Igor e Helena eram amigos desde o início ensino médio, apesar de não parecer, já fazia algum tempo que se conheciam. Havia dias durante o período escolar que não se desgrudaram, adoravam passar tempo juntos, nem que fosse pra fazer algum trabalho da escola ou só pra falar sobre bobeiras do dia a dia.
Hoje Igor é jogador profissional do São Paulo, enquanto Helena faz faculdade de História. Os dois tinham rotinas muito corridas, e apesar de se falarem por mensagens todos os dias, não se viam há muito tempo, e sentiam muita falta um do outro.
O tempo sem se ver acabaria depois de Igor mandar uma mensagem para sua amiga dizendo apenas "desmarca tudo o que já tinha planejado pro fim de semana, nós vamos viajar". A mulher tentou negar, alegando que tinha muita coisa da faculdade acumulada para fazer, mas não conseguia negar quando Igor lhe pedia algo.
Nenhum detalhe havia sido dado sobre a viagem, o jogador estava ocultando qualquer tipo de dica sobre o destino, quanto tempo ficariam, qualquer coisa que pudesse dar indícios de que Helena pudesse cancelar ou reclamar das escolhas feitas por ele. O segredo em torno dos planos fazia com que a amiga ficasse cada vez mais nervosa e ansiosa.
Helena sequer percebeu o tempo passar ao longo do dia enquanto revezava entre estudar e arrumar suas malas, só notou que tudo deveria estar pronto quando recebeu mensagem de Igor dizendo que já estava na frente do prédio a esperando. Aquilo só fez com que ela ficasse ainda mais animada e ansiosa na mesma proporção, queria muito saber para onde iriam e o que fariam no passeio.
— E aí, coisinha, bora? - Igor disse ao abaixar o vidro do carro.
— Sei não, to com medo ainda, não me falou nada — Helena entrou no carro e deixou suas coisas no banco de trás.
— Não posso falar, não, é surpresa — o jogador falou enquanto dirigia já em direção à cidade que passariam o final de semana.
— Se eu não gostar cê sabe que vai ter que voltar, né? — Helena tentava esconder sua ansiedade.
— Sei, sei, tô acostumado com a sua chatice já, são muitos anos — Igor dizia a provocando.
O trajeto da viagem havia sido tranquilo, regado a muita conversa e brincadeiras, matando a saudade que sentiam um do outro. Demorou menos de duas horas para que chegassem no lugar.
Igor havia escolhido a cidade de Boituva para passar o final de semana com sua amiga Helena, os dois gostavam muito de natureza e lugares calmos, e o jogador havia conseguido uma chácara para que pudessem ficar e aproveitar tudo ao máximo que podiam.
A cidade escolhida não tinha chamado a atenção do jogador apenas por ser próxima à capital, mas também pode ser conhecida por ter alguns atrativos, como paraquedismo e passeio de balão. O grande problema era que Helena tinha medo de altura, mas o intúito de Igor era que ela superasse aquilo, e faria de tudo para ajudá-la.
— Qual o motivo de você ter escolhido essa cidade? Ainda não entendi — a mulher perguntou ao amigo assim que chegaram na casa que ficariam durante o final de semana.
— Então, Lena, era isso que eu queria te falar... — Gomes estava nervoso para falar o que havia planejado. — Aqui tem muitas coisas de passeios de balão e também de saltos de paraquedas.
— Salto de paraquedas é coisa de gente maluca, você sabe o que eu acho disso, e outra, passeio de balão é coisa de casal, Igor! — Helena dizia rindo de nervoso.
— Talvez eu tenha marcado um horário pra a gente pular de paraquedas...
— O quê?! — Helena disse surpresa e aterrorizada só com a ideia de estar metros longe do chão.
— Eu sei que você tem medo, Lena, mas pensa comigo, você nunca vai conseguir superar se não fizer algo assim — o homem tentava a todo custo convencer a amiga.
— Você tá é maluco, Igor, eu vou fazer o quê pulando de paraquedas? Eu não sei voar não, cara — a amiga parecia irredutível sobre a questão do balão.
A conversa sobre o passeio já parecia ter morrido até Igor soltar uma frase que despertou interesse em Helena.
— E se a gente fizesse uma aposta? Se você pular de paraquedas eu faço qualquer coisa que você escolher — ele apostava em sua última cartada.
— Qualquer coisa? Mesmo? — Helena pareceu ficar interessada quando ouviu a palavra "aposta" sair da boca de seu amigo.
— É, Lena, qualquer coisa mesmo... — Igor falava com um leve tom de arrependimento em seu tom de voz, sabia o quanto a mulher em sua frente poderia ser maldosa em suas apostas.
Helena já tinha a situação perfeita para poder apostar, não sabia se ganharia, mas queria muito que aquilo acontecesse.
— Mas se você não for, eu também posso te pedir pra fazer qualquer coisa! — O são-paulino não podia sair prejudicado e perder uma chance de apostar algo que queria fazer há tanto tempo.
— Tudo bem, é justo, então tá apostado? — com um leve medo acompanhado de boa ansiedade, Helena perguntou.
— Apostado — Igor decretou.
•
Os dois não acreditavam no que estava prestes a acontecer. A mulher que Igor conhecia há anos e tinha um medo enorme de altura estava pronta para entrar no pequeno avião de onde eles iriam saltar, e ganhar a aposta.
Aceitar a aposta e a proposta feita pelo amigo não queria dizer que Helena estava tranquila, era explícito em sua feição o quanto estava assustada.
— Vamos lá, eu sei que você consegue, Lena — Igor a ajudava fechar o macacão especial para o acontecimento.
— Se eu morrer, que fique bem claro, você que vai se acertar com a minha mãe, tá! — disse em tom de ameaça.
— Eu sei, mas não vai acontecer nada, eu prometo — o garoto dizia rindo levemente da cara de medo de sua amiga.
Depois de entrarem no avião, Igor percebeu que a cada segundo Helena ficava ainda mais nervosa, e pelos anos de convivência já sabia que ela estava perto de uma crise de ansiedade.
— Lena, se você não quiser a gente não precisa ir, é sério, era pra ser divertido mas você tá nervosa demais — Gomes dizia enquanto acariciava a mão de sua amiga sentindo como estava gelada.
— Não, vamos, eu quero fazer isso, só tô com medo de algo acontecer.
Igor sabia que a melhor coisa a ser feita era conversar com ela para acalmá-la e trazer para perto dele novamente.
— Eu tava com saudade de passar tempo com você, sabe... — diz baixinho chamando a atenção de Helena. — As vezes queria estar na escola ainda, tínhamos mais tempo um pro outro naquela época.
— Acredite, eu também ainda queria estar na escola — ela riu de leve, sentindo o nervosismo abandonar seu corpo e mente.
— Você se lembra como a gente se conheceu? Foi uma amizade bem improvável — Igor riu e a amiga o acompanhou.
— Claro que eu lembro, você tentou colar de mim na prova de história na cara dura! — Helena dizia como se lembrasse de cada momento daquele dia que mudou sua vida.
— E você ficou muito bravinha depois, é assim até hoje — o garoto continuava rindo da melhor amiga. — Eu era péssimo na matéria e você era boa, tanto que tá até estudando isso aí hoje.
— É talvez eu seja boa, mas eu fui muito amiga em te oferecer ajuda mesmo depois de você ter colado de mim, pode falar, Gomes! — Helena falava e lembrava de algumas tardes que passaram juntos estudando.
A conversa dos dois amigos foi interrompida pelo instrutor que avisou que aquele era o momento perfeito para pularem. Os dois se olharam e deram as mãos, prontos para fazerem aquela loucura juntos.
— Vamos lá, você consegue! — Igor encorajou sua melhor amiga.
Os próximos segundos passaram como se fossem horas na cabeça de Helena. Nem ela acreditava no que estava fazendo, era a maior loucura de toda a sua vida. Igor não acreditava que a amiga medrosa, que não conseguia nem mesmo ficar na sacada do prédio sem sentir medo, estava pulando de paraquedas naquele momento.
Quando chegaram ao chão Helena demorou para perceber o que havia acontecido realmente, e Igor só sabia dar risada da cara que sua amiga fazia. A menina parecia estar completamente realizada e desacreditada.
— Você acabou de perder uma aposta, se prepare pro que tem por vir, meu querido! — Ria e olhava com uma cara vingativa para Igor.
•
— Eu não sei quando deixei você dirigir meu carro, na verdade, nem sei se deixei mesmo! — Igor dizia enquanto sentava no banco do carona de seu próprio carro, a caminho de um lugar que não fazia ideia, sendo levado por Helena.
Os dois haviam voltado de Boituva no domingo de manhã pois, segundo Helena, o jogador tinha uma aposta para pagar, e ela já tinha tudo planejado desde que ouviu a palavra "aposta" sendo dita.
— Eu não vou te falar pra onde estamos indo — dizia com todo o seu deboche na voz. — Você vai pagar tudo o que me fez ficar ansiosa naquele dia.
— Sabia que você era vingativa mas não tanto assim, credo! — Igor falava enquanto olhava pela janela para tentar identificar o local que estavam, a única coisa que sabia é que ainda estavam dentro de São Paulo.
Em poucos minutos Helena desligou o carro, avisado que chegaram no lugar planejado, tinha feito de tudo que podia para não mostrar onde estavam, Igor era capaz de sair correndo se visse antes de entrar no local.
Ao contrário de Igor, Helena torcia para o Corinthians, e desde o início da amizade dos dois a garota tentava convencer o amigo a ir num jogo seja no Pacaembu ou na Arena Corinthians, mas o jogador sempre negava. Ela, por outro lado, sempre atendia os pedidos dele para ir em jogos dele, desde os da categoria de base até os profissionais.
Estava na hora de Igor Gomes retribuir todos os jogos do rival que Helena já tinha ido por causa dele, e nada melhor que uma aposta pra colocar a pressão devida pra realizar aquilo.
— Seja bem vindo à Arena Corinthians, Igor — Helena dizia com o maior sorriso no rosto possível.
— Ah eu não acredito que você fez isso, cara, sério. — o jogador do São Paulo negava com a cabeça. — Eu não vou entrar aí, você tá doida.
— Você apostou e prometeu, vai entrar sim, já comprei ingresso e tudo mais, você que lute e assista o jogo do meu time! — Helena dizia enquanto puxava Igor para entrar no estádio.
Durante grande parte do jogo Igor ficava apenas assistindo e ao mesmo tempo admirando e rindo de sua amiga que parecia uma maluca às vezes. Gostava muito de passar tempo com sua melhor amiga, e a cada momento que estava ao seu lado tinha mais certeza de seus sentimentos e do que precisava fazer.
Quando a partida estava quase acabando, o clima começava a ficar tranquilo, o time de Helena vencia e ela estava completamente feliz, e por tabela, o jogador ao seu lado ficava feliz.
— Até que enfim seu time ganhou alguma coisa, né Lena?! — Igor ria da situação do time do coração da amiga. — Acho que dei sorte pra eles, no fim de tudo.
— Pois é, eu sempre quis te trazer nos jogos, agora que sei que você dá sorte vem sempre, nem que seja arrastado! — Helena acompanhava a risada do jogador.
Alguns minutos depois, como se fosse plantado na cabeça da mulher, ela havia lembrado que Igor também tinha uma aposta a fazer caso ela não tivesse pulado de paraquedas, e ele não havia revelado o que era.
— Igor, você falou que se eu não pulasse naquele negócio que você me forçou, eu teria que fazer algo que você quisesse — a garota falava se recordando do exato momento em que apostaram. — O que você me faria fazer?
— Eu só ia fazer uma coisa que venho pensando há muito tempo, e espero que você também queira — Igor disse segurando no pescoço da mulher ao seu lado e logo em seguida a beijou.
Quando o beijo aconteceu, tudo o que viveram pareceu valer a pena. Toda a relação clichê dos dois, desde o início, que passou de desafeto para amizade, e agora para, talvez, um romance. Igor nunca havia se sentido tão realizado quanto naquele momento. Helena correspondia o beijo, mas não por não saber como parar, mas porque desejava aquilo há mais tempo do que podia se lembrar.
— Agora que você não tem mais medo de altura, talvez a gente possa fazer aquele passeio de balão que você disse ser coisa de casal, né, linda?! — Igor disse ao encerrar o beijo mais esperado da sua vida.
Helena apenas riu e aceitou. Tinha superado seu medo de altura e, com isso, ganho uma aposta que lhe rendeu dois prêmios: seu melhor amigo, jogador de um time rival, indo no jogo do seu time do coração, e talvez um namorado.