Lilium (Colegas de Quarto)

By Hunterina

1.3M 8.9K 16.3K

🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2021! 🏆 Quando descobriu que estudaria no exclusivo internato Madre CordĂ©lia, Natalie... More

Lilium agora Ă© Colegas de Quarto (e estĂĄ disponĂ­vel na Amazon) 💞
Colegas de Quarto ✜ CapĂ­tulo 1
a g r a d e c i m e n t o s

Colegas de Quarto ✜ CapĂ­tulo 2

38.8K 3.7K 10.3K
By Hunterina

Não que Natalie estivesse surpresa em ver uma menina apenas de sutiã. A questão é que ela não esperava que sua nova colega de quarto fosse também a menina mais bonita que ela já tinha visto em toda a sua vida — estar seminua era um detalhe irrelevante.

O primeiro pensamento que cruzou a sua mente envolvia um gato, mas é claro que não havia nenhum animal lá dentro. Os olhos azuis e felinos pertenciam a uma menina lhe fitando com tanta intensidade que fazia seu coração acelerar.

Ela estava no processo de abotoar a camisa do uniforme, que no momento se encontrava completamente aberta, deixando o sutiã de renda branca à mostra. A cor clara contrastava com o negro intenso dos fios de cabelo que cascateavam até sua cintura, e a pele alva tinha a aparência de porcelana. Apesar de seu corpo esguio possuir a estatura parecida com a de Natalie, a postura impecável lhe conferia um ar quase sublime.

Sentiu o rosto esquentar quando finalmente se deu conta que havia ficado tão espantada com a beleza da garota, e hipnotizada pelo aroma cítrico com lavanda que inundava seus sentidos, que basicamente ficou encarando a colega de quarto seminua por vários segundos. Teve tempo até de reparar em como os seios dela pareciam menores que os seus e chegar à conclusão de que precisaria erguer um pouco o rosto se quisessem conversar enquanto estivessem próximas.

Depois de mais alguns segundos constrangedores, Natalie finalmente se obrigou a quebrar aquele contato visual e tentar parecer casual enquanto entrava no quarto, mas tropeçou nas malas e quase caiu no chão.

— Oi! D-desculpa, eu sou a sua nova colega de quarto! — Limpou a garganta. — Que coisa, eu deveria ter batido, né? É só... ainda não me acostumei com esse negócio de internato.

Abriu um sorriso amarelo, certa de que havia acabado de escolher o conjunto de palavras que mais a faziam parecer uma imbecil.

Sua colega de quarto ainda estava com as mãos imóveis no primeiro botão da camiseta, igualmente surpresa com todo aquele... episódio. Seus olhos azuis como fractais de gelo analisaram a intrusa, nem remotamente constrangida com seu estado de vestimenta.

— Não tem problema — falou, por fim, voltando a abotoar o uniforme. Sua voz era baixa, mas firme. — Uma caloura derrubou suco em mim e eu estava com pressa para me trocar.

Sua explicação não parecia particularmente interessada e o tom da voz a fazia parecer severa, como se estivesse estressada com outra coisa.

Assim como Alice e Grace, ela vestia o uniforme clássico do colégio, a característica saia comprida roçando pouco acima do joelho. Natalie olhou para o chão e encontrou outra blusa de uniforme branca, com uma gota laranja minúscula nela. Pensou em como não poderia se dar ao luxo de trocar de blusa só por causa de um pingo de suco, já que ela não tinha mais do que três conjuntos.

Conteve um suspiro quando olhou para o armário da colega de quarto: uma prateleira estava lotada de camisetas de botão brancas e, ao lado, uma pilha igualmente farta de saias; pendurados em cabides, quatro ou cinco suéteres de frio do internato. Sem nem contar as roupas casuais, devia ter pelo menos cinco mil reais em uniforme lá dentro.

Percebendo que estava parecendo de novo uma estranha encarando as coisas da garota, Natalie tentou emendar uma conversa:

— Puts, que coisa chata... Ahn, então, meu nome é Natalie.

A garota de cabelos negros se virou para o espelho e começou a passar uma escova pelos fios brilhantes. Pareciam macios e hidratados.

— Seja bem vinda, Natalie. — Virou o rosto para encará-la, mas seu tom ainda parecia desinteressado e rude. — Eu sou Esther.

A loira esperou em frente à porta por mais alguns segundos, mas, como Esther não falou mais nada, achou melhor terminar de empurrar as malas para dentro e começar a se ajeitar.

E só então parou para reparar no quarto. Era bem diferente da imagem de beliches empoeirados que vinha na sua cabeça quando pensava em "internato". O espaço era amplo para duas pessoas, com pisos e móveis de madeira. Uma janela bem aberta dava visão para os extensos campos verdes no terreno do colégio, atravessados por um lago tranquilo cuja superfície refletia a luz do sol. Em cada lado, havia uma cama de solteiro encostada na parede, com uma mesa de cabeceira ao lado. Seis armários grandes ocupavam a parede em frente à entrada, e Natalie pensou que provavelmente não teria roupas o suficiente para encher a sua parte.

Ainda havia um frigobar pequeno bem no canto do quarto, na parte de baixo de uma escrivaninha. Natalie nunca havia visto um frigobar fora de filmes.

— Uau, que quarto mais lindo! — Caminhou até a cama mais próxima da porta, que tinha sobre ela apenas um travesseiro sem fronha e um lençol fino. A outra já estava arrumada com um edredom lilás e travesseiros combinando. — Eu fico com essa, então?

— A menos que queira dormir comigo.

Natalie literalmente engasgou. A profundidade dos olhos azuis cravados nos seus, junto com a resposta na voz baixa de Esther, fez seu rosto esquentar. O que ela quis dizer com aquilo? Era uma pergunta retórica ou só estava tentando ser grossa? Do tipo "Óbvio, ou vai querer dormir em cima de mim"?

Tentou fingir que não escutou nada, pois não sabia o que responder, e se concentrou em abrir as malas e começar a organizar suas coisas, já que puxar conversa não tinha sido nem remotamente frutífero. As roupas de cama haviam sido mandadas naquela semana pela sua mãe e estavam cuidadosamente dobradas dentro de um protetor plástico ao lado da mesa de cabeceira. Quando o silêncio do quarto começou a se tornar insuportável, Esther finalmente falou:

— Estou indo para a reunião do Conselho Estudantil. — Ela parecia uma bonequinha de porcelana, com os fios de cabelo agora perfeitamente alinhados, emoldurando seu rosto. — Você precisa de alguma ajuda?

— Eu... preciso ir na secretaria fazer o check-in — murmurou — Sabe me dizer onde fica?

Esther explicou de maneira sucinta como chegar até a secretaria e que documentos levar. Também informou que o jantar seria servido das 18h às 19h30. Antes de sair pela porta, porém, lançou um olhar gélido para as unhas compridas da nova colega de quarto:

— Hoje ainda é permitido usar roupas casuais, mas corte as unhas e tire esse esmalte. Acessórios também são proibidos nas dependências do colégio e não quero que você me cause problemas. — Então simplesmente saiu pela porta, como se tivesse acabado de lhe desejar um bom dia.



Já era noite quando Natalie finalmente deixou o peso do corpo cair contra o sofá de couro, cansada demais até para se sentir deslocada ou sozinha.

Passou mais tempo do que gostaria na secretaria, com outras garotas que também chegaram tarde para o check-in. A pior parte do seu dia foi ter que deixar seu celular lá, como era o processo padrão: o uso de celulares dentro do terreno do internato era completamente proibido e todos os aparelhos deveriam ser entregues no momento do check-in e só liberados para emergências (havia um telefone em cada quarto para conversarem com suas família), saídas aos finais de semana, e aos domingos.

Quando finalmente terminou, Natalie precisou correr até o refeitório para chegar antes do fim do jantar. A ansiedade que apertou seu coração desde o momento em que chegou ao internato também a deixou sem apetite, então mesmo diante do buffet incrível com sete opções de sobremesa, optou apenas por um sanduíche natural. Sentiu-se elegante e misteriosa quando recebeu olhares curiosos de outras alunas enquanto cruzava o salão de jantar, e aceitou prontamente o convite de Alice para sentar com ela, em uma mesa repleta de garotas bonitas do seu ano. Não encontrou Esther nem no refeitório, nem quando voltou para o quarto após o jantar. Começou a desfazer as malas, mas se entediou milhares de vezes no processo e ficou procurando maneiras de protelar — reclamou consigo mesma sobre ser ridículo não poderem manter os celulares; organizou todos os produtos de cabelo e skincare, tomando conta de mais da metade da bancada do banheiro; e fuçou respeitosamente (pois não mexeu em nada!) o lado do quarto de Esther, arrumado de maneira impecável. Quando viu, já estava atrasada e teve tempo apenas de tomar um banho antes de ir à sala comunitária para a tal recepção.

Olhou para o relógio opulento no topo da parede que indicava nove horas da noite. Havia lido no manual que o toque de recolher era às dez, mas presumiu que no primeiro dia teriam uma tolerância maior, já que praticamente todas as garotas do dormitório do terceiro ano estavam na sala comunitária. Puffs e poltronas foram arrastados até lá (Natalie não fazia ideia de onde eles vieram) e garotas sorridentes e bem arrumadas estavam espalhadas por eles, conversando em voz alta.

Olhou a sua volta, prestando mais atenção nas meninas. Notou que aquelas que anteriormente estavam de uniformes finalmente trocaram para roupas casuais. Viu Alice e Grace, mas não encontrou Esther em lugar nenhum. Alice conversava com Lorena Molina, uma garota de cabelos alaranjados que jantou com elas, e Verônica, a amiga extremamente magra e de cabelos chanel que parecia nunca sair da cola da ruiva.

Também reparou em algumas roupas de grife e em conversas sobre viagens à Europa. Mesmo que fosse fácil dizer que não estava no mesmo padrão de vida daquelas garotas vindas de famílias abastadas, não se sentia particularmente deslocada. Talvez pela primeira vez na vida, estava ansiosa para as aulas começarem; queria fazer amigas, conhecer o internato e até mesmo ver seus novos professores — será que havia algo de inusitado e completamente extraordinário na forma como a matéria era dada naquele colégio de elite?

Na grande mesa de centro, havia garrafas de suco e refrigerante — que em dias normais eram proibidos, mas as preceptoras aparentemente fizeram vista grossa naquele primeiro dia. As alunas conversavam e riam alto, falando sobre suas férias, os meninos e meninas com quem saíram ou sobre um professor bonito que estavam com saudades de ver. O clima era alegre, de reencontro.

Uma cortina de cabelos ruivos se esvoaçou ao seu lado e ela viu Lorena se sentar no sofá.

— Gostando daqui, novata?

— Nossa, parece um sonho! — Natalie respondeu, sentando sobre uma das pernas para se aproximar da ruiva e não precisar gritar para ser ouvida sobre tantas vozes.

— Sabe, você tem cara de ser divertida. — Indiscretamente, Lorena encarou as unhas bem feitas de Natalie, seguindo com o olhar para as argolas chamativas que ela carregava nos lóbulos. — Quer um gole? Não me decepciona.

Ofereceu o copo para a loira, que ergueu as sobrancelhas, desconfiada do que se tratava. Seus olhos arregalados não foram por descobrir que havia vodka na coca-cola, mas por haver tanta. Ela colocou a mão na boca, controlando um acesso de tosse.

— Como você trouxe isso pra cá?!

— Trazer é fácil, afinal ninguém confere nossas garrafas de shampoo, mas nem todo mundo aceita. Algumas meninas daqui acham que vão direto para a cadeia se tomarem uma advertência. — Lorena deixou o copo com Natalie e pegou outro meio cheio da mesa de centro. — Não é como se fossem te dedurar, só são umas garotinhas malvadas que te julgam por não ser "perfeita" que nem elas.

Seguindo o olhar de desprezo de Lorena, Natalie finalmente encontrou outro rosto conhecido. Esther estava de braços cruzados e uma cara de poucos amigos enquanto uma loira-platinada falava com ela. Não usava mais aquele uniforme brega, mas sim um vestido claro de alças finas que fazia seus cabelos parecerem ainda mais escuros e seus olhos ainda mais azuis.

— Aquela ali mesmo é um saco — murmurou ao pé do ouvido da novata.

— Que?

— A filha da diretora. Esther.

Os olhos de Natalie se arregalaram.

— Ela é filha da diretora?! — quase gritou, chamando a atenção das meninas próximas, que seguiram seu olhar até Esther. Lorena ergueu uma sobrancelha. — Ela é a minha colega de quarto. — Explicou o motivo do surto, somente para a ruiva ouvir.

Lorena deu uma risada.

— Sério? Caramba, que merda! Que bom que eu não sou você.

Então a ruiva viu a deixa perfeita para começar a criticar outras alunas, mas Natalie não ouviu grande parte das declarações mal-educadas, seus olhos verdes discretamente pousados na morena a alguns metros de distância. A loira-platinada ainda tentava chamar a atenção dela falando sobre Deus-sabe-o-que, mas Esther só olhava para os lados, parecendo profundamente incomodada.

Algo em sua atitude fazia com que não fosse uma surpresa saber que vinha de uma boa família, mas filha da diretora do colégio? Natalie sabia que, desde a fundação daquele internato, há quase cem anos, ele pertencia à mesma família, que também assumia sua direção, como garantia de que jamais se desviasse dos altos padrões estabelecidos em sua fundação.

Quando Esther, a filha da diretora, ergueu os olhos para cravá-los em Natalie, ela desviou os seus.

— Quer saber? — Lorena finalmente recuperou sua atenção, embora talvez nem tenha percebido que não contava com ela por grande parte do tempo. Ergueu a voz para ser ouvida pelas outras garotas na sala: — A gente devia jogar "Eu nunca"!

— Vamos! — Alice respondeu, cheia de empolgação. — Para ajudar a conhecer as meninas que entraram esse ano! Natalie, Fabiana, Taís! — A veterana alta gesticulou para uma dupla de garotas que estavam conversando com Grace. Uma delas tinha cabelos castanhos e sardinhas na pele branca e a outra tinha a pele escura e os cabelos presos em duas tranças apertadas.

— Mas, Lorena, não precisa beber para jogar isso? — perguntou uma menina de cabelos compridos e escorridos, ajeitando seus óculos enormes. Lorena deu de ombros.

— Claro que não.

Então as outras duas novatas, Lorena e sua fiel escudeira Verônica, Alice e mais três meninas de quem Natalie não sabia os nomes fecharam uma pequena roda. Outras alunas se aproximaram, mas não queriam brincar — obviamente estavam interessadas apenas nas fofocas.

Verônica tentou chamar a loira que conversava com Esther, mas recebeu um grito para deixá-la em paz como resposta. Revirou os olhos e fez apresentações rápidas entre as meninas envolvidas na brincadeira. Os nomes das outras três eram Bruna, Catarina e Ivete, mas Natalie não entendeu direito quem era quem. Não perguntou, mas ficou curiosa em saber se todas tinham alguma bebida alcoólica em seus copos. Verônica e a menina com uma pintinha acima da boca, Bruna, pareciam um pouco alegres demais para uma noite de domingo.

— Eu começo! — Lorena colocou um dedo teatralmente na bochecha e fez um biquinho, como se estivesse pensando. Seu esmalte era claro e perolado, as unhas curtas, e ela usava um anel mínimo no indicador. Acessórios eram proibidos nos dias de aula e seriam tolerados para as saídas no final de semana (mas nenhuma garota deveria ficar perambulando com eles pelo colégio). — Vamos com algo leve... eu nunca reprovei em uma matéria!

Natalie ficou feliz em não precisar beber, embora já tivesse passado perto. Ninguém se moveu, mas os olhos de Lorena estavam pousados com malícia em Bruna, que revirou os olhos e tomou um gole discreto.

— Eu nunca... — Verônica continuou. Estava sentada do outro lado de Lorena e estabeleceu a ordem da roda, fazendo com que Natalie fosse a última. — Fiz algo que me arrependi porque estava bêbada!

Dessa vez, a maioria das garotas bebeu, exceto uma novata. Todas riam baixinho, divertindo-se.

— Samantha, bebe! — Verônica gritou para alguém, depois olhou para Lorena, como se buscasse sua aprovação. A ruiva riu baixinho.

Natalie acompanhou os olhos escuros da colega, vendo que ela se dirigia à loira platinada que conversava com Esther. Percebendo a provocação, a tal Samantha ergueu o dedo do meio.

Conforme as outras meninas continuaram com revelações embaladas por risadinhas e goles de bebida, Natalie manteve os olhos nas duas meninas conversando. Finalmente viu Esther respondendo algo, usando poucas palavras que não pareceram agradar Samantha. Sua colega de quarto estava com os braços cruzados e um ar de quem não queria estar ali. Sob a meia luz que iluminava a sala, os cabelos escuros pareciam quase arroxeados.

Natalie não entendia o que exatamente havia despertado tanto a sua curiosidade a respeito dela. Havia, com toda a certeza, a beleza assustadora daquela menina, que mesmo com as roupas pudicas do colégio e o corpo livre de quaisquer acessórios (exceto dois minúsculos pingos de luz em seus lóbulos, que eram aprovados pelo regulamento), ainda era tão linda que a deixou sem ação. Algo na elegância que exalava com sua postura refinada e atitudes discretas também tornava impossível desviar os olhos... Fazia Natalie pensar em como era ter crescido numa família tão rica e tradicional. Como foi a infância dessa garota? O que fazia em seu tempo livre?

Lembrou-se então da recente repreensão que recebera dela e sentiu as bochechas esquentando, desconfortável. Recordar-se de sua primeira impressão para a menina com quem dividiria o quarto pelo resto do ano letivo com certeza fazia toda a sua empolgação vacilar um pouco. Por que aquela garota foi tão seca?

Natalie a observava com um olhar clínico, como um cientista que analisa uma espécie de animal completamente nova. Em sua distração, acabou até mesmo tomando um gole de bebida, sem perceber, quando Taís disse "Eu nunca namorei escondido dos meus pais", mesmo que ela nunca tenha feito isso.

— Anda, Nath! — Verônica praticamente gritava, mesmo que as vozes ao redor não estivessem tão altas.

Natalie não pôde deixar de franzir o nariz. Ela odiava aquele apelido. Quando suas amigas queriam diminuir seu nome, lhe chamavam de Nini.

Arrancada de seus devaneios, com os olhos ainda analisando a filha da diretora, murmurou a primeira coisa que cruzou sua mente:

— Eu nunca beijei uma menina.

Nesse exato momento, Esther ergueu os olhos e eles se encontraram com os de Natalie. A loira não fazia ideia se ela tinha ouvido o seu "eu nunca", mas sentiu o coração acelerar.

Lorena tomou um gole, acompanhada por Catarina, Bruna e Verônica. Alice pareceu desconfortável e uma das novatas ficou vermelha antes de beber.

— Acho que todo mundo aqui já falou isso uma vez — Verônica debochou.

— Que bom que você tocou nesse assunto, novata! Para a sua sorte, criamos um trote que vai resolver isso — Lorena falou, com um sorriso malicioso nos lábios vermelhos.

— Quê? — Natalie perguntou.

— Não viu no regulamento? É uma regra. As alunas novas têm duas escolhas: ou beijam uma veterana na primeira semana, ou têm que pagar uma garrafa de bebida pra gente.

Quê?! — Natalie repetiu.

Alice revirou os olhos e deu um tapinha amigável na cabeça de Lorena.

— É uma prenda boba que a Lorena inventou no primeiro ano, e por algum motivo continuam fazendo — explicou.

— É só uma brincadeirinha para ajudar as alunas novas a se enturmarem — Catarina insistiu, aproximando-se de Natalie com um sorrisinho no rosto. — Tudo feito na melhor das intenções!

— Só que nenhuma de vocês precisa fazer nada se não quiser, ok? — Alice afastou Catarina e colocou a mão no ombro de Natalie, olhando com seriedade para cada uma das novatas. Algumas meninas próximas fingiram vaiar, mesmo que sequer estivessem participando do jogo. — É joguinho idiota para elas beijarem as garotas novas ou ganharem bebida. Vocês não precisam fazer nada que deixe vocês desconfortáveis.

Com os olhos arregalados, Natalie olhou para as duas outras alunas novas. Ela nunca tinha sequer cogitado aquela possibilidade: beijar uma menina. Desde que soube que iria para um internato feminino, simplesmente considerou que não beijaria ninguém naquele ano.

Ela era hétero, sempre ficou com meninos, mas também não iria morrer por participar daquela brincadeira tola. Era só dar um selinho em outra garota e pronto. Sem falar que a outra opção... o quanto não deviam custar as bebidas que aquelas burguesinhas tomavam?! Bom, não queria perder a chance de fazer amigas por não participar de uma brincadeira. Pior ainda, ser considerada uma chata e...

Completamente perdida nos seus próprios pensamentos, sequer percebeu a aproximação. Seu coração errou uma batida conforme os lábios macios da filha da diretora repentinamente selaram-se contra os seus.

Os olhos de gato agora estavam mais próximos do que nunca e a intensidade com a qual as íris gélidas a encaravam fazia se sentir encurralada por um predador. O mesmo aroma cítrico com lavanda que sentira naquela tarde agora inebriava completamente seus sentidos.

Natalie ainda estava sentada enquanto Esther usava o encosto do sofá como apoio, colocando um braço de cada lado do seu corpo. Sentia seu coração tão acelerado que chegava a doer, e um arrepio atravessou sua coluna quando ela se aproximou mais. Esther apoiou um dos joelhos no sofá, propositalmente encostado na coxa de Natalie, terminando quase sentada em seu colo.

A veterana ficou imóvel por alguns segundos e Natalie percebeu que ela estava lhe dando tempo caso quisesse parar. Provavelmente interpretou a falta de um protesto como uma autorização e virou o rosto, encaixando melhor suas bocas, enquanto fechava os olhos. Os fios de cabelo negro escorriam pelos seus ombros e se misturavam às ondas loiras.

A cabeça de Natalie virou um completo caos de pensamentos, mas um se sobrepôs à bagunça: aqueles eram os lábios mais macios que ela já beijou em toda a sua vida. Sentiu algo dentro do seu peito se contrair quando Esther passou a ponta da língua pelo seu lábio inferior, como se quisesse mostrar o quão perto estava de invadir sua boca. Era apenas um beijo, mas Natalie sentia que também era a coisa mais indecente que ela já fizera em toda a sua vida.

Quando a dona dos olhos felinos se afastou, seus lábios permaneceram unidos por um fio de saliva que se alongou até desaparecer. Só então Natalie percebeu que estava prendendo a respiração.

Levou a mão à boca e seus olhos procuraram pela imensidão azul, encontrando-se com um sorriso sacana.

— Feito. Bem-vinda ao internato.

As garotas ao redor explodiram em gritos, mas Natalie estava atordoada demais para prestar atenção em outra coisa além da sensação dormente em seus lábios.

Meu Deus, ela beijou uma menina.

E ela era sua colega de quarto.




Nota da autora:

Olá, amigos 💕

Lilium ficou disponível no Wattpad pelos últimos três anos, mas agora a nova casa dessa história é na Amazon. O livro agora se chama Colegas de Quarto e está disponível no Kindle por 9,99 ou gratuitamente para assinantes do Kindle Unlimited!

Os dois primeiros capítulos da nova versão ficarão disponíveis aqui no Wattpad, mas você pode ler uma amostra um pouco maior direto na página da história na Amazon.

Sei que muita gente fica chateada quando uma história sai do site e eu sou incrivelmente grata por tudo o que o tempo dela aqui me proporcionou (vocês estão até nos agradecimentos do livro!), mas é um passo necessário para seguir meu sonho e trabalhar com a escrita. Eu falo com toda a sinceridade do meu coração quando digo que gostaria de deixá-la aqui para sempre.

Por favor, não pirateiem o livro! Se você não tem dinheiro para pagar, considere me seguir no instagram (@autoramarinabasso) onde divulgarei todas as promoções, incluindo dias em que o livro ficará disponível gratuitamente. Farei o possível para que todos consigam ter acesso a ele!

Muito obrigada pelo carinho durante todos esses anos 💕

Continue Reading

You'll Also Like

776K 51.3K 67
Jeff Ă© frio, obscuro, antissocial, matador cruel.... sempre observava Maya andando pela floresta, ela o intrigava de um jeito que ele mesmo nĂŁo conse...
346K 14.2K 88
Fanfic Madura e contĂ©m cenas de fase adulta e linguagem inapropriada para alguns tipos de espectadores. " - đ‘șđ’Ì 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒖 𝒕𝒆 𝒂𝒎𝒐 𝒆 đ’‡đ’†Ì, ïżœ...
58.7K 5.2K 70
Essa mina rouba minha brisa, Acelera o meu coração...
101K 8.2K 57
Talvez eu nĂŁo merecesse ter ela. Ela era boa demais. Doce demais. Linda demais. Ela era pura. Inocente. Quase um anjo. Eu nĂŁo tinha um pingo d...