A Princesa Mestiça

By CarolinaTorim

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Pan, a a princesa de Escaravelha é metade raposa e metade fada: Seu sonho é deixar de ser uma aberração e ser... More

A Princesa Mestiça

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By CarolinaTorim




Quando as flores desabrochavam na floresta e as fadas surgiam cantando no céu, o povo de Escaravelha sabia que a Primavera estava chegando. Pan, a menina raposa, filha do décimo Rei Raposa das Caças e da Fada do Arco Íris, sabia que essa era a melhor época para ver as Estrelas cantarem. Do alto da sua cabana no monte, Pan escutava atenta o canto baixo daquelas que há tanto tempo tinham dito adeus.

"As estrelas costumavam ser as fadas mais brilhantes de toda a Escaravelha. Eram admiradas por onde passavam, adoradas, como deusas da luz, da noite e da floresta. Se alguma delas se apaixonasse por você, dois desejos podiam ser concedidos: Um quando o Sol se levanta e outro quando ele adormece."

- Por que as Estrelas não descem mais até nós, mamãe?

- Antes da Grande Escuridão, algo terrível aconteceu, e uma fada Estrela não voltou para casa ao anoitecer. Suas irmãs convocaram os ventos, as nuvens e todas as fadas noturnas. Mas ninguém foi capaz de encontrá-la. A Estrela Mãe se partiu de tristeza, pois sentia em seu corpo que algo de terrível havia acontecido a sua estrelinha e jurou nunca mais descer a terra ou cantar para suas criaturas mais uma vez. As Estrelas mais velhas sabem o que aconteceu e nunca aparecem, mas as novinhas, desentendidas, ainda brilham fraquinho, cantando no céu."

Pan não sabia porque gostava tanto daquela história, mas desconfiava que vinha da magia do interesse pelas coisas impossíveis. Quando amanhecesse, seria o dia da Fabulosa Caçada, comandada por seu pai, e pela primeira vez ela participaria. Pan não era muito considerada em sua Vila. Mestiça, meio fada, meio raposa, a menina que não era nem uma coisa nem outra nunca encontrava seu lugar. Bicho demais para as Fadas, mágica demais para as Raposas: Pan tinha as orelhas de seu pai, laranjas e empinadas, o rosto fino e delicado da mãe, um corpo de mulher até as pernas, que voltavam a ser de raposas da coxa para baixo. E claro, seu grande rabo. Seus pais viveram um amor impossível, mas é óbvio que ela pagou a conta.

- Vocês deverão trazer a coisa mais valiosa que encontrarem. – Seu pai dava as instruções para os participantes. – Tudo será convertido em tesouro para o reino e cada um ganhará sua recompensa. O Grande Vencedor terá direito ao Espelho das Cores e muitas regalias no castelo. Vocês têm um dia e uma noite para completar a Caça.

Quando o apito ressoou anunciando a partida, Pan correu com toda a velocidade de suas pernas de raposa. Ela estava na corrida como um bom exemplo: Seu pai achou que seria bom alguém da realeza mostrar ao povo que aquela era uma tradição que devia ser mantida. Ela não era uma competidora de verdade. Mas isso não importava agora. Ela queria vencer. Queria a noite na sala do Espelho das Cores porque ele era o único que podia responder aquilo que ela queria escutar: Quem ela era? Quando os vencedores saíam da Sala dos Espelhos, estavam mais bonitos, mais sábios, adorados. O Espelho lhes mostrava a verdade e depois os concertava. Pan ganharia e seria então uma menina ou uma raposa, mas não uma aberração.

Qual era a coisa mais preciosa que Escaravelho poderia querer?

- Eu vou capturar uma Estrela.

- Não é certo capturar prêmios com vida. – A Coruja branca falou, a seguindo, as grandes asas fazendo sombra sobre a cabeça da menina.

- Não lembro de estar falando com você, Coruja.

- Canopus. Pode usar meu nome.

- Não vou precisar usar seu nome se não for vê-la.

- Vou lhe acompanhar.

- Não preciso da companhia de uma coruja bisbilhoteira e julgadora.

- Se quiser mesmo capturar uma Estrela, Princesa Raposa, acredito que vai precisar de mim.

Pan estreitou os olhos para ela.

- Achei que não concordava comigo.

- Nada que eu fale vai fazer com que mude de ideia. Mas podemos fazer um trato. Capturamos a Estrela. Eu faço um desejo no fim do dia e você, um ao amanhecer.

- Por que uma Coruja precisa de um desejo?

- Por que uma Princesa precisa vencer uma corrida?

Pan não respondeu.

- Trato feito.

Elas continuaram o caminho, caladas, até chegarem na margem do Céu.

- Como você pretendia subir? – Canopus perguntou, assim que elas se deitaram na grama.

- Minha mãe é uma fada. Peguei pó de asas, antes de partir.

- A noite é o dia das Estrelas. Teremos que subir quando elas estiverem dormindo, assim que raiar o dia. Você coloca o pó em mim, menina Raposa e eu a capturo com minhas asas.

Pan jogou o pó em Canopus perto do raiar do sol e caiu em um sono profundo. Quando acordou, uma linda fada loira vestida de céu lhe olhava, os olhos brilhantes.

Uma Estrela.

- Onde está Canopus?

- Ao seu dispor, princesa. – A fada lhe respondeu, a voz mais linda de todo o Universo. – Aqui estou eu. Ontem era Canopus, a Coruja, hoje sou Canopus, a Estrela. Anos atrás me perdi de minhas irmãs, concedendo um desejo a um homem a quem não deveria. Ele me aprisionou em seu castelo depois que o fiz um Mago poderoso e lhe concedi desejos horríveis até o dia de sua morte. Antes de morrer, Camafeu fez de mim uma Coruja: "Pode voar até as suas irmãs, mas nunca o suficiente para vê-las."

- Que coisa horrível.

- Algumas pessoas encontram prazer na maldade. - Ela ergueu os olhos para o céu. – É o nascer do sol menina, me faça um desejo.

Pan mal podia acreditar na sua sorte: Tinha uma Estrela e finalmente tinha um desejo.

- Pode me pedir o que quiser. Para ser só uma raposa, ou só uma fada. Qualquer coisa possível, e estará nas suas mãos.

Pan sequer pensou antes de falar:

- Eu quero ganhar a corrida.

Quando deu por si, estava no centro de Escaravelha, aplaudida por todos. Tinha vencido. Depois de tantos anos, Pan trouxera uma Estrela para casa. Não viu mais Canopus enquanto era banhada em rosas e preparada para sua noite na sala do Espelho das Cores. Aquele dia, cabelos em ondas e coroa na cabeça, pronta para experimentar o que de mais poderoso havia no Reino, Pan se sentia extremamente poderosa.

A sala do Espelho das Cores era escura quando ela entrou, fria e silenciosa. Pan não sabia por onde começar. Sequer podia ver seu rosto refletido.

"Algumas pessoas encontram conforto na dor alheia. Posso ver que foi isso que lhe trouxe até aqui, Princesa Pan, a Mestiça do reino."

- Eu nunca usei a dor de ninguém para ganho próprio.

"Sua amiga Estrela, presa na Gaiola do Reino, não diria isso."

- Eu não sabia que ela seria presa.

"Você não quis saber, menina princesa. Estragaria seus planos. Você veio até aqui para que eu lhe transformasse em uma sábia e respeitada Raposa ou em uma linda e mágica Fada do Arco Íris, mas está realmente pronta para o que vai ver no reflexo do espelho, menina Pan? Não havia nada de errado com você, que nasceu de um puro e belo amor, única em um Reino comum. Mas nós também moldamos o corpo com que nascemos e hoje você molda o seu com sofrimento e submissão, e antes que perceba, isso vai estar escrito na sua carne, na sua entranha, nos seus ossos. E o que eu vejo aqui, todos irão ver lá fora."

- Quer dizer que... Eu... Eu não posso olhar?

"Você pode fazer o que quiser, minha querida. Você é a mestre aqui. Pode olhar sua forma, pode modificá-la por algo mais belo, durará algum tempo, mas não para sempre: Nenhuma podridão pode se resguardar para sempre."

Pan queria olhar: Não tinha feito tanto esforço para nada. Queria ser a princesa mais bonita de todo o Reino, como Raposa ou Fada e desejaria a sua Estrela todos os dias para que mantivesse sua beleza, assim estaria salva para sempre.

Mas isso não era o que Camafeu havia feito? Ele roubara a vida de uma Estrela e agora o céu vivia nas noites de Grande Escuridão. "Não pode amar ouvi-las cantar e aprisionar uma delas, Pan. Esse é um destino pior que a morte."

Pan saiu correndo da sala do Espelho até o andar da Gaiola, um dos últimos do castelo. Não tinha quase nenhum ar quando encontrou Calopus e abriu a porta, com as chaves que o pai sempre lhe dava para guardar.

"Ele confia em mim porque sou de confiança. Não sou uma sequestradora ou assassina."

- O encantamento do seu pó de fada vai acabar em poucas horas, menina princesa. Eu logo voltarei a ser para sempre uma coruja, mas eles não sabem disso. Por isso me prendem como uma pedra preciosa. Imagine o desapontamento quando acordarem.

Se Canopus voltaria a ser uma Coruja, Pan podia voltar até o Espelho e pedir para que lhe deixasse linda. Ela viveria assim por alguns anos, até que a feiura e a velhice chegassem. Mas não se via descendo as escadas.

- Você ainda tem um desejo, Canopus. Já vai anoitecer.

Os olhos da Estrela brilharam.

- Não posso desejar nada para mim mesma. Você é a minha voz, menina raposa, por favor, peça por mim.

Dessa vez, Pan escolheu as palavras com muito cuidado:

- Eu, Pan, princesa mestiça de Escaravelha, desejo que a Estrela Canopus volte a ser uma Estrela para o resto dos seus dias.

Quando o encantamento sobre Canopus se foi, ela se mostrou muito mais alta e poderosa que Pan, flutuando dentro do castelo. A menina entendia por que elas eram consideradas deusas agora: Eram imponentes.

- Volte as suas irmãs e conte sua história. Nunca mais desçam até nós, Canopus. Nunca mais nos concedam nenhum desejo. Fiquem alto o bastante para que ninguém possa lhes capturar. O desejo leva as pessoas a maldade e a loucura.

Quando Canopus foi embora, Pan finalmente teve coragem de se olhar no espelho: Continuava mestiça, como seria pelo resto de sua vida.

Agora, mesmo na primavera, ninguém mais escutava nenhuma Estrela cantar, nem quando iam até o monte mais alto da floresta. Mas a Grande Escuridão havia acabado: Curadas de sua dor, as Estrelas faziam questão de mostrar que sempre haveria luz no céu.

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