A Brand New Day | TAEJIN

By reasontaejin

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[CONCLUÍDA] [FINALISTA DO WATTYS 2021] Seokjin do Leste sempre esteve fora da curva do esperado para alguém c... More

❉ Cast & Avisos
I - A New Place
II - A New Conception
IV - A New Feeling
V - A New Euphoria
VI - A New Vision
VII - A New Confession
VIII - A New Ally
IX - A New Despair
X - A New Rage
XI - A New History
XII - A New Shower Of Questions
XIII - A New Adrenaline
XIV - A New Way to Fall in Love
XV - A New Sensation
XVI - A New Revelation
XVII - A New Way to Feel Loved
XVIII - A New Predator
XIX - A New Truth
XX - A New Denial
XXI - A New Possibility
XXII - A New Way of Looking at Someone
XXIII - A New Facet
XXIV - A New Flame
❉Segunda parte do Cast & Mais avisos
XXV - New Rules
XXVI - New Friends
XXVII - New Ways To Be Affected
XXVIII - New Shared Secrets
XXIX - New Plan
XXX - New Pain
XXXI - New Punishments
XXXII - New Past
XXXIII - New Hopes
XXXIV - New Surprises
XXXV - New Souls
XXXVI - New ways to feel you
XXXVII - New Victory
XXXVIII - New Fail
XXXIX - New Victors
XL - New Future
XLI - A Brand New Day
Agradecimentos <3
ESPECIAL 20K - De volta ao Norte
ESPECIAL 40K - Fui eu quem te ensinou a lutar, não foi?

III - A New Confident

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By reasontaejin


Uma longa e árdua semana havia se passado desde que minha família e eu chegamos na Província da Nevasca. Minha pele, meus nervos e muito menos meu humor haviam se acostumado com a baixa temperatura do Norte, no entanto, como um bom anfitrião que queria ser, Rei Donggun nos presentou com inúmeras peças de roupas apropriadas para o clima nortenho, assim amenizando — mas nem tanto — aquele desconforto que eu ainda sentia.

Os três Alphas, Namjoon, Hoseok e Taehyung, não ficavam nos rodeando tanto, o que me fez agradecer mentalmente, pois seria nada menos que invasivo ter qualquer um dos três nos impedindo de ao menos respirar. No entanto é claro que pelas ordens de seu pai, ainda tentavam nos cortejar, levando-nos a passeios nos jardins congelados do castelo ou dentro da grande estrutura. Chás durante a tarde e conversas depois do jantar também eram comuns — e para meu grande azar, Hoseok adorava conversar comigo. O fato é que nestes sete dias em que se passaram, Taehyung foi o que menos me incomodou.

Desde nosso primeiro contato já havia ficado um tanto visível que tínhamos pensamentos iguais sobre aquele acordo e eu confirmei os fatos quando percebi que ele tentava ao máximo não insistir em me deixar desconfortável, diferente de seus irmãos, que não entendiam o meu posicionamento ou não sabiam. No fim das contas tudo resultaria em três casamentos de qualquer forma e se fosse para manter a mínima paz que eu tinha, que fosse com Taehyung então.

Rei Donggun logo presenteou a mim e a meus irmãos com um espaço para que nós pudéssemos cumprir com nossos deveres de Ômegas — patético. Uma sala, dentro do castelo, onde havia alguns sofás confortáveis, uma lareira que sempre estava a crepitar e materiais para costura. Claro que eles pensavam que tudo o que um Ômega faz de sua vida é costurar, cozinhar e acasalar, satisfazendo seu Alpha, não poderia ser diferente. Minha mãe nos deu a ideia de começarmos a costurar casacos de lãs para filhotes, já que em pouco tempo nós nos casaríamos e teríamos os nossos... Meu estômago ficou embrulhado só de ouvir tais palavras, no entanto eu não tinha para onde correr.

Jungkook e Yoongi costuravam calmamente e em silêncio, os pequenos casaquinhos tomando forma aos poucos em um trabalho excelente. Desde que nos entendíamos por gente, fomos ensinados a costurar e era algo que eles consideravam como um hobbie relaxante. Já eu me estressava perdendo os pontos, fazendo bagunça com a lã ou me distraindo, o que foi o caso naquele dia, pois quando percebi, o que era para ser um casaquinho de um filhote recém nascido estava virando o de uma criança já grande.

— O que vocês têm achado dos Alphas? — perguntou Jungkook, quebrando o silêncio.

Olhei-o com vários enigmas em meu rosto. De certa forma meus irmãos conheciam bem meus pensamentos sobre tudo isso, no entanto discordavam de mim. Claro que nunca falariam para nossos pais das minhas reclamações e nem de meus olhos se revirando em desdém, mas era um tanto sensível tocar nesse assunto, sempre acabávamos discutindo, principalmente Jungkook e eu.

— Espero que Hoseok me escolha de uma vez por todas — disse Yoongi com sua voz grave, porém doce. — Não consegui manter uma conversa muito longa com Taehyung e nem Namjoon. Além do mais, este Alpha me parece um bom futuro pai, então... — Deu de ombros ainda tricotando.

O rosto de Jungkook se iluminou. Era claro que ele estava morrendo de amores pelo Alpha primogênito do Norte e isso era inegável. O que pude notar também foi que era algo recíproco, pois Namjoon, de nós três, apreciava muito mais seu tempo com meu irmão caçula do que comigo ou com Yoongi.

— Digo o mesmo sobre Namjoon — respondeu com um sorriso bobo. — Ontem nós caminhamos pelo jardim e ele disse que tenho um sorriso bonito. — Suspirou — Nunca me senti tão bem...

Reprimi meu revirar de olhos e permaneci quieto. Era tão boba a forma como eles dois apenas sonhavam com casamento, filhotes e uma vida doméstica... Meus irmãos não eram capazes de ter outras ambições? Desejos? Vontades? Suas vidas se baseavam apenas nisso? Eu ficava extremamente revoltado.

— E você, JinJin? — Jungkook voltou-se a mim com seus grandes olhos brilhantes. — Qual dos três lhe parece melhor.

Franzi o cenho tentando ganhar tempo para dar-lhe uma resposta que não o machucasse. Por mais que eu também não concordasse com seus pensamentos, era tudo o que os dois tinham e que foram ensinados. Além do mais, Jungkook era sensível e se magoava facilmente —  o que me dava um certo receio em vê-lo com um Alpha truculento. Suspirei pesadamente e deixei o trabalho por fazer em cima do meu colo e tentei entregar-lhe o melhor sorriso que eu tinha.

— Ainda não sei — falei tentando transpassar sinceridade. — Todos eles são... Alphas. — Dei de ombros — Mas se você acha que o primogênito é o melhor para você, então conquiste-o. Percebo que ele gosta bastante de você — disse com ternura, acariciando os cabelos dele.

— Acha mesmo? — indagou cheio de esperanças e ganhando um assentir de cabeça meu.

Yoongi que era um pouco mais reservado que nós deixou-se sorrir minimamente vendo a cena. Jungkook era nosso protegido de diversas formas. Sensível, carinhoso e muito atencioso, nós cuidávamos dele como quem cuida de um filhote e só esperávamos que sempre mantivesse aquele sorriso doce entre seus lábios rosados.

— Penso que o irmão mais novo gostou do JinJin — disse Yoongi se aproximando de nós. — Na primeira noite em que passamos aqui no castelo, depois que trocamos de lugar, ele não falou muito comigo. Mas vi que vocês estavam conversando e até rindo! Você nunca ri para um Alpha, Jin!

Naquela noite meu sorriso foi o menor possível, mas confesso que foi sincero. Aquele Alpha tinha aroma de brisa de mar e transparecia leveza, o que me deixou de certa forma muito curioso. Mas ainda era alguém que eu não conhecia, que não tinha intimidade, que só serviria para acasalar comigo e ter o título bobo de marido Alpha. Não era o que eu queria.

— Contenha-se, Yoongi — falei em um tom de repreensão. — Não tire conclusões precipitadas assim.

Ele fez um bico e voltou a costurar, ignorando o fato de que eu sempre o repreendia por ser o mais velho entre os três.

A fogueira continuava a crepitar, o vento continuava a soprar como uivos do lado de fora e a neve incessante não parava de cair pelas janelas de vidro quando passos pesados invadiram nossas audições e nos fizeram olhar para a porta. As duas silhuetas grandes pediam licença para entrar de forma cordial e simultâneo aquilo, os sorrisos de meus irmãos cresceram em seus lábios. Namjoon e Hoseok, trajados em seus grandes casacos de pele, vinham nos cumprimentar.

— Boa tarde, Seokjin, Yoongi, Jungkook. — O primogênito se curvou — Nós viemos convidá-los para um passeio.

— Se não estiverem muito ocupados, claro. — Hoseok complementou com seu sorriso brilhante.

"Sim, estou bastante ocupado tricotando e ouvindo asneiras"

—Seria uma honra — falei me curvando, mentindo tanto que já era quase natural para mim mesmo. — Mas, se me permite perguntar, apenas os dois cavalheiros vieram hoje?

Namjoon e Hoseok se olharam.

— Nosso irmão mais novo está um tanto ocupado — respondeu o mais velho. — Se não se importarem, Yoongi e Jungkook podem fazer companhia a Hoseok e você a mim, Seokjin. — Sorriu mostrando suas covinhas nos cantos da boca carnuda.

"Ótimo..."

Vi o sorriso brilhante de Jungkook ir se desfazendo aos poucos e seu rosto apenas desenhar linhas compreensivas, porém chateadas. Claro que ele queria poder ficar a sós outra vez com o Alpha, mas se não era de sua vontade, cabia a ele apenas respeitar e concordar.

— Tudo bem — respondi. — Deixem os tricôs guardados, depois retomamos — falei a eles e logo em seguida depositamos nossos trabalhos em um pequeno armário de mogno perto da janela, para assim finalmente sairmos da sala com os Alphas.

Mal deram os primeiros passos na direção oposta e eu já conseguia escutar o tagarelar de Hoseok. Céus, ele falava demais!

Namjoon permanecia sério enquanto caminhávamos. Meu braço em volta do seu estava firme, mas não me deixava confortável. O vento de inverno bagunçava seus cabelos porquanto estávamos saindo das dependências do castelo e indo para a área externa, mas não o pátio principal e sim um longo caminho de ladrilhos que dava para uma área quase vazia, a não ser por um lago congelado e equipamentos de treino como alvos e totens.

— Como tem passado os últimos dias? — indagou cordial ainda olhando para todo aquele mar branco de neve que nos rodeava.

— Muito bem — respondi neutro e educado. — Sua família tem sido hospitaleira conosco e somos agradecidos.

— Queremos fazer o possível para que sintam-se bem durante a estadia e depois dos casamentos— disse dessa vez me olhando. — Como os dois primogênitos, temos o dever de auxiliar nossos irmãos, certo? Tenho pedido para Hoseok e Taehyung não invadirem tanto o espaço pessoal de vocês três e não lhes incomodar.

— Eu agradeço — falei sinceramente, realmente me sentindo grato por tal coisa.

Caminhamos mais alguns passos e logo não havia mais estrutura sob nossas cabeças, apenas o céu cinzento e os flocos de neve que caíam em nossas roupas, misturando-se com um vento que já estava mais fraco. Confesso que o lago congelado era lindo, mesmo que não estivesse em sua plenitude líquida, ainda era uma visão de tirar o fôlego, o gelo brilhando e contrastando com toda a neve branca à sua volta. À sua margem havia vários alvos cheios de flechas recém atiradas e ao longe, em uma distância de bons metros, uma silhueta posicionada com um arco.

— Se me permite perguntar, o que viemos fazer aqui?

Namjoon sorriu gentil.

— Desde filhotes nós três fomos iniciados em vários tipos de tarefas diferentes, incluindo treinos práticos e manuseio de armas de guerra. Não que possamos fazer parte do exército nortenho, meu pai nunca permitiria... Contudo é crucial que saibamos como nos defender e defender nossas futuras matilhas— ele falava, falava e falava e não chegava direto ao ponto. — Hoseok é muito bom com espadas, eu não tenho tanta aptidão com armas, mas considero-me um bom estrategista... — Ele olhou para a silhueta que acabara de atirar uma flecha certeira no centro do alvo — E Taehyung é o melhor arqueiro do norte.

Então aquele era Taehyung... Ao longe eu mal podia enxergar seu rosto, mas via seu corpo esguio, porém forte, trajado com um casaco de lã, calças escuras e botas de neve. Os cabelos estavam presos para trás, provavelmente para não atrapalharem sua visão, e ele parecia muito estar conectado ao arco. Seus braços estavam posicionados perfeitamente, esticados enquanto ele olhava firmemente para os alvos. A aljava em suas costas ainda estava lotada de flechas, no entanto as que já haviam sido atiradas estavam todas nos centros dos alvos, perfeitamente executadas.

Eu sempre quis aprender algo do tipo. Quando era menor, ficava observando escondido os treinos dos soldados dos Leste e ficava admirado com sua destreza quando tinham espadas em mãos e principalmente a maestria dos arqueiros. No entanto, para um Ômega, aquilo era impossível. Eles treinavam esgrima, eu aprendia como cozinhar, construíam arcos com as cordas mais resistentes, eu costurava, corriam metros e mais metros em treino de resistência, eu aprendia a dançar.

Era injusto.

Ficava somente nas mãos dos outros, aqueles considerados realmente fortes, a defesa de pessoas consideradas fracas como eu. Nunca me foi dada minha própria autonomia para que eu mesmo pudesse resolver meus problemas, me sentir menos dependente de qualquer soldado ou até mesmo de meu pai. Um sentimento realmente angustiante.

— Trouxe-me para vê-lo treinando? — perguntei ainda o observando sem perceber que não podia tirar meus olhos dele.

Namjoon deu uma risada leve.

— Uma das coisas mais satisfatórias que eu já presenciei foi meu irmão caçula manuseando um arco. Acho que é uma visão que todos deveriam ter, na verdade — disse com orgulho, transparecia claramente que ele sentia isso pelo irmão.

"Realmente..." pensei sem muito filtro e depois percebi o que estava passando pela minha cabeça. Eu não me deixaria cair facilmente só por isso. Não mesmo... Era absurdo.

Naquele mesmo momento, com uma rapidez incomum, Taehyung posicionou uma flecha atrás da outra na linha do arco, disparando-as com agilidade invejável e acertando os três alvos com tamanha perfeição que pude ver em seu rosto a satisfação em forma de sorriso. Foi quando ele notou que tinha uma plateia o observando e permaneceu sorridente para nós, acenando com um dos braços.

— Viu? — Namjoon sorriu — O melhor arqueiro do norte.

O mais novo veio se aproximando de nós com o arco já abaixado, passos animados e o sorriso que não se desfazia. Suas pegadas ficavam enterradas na neve fofa enquanto ele vinha, cada vez mais perto e quando finalmente estava diante de nós, pude ver que alguns fios de seu cabelo preso para trás haviam se soltado e balançavam com o vento, deixando ele com um ar ainda mais parecido com brisas praianas.

— Viu, Joon? Mesmo com o vento me atrapalhando eu consegui! — exclamou para o mais velho, sua animação me lembrava muito a de um garoto na flor da idade. — Seokjin — ele se curvou para mim com gentileza.

— Eu estava comentando com o Seokjin que você é o melhor arqueiro do Norte — o mais velho respondeu. — Mesmo em tempestades e nevascas você não erraria um alvo. — Bagunçou levemente os fios lisos do mais novo — Já acabou o treino?

— Sim — respondeu satisfeito.

— Muito bem. Poderia fazer companhia a Seokjin agora?

"E em algum momento perguntou se eu queria a companhia dele?"

— Com muito prazer — disse com um sorriso enorme e estendendo o braço para mim. — Vamos?

Guardei um suspiro frustrado e meu revirar de olhos e então tomei seu braço, vendo uma satisfação esquisita nos olhos de Namjoon antes dele se retirar, deixando-nos à sós ali. Naquele dia em questão o mais novo dos Alphas parecia imensamente feliz e menos contido, isso não poderia ser negado.

— Está com frio? — perguntou quando começamos a nos encaminhar para o interior do castelo novamente.

— Sempre estou — respondi com um pequeno sorriso. — É no mínimo impossível para uma pessoa que veio de uma região praiana não sentir o impacto da mudança de clima. Mas os casacos que seu pai nos deu têm servido bem.

Taehyung balançou a cabeça.

— Aquele bajulador... — disse baixinho e eu poderia estar enganado, mas notei um leve tom de desdém em sua voz. — Venha, vamos até a cozinha beliscar alguma coisa antes do jantar. — Mudou rapidamente de semblante, voltando a parecer o jovem alegre de poucos minutos antes.

Não sei se era impressão minha, mas Taehyung não parecia ter uma relação muito boa com o Rei Donggun. Em todos os jantares, almoços e reuniões em que estive presente, o mais jovem dos Alphas nunca olhava nos olhos do próprio pai e apenas lhe dava respostas curtas e objetivas, diferente, por exemplo, de Namjoon e Hoseok. Talvez fosse outra coisa que tivessemos em comum, uma intimidade inexistente quanto aos nossos pais. Rei Sangwoo sempre foi um homem frio quanto aos filhos, distante para com a esposa e patético quanto ao seu governo. Nunca tive afeto algum vindo dele, tenho migalhas quase incomuns de amor e carinho de minha mãe, que só fazia isso quando ele não estava por perto. Minha fonte de inspiração, de amor e de carinho sempre foi Jimin, que cuidava de mim com afinco e vontade.

Deixei esses pensamentos guardados em um canto remoto da memória ao perceber que já estávamos próximos à porta da cozinha. Taehyung treinou, ao que me parecia, por muito tempo, então deveria estar realmente com fome. Quando estávamos prestes a entrar, ele imediatamente me parou, puxando-me pelo braço e me fazendo encostar na parede. Franzi o cenho diante de sua atitude e o vi colocando o indicador nos próprios lábios, um sinal para que eu fizesse silêncio.

De primeira eu não entendi nada, aliás fiquei um tanto bravo, contudo aos poucos as vozes das duas cozinheiras foram preenchendo o ambiente e eu entendi o porquê daquilo tudo.

"— Estou muito preocupada, Woobin! O que vai ser de nós se o mascarado parar de aparecer nas reuniões? Nossas famílias já passam fome e é uma dádiva que esse desconhecido sempre leve comida e suprimentos para nós. Sem ele, o que será de nós?"

"Fique calma, Jiwoo! Ele não disse que pararia de ir, só disse que estaria impossibilitado, mas que mandaria alguém em seu lugar. Por sorte temos este homem misterioso para nos dar uma ajuda, não seja pessimista dessa forma!"

Fui processando aos poucos o que as duas Ômegas diziam com uma análise árdua. Pelo que entendi, havia alguém que eles desconheciam, mas que os ajudava a enfrentar, pelo menos um pouco, a dura pobreza que era viver nas vilas da Nevasca. O governo do Rei Donggun era tão falho, tão miserável e egoísta que era preciso que alguém desconhecido fosse auxiliar a população? Mas quem? Quem era esse homem mascarado?

— Venha — Taehyung sussurrou, pegando em minha mão e me puxando para longe dali, indo em direção à sala dos Ômegas.

Quando entramos, ele se certificou de fechar a porta e de checar se meus irmãos não estavam ali. Vendo que tudo estava ok, ele fez menção para que eu me sentasse naquele mesmo sofá que estive minutos atrás e sentou-se ao meu lado, me olhando com um sorriso.

— Não é a primeira vez que ouço falar desse misterioso mascarado — iniciou em sussurros, mesmo que só estivéssemos os dois ali. — O povo das vilas faz reuniões todos os dias durante a noite para poder se organizar e tentar reduzir a carência de suprimentos, compartilhando uns com os outros o que tem. Há alguns anos esse homem, que ninguém faz ideia de quem seja, começou a aparecer levando comida, roupas e lenha para eles. No entanto, ele usa uma máscara que cobre seu rosto e de algum jeito disfarça seu cheiro, não permitindo que alguém saiba se ele é Alpha, Beta ou Ômega. Desconfia-se de que ele seja algum membro da comitiva do meu pai ou algum comerciante burguês, mas realmente, ninguém faz ideia.

Franzi o cenho ao deixar que as palavras invadissem meu entendimento aos poucos. Era mesmo possível que alguém que obtivesse mais riquezas fosse capaz e tivesse a empatia para poder ajudar os povos das vilas sem pedir nada em troca, sequer revelar sua identidade? Por que fazia isso? Quem diabos era este homem? E como Taehyung sabia tanto?

— Mas por quais motivos alguém da comitiva de seu pai poderia ser este homem? — indaguei no mesmo tom de segredo.

— Não sei. — Deu de ombros — Isso já ocorre há alguns anos, eu sempre ouvi essas conversas esporádicas das bocas de Jiwoo e Woobin, mas jamais soube quem é essa pessoa... Mas eu temo que, por ser alguém que de certa forma tira dos ricos e dá aos mais pobres, seria um inimigo declarado do Rei. Afinal, certas coisas que a população recebe, deveria estar sob supervisão de meu pai e seus guardas, não em suas mãos... — Ele umedeceu os lábios — Os recursos, como madeira e lã, são em sua maioria de exclusividade dele, distribuídos de forma patética para a família real, comitiva e uma parte dos mais ricos, donos dos comércios. Eu sempre achei desigual e desumano como ele priva o próprio povo de utilizar os produtos de seu próprio trabalho, mas este homem... Ele simplesmente faz meu pai de chacota e ignora isso. — Sorriu.

Foi naquele momento que eu tive certeza de que Taehyung não gostava do próprio pai e muito menos de seu governo. Ele sorria enormemente ao falar sobre o homem misterioso, como se fosse alguém que realmente merecesse seu respeito — e de fato merecia, inclusive também o meu.

— Mas como ele tira recursos do castelo e ninguém percebe? — indaguei.

— Provavelmente ele tem mais ajuda do que imaginamos. Com certeza há mais pessoas, aqui dentro, contra meu pai. É surreal imaginar isso, mas também é confortador que exista alguém que ligue para a população. — Suspirou.

— E por que está compartilhando isso comigo?

Taehyung mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. Eu não conseguia mesmo compreender o que ele tinha comigo que não tinha com meus irmãos. Claro que nossa linha de pensamento era completamente parecida e a cada dia eu me convencia mais disso, no entanto eu ainda era um desconhecido, um Ômega e apenas isso.

— Quero que confie em mim — disse voltando a me olhar. — Eu te disse que pensamos de forma parecida quanto a tudo isso, todo esse jogo político que envolve uniões arranjadas e compulsórias. Quero que acredite em mim quando eu afirmo que não sou um inimigo, um Alpha que só pretende acasalar e usar um de vocês para satisfazer os instintos... Não sou assim, Seokjin. — Me fitou profundamente —  Eu vejo a essência híbrida como uma balança. — Iniciou — Temos nossos pensamentos humanos em conjunto com nosso lobo interior. O instinto animal nos dá força, nos dá autonomia para que possamos agir como uma matilha, mas não nos dá espaço para agirmos como verdadeiros animais irracionais. E é aí que nosso lado humano vigora, nos dando inteligência e reflexão o bastante para que possamos nos equilibrar. Quando um Alpha deixa que seus instintos de lobo o dominem, ele se torna exatamente essa pessoa da qual você tem a visão: truculento, rude, dominante e avesso a questionamentos. Sou contra este tipo de comportamento e sei que você também.

O mais novo dos Alphas, naquele momento, conseguiu minha atenção por completo. Suas palavras pareciam ser lotadas de sinceridade e sensatez, sem truques. Não era como se Taehyung estivesse tentando me levar à uma armadilha com um discurso barato que me convenceria. Meus instintos detectavam verdade em suas palavras e se ele estivesse de fato mentindo, provavelmente um feromônio de nervosismo o denunciaria.

— Nunca foi do meu feitio confiar em Alphas. Não os que eu conheci — respondi. — Mas talvez... Eu confie em você.

Ele sorriu satisfeito. Não compreendia bem os motivos, mas aquilo parecia ser de uma significância tamanha para ele.

— Quando confiar totalmente em mim, sem receios e sem medos... — Ele fez uma pausa e mordeu novamente o lábio inferior — Vou te mostrar a realidade nua e crua do que é o governo injusto do Rei Donggun. Sem disfarces, sem sorrisos falsos por trás de atitudes bajuladoras. O verdadeiro lado do Rei do Norte.

Senti um arrepio percorrer por toda a minha espinha naquela hora, fazendo minha respiração travar por alguns meros segundos e meu corpo ficar tenso. Ele queria me mostrar, confiar em mim o lado podre do Norte... Mas por quê? O que eu significava para Taehyung para que o Alpha pudesse demonstrar tamanha confiança em mim?

— Taehyung... Por que você...

— Você vai entender logo — disse ainda mantendo aquele sorriso nos lábios.

A boa verdade era que eu não entendia nada, absolutamente zero. Desde que eu havia chegado ao Norte com minha família as coisas ficaram completamente nubladas e confusas. Fomos com o único propósito de casar com os Alphas, mas agora parecia que outras questões secretas invadiam minha mente e desviavam esse assunto, jogando a importância dele para escanteio. Minha última preocupação era uma cerimônia, um marido e filhotes. Eu queria saber mais sobre as pessoas das vilas, ajudá-las, poder confortá-las e tentar fazer algo por elas, na mesma medida que queria descobrir o quão ruim era Donggun e o porquê de Taehyung não ter afeto e confiança no próprio pai.

Eu, em minha posição de Ômega, jamais imaginei que pudesse de fato obter tais informações. Meu papel dado pela sociedade era cuidar, satisfazer e obedecer, não questionar, criticar e agir. Taehyung, de alguma forma, me fez começar a pensar que eu poderia sim fazer estas coisas, que eu tinha em minhas mãos a oportunidade inimaginável. Céus, o que estava acontecendo?

Com a mente completamente cheia de pensamentos e questionamentos, eu terminei aquele dia, após jantar silenciosamente e fui aos meus aposentos, onde prontamente Jimin me ajudou a me preparar para dormir. Quando já estava deitado e coberto pelas grossas cobertas de pele, o sono não vinha de jeito algum. Meus olhos estavam vidrados no teto enquanto todas as palavras do Alpha repassavam diversas vezes, a história do homem misterioso, os possíveis inimigos do Rei que estavam dentro do castelo. Era um bombardeio de coisas para uma pessoa só absorver.

No entanto, sem que eu ao menos percebesse, meus olhos se fecharam de repente. Não era sono, mas sim algo que me induziu ao mundo dos sonhos, mas tão real quanto a vida. Fui transportado inconscientemente para uma das praias do Leste e me parecia tão realístico que pude sentir até mesmo a maresia e ouvir o som das ondas quebrando na areia.

Estava ensolarado e fresco, cobri meus olhos com as mãos, olhando ao longe a silhueta canina que se aproximava ao longe, deixando a forma de suas patas na areia quente ao vir em minha direção. Eu sabia exatamente o que era aquilo.

Este tipo de sonho sempre ocorria quando meu lobo interior queria conversar comigo. Não foram muitas as ocasiões, mas sempre parecia tão bom e confortante poder olhar meu interior e poder conversar com uma parte vital de minha essência.

Quando o lobo de pelos rajados em cinza, marrom e branco estava diante de mim, não precisei me abaixar para poder conversar consigo, já que ele era simplesmente enorme. Meu lobo interior era majestoso e seus olhos continham uma dose gigantesca de coragem e compreensão. Assim como eu.

Seokjin... Já faz um tempo. — S voz calma ecoava em minha mente enquanto ele se curvava para mim.

— Muito tempo — respondi sorrindo.

Sente saudades de casa, eu creio. Por isso te trouxe aqui, pelo menos agora — disse afetuoso, fazendo-me levar uma das mãos à sua cabeça e acariciar. — Mas preciso te dizer algo importante.

Engoli em seco. Meu lobo interior sempre demonstrava muito cuidado, ao mesmo passo que passava sabedoria também. Ele nunca me procurava apenas para falar de assuntos banais.

— O que é? — perguntei levemente afoito.

Você vai ter responsabilidades em suas mãos em breve. Nós teremos. Hoje você descobriu apenas o início das coisas das quais terá de enfrentar daqui para frente, mas não há ninguém melhor no mundo inteiro que você para lidar com isso. Nós dois juntos somos fortes, corajosos, temos o poder da mudança em nossas mãos... Mas ainda sim, mesmo que você não ache necessário, precisamos de nosso Alpha para poder fazer o certo.

Franzi o cenho tentando entender. Algumas pessoas diziam que todo Ômega tem um Alpha predestinado, um tipo de alma gêmea. Claro que nem todos tinham a possibilidade de estar com estes, o que me fazia acreditar que aquilo era pura lenda dos híbridos mais velhos. Mas meu lobo parecia tão sincero...

— O que vai acontecer conosco? Que tipo de responsabilidades são essas? — indaguei preocupado.

Você vai saber e vai abraçar isso com o tempo. Mas não se esqueça de que seu Alpha vai lhe ajudar. Ele não vai lutar suas batalhas por você e muito menos lhe fazer sentir inferior... Ele vai caminhar ao seu lado, como deve ser.

 E quem é este Alpha?

Meu lobo interior soltou uma risada.

Não seja ingênuo... Você mesmo já sabe.

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