Aviso: o wattpad é a única plataforma onde publico minhas fics. Se você encontrá-las em qualquer outro lugar, não entre. Apenas denuncie.
E vamos de farofada!
Ah, a música cantada pelo Timothée é "in the end", do snow patrol.
Talvez tenha muitos erros mas é um capítulo muito grande e aaaa
***
FLEUR
- Essa aposta não faz o menor sentido - eu disse, enquanto Louise me maquiava. - Quero dizer... Se o Timothée não me beijar, ele perde. E se ele perder, quem paga a prenda é Andrew?
- E Harry - lembrou. - Foi uma desculpa desesperada para beijar o Harry, amiga. Eles são burros demais para articularem qualquer coisa.
- Então quem perde, ganha?
- Não acho que alguém vá ganhar ou perder. Se Timothée ganhar, ele ganha. Se Timothée perder, Andrew ganha.
- E Harry - foi a minha vez de lembrar.
- Vamos lá: Andrew e Harry são burros e não perceberam que inventaram uma prenda que deve ser paga se eles ganharem. Mesmo assim, acho que ambos não estão preocupados em ter que pagá-la.
- Caralho... Eu não entendi nada.
- Nem eu.
Ela me encarou por alguns minutos antes de explodir em uma ruidosa gargalhada. Eu a acompanhei, porque era bom rir com Louise.
Somente três homens tão idiotas como Andrew, Harry e Timothée conseguiriam arquitetar algo tão sem sentido como aquela aposta. Ainda assim, eu acreditava que era preciso ter algum nível de inteligência para se fazer burrices tão complexas.
- Mas Timothée perdeu, não é mesmo?
- Sim.
- Claro, você passou a semana inteira fugindo de todos.
Fora uma semana esquisita. Eu estava dividida entre escrever cartas para tentar traduzir os sentimentos dentro de mim, mas não podia fugir dos acontecimentos à minha volta. Eram eles:
1. Os bilhetes de Timothée, que dobrara a produção deles nos últimos dias. Eu não admitiria em voz alta - sobretudo por saber que ele aumentara o esforço para ganhar uma aposta -, mas eu me arrepiava toda vez que lia o "seu T." como assinatura. Inferno.
2. O aniversário de Shawn, porque, com ele, eu precisava lidar com outras pessoas, algumas nem tão agradáveis assim. Para a minha sorte, Louise prometeu fazer a minha parte do trabalho - ela odiava trabalhar em grupo e, pela primeira vez na vida, eu agradeci por isso.
3. A chegada de Jade.
Eu sabia que ela chegaria, porque me lembrava da empolgação de Holly naquele dia horrível. Mas, que inferno, eu não tivera tempo para me preparar, já que estava muito ocupada lidando com traumas e crises. Não bastasse isso, Louise me informara que ela e Timothée foram embora juntos depois da reunião de Julie. Como se eu já não me sentisse insegura o bastante.
Eu não queria agir como uma criança birrenta, mas era difícil lutar contra a vontade de fazer perguntas estúpidas. Louise já havia dito que a garota era legal. Se também fosse bonita, eu poderia morrer.
Eu estava nervosa com a perspectiva de encontrá-la mais tarde. Minha autoestima sobrevivia através de migalhas, mas eu não poderia evita-la, afinal, era aniversário de Shawn, o ser humano mais incrível do mundo. Seria uma tremenda desfeita não ir à festa dele, além de ser uma atitude patética cancelar os planos para não encontrar a ex do meu ex.
- Você está pensando naquilo de novo? - Louise perguntou.
- Eu ando pensando em muitas coisas. Você precisa ser específica.
Ela revirou os olhos.
- Na tal da Jade. Sério, eu não teria falado se soubesse que ela é ex-namorada do magrinho gostoso.
- Seria interessante se você parasse de chamá-lo assim.
- Só se você me disser como é o desempenho dele.
Eu mostrei o meu dedo do meio a ela, que riu, divertida. Era quase como se estivéssemos de volta aos velhos tempos, nos preparando para uma noite de aventuras que se repetiria apenas no mês seguinte.
- Sério, Fleur - disse após parar de rir -, você não deve se preocupar. O cara está de quatro por você, e parecia um cachorrinho esquecido quando percebeu que você não iria à reunião.
Eram aquelas as migalhas que impediam que a minha autoestima morresse de uma vez. Era uma droga depender daquilo, eu sabia.
- Ela é bonita?
Foi mais forte que eu. Era idiota, claro, porque as pessoas diziam que eu era bonita, mas beleza não foi o suficiente para que Timothée escolhesse o nosso namoro.
- Bem, não posso mentir.
Suspirei. Claro. Ela era o pacote completo, com certeza.
- Ah, Fleur, pelo amor de Deus.
- Só termina isso, tudo bem?
Seria uma longa noite.
***
- Não sei se é um bom presente - disse Harry, encarando o pacote em suas mãos com uma expressão desolada.
Estávamos esperando o uber para irmos para a festa de Shawn.
- Foi você quem escolheu? - eu perguntei.
Ele balançou a cabeça em concordância, e eu respondi "então é um ótimo presente" no mesmo momento em que Louise soltou um "então é um péssimo presente".
Eu sorri. De qualquer forma, eles estariam ali comigo - brigando, disso eu tinha certeza.
- Somos um trio e tanto - comentei.
- Sim - Louise concordou. - Duas gostosas e um Harry.
Eu ri da careta que ele fez. Harry estava esplêndido, mesmo parecendo ter se enrolado em uma capa de sofá. Era irritante perceber que qualquer coisa ficava bem nele.
Olhei para as minhas pernas de fora, sorrindo ao me lembrar das reações hipotéticas que Timothée teria ao me ver. Louise as descrevera com empolgação, e em todas elas eu acabava encostada em alguma parede com ele me beijando.
- Tá com frio, Fleur? - Harry perguntou.
Eu estava arrepiada por pensar em Timothée, mas não diria isso.
- Eu tô legal - despistei.
Mas eu não estava. Havia uma enorme expectativa dentro de mim, porque eu queria que algo acontecesse. No entanto, a possibilidade de acontecer algo ruim me alarmava. Eu não precisava de mais coisas ruins acontecendo em minha vida. Pelo menos não naquele momento porque, inferno, a balança estava desequilibrada o bastante.
- Ah, Fleur - Harry se virou para mim, já dentro do carro -, esqueci de perguntar... Você teve outra recaída com o Timothy?
- É Timothée - corrigi. - E pela milésima vez: não, Harry. Eu não tive outra recaída com ele.
- Curioso - disse Louise. - Dias atrás você surtava sempre que alguém o mencionava, mesmo sem citar o nome. Agora, no entanto, faz questão até de destacar a pronúncia correta do nome dele.
- É questão de empatia - resmunguei. - Eu sei o que é ter pessoas errando o seu nome a todo instante.
- Qual era a da sua mãe, hein? - ela perguntou. - Não que o seu nome seja feio. É bonito, eu acho. Mas...
Revirei os olhos - aquilo era mesmo uma merda e eu precisava encontrar uma maneira menos dolorida de expressar o meu descontentamento.
Antes que eu pudesse responder "qual era a da minha mãe", Harry iniciou uma discussão sobre como adaptar o nome do companheiro aos gemidos de prazer durante o ato sexual.
- Nem sempre dá para prolongar o nome na boca - disse. - Às vezes é preciso dizer em voz baixa, outras, gritar. Tudo depende do nome da pessoa com quem você está transando.
E ali, dentro de um carro que não era nosso, eles começaram a gemer nomes aleatórios. O motorista parecia tão constrangido quanto eu.
***
- Vejam só esta decoração - Louise repetiu pela quinta ou sexta vez. - Está perfeita, graças a mim.
Harry suspirou ao meu lado. Estávamos sentados em um dos inúmeros sofás que Violetta exigira. A festa ainda não havia começado. Na verdade, éramos os únicos convidados ali.
- O aniversariante está solteiro? - Louise perguntou.
Eu franzi o cenho, surpresa. Não pela pergunta, mas por perceber que eu não sabia muito sobre a vida de Shawn, sobretudo da parte amorosa dela.
- Não sei - respondi. - Eu nunca o vi com alguém.
- Estranho - Harry comentou. - Ele é bonito, atencioso, carinhoso, inteligente, divertido...
- Pelo amor de Deus, homem - Louise reclamou.
Ele deu de ombros.
- Só tô dizendo o que todo mundo acha.
- Todo mundo? Não faz nem um mês que você chegou aqui.
- Não interessa - Louise cortou. - Preciso pegar alguém desse grupinho. Só me resta o Shawn, já que o Harry vai pegar o Andrew hoje.
Harry engasgou. Ele não sabia que Louise me contara, por isso, após se recuperar, começou a fazer caretas estranhas para ela.
- Eu sei que vocês fizeram uma aposta - eu disse.
Ele engasgou outra vez. Em seguida, iniciou uma ladainha que julgava ser um pedido de desculpas. Antes que eu pudesse responder que, não, eu não me importava, Andrew chegou, sorridente, segurando um enorme pacote em uma das mãos.
- Noite - saudou com animação. - Cadê a comida?
- A festa ainda não começou, cara - informei o óbvio.
- Eu investi uma fortuna nessa festa. O mínimo que posso esperar é que tenha comida de sobra.
- E terá, mas só quando a festa começar, inferno.
Quando os outros convidados começaram a chegar, Andrew sugeriu que marcássemos aquele sofá como nosso.
- Não vou ficar sentado a festa toda - justificou. - Mas quero ter algum lugar para sentar quando me cansar.
- Eu tenho uma sugestão - disse Louise, sorrindo de maneira muito maliciosa.
- Cala a boca, Louise - pediu Harry.
- Qual sugestão? - Andrew quis saber, alheio à troca de olhares entre Harry e Louise.
- Nada, nada - ela riu. - Ah, importante que saiba: Fleur já sabe da aposta.
Sim, ele engasgou.
- Toda hora isso - reclamei.
- Fleur, não quero que você pense que...
- Blá, blá, blá - cortei. - Eu não ligo. Ele não conseguiu, aliás, o que faz com que você e Harry tenham que se beijar. Isso nos leva à questão mais importante disso tudo: a prenda. Porque, se ele não conseguiu, significa que vocês ganharam. Mas, se vocês ganharam, por que precisam pagar a prenda?
Os dois ficaram em silêncio, pensativos.
- Eles precisam de tempo - Louise sussurrou. - Têm uma inteligência abaixo da média.
Eu estava começando a acreditar nela.
- Ah... - Andrew balbuciou. - Então beijar o Harry não é uma prenda, mas um prêmio.
- Eu não entendi - disse Harry.
- Porque você é burro - Louise respondeu.
O salão já estava cheio. Claro, porque Shawn parecia conhecer todas as pessoas da cidade. Avistei Dylan ao longe, conversando com uma mulher que só poderia ser descrita como a personificação de Afrodite. Ri, lembrando-me do episódio em que tentei transar com ele, mas falhei.
O tempo parecia ter passado tão rápido...
- Ah, agora eu entendi - exclamou. - Bem, quero ressaltar que foi o Andrew quem sugeriu isso.
- Não faz sentido - disse Louise. - Se vocês ganharam, quem precisa dar o prêmio a vocês é o magrinho gostoso.
- Pare de chama-lo assim.
Fui ignorada pelos três.
- Eu não quero beijar o ex da Fleur - Andrew falou, apressado.
- Qual deles? - perguntei.
Novamente ignorada.
- E quem disse que ele beijaria você? - Louise riu.
- Ei, eu sou completamente beijável.
Louise olhou para mim, séria.
- Você precisa tomar cuidado, Fleur. Um pouco mais e um dos dois vai roubar o seu Timothée.
- Ele não é meu - resmunguei.
- Aí é que você se engana, Flower - alguém disse atrás de mim. - Eu sou todinho seu.
Puta merda.
***
Olhei para trás, tentando descobrir de onde ele surgira. Mas que diabo?
- Isso vai ser interessante - Andrew disse. - Observem.
- De onde você veio? - perguntei a Timothée.
- Do meu apartamento.
Idiota.
Um idiota muito lindo, eu precisava admitir. Ele cortara o cabelo, mas não muito. Parecia bagunçado, mas de um jeito estiloso. Inferno.
- Espero que você esteja aproveitando a visão tanto quanto eu - falou, me olhando de cima a baixo.
- Meu Deus do céu - alguém suspirou ao meu lado.
Eu tinha plena certeza de que não fora Louise.
Tendo consciência de que estava vermelha, eu me endireitei no sofá, disposta a não deixar que Timothée me irritasse. Ele não facilitaria para mim, claro, porque, instantes depois, estava sentado ao meu lado, no braço do sofá.
- Você está linda - disse, inclinando-se para que sua boca ficasse próxima ao meu ouvido. - Mas a sua roupa tá me matando, devo confessar.
Inferno.
- Você sempre teve problemas com minhas roupas.
Ele riu.
- Sim, porque eu prefiro quando você não está usando nada.
- Tá com frio, Fleur? - Harry repetiu a pergunta que fizera mais cedo.
Inferno.
Naquele momento, Shawn chegou. Eles insistiram naquela palhaçada de festa surpresa, por isso todos começaram a gritar quando ele entrou - Louise ainda acrescentou adjetivos como "lindo" e "gostoso" aos gritos.
Timothée aproveitou que a atenção de todos estava no aniversariante e voltou a me perturbar.
- Queria ir para outro lugar com você - disse.
Era só o que me faltava.
- Por que eu faria isso?
Ele sorriu.
- Porque eu não sou o único necessitado aqui, Flower.
- Meu nome é Fleur - resmunguei.
Seu sorriso aumentou, mas, quando abriu a boca para responder, Louise, Andrew e Harry voltaram a prestar atenção em nós dois.
- Ah - Andrew exclamou, parecendo ter se lembrado de alguma coisa. - A Fleur sabe da aposta, Timothée.
- E lá vamos nós - murmurei enquanto Timothée engasgava.
- Fleur, eu...
- Ah, corta essa ladainha.
Ele deu um risinho culpado.
Seguindo o exemplo de Andrew, Harry também pareceu estar se lembrando de alguma coisa. Quando falou, porém, eu desejei mata-lo, porque ele decidiu ressuscitar o assunto "nomes e gemidos" e incluir Timothée na nova rodada.
- Seu nome é "gemível"? - perguntou a ele.
- Não sei - Timothée respondeu. - Nunca gemi o meu próprio nome. Mas você pode perguntar à Fleur.
Foi a minha vez de engasgar.
- Obrigado, Deus - disse Andrew.
- Pelo entretenimento - Louise completou.
Disposta a ignorá-los, passeei os meus olhos pelo salão. Shawn cumprimentava pessoa por pessoa, o que indicava que ele demoraria muito para chegar até nós. Vi Ansel rindo ao lado de Luke e senti náuseas. Era horrível pensar em como meu irmão fazia de tudo para não ser tratado como um idiota outra vez, mas era exatamente o que acontecia.
Desviei os olhos antes que vomitasse. Dylan continuava conversando com a mulher. Como se sentisse que estava sendo observado, ele olhou para mim, sorrindo logo em seguida. Disse alguma coisa no ouvido dela, que também olhou para mim. Instantes depois, os dois caminhavam em minha direção.
***
- Fleur - disse Dylan, sorrindo. - Eu não te vejo há séculos.
Ao meu lado, Timothée parecia tenso.
- Não faz tanto tempo assim.
Talvez fizesse, mas eu não tinha mais noção de tempo.
- Quando é que você vai nos apresentar ao seu amigo, Fleur? - Louise se intrometeu.
Ah, a Louise.
Pigarreei.
- Ah... Pessoal, esse é o Dylan, irmão da Holly e... - olhei para a mulher ao seu lado, esperando que ela me dissesse o seu nome.
Mas foi Dylan quem respondeu:
- Essa é a Jade, minha prima. E prima da Holly, também.
Ah.
Por isso Louise pediu para que eu a apresentasse apenas a ele, pois ela já conhecia aquela mulher.
Por isso Timothée estava tenso. Não porque tinha ciúmes de Dylan.
Eu me senti uma idiota.
- Nós a conhecemos - disse Louise, sorrindo. - Mas é um prazer conhece-lo, Dylan.
- Por que você não é simpática conosco desse jeito? - Harry quis saber.
Eu me desliguei da conversa. Sabia que precisava apresentar os meus amigos, mas, que inferno, eu estava prestes a entrar em pânico. Antes que isso acontecesse, porém, ele sussurrou em meu ouvido:
- Eu sou todo seu, amor. Não se esqueça disso.
***
Em algum momento Cameron arrastou Timothée pelo braço para que os dois cantassem no karaokê. Ao meu lado, Louise conversava alegremente com Dylan e Jade. Harry e Andrew haviam sumido.
Eu tentava não olhar para Jade porque, Cristo, ela era linda. Estonteante, na verdade. A voz de Timothée me dizendo "eu sou todo seu" se repetia em minha mente, mas não tão alto quanto as vozes que alimentavam a minha insegurança.
Shawn continuava cumprimentando os outros.
Olhei para o palco improvisado, onde Cameron berrava e Timothée, em um tom de voz normal, mas que perto de Cameron se tornava baixo, cantava e sorria. Olhando em minha direção.
Mas Jade também estava sentada no sofá.
Que inferno, pensei, lutando contra o desejo de gritar. Quando eu estava quase perdendo a luta, Shawn se aproximou de nós.
Ele estava radiante. O sorriso parecia capaz de iluminar qualquer pessoa, e eu só consegui pensar no quanto amava aquele cara.
Eu me levantei em um pulo, louca para sentir o seu abraço.
- Ah, senti sua falta - murmurei enquanto ele me apertava.
- Também senti. Mas, você sabe, eu estava muito ocupado porque...
- O seu orientador, blá, blá blá. Todo mundo já sabe.
Ele riu. Porém, sua expressão tornou-se séria logo depois.
- Então você já conheceu a Jade - murmurou.
- Quase isso.
Eu não trocara mais que três palavras com ela. Isso porque preferi me ocupar com minhas paranoias enquanto ela esbanjava simpatia ao meu lado.
Ela se apressou em abraçar Shawn assim que eu o soltei. Louise e Dylan fizeram o mesmo.
- Meu Deus, você está ficando mais velho, mas o rostinho de bebê permanece intacto - disse Jade, rindo.
Eu a detestava por ser tão carismática. Não me surpreendia o fato de Timothée ter ficado louco por ela.
- A cara é de bebê, mas o resto do corpo, não.
Ah, a Louise.
Shawn parecia um tomate maduro.
Eu voltei a me sentar, porque Timothée continuava cantando e era bom ouvi-lo.
Will you dance with me?
(Você vai dançar comigo?)
Like we used to dance
(Como costumávamos dançar)
Jade estava em pé, então, sim, ele estava olhando para mim.
Talvez fosse vergonhoso, mas eu não me importava. Eu precisava me apegar a alguma coisa.
- Algo bom sempre acontece após algo ruim - murmurei.
Minha atenção foi desviada pela voz de Jade.
- Vou esperar o Timmy terminar de cantar, então farei um pronunciamento.
Timmy?
Tentei me lembrar das dicas da minha psicóloga. Eu contara a ela sobre os meus surtos de ciúmes com Barbara, e ela me ensinou alguns exercícios para que eu não partisse para cima de alguém.
- Jade...
Havia um tom de alerta na voz de Shawn.
- O presente é meu, Shawn. Eu decido como entrega-lo.
- Você pode fazer isso de outra maneira. Eu jamais...
- Já está decidio.
Dylan e Louise pareciam tão perdidos quanto eu. O que estava acontecendo?
In the end, in the end
(No final, no final)
It's time for us to lose our weary minds
(É hora de perdermos nossas mentes cansadas)
Por que ele precisava ter uma voz tão linda? Por que ele precisava sorrir enquanto me olhava? Por que ele precisava jogar o cabelo pra trás enquanto cantava?
- Você está mesmo apaixonada - disse Dylan, sentando-se ao meu lado.
Eu suspirei.
- Foi inevitável, eu acho.
Ele riu.
Louise sentou-se ao lado dele. Jade e Shawn já não estavam mais ali.
As coisas aconteceram muito rápido. Em um momento Timothée estava cantando, no outro, Jade assumia o controle do microfone e exigia a atenção de todos.
Eu olhei para Dylan, mas ele parecia tão curioso quanto eu.
Timothée voltou para perto de mim. Já não sorria mais.
- Boa noite a todos e todas - cumprimentou com simpatia. - Meu nome é Jade e eu sou amiga do aniversariante. Sei que há uma mesa especial para acomodar os presentes de todos, mas o meu é diferente.
- Puta que pariu - Timothée murmurou em voz baixa.
Eu o encarei, mas ele não retribuiu o meu olhar.
- Antes de tudo, quero enaltecer a pessoa maravilhosa que é o Shawn. Um ser humano incrível, sempre disposto a ajudar a todos. Eu consigo me lembrar de todas as vezes em que ele me ouviu e me abraçou. Eu queria ser como você, Shawn.
O salão explodiu em palmas.
- Mas eu não sou - ela continuou, assim que todos se acalmaram. - Apesar de ser citada em todos os almoços de família como um prodígio, eu tenho uma mancha em meu passado. Para escondê-la, eu ferrei com a vida de uma pessoa que é tão maravilhosa quanto o Shawn.
Eu abri a boca, chocada.
- Meu Deus - balbuciei.
- Shawn me fez perceber o meu erro, e eu estou aqui para consertá-lo. Quero deixar claro que ele implorou para que eu não dissesse isso em público, porque... Bem, ele é o Shawn, e é bom até com quem não merece. Mas eu decidi fazer do meu jeito, porque sei que uma pessoa... Timothée. Ele foi humilhado por anos por conta de algo que não cometeu, e eu, Jade, acho justo fazer com que os verdadeiros culpados sintam na pele o que Timothée sofreu. E eu estou incluída nessa lista.
- Meu Deus, meu Deus.
Timothée procurou a minha mão, apertando-a em seguida.
- Anos atrás, eu traí meu namorado. Meu parceiro de traição era o namorado da minha prima. Eu engravidei. O pai, que não era o meu namorado, me ameaçou e me obrigou a abortar. Eu fiz isso, e o meu então namorado assumiu a culpa de tudo. Eu ferrei com a vida dele, e estou aqui para presentear o meu amigo Shawn com a verdade, pois ela fará com que o meu ex-namorado seja finalmente livre. Obrigado, Shawn, por não ser um egoísta como eu.
O silêncio no salão era sepulcral. Ao meu lado, Timothée parecia respirar com dificuldade.
- Meu Deus - repeti.
Ele apertou ainda mais a minha mão.
- Vamos fugir daqui - balbuciou. - Você e eu. Por favor.
Eu aceitei.