no meu hambúrguer toda sonsa e espero eles surtarem.

Não demora muito:

— Sério? — dizem todos juntos, empolgados e com os olhos brilhando. Eu confirmo com a cabeça e como mais um pouco do hambúrguer.

— E por que não cozinha só pra mim? — Chris faz bico.

— Porque ninguém mandou você apresentar ela pra gente e agora nós também somos prioridade na vida dela. — Zabdiel diz todo convencido. Eu só consigo rir da mini discussão.

— Mas quem foi que disse que eu priorizo vocês? — provoquei, fingindo falar sério.

— Ah, é? Corta aqui então. — Erick estende os dois dedos indicadores, mas eu os seguro.

— Eu tô brincando. Vocês já se tornaram meus amigos mais chatos e conseguiram roubar o posto dessa moça aqui. — aponto pra Lexie, que me dá um soco no braço. - Podem aparecer lá em casa quando quiserem.

— Que tal hoje? — Richard diz empolgado. Ele já devia saber que Lexie passa mais tempo no meu apartamento do que na casa dela.

— Combinado então. — finalizo e termino de comer.

— Agora então vocês vem com a gente nos ajudar a decidir as roupas dos nossos próximos shows. — Joel estende o cartão e se levanta.

Roupas pro show? Isso seria uma responsabilidade e tanto.


[...]


— O que fica melhor em mim? Xadrez ou essa blusa vermelha? — Christopher sai do provador e estende as duas peças de roupa a sua frente para que eu possa ver melhor.

Pra ser sincera qualquer coisa caía bem nele, mas era difícil decidir.

— Por que não leva as duas? — pergunto analisando as roupas. Não ia conseguir decidir mesmo.

— É, pode ser. Mas escolhe só uma pro primeiro show.

— Xadrez é ruim porque tem essas mangas compridas e você vai sentir muito calor, então é melhor a vermelha pro show e xadrez pra você só sair mesmo.

Ele concorda e volta ao provador.

Quando eu volto a mexer no meu celular, é a vez de Joel aparecer com algumas peças de roupa também.

— Jaqueta jeans, colete azul ou uma simples e fraca camisa preta? — ele pergunta jogando as peças no banco em que eu estava sentada e analisa junto comigo.

— Não sei... — tento imaginar as peças no Joel, mas não consigo visualizar — Coloca as peças pra eu ver.

Joel pega primeiro a jaqueta jeans e eu acho que com uma blusa branca por dentro ficaria bem. Depois ele pega o colete azul.

— Uau. — digo, sem perceber. Não conseguia tirar meus olhos de Joel e não conseguia deixar de reparar em como ele tinha ficado bonito com aquele colete. Mostrava os braços definidos dele e o ótimo trabalho na academia. Ele, por sua vez, sorriu tímido e tirou o colete logo depois.

— Acho que já sei a resposta, mas vou tentar experimentar a camisa mesmo assim. — ele diz, tirando a camisa que já estava vestindo do corpo. Não evito arregalar os olhos e pensar "o que ele pensa que está fazendo?".

Joel fica literalmente sem roupa nenhuma na parte de cima e novamente exibe seu físico totalmente sem defeitos. Olho pro outro lado, roendo as unhas enquanto ele veste a camisa e só volto a olhar quando ele estala os dedos pra chamar minha atenção, meu rosto já estava quase queimando de tanto vergonha.

A camisa tinha ficado simples, porém muito bem no corpo dele. Eu acho que na verdade nada ficaria ruim ali, por mais que ele tentasse.

— Olha, tudo ficou bom, mas eu particularmente preferi o colete.

— Eu também. — ele sorri e pega suas roupas, saindo dali. Suspiro aliviada.

Não demora muito pra Zabdiel e Richard aparecerem e sentarem comigo. Richard estava jogando alguma coisa no celular e estava concentrado demais pra dar atenção a alguém ali. Já Zabdiel estava me encarando de um jeito estranho.

— Tá me assustando, o que foi?

— Você combina tanto com os dois, não consigo decidir com quem shippar você. — ele diz naturalmente. Não ia fingir que não sabia do que ele estava falando, porque eu sabia. Ia culpar até o fim da vida a Lexie por isso, mas o que estava feito, estava feito.

Eu estava ficando com o Christopher e gostava dele. Com Joel a coisa era diferente porque eu e ele não nos demos bem no começo e eu queria me aproximar dele, mas era só isso. Não tinha motivo algum pra pensarem que eu e Joel rolaria alguma vez, porque isso não aconteceria.

— Eu e Joel nunca aconteceria, você sabe disso.

— Por que?

— Porque eu e Joel somos pessoas completamente diferentes. Eu nunca sei o que falar com ele, não sei como agir, parece que eu estou sempre pisando em ovos. Ele uma hora está muito bem e de bom humor, em outra ele está completamente grosso e se isolando de tudo e de todos. Não sei lidar com gente assim e muito menos imagino uma relação com o Joel, nunca iria funcionar. — desabafo. Agora Richard também olhava pra mim e um pouco perplexo, eu diria.

— É a sua perspectiva sobre ele, mas te juro que ele não é assim sempre. Ele pode ser meio chato e bipolar as vezes, mas se ele é assim com você é porque vocês ainda não se conhecem o suficiente e ele ainda não sentiu uma certa confiança em você. — Zabdiel diz, segurando minha mão. Era mais como um "desculpa pelo meu amigo ser assim com você, mas ele no fundo é diferente". O problema é que eu não iria pressionar ele pra ser uma pessoa melhor comigo, ele era livre pra agir como bem entendesse, não seria eu que iria questionar isso ou tentar mudar algo.

— Eu gosto do Christopher, até agora está dando certo. A gente consegue equilibrar algo sem nos envolvermos demais e sem assumir um compromisso sério. Gosto dele como ficante e como amigo, e é isso, não existe Joel nessa história.

— Vocês até que dariam um ótimo trisal. — Richard se posiciona na conversa, fazendo-me rir.

Os outros três saem na mesma hora do provador. Todos já haviam decidido que roupa levar e pelo visto era muita coisa, porque as sacolas estavam cheias. Eu falei que ia esperar por eles lá fora com Lexie. Eu odiava filas e Lexie odiava esperar, por isso éramos melhores amigas.

Fiquei paquerando a vitrini de perfumes da loja ao lado enquanto os meninos não saíam. Eu amava perfumes, porém não podia comprar mais porque meu guarda roupa já era lotado de frascos. Odiava a sensação de ir pro shopping e não poder comprar o que mais tenho vontade por não ter dinheiro ou por realmente não precisar naquele momento.

— Mel. — Lexie me chama, surgindo atrás de mim — Realmente os garotos podem ir pra sua casa?

— Ué, claro que sim. Podemos ir agora se todos quiserem. — deixo a minha vitrini de futuros perfumes em paz e volto pra saída da loja de roupas. Eles já estavam vindo, mas eu não tinha dúvida de que eles aceitariam na mesma hora o "convite".

— Vamos pra minha casa? — pulo na frente deles, assustando-os. Me divirto com a cara de susto do Erick e Christopher.

— Quando? — Richard pergunta, já indo para o lado de Lexie.

— Hoje, agora. — eu e ela falamos juntas.

Eu falei que não precisava de muito e que eles aceitariam ir. Dito e feito.

Agora estávamos indo para o estacionamento e todos estavam muito animados com o fato de eu ter prometido cozinhar pra eles e agora teria que cumprir. Eles estavam discutindo sobre quem iria ao mercado, porque eu disse que em casa não tinha tantas coisas pra cozinhar pra sete bocas.

Decidiram que iriam Christopher, Erick e Zabdiel. Christopher e Erick porque sabiam exatamente o que queriam comprar e comer, e Zabdiel porque ele tinha o controle de tudo. Joel e Richard iriam direto pra casa com a gente. Nos separamos nos carros e seguimos nosso caminho.


[...]


— Não reparem muito, se não vocês vão querer fugir na mesma hora. — digo a Richard e Joel, entrando já no meu apartamento. Coloco as chaves em cima da mesa e tiro meu casaco, o jogando no sofá.

— Mas seu apartamento é bonito. — Richard diz, dando uma boa olhada em todo o lugar.

— É que eu sei que vocês estão acostumados com uma casa enorme, e sei lá né, vai que o espaço não é suficiente.

— Aqui é ótimo. — Joel diz e caminha até a beira do sofá — Posso? — ele aponta pro mesmo, pedindo pra sentar e eu confirmo. Ele era chato, mas era educado, disso eu não podia reclamar.

— Podem ficar a vontade, galera. — Lexie passa pelo corredor, voltando pra sala e está com um pijama já. Eu nem tinha visto que ela tinha ido trocar de roupa.

Por isso que eu digo, intimidade é uma merda. Era tão merda que meu apartamento tinha dois quartos, e um deles era praticamente só pra Lexie.

Observo Richard a comer com os olhos e me viro com meu copo d'água pra geladeira, rindo baixo. Não sei quanto tempo os outros ainda iam demorar, mas espero que não muito.

— Você tem algo pra dor de cabeça? — Joel pergunta atrás de mim, me assustando. Tento não parecer assustada, mas o pulo que eu dei não escondia isso.

— Não me assusta assim! E, sim, eu tenho. Vem, tá no meu quarto. — entrego um copo de água para ele, e o guio até meu pequeno cafofo.

Vou até o banheiro e me abaixo pra poder revirar as gavetas do armário da pia. Era tanta coisa misturada, que me fez pensar que eu precisava urgentemente arrumar aquilo, mas por fim encontro o remédio. Volto até Joel e ele está vendo meu mural de fotos.

— Você era tão fofinha. — ele diz, passando os dedos pelas fotos e sorrindo. Olho pras fotos e não evito sorrir também, essas lembranças que eu ainda tinha eram especiais e boas demais. Na maioria das fotos está eu e meu pai, eu e Lexie, e eu sozinha também, quando era criança.

(Melanie e seu pai)

(Melanie e Lexie)

(Melanie quando era criança)

— Sua mãe não está em nenhuma, né? — o olhar de pena estava estampado na cara dele, e eu odiava aquilo.

— Não, não está. Quando eu digo que ela não era presente, eu falo sério. — entrego o remédio pra ele e me jogo na cama.

Joel parece confuso, mas puxa a cadeira do computador e senta a minha frente. O observo tomar o remédio e deixar o copo em cima da minha mesa.

— Quero me justificar e dizer que só sentei aqui porque não queria segurar vela pros dois lá na sala. — não evito sorrir com isso e também concordar.

— Viu o modo que ele olhou pra ela quando ela chegou na sala? — pergunto.

— Vi, por isso é melhor não estar lá também. — ele ri.

— É incrível o modo como praticamente todos os seus amigos são mulherengos. Pelo visto só salva você e o Zabdiel.

— Zabdiel só está mais calmo, deixa ele conhecer alguém pra você ver. — ele sorri e balança a cabeça negativamente. — Mas Christopher também largou um pouco essa vida quando te conheceu.

Nunca que eu iria acreditar que homem algum largaria essa "vida" de repente, ainda mais o Christopher.

— Não sei, mas não temos nada sério, não é como se ele fosse obrigado a largar.

— É por isso que é bom, não tem necessidade nenhuma dele fazer isso e ele pelo visto só tem olhos pra você. — confesso que fico meio sem graça com essa informação. Mas talvez Chris só esteja assim porque não conheceu ninguém ainda, eu devo ter sido uma das últimas.

— Mas e você? Ninguém novo pra você dar uns amassos? — desvio o assunto.

Ele arregala os olhos, mas finge que nada aconteceu.

— Não, infelizmente não. Os garotos dizem que eu sou muito exigente e extremamente chato quando se trata de mulheres. —  revira os olhos. Eu não duvidava que ele realmente fosse assim, mas também não tinha certeza.

— E você é?

— Não acho que eu seja assim, só não gosto muito disso de "pegar por pegar". E também, não tenho muita paciência pra isso tudo.

— Está esperando a mulher certa. Entendi tudo já. O problema é que infelizmente a pessoa ideal não cai no nosso colo de paraquedas.

— Exatamente. Mas eu vou fingir que cai sim e vou ficar esperando. — ele parecia leve, e eu não consigo não rir com essa frase.

Ficamos em silêncio por alguns segundos e enquanto ninguém falava, Joel se virava pra observar melhor meu quarto. O único problema nisso é que meu quarto não estava completamente arrumado.

— Tenho que admitir, seu quarto é melhor que o meu. — ele vira a cadeira de volta pra mim. — Todos esses livros na estante e os bonecos de Greys Anatomy nas prateleiras são incríveis. Além desses enfeites por todo canto e o lindo mural de fotos que você tem.

Pela primeira vez na vida alguém elogiou a arrumação do meu quarto. A arrumação que eu mesma fiz, meu Deus. Eu era louca por decoração e agora me senti como se tivesse ganhado um concurso de melhor decoração do País. Nem Lexie gostava tanto assim do meu quarto.

— Se eu não fosse advogada, eu ia ser algo com relação a decoração.

— Você se daria bem nisso, com certeza ganharia bastante dinheiro. Eu mesmo te pagaria pra decorar a minha casa. — rimos e eu o encaro por um instante.

— Quer ver uma coisa legal? — ele concorda, me seguindo com os olhos.

Eu levanto da cama e vou até a janela, fechando as cortinas e em seguida desligando a luz. Em outras circunstâncias isso seria estranho e representaria outra coisa, porém não era o caso agora.

Ligo a lanterna do celular e volto pra cama, puxando Joel pra sentar ao meu lado. Seu rosto estava apenas iluminado pela minha lanterna e a expressão de curiosidade dele me fazia rir internamente.

— Deita.

— Quê? Por quê? — questiona

— Anda Joel, deita aqui logo. —  dou tapas em meu travesseiro. Ele, ainda desconfiado, cede a ordem e deita ao meu lado.

Não consigo evitar olhar pra cara dele e rir, o que o deixa ainda mais confuso. Queria saber o que se passava na mente dele agora.

Como um passe de mágica, meu teto inteira se ilumina e mostra as estrelas falsas ali, mas que eu fingia ser estrelas de verdade. Eu gostava de me deitar, olhar pra elas e pensar, pensar até dormir. Eu diria que aquilo era quase terapêutico pra mim.

Viro pro lado e vejo um Joel completamente encantado e vidrado na imagem. Sua boca estava aberta e formava um perfeito "o", sabia que ele iria gostar. Em um impulso, pego sua mão, o que faz ele desviar a atenção do teto para mim. Eu agora quase não conseguia ver o rosto dele, apenas alguns pontos que eram iluminados pelo meu teto.

— É lindo... — ele diz, ainda me encarando.

— O quê? — não desvio por um segundo sequer a atenção dele e principalmente dos seus olhos.

— O seu teto, ele é lindo. — Joel torna a olhar para cima de novo, quebrando qualquer que fosse o contato visual ali.

Por um segundo eu me senti decepcionada, não sei se parte de mim queria que ele estivesse falando de mim, mesmo a palavra estando no masculino, e outra parte não fazia ideia da razão dessa expectativa idiota.

— Sim, é lindo mesmo. — suspiro, virando a cabeça para o lado oposto de Joel.

Estava imersa em meus pensamentos tentando me entender. Eu me sentia como Joel: totalmente bipolar. E era por isso que não devíamos julgar as pessoas. Eu acho que isso com ele era só porque não tínhamos a mesma "sintonia" que eu tinha com os outros, e estava tentando ter, por isso via coisas onde não tinha e agia por impulso.

Joel continua deitado ao meu lado e eu decido ignorar por uns minutos a presença dele ali. Relaxo meu corpo e fecho os olhos, só abrindo quando escuto o barulho da porta abrindo. Era Erick.

— Oi, o que estão fazendo? — ele pergunta enquanto segurava a porta entreaberta.

— Estávamos vendo o meu teto, mas depois eu te mostro melhor. Trouxeram tudo?

Ele assente e eu me levanto.

— Então vamos lá.

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