Augúrios da Noite

By DomiMilani

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Grandes histórias às vezes começam com pequenos desencontros. Grandes aventuras às vezes começam com uma viag... More

Sementes
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Areia
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Sangue

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By DomiMilani


Centenas de corpos salpicavam as areias de Silithus. Elfos, dragões, silitídeos e qirajis; aliados e inimigos jaziam juntos, indistintos, seu sangue unido na morte. Fandral Guenelmo deixara para trás o exército que liderara até então, prometendo ter seu filho morto de volta. Com a partida do arquidruida, os kaldorei se viram ainda mais perdidos e desesperados: eles haviam expulsado os inimigos, mas não se podia chamar aquilo de vitória. Ninguém saíra ileso, o sangue e a alma dos soldados fora o preço exigido. Nos braços de duas noviças, Ravena Umbruma sabia que magia nenhuma poderia salvar-lhe naquele momento.

"Rhianon... Aeryn... Chega... Não há nada que vocês possam fazer..." - Ela tentava, em vão, impedir as aprendizes de terminar suas preces. - "Parem! Pela Deusa! Eu não posso morrer com esse segredo!" - Sua voz se transformou em um soluço e as lágrimas mancharam seu rosto coberto de poeira.

As elfas pararam imediatamente, aguardando, estáticas, que a sacerdotisa, uma das mulheres mais respeitadas de Hyjal, revelasse o que tanto a poderia perturbar.

"Vocês precisam avisar Lahal Lunapluma! Eu oro para que ele esteja vivo! Oh, Deusa, por favor, não me deixe morrer sem que ele saiba! Mãe, eu me arrependo tanto!" - Suas palavras saíam entre soluços. - "Eu não sou digna da honra que me foi concedida! Me perdoem!"

Rhianon olhou preocupada para a colega. Era claro que a sacerdotisa delirava... Segurou firmemente a mão de sua superiora, dando-lhe o apoio que podia, fazendo-a saber que não estava só. Naquele momento, Ravena deixava para trás todas as construções sociais que a cercavam, ela era apenas mais uma filha de Eluna, cuja morte suas irmãs elfas velavam. Aeryn acariciava-lhe a face, enxugando as lágrimas que lhe fugiam ao controle.

"Digam a Lahal... Que ele teve um filho."

As noviças se entreolharam, espantadas.

"Eu soube e não lhe disse. Oh, Deusa, me perdoe! Eu sou a culpada pela morte dessa criança!"

Rhianon respirou fundo. A sacerdotisa estava inconsolável e não lhe restava muito tempo. Ela não podia deixar que uma irmã partisse daquela maneira.

"Aeryn, fique aqui. Eu vou encontrar o druida."

"Mas... Você não sabe se ele está vivo!" - Ela gritou, mas a amiga já saíra correndo, tropeçando entre os destroços da batalha.

Ravena continuava chorando, a cabeça recostada no colo de Aeryn, cujo coração pesava com a certeza de que nada poderia remediar aquela situação. Horas depois, a sacerdotisa conciliara o sono, mas ele era agitado, repleto pelos pesadelos que o veneno amaldiçoado dos silitídeos moldava.

"Aeryn?"

A noviça acordou assustada. Acabara cochilando, sentada onde estava. Ergueu os olhos e notou que a noite caíra. Ao lado de Rhianon estava um elfo alto, coberto de penas e sangue. Era druida de quem Ravena falara.

"Ela dormiu..." - Sussurrou.

"Acorde-a!"

"Mas..."

"Você ouviu o que ela disse! Ela não irá em paz se não falar..."

"Senhora... Senhora..." - Aeryn sacudiu-lhe cuidadosamente o ombro.

A sacerdotisa abriu os olhos devagar e assustou-se ao ver Lahal. Tentou levantar-se, mas as pernas já não lhe obedeciam. Ele ajoelhou-se ao lado dela, a tristeza estampada no rosto já marcado pela terrível guerra.

"Lahal... Meu amigo... Por favor... Eu sei que não pode me perdoar... Ninguém pode..." - Sua voz era fraca e ela tinha de fazer muito esforço para falar. - "Lahal... Quando Mayan Negraugúrio partiu naquela missão..." - As lágrimas voltavam. - "Ela carregava uma criança... Eu soube quando a toquei... Eu soube que era seu filho e a inveja me cegou! Ela não sabia! Eu não evitei que partisse!"

O peito do druida se comprimiu de dor e ele também não pode segurar as lágrimas. Ele sabia que talvez devesse se revoltar, mas seu espírito estava alquebrado demais para isso. Ele vira tanto ódio, tanto mal e tanta morte naqueles dias como jamais vira. Aquilo tudo parecia tão distante e tão pequeno perto de tudo o que passara que ele não podia deixar de perdoá-la. Ele não negaria a paz àquela pobre alma. Abaixando-se, ele abraçou a moribunda, chorando em seu ombro como ela chorava no dele.

"Eu soube..." - Ele murmurou. - "Eu a vi no Sonho Esmeralda. Eu não sabia quem era..."

O choro convulsivo de Ravena Umbruma foi cessando aos poucos e, quando Lahal afastou-a de si, sua expressão era serena. Ela partira sem aquele fardo.

Guenelmo nunca gostara muito da ideia de manter seus homens no Sonho Esmeralda e respeitava um tanto a contragosto o acordo com Ysera. Trouxera todos os druidas que pudera arrebanhar para as Areias Cambiantes e, agora que os deixara para trás, eles chegaram ao acordo de que, o mais adequado, seria voltarem para seus antigos postos, mesmo porque já passava da época de muitos deles voltarem a dormir. Lahal Lunapluma se preparava para voltar a Hyjal com alguns poucos companheiros do Gadanho. Eles deveriam atravessar quse toda Kalimdor assumindo a forma voadora, mas vários deles estavam bastante feridos e alguns mesmo impossibilitados. Com a queda da Vila do Vento Sul, restava-lhes apenas esperar um pouso seguro na pequena base que havia sido montada na Cratera Un'Goro.

Zig'Lin andara sem rumo por muitas noites depois que jogou as cinzas do velho pescador ao mar. O casebre, de uma hora para outra, parecia-lhe estranho e abandonado, então ela soube que encontrara sua encruzilhada e era hora de tomar outro rumo. Acendeu incenso para Legba e meditou por algum tempo, mas, agora que seu pai se fora, ela se sentia mais sozinha e desamparada que nunca. Jen'Kah sempre lhe dissera, e ela jamais tivera motivos para desacreditar, que, mesmo não sendo uma trolesa, os Loas a aceitavam como filha. Naquela noite, porém, ela pensou que, talvez, eles a abençoassem porque estava junto de seu pai e que, agora que ele se fora, seus deuses também a haviam abandonado.

Antiga conhecedora da costa de Tanaris, Zig'Lin pouco tinha andando pelas entranhas do deserto. Seus primeiros passos a levaram à Zul'Farrak. Ela não ousava entrar na cidade, mas, por algumas noites, espreitou o vai e vem dos Zangareia. Encontrou ninhos de escorpídeos e abomináveis carapaças de insetos gigantes. Todos mortos. Havia uma profusão de rocas entre eles e ela não pode deixar de notar que havia também alguns corpos de humanóides aqui e ali. Deveria ter ocorrido alguma espécie de batalha nas semanas anteriores. Ela pensou em verificar os corpos - talvez conseguisse alguma coisa de valor, mas os pássaros carniceiros a assustavam. Não que ela não pudesse com eles - pensou - mas se atacasse uma, as outras certamente viriam sem dar-lhe chance de preparar um ataque certeiro.

Na fronteira oeste do deserto, quase oculto pelas montanhas, a pequena encontrou um misterioso caminho. Sem pensar muito, com a falta de convicção e a sede de aventura que só aqueles que já perderam tudo podem ter, Zig'Lin pôs-se em sua direção. Ela já estivera em um lugar parecido certa vez. Era úmido e escuro. As luas pareciam mais azuis, seus raios coados pelas altas copas das árvores manchavam a vegetação rasteira aqui e ali. Havia veios de água muito fresca que faziam um ruído muito diferente do rugido do mar. Era como se uma dezena de pequenos peixes estivessem rindo e conversando em uma língua gorgorejante. A selva era diametralmente diferente da praia desértica, mas, de alguma maneira, ela se sentiu em casa. Era como se, há muito, muito tempo, tivesse vivido em um lugar como aquele. De repente, percebeu o quanto estava cansada.

Caminhara durante o dia todo, o sol forte refletindo na areia, fazendo seus olhos arderem e sua pele queimar. Em cada centímetro de pele que suas roupas e armadura não protegeram, havia uma marca avermelhada, quente e dolorida. Ela já estivera sob o sol por várias vezes, mas nunca o enfrentara durante todo o dia.

Despiu-se devagar, deixando as roupas cuidadosamente empilhadas à beira do córrego. Ela não costumava ter todo esse cuidado na praia: ia arrancando as peças de couro enquanto corria, jogando-as pelo caminho e mergulhava sem se importar em tirar as peças interiores. Mas agora, algo mudara: o mundo não era mais uma extensão de seu lar. Ela não tinha mais para quem voltar e, portanto, não tinha um lugar na terra para chamar de seu. Pisou timidamente nas pedras limosas e, aos poucos, começou a se lavar, apreciando o toque gélido da água em sua pele castigada pelo calor. De alguma forma, aquele riacho levara embora seus pensamentos ruins. Ou talvez fosse o cansaço, que teimava em não deixá-la pensar...
Passos pesados quebrando a vegetação rasteira a tiraram de seu torpor.

"Como eu sou idiota!" - Foi seu primeiro pensamento.

Um enorme raptor a encarava, os músculos tensos, pronto para atacar.

Ela podia ouvir o próprio coração batendo enquanto encarava o monstro. Devagar, tentou arrastar-se até seus pertences sem interromper o contato visual com a fera. A cada mínimo movimento da ela, ele respondia com um passo em sua direção. Quando ela desviou o olhar para procurar suas adagas, o animal rugiu e lançou-se contra ela. As garras cortaram-lhe severamente o braço, mas ela conseguiu escapar à mordida. Ela nunca havia lidado com algo daquele tamanho. Reatando o contato visual, ela tentava mirar-lhe o flanco: ela sabia que não conseguiria atingir os olhos, não sem provavelmente perder o braço para aquelas mandíbulas absurdas. Se conseguisse desestabilizá-lo, talvez pudesse atingir um ponto vital.

Tendo o animal encarando-a, ela conseguiu, num pulo, ferir-lhe a coxa. Ele soltou um rugido pavoroso e, com cauda, atirou-a longe. O corte pareceu não ser problema para a fera, que correu em sua direção com a mesma agilidade, pronto para atacar às dentadas. Quando chegou perto o suficiente, porém, a elfa conseguiu enterrar a adaga em seu pescoço. Cego de dor, o raptor atingiu-lhe o peito, rasgando sua pele em três cortes fundos. O veneno da adaga era inofensivo para um animal daquele porte e, inconscientemente, ela soube que aquela era uma batalha perdida: era impossível matar um raptor com aquela pequena faca, mas, naquele momento, não era sua razão que falava e Zig'Lin partiu para cima do animal.

Ela não poderia dizer o que se passou, sentia as fortes pancadas de seu oponente e os ferimentos ardendo, mas sua adrenalina a impulsionava cada vez que sentia a adaga enterrando na couraça. Aquilo pareceu a eternidade, mas foi questão de poucos minutos até que a luta terminasse: uma enorme pantera negra derrubou o raptor, quebrando-lhe o pescoço com uma única mordida.

O pequeno grupo de druidas olhava incrédulo: aquela guerreira ensanguentada era pouco mais que uma criança. Seus olhos estavam tomados pelo instinto mais primitivo e, não fosse o brilho perolado dos olhos, eles teriam acreditado que era uma trolesa. Estava completamente nua e trazia o cabelo trançado dos lados da cabeça, criando a impressão de um moicano no topo. Estava coberta de folhas e sangue e sua mão crispada em torno de uma adaga perfeitamente prateada - uma lâmina inconfundivelmente élfica.

O druida que se transformara em pantera tomava novamente a forma humanóide e se aproximou cauteloso da garota, o braço esticado em sua direção.

"Olá... Você está ferida?" - Era óbvio que ela estava, mas ele simplesmente não soube o que dizer àquela figura selvagem.

"Jakkon do!" - Ela gritou, brandindo a adaga ameaçadoramente.

Malteris recuou: "Calma... Eu quero ajudar você..."

"M'tunga! Jakkon do!"

Ela tomou uma posição agressiva, mostrando os dentes.

Os druidas se entreolharam. Ela com certeza não era uma sobrevivente da Guerra das Areias Cambiantes. Ela não viera com os kaldorei.
"Nós somos amigos..." - Ele sabia que ela não entendia nenhuma palavra do que estava dizendo, mas esperava que um tom de voz calmo e amigável lhe dissesse alguma coisa.

A garota fungou ameaçadora, então, seu corpo estemeceu, ela perdeu o equilíbrio e caiu, desacordada.

Malteris a pegou em seus braços e os druidas correram para perto dele. Ela perdera sangue demais.

Por horas, eles trabalharam em silêncio, apenas trocando olhares significativos. "Ela não vai sobreviver", era o que queriam dizer. Encamento após encantamento envolvolveu o pequeno corpo, cessando apenas quando era necessário fazê-la engolir alguma poção ou enxugar o sangue que não parava de escorrer. Um deles precisou se afastar: ainda carregava ferimentos da guerra e a magia intensa que realizara os reabrira. Ao nascer do sol, apenas Malteris e Lahal ainda se debruçavam sobre a garota. Haviam, porém, feito progresso: os ferimentos pararam de sangrar e apresentavam sinais de estar começando a fechar.

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