Aryana
- Dra. Schwartz? - Me escondo na lateral da bancada da recepção ao ouvir sua voz. - Com licença querida, você viu aquele pedaço de residente de cabelo platinado?
- N... não?
- Isso foi uma pergunta ou uma resposta? - A menina na recepção encara a mulher a sua frente e com a voz mais baixa responde.
- Uma resposta.
- Quando ver a sombra dela, avisa que a quero na ala 3 neste exato instante, me entendeu?
- Sim, doutora. - E com a afirmação da garota assustada a mulher esbelta some do salão principal do hospital.
- Obrigada Roxie. - Digo para a moça que acabou de acobertar minha fuga.
- De nada, ela me dá medo.
- Víboras geralmente causam isso nas pessoas.
- Oi princesa. - Eu dou um mini pulinho e vou com a mão ao coração, pois não esperava que ninguém chegasse por trás de mim neste momento.
- Quer me matar do coração Max?
- Acho que se eu fizesse isso, não seria em um hospital. - Ele sorri sarcasticamente, se apoia na bancada e estica o braço. - Bom dia Roxie, tem algo para mim?
- Você é impossível.
- Impossível não resistir?
- S... Sim. - A menina respondente ao mesmo tempo que eu nego e logo depois percebe que foi notada e entrega uma pasta para ele e dá uma desculpa de ter sido chamada.
- Im - pos - sí - vel.
- Então por quanto tempo acha que vai conseguir fugir da Angel?
- Não estou fugindo. - Estávamos indo em direção a barraca de café do Henry e a todo momento eu usava meu amigo com escudo humano para vista de qualquer mulher de cabelos negros e um salto insuportável batendo chão.
- Então estamos em uma missão secreta do seu pai?
- Não, sabe que meu pai é aposentado.
- Se ele não estivesse, a resposta poderia ser sim?
- Óbvio que não, sou médica e não policial.
- Até porque você nunca daria certo nessa carreira. - Max comprimenta Henry e pede dois cafés.
- O que quer dizer com isso?
- Bom... Você não seria capaz de matar ninguém, nem que a pessoa fosse uma assassina. Pois você tem um coração tão bom, que acredita que todo mundo merece ser salvo.
- Eu... Eu sei atirar.
- Nunca disse que esse era o problema em questão.
- Dois cafés frescos, um com creme para a senhorita.
- Obrigada Henry, precisava de algo doce mesmo.
- Valeu Henry, até mais tarde. - Vamos até um canto longe da aglomeração de pessoas com eu super concentrada em comer todo o creme sem me sujar.
- Agora, falando sério, não vai poder fugir dela a manhã toda.
- Tenho esperanças que algum momento ela vai desistir.
- Então você admite.
- Ela não me larga porque acha que escolhi cardiologia e está fazendo dessa especialização um inferno.
- Mas não vai ser ela que fará você desistir.
- Fica uma hora na minha pele, duvido você não mudar de ideia.
- E é isso mesmo que voc...
- Não, você também não.
- Ary você terá que decidir uma hora ou outra.
- E eu irei, mas a prova é só daqui dois meses.
- Sim, mas o fim das inscrições acaba em duas semanas.
- O que é muito tempo.
- Que você poderia usar para estudar e aprimorar.
- Todos neste hospital me veem como a futura chefe da cardio.
- Mas... - Ele dá ênfase para eu continuar, encaro meu amigo de anos e ele me dá um sorriso de encorajamento.
- Mas eu posso escolher errado e desapontar todos com minha escolha.
- Princesa, você nunca conseguirá agradar todos ao seu redor, por mais que tente. Não importa o que todos querem e sim o que você, Aryana, quer.
- E se minha escolha estragar tudo?
- Princesa da minha vida, entenda. Se você fizer irão reclamar e se não fizer reclamam igualmente.
- Eu não entendi.
- Não importa o que ou como faça, sempre terá alguém para dar um palpite ruim. O importante é você estar bem com sua decisão. - Ele segura minhas mãos e eu desisto do meu café. - Você vai saber que é a escolha certa quando você sentir que faz por que ama e não porque seu chefe exigiu de você. Quando você entrega o dobro ou até mesmo o triplo de si, e faz por prazer.
- Ah Max.
- Agora eu vou te dar cinco minutos de dianteira.
- Como?
- Angel está vindo em nossa direção e vou distraí-la, para você surpreender e pegar a víbora pela cabeça.
- Você acabou de chamar Angel pelo apelido carinhoso que eu lhe dei?
- Tchau Ary. - Ele me abraça e me gira, então caminhamos em direções opostas.
Passo para pegar exames e prontuários com as enfermeiras da ala três e felizmente tem apenas dois pacientes. No caminho checo meu celular e respondo as meninas sobre o karaoke de amanhã e quase não percebo o cirurgião chefe na porta da ala 3. - Desculpa, não estava prestando atenção.
- Eu que fico velho e vocês que não enxergam? - Ele me repreendeu, mas é em tom de brincadeira. William Hunt é o médico mais antigo do hospital, mas não consigo imaginar outra pessoa como cirurgião chefe do St. Vincent.
- Estava olhando no celular, mas não se repetirá.
- Vejo verdades em suas palavras, mas não tenho muita fé. - Ele sorri e dá batidinhas no meu ombro. - Viu Dr. Muller?
- Está trabalhando no PS hoje, mas a última vez que o vi estava no café.
- Certo, acho que ele irá me ajudar em uma cirurgia hoje.
- E... - Eu hesito por um minuto, mas continuo logo a seguir. - Essa cirurgia vai ocorrer agora?
- Acredito que só daqui algumas horas.
- Então o senhor não ligaria de ir a passos lentos atrás dele, certo?
- Depende, estou compactuando com algo que vai contra as leis da medicina ou deste hospital?
- Nada tem a ver com estes assuntos.
- Ótimo, eu precisava mesmo de uma pausa para comer um daqueles donuts do Henry.
- Obrigada, Dr. Hunt.
- De nada, Dra. Schwartz.
Eu voltei a ver a cirurgiã chefe da cardiologia já tinha passado do começo da tarde, eu tinha cuidado dos poucos pacientes que ela me deixou, um deles recebeu alta e outro estava em repouso recebendo medicação das enfermeiras. Eu estava apoiada em uma das macas quando a mulher surgiu a minha frente e fez um barulhinho com a garganta chamando minha atenção.
- Boa tarde doutora Ratzo.
- Que bom que desistiu de fugir.
- Que bom que desistiu, por hoje, de pegar no meu pé.
- Eu preciso fazer isso.
- Porque exatamente você precisa? E justamente comigo, mais do que com os outros residentes?
- Se quer tomar meu lugar você tem que ser ótima, ou até mesmo tentar ser melhor que eu.
- Eu nunca disse que queria seu cargo.
- Você mostra muito interesse nas cirurgias, ou só o fez por ódio de eu ter namorado seu melhor amigo?
- Sinceramente, não creio que isso passou na sua cabeça.
- Algo tem que ser.
- Eu sou apaixonada pela cardiologia, dedicada a pediatria, relaxo na ortopedia e...
- Você detesta neurologia. - Ela interrompeu minha linha de raciocínio com um meio sorriso.
- Como você sabe?
- Todos nós, supervisores, acompanhamos o desenvolvimentos dos residentes neste hospital.
- E está tão na cara que eu não simpatizo com o cérebro humano?
- Para mim pelo menos. Eu não julgo, sinto o mesmo. - Ela se apoia na maca ao meu lado, é estranho a aproximação repentina. - E trauma?
- Trauma? A área do Dr. Andrés Alvarez?
- Sim, ele está quase se aposentando, facilitaria sua ascensão ao cargo?
- Eu... Espere um minuto, está querendo que eu desista da cardiologia apenas para não te tirar do St. Vincent? - Eu desencosto da maca encarando a mulher a minha frente, que continua com um sorriso no rosto, me encarando.
- Eu? Nunca, afinal estou te ensinando e exigindo cada molécula de você, não estou?
- Sinto muito que tenha que ouvir isto Angel, mas eu não confio em nada que sai da sua boca.
- Sinto nada ao lhe responder, pois eu não ligo. - Ela rebola até a porta e para na soleira apenas para dizer. - Está liberada por hoje, se correr consegue liberar a sua raivinha de ter que conviver comigo nos seus próximos anos neste hospital quebrando alguns ossos com a Dra. Gomez, por que eu não tenho nenhum interesse em deixar meu cargo Aryana.
Eu não tenho que responder, e nem mesmo que eu quisesse eu faria, pois qualquer coisa na direção dela é ponto negativo para mim e meu futuro no hospital St. Vincent.
Saio da ala três e realmente encontro Isabella no saguão principal vendo alguns exames e conversando com enfermeiras. - Bella está ocupada?
- Hã... Oi Ary, na verdade sim, o Lance Tipton sumiu e eu tenho uma cirurgia nesse momento.
- Posso participar? - Ela para o que está fazendo para me encarar. - Por favor?
- Tudo bem, será melhor assim, já que a Lis adiou novamente o karaoke para o hoje a noite.
- Hoje a noite?
- Sim, e são 18h, ou seja chegaremos atrasadas.
- O importante que iremos,então qual é o caso?
- Homem, 40 anos, caiu da própria altura, fratura exposta no membro inferior e deslocou o pulso direito.
- Ótimo, era disso que eu precisava para a minha noite de sexta.
- Você está começando a tomar gosto pela ortopedia.
- É um cargo a se considerar.
Desculpem a demora hoje, eu e o Wattpad não estávamos nos amando.
Prontos para a noite de karaokê ? Porque eu estou ansiosa para ver Clara cantando novamente.