A descoberta

By JuhAndrade4

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Como seria encontrar o amor da sua vida e um ano depois, receber um e-mail de término, quando achou que aquel... More

Introdução
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 1

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By JuhAndrade4

Toda história tem um início

DEZ ANOS ANTES

Geovana Cristina Santoro Ayumi

Ouço a campainha tocar e, então passos, logo em seguida ressoa a voz da minha mãe no cômodo vizinho.

Risos. Imagino que a pessoa, antes em frente à porta, já esteja dentro de casa e que seja Lorenzo.

Ele é o único com quem minha mãe ri assim.

Não sei como conseguiu conquista-la em tão pouco tempo. Ela já o adora e isso não aconteceu em nenhum dos meus relacionamentos anteriores.

Pego minha mochila preta de pano, que guarda minha troca de roupas, e sigo até a origem dos sons, tentando passar despercebida pelo olhar da vovó Ana, que aparenta acompanhar, como Monalisa, cada passo meu.

Dona Ana sempre teve um olhar intimidador, e pode até ser impressão minha, mas esse olhar continua a ser tão penetrante quanto era em vida, ainda que em um retrato.

Do jeito que eu imaginava, dona Ingrid está sentada em um dos velhos sofás amarelos, com uma xícara de chá nas mãos, enquanto Lorenzo está em outro, segurando uma xícara de café – a xícara que minha mãe comprou especialmente para ele no nosso quinto mês de namoro.

Continuo a observar a cena do canto da sala e ouço a gargalhada gostosa do meu namorado. Não demora muito para que ele note minha presença ali.

É engraçado como temos essa sintonia única e incapaz de ser expressa por meio de palavras. Um sempre sente a presença do outro.

– Oi amor. – Lorenzo troca olhares com minha mãe, como se pedisse licença para se levantar e caminha na minha direção, selando nossos lábios em um beijo rápido. – Você está linda.

– Oi. Também não está nada mal. – Sinto um sorriso se formar em meus lábios. – Podemos ir? – Lorenzo assente, pega minha bolsa e a coloca em seu ombro. – Tchau mamãe.

– Tchau querida. Não se atrasem para o jantar. – Dou um abraço em minha mãe, entrecruzo meu braço ao de Lorenzo e me deixo ser conduzida por ele até o seu carro, que segue estacionado em frente à casa da minha família.

Assim que me sento, inalo a fragrância que usa. Minha preferida: Armani Code.

– Para onde vamos?

– Verá assim que chegarmos lá. – Ele liga o carro e dá partida. – Quer ouvir uma música? – Concordo e o som é ligado em uma rádio qualquer.

Seguimos ao longo de todo o trajeto em silêncio: ele, pelo que me parece, concentrado para não errar o caminho e eu tentando descobrir para onde aquele percurso me levaria.

Vinhedo é uma cidade pacata no extremo Sul do país. Existem poucas ruas, que possuem como destino comum, o centro. Lorenzo escolheu a rua mais antiga da cidade, cujas pedras assentadas durante o período colonial já estavam com alguns sinais de neve, graças ao rigoroso inverno que enfrentávamos pela primeira vez em oito anos.

Será que vai pedir minha mão hoje?

Nosso aniversário de um ano está próximo e embora seja pouco tempo, sinto como se o conhecesse há uma vida inteira. E pela forma como ele me trata, imagino que se sinta da mesma forma.

Além disso, Lorenzo sabe como adoro essa parte da cidade... não seria coincidência, seria?

Existem casas de muitas cores diferentes, além de algumas pequenas vendinhas e uma igrejinha ao final da rua. Dentre todas as casas, uma é minha preferida, talvez pela cor viva em amarelo e azul, talvez pela pequena quantidade de adornos. Há singela mistura entre o estilo alemão e o estilo trazido por outros povos europeus, o que faz com que o local assuma um ar mais antigo. Sinto gratidão por esse momento e por tê-lo em minha vida.

Ao invés de prosseguir até o fim da rua, a velocidade do carro vai diminuindo até parar.

Olho confusa para Lorenzo, que continua impassível. Desde o começo, ele sempre foi bom em esconder as emoções.

– Já volto, tudo bem? – Faço um gesto afirmativo com a cabeça e o observo entrar em uma estreita porta de madeira, na qual há uma placa retangular e branca fixada com os dizeres "Vendo artigos raros e de época".

Por que estamos aqui? Ele não disse que iríamos até um lugar? Parece estranho que esse seja o lugar em questão – pelo comportamento inquieto que apresentou a semana toda –, porém é uma possibilidade não? O que está me deixando aflita é tentar adivinhar por qual motivo escolheu descer sozinho?

Segundos após essa autorreflexão, Lorenzo sai pela mesma porta que entrou de mãos vazias. Ainda que pareça estranho, prefiro não ser a primeira a dizer algo. Não quero pesar o clima...

Como ele não toma a iniciativa, seguimos o resto do caminho da mesma forma como viemos: em completo silêncio.

A diferença, é que agora está seguindo por um caminho que não conheço e está, enfim, se afastando do centro da cidade.

***

Um tapete verde de vastas gramíneas entra no meu campo de visão, assim como alguns pinheiros cobertos por orvalho.

– Para onde estamos indo?

– Estamos quase lá. – Lorenzo se vira para mim, por um segundo, e faz um gesto com a mão, como se pedisse paciência.

Decido me calar e esperar para ver onde isso vai dar, afinal, já perguntei antes e se ele não me disse, não é agora que vai dizer.

Meu namorado corta caminho pela direita, entrando em uma estrada de terra. Imediatamente sinto meu coração palpitar, quase como se errasse uma batida.

Depois de alguns minutos, passamos por uma cerca retangular de madeira e já consigo ouvir barulho de água bem distante.

Como em um passe de mágica, relaxo.

– Seja bem-vinda à propriedade da minha família. – Suspiro. É uma propriedade e tanto. – Não tem muita coisa ainda, porque a compramos há pouco mais de três anos e meus pais ainda não tiraram todas as ideias do papel. Só viemos aqui para passar férias e feriados. – Ele estaciona e dá a volta no carro, abrindo a porta para mim e me estendendo a mão.

– Uau. – Sibilo. – É linda. – O cheiro me lembra o sítio dos meus avós maternos. — Por que me trouxe para cá? – Solto sua mão e ajeito o short jeans.

– Descobri um lugar aqui na propriedade e queria que fosse a primeira a estar nele comigo... além disso, preciso falar sobre uma coisa com você. – O tom sério de Lorenzo me faz estancar por um momento e olhar para o fundo dos olhos dele, mas a suavidade neles me tranquiliza.

Me apoio em seu braço outra vez e ele nos faz passar dentre enormes árvores... se não me engano são chá de bugre.

Quanto mais adentramos a vegetação, mais alto o som de queda d'água fica.

Não demora muito para que eu finalmente consiga ter visão da pequena, mas bela cachoeira da propriedade Fontana.

O cheiro das ervas de bugre junto ao cheiro de grama molhada, ativa memórias da minha infância e eu nem percebo quando paro no meio do caminho e sorrio de olhos fechados.

– Amor? – Abro os olhos.

– Sim?

– Vem, estamos quase lá. – Eu e Lorenzo caminhamos por mais 200 metros e reparo em algo que antes não havia notado: uma toalha vermelha com rosas bordadas (minhas flores favoritas), uma cesta de piquenique, feita de madeira cor ocre, e um balde de alumínio com gelo, cuja garrafa, no interior, parece ser uma legítima Gallo Sonoma.

Lorenzo me ajuda a sentar e se senta em seguida.

– Para que tudo isso?

Meu namorado abre a garrafa de champanhe, despeja o líquido em uma das taças, presentes dentro da cesta, e me entrega.

– Talvez eu te conte depois de um mergulho. – Lança o sorriso que tanto amo.

Minhas suspeitas de mais cedo não parecem tão erradas agora.

– Nem pensar. – Devolvo na mesma moeda e tomo um gole do champanhe.

Um frescor maravilhoso atinge meu paladar e eu aproximo a taça de minhas narinas. Maçã verde, limão fresco e melão maduro? Parece mesmo ter sido uma garrafa cara.

Graças ao meu nonno posso apreciar o aroma e o gosto de um bom vinho.

– Você vai mudar de ideia se disser que trouxe o seu preferido? – Lorenzo abre a cesta e retira uma bandeja dali. Poderia designar o cheiro do salmão a quilômetros de distância.

Reconsidero por um momento.

– Quem sabe. – Ele pega um garfo, espeta um pedaço milimetricamente cortado e o leva até minha boca. Mastigo algumas vezes, engulo e coloco a taça a uma distância segura, para só então voltar a pronunciar. – O que acha que minha mãe diria ao nos ver com os cabelos molhados? É claro que não vou mudar de ideia.

– Como é? – Meu namorado me olha como se me desafiasse e se ergue. Faço o mesmo e saio correndo, com ele atrás.

Não sei por quanto tempo ficamos nesta brincadeira de gato e rato. Só sei que depois do que parece serem poucos minutos , ele enfim me alcança e me ergue em seus braços.

Nossos olhares se cruzam e vejo uma chama diferente de todas as outras que já havia visto ali.

Lorenzo Fontana corre comigo em direção a água e quando está prestes a entrar, um toque de celular quase inaudível nos tira do transe.

Ele olha para mim como se pedisse desculpas e me põe no chão.

– Tudo bem, pode ir atender. – Com meu consentimento, me dá as costas, alcança o celular e atende a ligação, afastando-se de imediato.

Deve ser algo relacionado ao trabalho. Faz meses que essa atitude deixou de me incomodar. Ele sempre faz quando precisa falar sobre negócios. Talvez apenas não queira me entediar.

Seguro meu cabelo em um punhado e faço um coque.

Sem sinal algum dele, começo a brincar com a água corrente do riacho usando meus dedos dos pés.

– Geovana. – Algo em sua voz está diferente. Não tenho vontade sequer de olhá-lo, mas preciso.

No momento em que nossos olhos se encontram, sinto o meu corpo tremer. Nestes momentos, ele carrega um quê um tanto sombrio.

– Precisamos ir.

– Tudo bem. – Caminho até ele, seco meus pés na toalha de piquenique e calço meus sapatos, seguindo seus passos por entre as árvores até chegarmos ao carro.

Prefiro ficar quieta mais uma vez e ele previsivelmente faz o mesmo. Não sinto que seja a melhor hora para conversar sobre. Quando estiver pronto, virá até mim.

***

Lorenzo estaciona em frente de casa e cola nossos lábios rapidamente.

Por algum motivo, parece querer sair dali o mais rápido possível... quase como se fugisse de alguma coisa.

– Prometo que te ligo mais tarde para conversarmos, ok? Não precisa se preocupar. – Acho que não tinha noção de quão tensa estava até ouvir essas palavras e conseguir relaxar.

– Ok. Cuidado no caminho de volta.

Com o casaco em uma mão e a mochila em outra, observo o carro partir até que suma ao dobrar a esquina.

Pego meu celular do bolso e confiro as horas.

São exatamente onze da noite. Droga, minha mãe irá me matar.

Subo os degraus e estranhamente encontro a casa totalmente em silêncio e envolvida pelo breu da noite de lua cheia. O quarto da minha mãe está com a porta fechada.

Salva pelo gongo.

Deixo o meu sapato próximo à porta e sigo rumo ao meu quarto, pegando o pijama que estava pendurado no cabideiro Mancebo e o vestindo, após chegar ao quarto e tirar a roupa, que usava.

Retiro a colcha da cama e me deito sobre ela. Sem me importar com a maquiagem que cobre o meu rosto.

***

Mesmo com os olhos fechados, é quase impossível dormir. Sinto uma sensação de angústia invadir meu peito. É como se um mau presságio me assombrasse.

Depois de ainda muito tentar pegar no sono, desisto e me sento na cama.

O relógio marca três da manhã. Confiro o celular e a ausência de qualquer mensagem dele me causa um frio na espinha.

Felizmente me lembro que fiquei de verificar o e-mail, por causa de um dos meus professores da faculdade que faria a devolutiva de uma nota. Entro no e-mail e não há nenhum tipo de retorno do professor, entretanto para minha surpresa há um novo e-mail na caixa de entrada, cujo remetente é meu namorado.

Abro o e-mail e não consigo acreditar nas palavras que estou lendo.

"Faz muito tempo que penso na nossa relação e em como ela já não vem dando tão certo. Foi um erro ter te levado à propriedade da minha família e ter dado alguma, qualquer que seja, esperança a você. Acho que a partir de hoje é melhor que cada um siga o seu caminho. Espero que não me procure mais. Peço desculpas desde já e agradeço por tudo. Atenção, Fontana Lorenzo."

Como é que depois de um ano inteiro de namoro, ele tem coragem de terminar através de um e-mail de cinco linhas, que não trazem justificativa nenhuma sobre o motivo por trás dessa decisão?

Enquanto fartas lágrimas salgadas escorrem pelo meu rosto, tomo uma das decisões mais difíceis da minha vida: se não for caso de vida ou morte, jamais irei perdoá-lo.

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