Amores Mecânicos [HIATUS]

By alrightywangxian

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LIVRO EM PROCESSO DE REVISÃO 2º LUGAR NA CATEGORIA "FICÇÃO HISTÓRICA" NO CONCURSO RAPOSA DE OURO Annelise Sm... More

⚙️🔸N O T A🔸⚙️
🔸 ⚙️P R Ó L O G O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️PARTE I⚙️ 🔸
🔸 ⚙️II - A L E M B R A N Ç A ⚙️ 🔸
🔸 ⚙️III - O I N V E N T O R⚙️ 🔸
🔸 ⚙️IV - A C U L P A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️V - O E N C O N T R O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️VI - O J A N T A R⚙️ 🔸
🔸 ⚙️VII - O H O M E M⚙️ 🔸
🔸 ⚙️VIII - O S Ó C I O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️IX - O A M A N T E⚙️ 🔸
🔸 ⚙️X - O M A R I D O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XI - A R E V E L A Ç Ã O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XII - A B A I L A R I N A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️PARTE II⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XIII - O C A D Á V E R⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XIV - O I N T E R R O G A T Ó R I O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XV - O I N S P E T O R⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XVI - O H E R Ó I⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XVII - O R E C A D O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XVIII - A A M E A Ç A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XIX - A S U S P E I T A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XX - O C A V A L E I R O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XXI - O F A N T A S M A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XXII - A S E G U N D A⚙️ 🔸
🔸 ⚙️PARTE III⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XXIII - O E S T R A N H O⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XXIV - A L I G A Ç Ã O ⚙️ 🔸
🔸 ⚙️XXV - O C O N T R O L E⚙️ 🔸
🔸⚙️ XXVI - O P O E M A ⚙️🔸

🔸 ⚙️I - A C I D A D E⚙️ 🔸

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By alrightywangxian

            O sol mostrava seus primeiros raios pouco mais das sete horas, cruzando o vidro da janela do trem e recaindo sobre as pálpebras de Victoria Badeaux. Ela lutou com a luz para não precisar abrir os olhos, mas foi em vão. A noite não havia sido uma das melhores, seu pescoço doía pela posição que adormecera e seus sonhos vagavam entre o circo e o medo do que aconteceria quando o trem parasse. Um dos sonhos, aquele no qual ela se via em um cavalo correndo na neve, era a última memória que tinha da Inglaterra.

            Os outros membros da trupe já conversavam, e o silêncio do vagão começava a ser corrompido por cochichos. Ao lado de Victoria, quem despertava era Madeleine Leroy. A trapezista não demonstrava ter tido uma má noite, era como se houvesse adormecido em uma cama de plumas. Victoria sorriu para a melhor amiga que retribuiu com um sussurro de "bom dia". No banco da frente, Mathieu dormia pesadamente em uma posição que lhe renderia muita dor no pescoço – ou talvez não, ele já estava acostumado a dormir em locais muito piores que um trem. Um jornal cobria seu rosto em uma página qualquer, Victoria tinha a certeza de que ele não lera – não porque não quisesse, mas porque não sabia. Foi necessário que Madeleine usasse a ponta da sua sombrinha, que havia estado repousando em seu colo, para cutucá-lo até acordar. Mathieu resmungou enquanto tomava a noção de onde estava.

            O trem já se aproximava da estação King's Cross, e Victoria nem havia percebido o tempo passar. Ela encarou a estação através da janela, embaçada pela fumaça, enquanto um misto de saudosismo e aflição tomava conta de sua mente. A locomotiva e seus vagões davam seus últimos sinais de funcionamento antes da máquina parar, mas ainda sim não fora suficiente para tirar a menina do transe. Embora Victoria estivesse olhando para a plataforma, seus olhos não enxergavam o que estava a sua frente, na verdade as únicas imagens reproduzidas eram de algum momento entre setembro e dezembro de 1888.

          Pela primeira vez nos últimos cinco anos Victoria colocaria seus pés em solo londrino. As memórias pareciam querer engolir a garota, e ela se viu pedindo aos céus para que a passagem do circo pela capital inglesa não durasse tanto. Ainda que houvesse os sentimentos ruins que Londres trazia, Victoria não deixava para trás quem ela era de verdade. Annelise Smith Chapman, a filha de um relojoeiro e uma prostituta, Victoria Badeaux era seu alter ego, a órfã que encontrou um lugar em um circo francês no qual podia viver sem ser perseguida pelo passado. Quem conhecia Annelise nunca diria que ela e Victoria seriam as mesmas pessoas.

           A moça deu um suspiro cansado, como se as imagens fossem se esvair dos seus pensamentos junto com a fumaça que já se dissipava lá fora, levantou-se e se esticou para pegar a pequena maleta com seus poucos objetos no compartimento acima do assento. Madeleine e Mathieu foram os primeiros a sair.

           A trupe seguia para fora do trem em polvorosa, como se fosse um passo para outro mundo. Victoria tinha a sensação de estar sendo arrastada em direção a saída pelos outros pois suas pernas pareciam não querer andar. Pensou em voltar para o último assento do trem e esperar que ele partisse novamente para qualquer destino que fosse, mas não o fez porque uma parte dentro dela ainda queria levá-la para o lugar onde cresceu. Ela hesitou por um momento ao chegar na porta, parando, e sentiu seu corpo ser lançado para frente quando alguém esbarrou em suas costas.

            — Cuidado – disse uma voz masculina.

            Victoria sentiu a sua cintura ser envolta por uma mão que a puxou para trás, fazendo-a chocar seu corpo contra alguém um pouco mais alto do que ela. A garota levantou o rosto e encarou os olhos cor de mel quase escondidos pelos cachos castanhos de Pierre Leroy. O rapaz endireitou os óculos de piloto em sua cartola e sorriu, mas não de uma maneira simpática. Na verdade, era um daqueles sorrisos que se dá quando uma pessoa sabe que tem o controle da situação.

             — Solte-me! – Ela se desvencilhou do abraço de Pierre e desceu os degraus do trem.

            — Nem um obrigado, ma petite poupée? – Pierre a alcançou, ficando lado a lado.

            — Ora, não me chame de bonequinha – Ela apressou o passo ainda mais, avistando de longe Madeleine e Mathieu, fazendo sinal para que eles a esperassem.

            Assim que alcançou os dois, Madeleine envolveu seu braço no de Victoria e lançou um olhar desaprovado para Pierre, o que o fez não se aproximar. Ela não gostava quando o irmão aborrecia a amiga e Victoria se sentia aliviada por isso. Mathieu balançou a cabeça com a situação e riu, acompanhando as duas.

            — Pierre ainda não desistiu de você? – Perguntou Madeleine, sorrindo para Victoria.

            Ela lembrava Pierre, os olhos cor de mel, o cabelo cacheado, as maçãs do rosto rosadas e o sorriso que fazia muitas pessoas se derreterem – muitas pessoas exceto Victoria. Madeleine era seis anos mais velha que o irmão e as vezes não parecia estar no auge dos seus 27 anos, mas sim uma mulher muito mais velha, especialmente pela maquiagem pesada e o vestido vermelho que se tornava justo nas curvas do seu corpo, principalmente no cinto de metal envolto na cintura, onde ela guardava seu leque mecânico. Os cabelos soltos caiam ao redor dos ombros. Ela agia como uma mãe quando estava com Victoria, a protegia mais do que protegia o próprio irmão mais novo.

            — Acho que ele ainda não percebeu que não gosto dele – Respondeu Victoria.

            — Garanto que ele percebeu há muito tempo, apenas é irritantemente insistente – disse Mathieu.

            — Eu poderia defender, mas tenho que concordar. Meu irmão não sabe o que é rejeitado, para ele é uma diversão correr atrás de mulheres que ele acredite que irá conquista. – assentiu Madeleine.

            — Ele é um bom rapaz, só não é para mim – disse Victoria.

            — Talvez ele seja um bom rapaz quando não esteja bêbado – retrucou a outra moça – Você nunca precisou ir buscá-lo nos lugares mais podres de Paris depois de ter arrumado uma briga com desconhecidos.

            — Bem, isso explica o porquê dele não ter entendido ainda que eu não quero nada com ele, parte de seu cérebro pode ter sido terrivelmente danificado em uma dessas brigas.

            Os três riram. Eles eram bons amigos, raramente não estavam na companhia um do outro. Antes era apenas Victoria e Madeleine, a dupla inseparável; porém desde que Mathieu chegou o garoto as conquistou. Ele havia entrado para o circo há pouco mais de seis meses, costumava ser um batedor de carteira que não se sabia nada mais além do nome. Apesar disso, o proprietário do circo o acolheu assim como havia feito com Victoria anos antes. Monsieur Leroy não era um homem questionador, com tanto que o recém chegado se dedicasse ao que quisesse ser, ele estava contente, talvez fosse porque sua família de sangue era pequena, sendo apenas ele e seus filhos – Madeleine e Pierre. Victoria via em monsieur Leroy o desejo de salvar jovens que não tinham perspectiva de futuro para torná-los parte de algo que para ele era tudo.

            Por um momento, Victoria havia esquecido que estava em Londres. Quando as memórias do lugar voltaram a tomar o espaço em seus pensamentos, o sorriso logo se esvaiu. Madeleine percebeu, mas não a questionou, Victoria tendia a mudar de humor as vezes e nunca falava o motivo. Eles apenas andaram em silêncio pela estação até onde estava o grupo de artistas circenses.

            É claro, várias pessoas vestidas de maneira extravagante chamou a atenção de quem andava pelo local. Os membros do circo Le Gloire sempre atraiam olhares por onde passavam com seus trajes. Peças de metal se tornavam adereços em seus figurinos, fossem partes do corpo feitos de engrenagens ou brincos de roda dentada. Com Victoria não era diferente. Seu corset de cobre reluzia com a luz fraca do sol que atravessava as pesadas nuvens no céu e combinava perfeitamente com sua blusa marrom. Uma cartola cinza descansava sobre sua cabeça, adornada com um antigo relógio de bolso dourado. Ao invés de saia ela usava uma calça preta, o que era incomum e não passou despercebida de comentários feitos por moças londrinas em seus vestidos armados. Em seus pés, botas pesadas substituíam o que deveriam ser saltos delicados, botas essas que ela surrupiou do armário de Pierre.

            Não demorou muito para que uma plateia de curiosos começasse a rodear a companhia depois que monsieur Leroy improvisou um palco em um dos bancos da estação. Ele chamava a todos com emoção, era gratificante ver como ele amava fazer propaganda do circo. Enquanto o pai, falava Pierre foi para o centro da roda formada pelo público, colocou sua cartola no chão, indo em direção das pessoas e impressionando-os ao retirar de suas orelhas parafusos, cônicas e helicoidais, pequenas peças de máquinas que serviam para dar movimento a algo, como no braço esquerdo mecânico de monsieur Leroy.

            Pierre recolheu as peças e as jogou dentro de sua cartola, chacoalhando-a e jogando as pecinhas no chão. Um coral de "Oh" se estendeu, e rostos espantados foram percebidos quando as peças ganharam vida e se transformaram num pequeno autômato. Victoria já havia visto aquele truque tantas vezes que até batizou o homenzinho de lata como Mr.Iron, mas o público parecia verdadeiramente encantados.

            Aplausos eufóricos ecoaram pela estação e aquilo deixara Victoria levemente preocupada. Monsieur Leroy ensinara-a que enquanto houvesse público haveria espetáculo e ela conhecia Londres o suficiente para saber que a notícia da chegada do circo se espalharia como fogo em palha, o que significava que ela teria que passar mais tempo do que planejava na cidade que rodeava seus pesadelos.

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