Stranger

Per MaduKoby

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(+18) Gael é um alfa albino e autista, mas nada o impede de ser o cara mais inteligente que Alan já conheceu... Més

AVISOS
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítul0 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 48
Capítulo 49

Capítulo 47

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Per MaduKoby

Em dois anos muito progresso poderia ser feito. E muito retrocesso também.

Gael e Alan começaram a morar juntos e trabalharem em suas respectivas profissões. A vida adulta tinha chegado e trazia certo amadurecimento como consequência. Entretanto, nem sempre os dois conseguiam estar lá muito adultos.

Alan amava Gael com todo seu coração. Mas era difícil lidar com um autista, não importava quanto ele dissesse para si mesmo ter paciência, que um dia ele falharia.

Gael fazia a mesma pergunta milhares de vezes; sempre precisava seguir seus métodos senão sua mente se tornava a mais perturbada; tornava-se tão obsessivo com suas pesquisas e com seus trabalho no laboratório que ficava noites acordado; detestava quando suas roupas não estavam separadas por cor. Tinham dias que Gael odiava contato físico e ficava o dia inteiro no silêncio e sozinho. Alan odiava esses dias porque ele sempre queria abraços e beijos, palavras doces e calor.

E Gael também amava Alan com todo seu coração, mas tinham dias que não suportava quando ele era muito barulhento, ou muito manhoso e procurava afeto de qualquer jeito. Ele precisava ficar sozinho, e Alan não entendia isso, assim como não entendia que suas pesquisas eram como um membro de seu corpo. Como Gael também tinha dificuldade de entender que Alan era explosivo por natureza.

- Gael! Eu quero conversar! – Grunhiu frustrado, esfregando a bochecha no alfa.

- Nós podemos conversar outro momento. Eu estou ocupado agora – Explicou pacientemente, esquivando-se dos braços de Alan.

- Não se afaste! – fez uma voz manhosa, olhando irritado para o livro de Gael. – E nem é sobre suas pesquisas! É a porra de um livro de mitologia celta! Por que caralhos você está lendo isso?

- Eu estou fazendo uma pesquisa de cunho pessoal para enriquecer meus alicerces dentro do contexto psicanalista "mitológico-filosófico-cultural" e como ele tem influência so...

- Por que você sempre tem tempo para isso e nunca para mim?

Lecionar às vezes era um pesadelo. Corrigir provas, orientar alunos, tolerar professores insuportáveis... Ele só queria Gael quando seu dia foi desgastante. Mas Gael estava parecendo um cacto.

- Sabe, você ama mais esses livros e suas pesquisas do que eu. Você está desde semana passada tão ocupado com seu trabalho que nem dormir comigo você não está mais. Quando eu chego perto você sempre tem uma desculpa para afastar e....

E então Gael começou a ler em voz alta para interrompê-lo. Mas o que não esperava era que isso magoaria Alan. Muito. E principalmente, o deixaria furioso:

- PORRA! PRESTE ATENÇÃO NO QUE EU FALO!

Gael fechou o livro, olhando-o como olharia para um estranho.

- Esporadicamente eu sinto como se você estivesse falando em Mandarim. E eu não entendo mandarim. Por mais que eu tente.

- EU NÃO ESTOU FALANDO NADA DIFICIL! – Tentou controlar sua voz. – Eu não estou fazendo piadas e nem usando metáforas. Só queria conversar com você sobre o meu dia e o seu. Eu queria que a gente assistisse filmes ou aqueles documentários seus que eu odeio, mas eu me esforço para assistir só para estar perto de você! E você nem se importa com isso!

- Não mesmo.

Alan entreabriu os lábios, lançando um livro de capa dura em Gael.

O alfa fez um barulho de susto, tentando procurar os olhos do ômega que já tinha saído da sala, com uma expressão nada contente.

- O que eu fiz de errado dessa vez?

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Posteriormente Alan se encontrou com Alina e sua mãe, e era claro que elas queriam saber do relacionamento. E ele não se controlou: disse como tinham dias que era um inferno viver com ele.

- Ele é egoísta e frio! Ele não se interessa em nada que me envolva! – Alina e a mãe se entreolharam, reparando em como ele estava corado de ira. – Eu não entendo porque ele me marcou se me odeia tanto! Ele é a porra de um cachorrinho de laboratório! Ele vive por aquela merda e...

- Segure sua língua, Gael está bem aqui.

Alan ajeitou sua postura, tornando-se mais contido, mas ainda orgulhoso.

- Ótimo, melhor ainda.

- Você estava criando maledicências sobre mim? – perguntou ofendido, como se estivesse sendo traído.

- Estava – Rosnou. – Você está insuportável essa semana.

- Eu não compreendo...

Alan berrou, assustando-o. De repente ele começou a ficar histérico, agarrando seus cabelos e grunhindo.

- Eu não aguento você, Gael! Simples. Eu odeio estar com um autista.

- ALAN! – Alba gritou, olhando-o repreensiva.

- É verdade! Eu estou estressado, e eu não quero ficar ao lado de alguém que me estressa o dia todo!

Gael bufou, imitando um gesto muito típico de Alan, antes de cruzar os braços e parecer com uma criança irritada:

- Você também me deixa no mínimo agitado. Mas eu não odeio estar com um neurotípico. Na verdade, eu o amo e eu vim aqui para pedir orientação para sua irmã: para que me aconselhe sobre suas atitudes imprevisíveis.

- Imprevisíveis?!

Alba pigarreou, se metendo entre os dois e olhando-os como uma mão olharia para seus filhos teimosos.

- Acalmem-se os dois. Vocês dois não estão se esforçando – Alan estava pronto para retrucar, mas ela o silenciou, antes de se voltar para o alfa. – Gael, você não pode simplesmente dizer a Alan que não se importa com os assuntos dele e também não pode escolher o horário do dia que quer falar com ele. Em relacionamentos nós tiramos do nosso tempo para dar ao outro, como retribuição pelo seu par fazer o mesmo por você. Se você não está pronto para isso, eu peço que termine com meu filho, porque ele vai sim querer atenção.

Gael entreabriu os lábios, olhando para o ômega que tinha uma expressão emburrada e um pouco magoada. Seus lábios tremeram, e agora sim ele entendeu o erro que tinha cometido.

- E, filho... Não se esqueça que está lidando com um autista. Você precisa respeitar suas limitações e medir suas palavras impulsivas. Sei que quando está irritado diz coisas que se arrepende depois, mas Gael não vai esquecê-las tão facilmente. Você trata Gael como se ele fosse você, mas ele não é. Você precisa entender que ele tem rituais, é cem por cento sincero e quando estiver sobrecarregado ou estiver confuso, ele vai fugir de você. Se você estiver cansado disso então sugiro que arrume outro alfa.

Depois da bronca que tinham recebido de Alba, os dois voltaram para casa juntos, mas também separados. Alan fazia questão de andar do outro lado da calçada, e Gael tentava segui-lo a todo custo. Mas ele ainda o ignorava, mesmo que as palavras de sua mãe ainda martelassem na sua cabeça.

- Alan! Por favor, eu não consigo andar tão rápido – Ofegou, se metendo na frente do ômega.

Ele tentou esconder sua expressão, mas Gael já tinha visto o suficiente: era aquele semblante que ele fazia quando estava frágil e triste.

- Alfa... – Choramingou, tentando encontrar as palavras certas.

- Eu...

- Olha, eu não... – Tentou dizer algo, sabendo que o alfa também estava engasgado.

- Desculpe te interromper, eu sei que é mal-educado como apontar o indicador para uma pessoa quando você segreda sobre ela – Colocou suas mãos nos ombros largos de Alan, olhando-o com olhos preocupados. – Eu nunca disse que não me importava com você. Eu só disse que não me importava com o que você estava dizendo naquele momento. Você fala muito, e rápido. Meus pensamentos fazem um emaranhado e eu começo a sufocar. E perdoe-me por ser frígido e não lhe dar a atenção devida. Eu juro que irei me esforçar mais e pegarei menos turnos no laboratório para que possamos ficar juntos.

Alan choramingou mais alto, deitando sua bochecha no ombro do alfa e deixando que ele fizesse carinho em seu cabelo.

- Me perdoa também... Eu também juro que vou melhorar. Eu vou tentar não ser tão temperamental e impulsivo e grudento. E sobre que minha mãe disse... eu não quero um neurotípico. Eu quero alguém inocente e sincero como você. Eu quero alguém diferente e com um péssimo gosto para suéters.

Gael o afastou, olhando para sua própria roupa.

- Eles não são tão ruins.

Alan riu, pegando o rosto do alfa entre as mãos e colando seus lábios, dando risinhos. E era exatamente assim que ele aquecia seu frio alfa.

- Eu te amo, Gael.

- Eu te amo, Alan.

- Vamos passar por essa juntos?

- Eu acho que vamos conseguir.

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- Alan! Você não está escutando o despertador? Consigo ouvir da cozinha! – Gael chacoalhou Alan que grunhiu, se assustando.

Gael era pior que seu alarme.

- Não me movimente tanto – Deu um tapa leve na mão do alfa, bocejando. – Que horas são?

- Você está 30 minutos atrasado.

Alan deu um berro, correndo para o banheiro com suas roupas em um braço e sua escova de dentes em outro.

Ele não soube dizer quantos minutos aquilo demorou, mas foi um recorde. Quando chegou na cozinha, Gael já tinha feito o café da manhã e assistia, enquanto tomava chá, Alan lutando para colocar seu caso e seus sapatos ao mesmo tempo.

- Eu joguei água em você. E você não acordou.

- Isso é porque eu demorei muito para dormir, e quando eu consegui finalmente já era manhã.

- Você se remexia e gemia e grunhia. Parecia que não estava muito confortável – Olhou preocupado para seu ômega que ofegava um pouco, parecendo dolorido. – Está melhor agora?

- Sim – Disse distraído, antes de bufar. – Onde estão minhas chaves?

- Não vai comer? – Tentou puxá-lo para a mesa, mas Alan se afastou.

- Não me venha com o discurso da importância do café da manhã. E além do mais, eu estou com acidez no estomago por causa daquela dor horrorosa.

- E remédios?

- Já tomei comprimidos.

- Tem certeza que consegue ir?

Alan se virou para Gael e sorriu gentil, se sentindo consolado por seus olhos preocupados.

- Eu tenho que ir. Ah, como eu queria estar na escola de novo... Porra! – Ele gritou subitamente, se inclinando para frente e agarrando seu ventre.

O ômega gemeu, se ajoelhando no chão e se encolhendo como uma bolinha. Nesse meio tempo, Gael correu até ele e se jogou ao seu lado no chão, colocando as mãos nas suas costas e o acariciando.

- Shhhhh, está tudo bem... – Sussurrou, massageando o abdômen do ômega que mordeu os lábios com força, odiando parecer indefeso perto do alfa. – O que você está sentindo?

- Já vai passar – Levantou com dificuldade do chão, pela dor e por Gael estar bem encima. Parecia sua mãe.

- Vamos ao médico? – Gael perguntou, mas foi mais uma afirmação, porque ele já estava alcançando a chave do carro e indo pegar um casaco.

- É uma dor boba.

- O meu tio afirmou isso. Posteriormente descobrimos que era apendicite. E ela estava próxima a romper.

Alan o olhou horrorizado, não se sentindo nem um pouco mais confortável.

- Não é isso!

- Ele quase morreu – Finalizou, pegando a mão de Alan e o levando até a porta. Mas o ômega se soltou antes disso.

- CALADO! Eu preciso ir! – Alcançou suas chaves e correu para fora, acenando para Gael que o olhou irritado.

Alan era mesmo impossível.

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A garota quase se esfregava nele.

Alan engoliu em seco, tentando fingir que não estava notando. Mas esse não era seu principal problema agora: era a dor.

Ele quase não ouvia o que sua aluna manhosa dizia enquanto estava ocupado sentindo a sensação de uma faca cerrando sua barriga.

Alan estava tremendo, roçando com força seus joelhos enquanto rangia os dentes. Aquilo doía como o inferno. Ele nunca tinha sentido isso. E quando seus alunos estavam ocupados com as tarefas, Alan discretamente pesquisou na internet o que poderia ser e a resposta era: vesícula ou pedra no rim.

Ótimo. Agora sim ele estava se sentindo pior.

Quando tudo ficou à beira do insuportável, ele olhou para a alfa e pediu licença, se levantando e dizendo que estava indo ao banheiro.

Tentou manter a postura perto dos alunos, mas assim que virou o corredor, ele correu desesperadamente para o banheiro, se trancando num cubículo e sentando-se no chão.

Começou a ofegar, colocando a cabeça entre os joelhos e suando. Tinha algo seriamente errado com a parte baixa do seu ventre. Era latente e se espalha para suas coxas e costas.

Alcançou seu celular no bolso, tentando conter a vontade de choramingar.

Gael. Ele ligaria para ele. Alan se sentia frágil e patético incomodando e preocupando seu alfa, mas ele precisava dele. Muito.

- ômega? – Gael falou como se estivesse esperando sua ligação.

- Alfa... – Alan gemeu em satisfação ao ouvir sua voz, antes de mudar de humor: - POR QUE NÃO ME ATENDEU?

- Perdoe-me, eu deixo meu celular desligado.

- Ótimo, se eu morrer você nem vai ficar sabendo antes das primeiras duas horas de óbito.

Gael ficou algum tempo em silêncio antes de arriscar:

- Você está morrendo nesse instante?

- Eu não sei que merda está acontecendo, mas eu estou com dor no abdômen desde ontem à noite. E vem piorando.

Gael se recordou rapidamente da noite passada: Alan tinha se revirado durante a madrugada enquanto gemia contra o travesseiro. O alfa tinha acordado e perguntado várias vezes se ele estava bem e Alan sempre respondia que sim. O ômega era muito orgulhoso e durão para admitir qualquer coisa. E para ele ligar, durante a manhã, pedindo por ajuda era no mínimo preocupante.

- Me espere no estacionamento que eu vou leva-lo para o hospital.

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- NÃO QUERO IR PARA O HOSPITAL! – O ômega gritou, fazendo uma cara emburrada dentro do carro.

- Alan, você está com uma dor pungente – Gael suspirou, ligando o carro. – É imprescindível que se avalie antes que algo pior aconteça.

- Eu só quero ir para casa – Fez uma voz manhosa, arrepiando o alfa quando Alan olhou para ele e choramingou; com o rosto corado pela dor e com o corpo forte encolhido.

- Hum... pobrezinho do meu ômega... – Gael ronronou, alcançando a mão de Alan e dando um beijo suave. – Você compreende que é mais racional ir ao hospital, não entende?

- Não gosto de hospitais – se aproximou mais do banco do motorista, esfregando a ponta do nariz no ombro do alfa.

Gael sorriu, dando um beijo em sua testa.

- Eles só vão avaliar seu estado e prescrever algum remédio. Você vai se sentir mais confortável depois de ingerir a cápsula certa. A dor some.

- Tudo bem... alfa, você sempre sabe como me convencer.

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Quando chegaram ao hospital, Alan andava um pouco encolhido. Com as costas dobradas e se apoiando em Gael.

O alfa ficou em alerta assim que percebeu como o ômega estava pálido e que sua dor era muito semelhante a uma cólica intensa.

É claro que Alan não saberia reconhecer, mas Gael conseguia identificar. E isso era péssimo. Péssimo e péssimo, mas ele não contaria para o ômega até que um médico fizesse uma afirmação.

Porque Gael desconfiava, mas ele jamais poderia dizer em voz alta.

- Porra... Vai demorar muito? – Alan grunhiu enquanto o alfa o puxava para perto, abraçando-o e deixando que o ômega deitasse a cabeça em seu ombro.

- Você está em tormenta, não é?

- Você sempre escolhe palavras tão dramáticas – Alan riu, esfregando seu rosto no peito do alfa. – Mas obrigado por ficar comigo. Eu sei que você tinha muito trabalho e...

- Você dissimula que não sabe, mas você compreende positivamente que você sempre será mais importante para mim às minhas pesquisas.

- Alan....? – Uma moça chamou, e o ômega fechou os olhos com força. – Por favor, entre. Vamos fazer seu exame de sangue.

O ômega por pouco não saiu correndo, mas ele não poderia passar esse vexame na frente do alfa. Então se levantou, tentando parecer confiante.

Mas a verdade era que agulhas apareciam nos seus piores pesadelos.

Ele já era adulto, e no manual dos adultos estava escrito em pedra que não deveria ter medo de agulhas. Mas Alan.... Bem, Alan se sentia como um filhote com sua falta de coragem.

Ele se sentou numa poltrona, olhando bem para Gael e tentando evitar a enfermeira que preparava os instrumentos.

Ele estava se sentindo numa mesa de cirurgia, ou talvez num porão abandonado sendo torturado. E quando, por erro, olhou a enfermeira se aproximando com a agulha.... Alan hesitou, choramingando alto.

- ALFA! – Gritou, puxando a mão de Gael com força.

- Está tudo bem? – Perguntou preocupado, agarrando o rosto dele entre as mãos.

- Não está... – Alan parecia estar prestes a chorar e Gael se assustou todo, imaginando mil e umas coisas e deixando a paranoia tomar conta.

Até ele perceber o real motivo:

- Uh. Está com medo da agulha.

Alan corou, sua mandíbula tremendo quando ouviu o som do riso de Gael.

- N-não... eu... alfa! – Gritou abafado, se sentindo patético.

- Eu não imaginava que alguém tão viril quanto você hesitaria quando visse uma agulha – Riu, vendo o olhar envergonhado de Alan e adorando como a fragilidade deixava seu ômega na palma de sua mão.

- Para! – Alan fez uma voz infantil, enterrando o rosto na barriga do alfa quando sentiu a enfermeira passando álcool onde ele seria furado... penetrado... maltratado.

- Tudo bem, tudo bem... Isso, seja bonzinho – Sorriu gentil, abraçando forte Alan que choramingou contra seu abdômen.

Quando sentiu a picada, Alan ofegou e apertou Gael com tanta força que ele quase viu estrelas. Mas ainda riu baixinho, fazendo carinho nos cabelos longos de Alan.

Assim que a enfermeira terminou, o ômega suspirou aliviado, ouvindo Gael ronronar enquanto dava beijinhos no topo de sua cabeça.

Porra, aquilo o fez se sentir pequeno e infantil. E aquecido e amado. Mas isso não importava. Ele estava completamente embaraçado.

- Saia! Não me trate como criança! – Empurrou o alfa, desviando o olhar e vendo que a enfermeira estava tão entretida quanto Gael.

- Eu sei que você gosta, doce ômega – Agarrou seu rosto, fungando em sua bochecha e mordendo-a suavemente.

- Ai! Para com isso! – Bufou irritado, antes de se calar quando viu um médico entrando na sala, com os olhos grudados nele.

- Alan, não é? Gostaria que você e seu alfa entrassem no meu consultório. Tenho notícias para vocês.

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- Por favor, sentem-se – O alfa sorriu amigavelmente, guiando os dois pelo consultório. – Bem, agora que Alan já fez ultrassonografia e os exames estão prontos, eu vou mostrar os detalhes para vocês.

Alan piscou aliviado, dando graças que aquele exame tinha acabado. A dor no seu abdômen impedia que ele se sentisse confortável com aquele gel deslizando pela sua pele enquanto aquela radiologista espremia aquele sensor na sua barriga doída.

Ao passo que Gael ficou ainda mais nervoso: começando a tremer e a ofegar um pouco.

Alan ficou em alerta, pensando que o alfa estava prestes a ter uma crise. Estendeu uma mão e segurou a dele, como se fosse Gael que estivesse com dor.

- Inicialmente eu pensava que era vesícula ou rim – Folheou os exames. – Porém, a dor é no seu baixo ventre e se espalha para suas coxas. E eu posso afirmar que isso é muito parecido com uma contração.

Alan franziu o cenho, achando engraçado o exemplo. Se sentiu como se estivesse em trabalho de parto.

- E de acordo com os exames que eu solicitei, eu posso ver claramente o que é – Deu um olhar para Gael que suava, apertando com força a mão de Alan. Porra, ele já sabia a muito tempo. - Eu pedi exames de sangue também, mas ele só vai comprovar o que tem aqui.

- É alguma doença? – O ômega perguntou hesitante, começando a ficar tão nervoso quanto Gael.

- Pelo contrário – Ergueu as sobrancelhas, parecendo meio perdido. E foi aí que o ômega já estava vendo seu fim: deveria ser a pior das doenças.

Talvez ele devesse começar a escrever uma carta de despedida. Já estava começando a se imagina se despedindo da sua família e de Gael quando o doutor disse:

- Bem, Alan está com um bebê em seu ventre.

- Bebê...? - Gael gaguejou, olhando lentamente para Alan que tinha uma expressão tão chocada quanto a dele.

Os dois se encararam, sem dizer nada e vendo um e o outro empalidecer.

- Eu vou ter um bebê? – Alan arriscou, sua voz saindo estranha e ensaiada.

- Bem... Talvez... – O médico fez uma expressão distorcida.

Alan deu um salto, esquecendo completamente da sua dor e agarrando ambas mãos de Gael, fazendo o alfa arregalar os olhos e tentar se afastar.

O ômega gemeu alto, assustando os dois, antes de armar o maior sorriso que Gael já tinha visto.

- Nós vamos ter um bebê!

Ele começou a rir e choramingar alegremente, esfregando sua bochecha no peito do seu alfa enquanto sua expressão se tornava a mais radiante.

Gael engasgou, se esforçando para sair do aperto de Alan que não permitia, contente demais para não querer compartilhar com seu alfa.

- Alan, acalme-se – Suspirou, tentando voltar a razão enquanto se virava para o médico. – O que o senhor pode elucidar sobre isso?

- Alan, fique na sala de espera que em breve a ginecologista fará algumas exames. Enquanto isso eu falarei com seu alfa.

- Sozinho? – Sua expressão se tornou um pouco confusa, mas seus olhos cintilavam da mesma forma que antes.

- Eu já vou te acompanhar, ok?

Alan assentiu para Gael, se levantando muito rápido e quase derrubando a cadeira. Ele estava tão feliz, que saiu meio saltitando.

Puta que pariu. Nem que Alan ganhasse na loteria ele sairia daquele jeito.

- O senhor não está confiante com isso, correto?

- Escute com atenção – O médico arrastou a cadeira, ficando mais perto do alfa. – Eu já vi casos de gravidez em ômegas machos antes. É incomum, mas pode acontecer. Eu vou ser franco: se Alan fosse meu ômega eu iria fazer qualquer coisa para mantê-lo seguro.

- O que propõe? – Gael franziu o cenho.

- Aborto.

- Eu já premeditava, entretanto, não sei se meu ômega estaria disposto.

- Eu tive um paciente que estava nesse estado e suas dores foram tão fortes que ele teve paradas cardíacas e ele não resistiu. Alan pode morrer.

Gael engoliu em seco, abraçando seu corpo. Quando era pequeno, precisava se esconder em lugares pequenos até seu medo passar. Agora quando adulto, ele tinha os braços fortes de Alan para apertá-lo. E se sentiu ainda mais horrorizado ao se imaginar sem esses mesmos braços.

- Alan é um ômega forte e saudável, mas continua sendo anormal. Se o bebê chegar aos braços de vocês, também teria uma expectativa de vida muito baixa.

- Eu não estou certo se ele aceitaria.

- casos como esses é legalmente aceito que o alfa escolha pelo seu parceiro quando este não está em condições racionais para tomar decisões.

Gael repudiava essa lei. Ela se aplicava para tantos casos, que se você analisar de perto poderia ver que socialmente um ômega não tinha nenhuma liberdade.

Mas agora... Agora Gael estava disposto a fazer qualquer coisa para mantê-lo.

- Eu devo fazer isso até qual tempo limite?

- Bem, seu ômega está de três meses. Até o quarto ele pode se dar bem, depois disso... Você compreende, Alan não poderia fazer uma comunicação apropriada pelo cordão umbilical com o bebê, de forma que ele receberia menos oxigênio e nutrientes. A produção hormonal de Alan jamais seria como a de uma ômega gestante, ele não conseguiria nem de longe suportar as dores que vai sentir. E dor... Bem, Alan faz parte daquela classificação de ômegas com ovário e útero atrofiados, e eu posso te garantir que a dor vai ser algo bem pungente daqui em diante. É a mesma sensação de uma contração a cada instante, e como eu disse Alan não produz hormônios como uma fêmea grávida. Elas sim conseguem suportar contrações justamente por conta desses hormônios. Machos também tem menos terminações nervosas que fêmeas, então sentem menos dor, mas quando sentem elas se tornam bem mais insuportáveis. E Alan vai se sentir totalmente despreparado emocionalmente por essa falta de hormônios e seu corpo vai se estressar muito. E como eu disse.... ele pode ter uma parada cardíaca pelo estresse involuntário.

Gael refletiu um pouco, se sentindo pela primeira vez totalmente despreparado para uma decisão racional.

- Alan nem que quisesse poderia passar noves meses desenvolvendo um bebê - Divagou. - E é justamente por isso que existem clinicas especializadas que desenvolvem bebês em laboratório que simulam o ambiente do útero e alimentam os bebês com máquinas precisas e especializadas que se conectam ao cordão umbilical. Eu mesmo já estudei sobre isso e sei que é uma alta possibilidade.

- É claro, mas até lá Alan precisa completar os quatro meses. Antes disso não há a possibilidade de desenvolvermos o feto apropriadamente antes do quarto mês em laboratório. Precisamos que o feto já tenha terminações nervosas adequadas e ossificação e várias outras características que somente a partir do quarto mês é definido. Nem tudo é tão avançado assim.

- É apenas um mês.

- Um mês que estressará o corpo de seu ômega irreversivelmente.

Gael baixou sua cabeça entre os braços, começando a ofegar. O médico ficou em silêncio, antes de insistir:

- Posso te passar contato de clinicas de aborto seguras.

- Eu preciso conversar com meu ômega antes.

- É claro que você tem a possibilidade de escolher o feto invés do seu ômega. Mas não vejo você muito empolgado com a ideia de ser pai.

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- GAEL! GAEL!

O alfa encolheu os ombros, olhando nervoso para o chão enquanto ouvia os passos de Alan até ele.

Gael estava completamente confuso. Sua mente parecia argila sem modelação. E isso era seu pior castigo: não saber agir quando Alan esperava que ele tomasse as rédeas. Gael gostaria de saber atuar, dizer as coisas que seu ômega queria ouvir mesmo que não fossem verdade.

E agora Alan estava enérgico, e cheio de expectativas. Ele conseguia visualizar isso, e também conseguia visualizar que nada disso acabaria bem.

- Alfa... Você ouviu o médico, não é? – Alan pulou na sua frente, com uma expressão tão radiante que Gael se perdeu um pouco. Era lindo, mas aquilo tornava tudo pior.

Certamente sua opinião não agradaria seu ômega.

- Sim, Alan. Eu ouvi.

O ômega balançou a cabeça e deu pulinhos de alegria, agarrando os braços do alfa.

- Alfa, nós vamos ter um bebê! Um bebê! – Ele riu alegre, meio emocionado. – Eu mal posso acreditar que isso poderia acontecer comigo. E-eu nunca pensei que eu poderia, sabe... Poder lidar com isso. Mas eu estou tão... tão feliz!

Sua voz era entrecortada por gritinhos nada comuns vindo de um cara como Alan, o que fez Gael o olhar com uma expressão mais estranha ainda.

- A gente pode ter uma família, alfa... E... Oh, eu nunca admiti isso para mim mesmo, mas sempre foi meu sonho, sabe? Ter uma família – Ele corou, ainda dando risinhos, antes de pegar as mãos de Gael e olhar para seus olhos. – Você quer isso, alfa?

Gael engoliu em seco, começando a suar e tirando suas mãos de Alan.

Ele se virou de costas, deixando o ômega intrigado.

- Alan, você não pode ter... Bem, você... você não... – Sua dicção se perdeu ao sentir o olhar fixo dele em suas costas.

- Eu não posso ter o bebê? o médico disse que eu não posso?

Porra... Porra...

A voz dele fez Gael querer choramingar. Nem rosnar baixinho. Ele realmente quis pela primeira vez choramingar. E chorar. Caralho, aquilo doeu tanto em Gael que ele teve que respirar fundo, tentando se livrar da sensação de aperto no peito.

O desapontamento de Alan era pior que uma lâmina.

- Você compreende que um ômega macho... Bem, desenvolvendo um feto não é natural... não é? - Tentou selecionar melhor suas palavras, mas nada saia do jeito que ele queria.

- Eu sei. Mas eu estava conversando com a enfermeira e ela disse que ela nasceu de um ômega macho – Sua voz aderiu de novo aquele tom de esperança. – E... Eu acho que eu consigo. Eu sei que vai ser difícil, até um outra médica me orientou sobre isso... Mas ele disse que eu posso conseguir e... e eu posso ter um bebê vindo de mim.

- Não seja estúpido – Gael aumentou seu tom, assuntando Alan. – Você sabe como eu tenho repulsa do sentimento de esperança quando ela é oriunda de uma fantasia criada na sua própria mente. Você está criando uma jornada romântica na sua cabeça, onde você reflete sobre a possibilidade de gerar uma criança. Mas isso são só fenômenos vindo da pré-disposição biológica dos humanos de tentarem se entreter com fantasias do que encararem a realidade. Você não pode. E você não vai conseguir. Mitigue essa ideia.

- Você não quer ter um bebê comigo? - Sussurrou magoado, se encolhendo como uma bolinha.

- Não, Alan. Eu não desejo ser "pai" - Fez aspas no ar. Gael não entendia sobre sarcasmo, mas ele pareceu tão maldoso naquele momento que Alan sentiu sua garganta dar um nó. - E essa nem é mesmo a questão, o ponto é que você não é uma fêmea e você não...

- Por que você não disse isso desde o inicio? – Alan fez uma expressão chorosa. – E-eu pensei que você queria, sabe... Mais comigo. Pensava que você queria ficar comigo por anos e que a gente tivesse crianças e...

- Você está sendo ludibriado. Nós não precisamos disso. Ainda mais isso vindo da sua anomalia.

- ANOMALIA?! - Gritou, mas sua voz saiu tão trêmula que ele mesmo não se reconheceu. - Como pode dizer isso de mim?

Gael não disse nada, encarando o chão.

Alan suspirou, esfregando o rosto. Ele não queria gritar, não estava bravo nem com raiva. Seu peito doía e seu orgulho se esforçava para não deixar as lágrimas caírem. Ele estava tão triste, que cada palavra vinda dele soaria doída.

- Eu estava tão feliz por essa coisa única ter acontecido comigo, mas você....

- Única até demais - Interrompeu, voltando a ficar amargo.

- Por que está tão zangado?

- Não se abstraia do horror que isso é!

Alan colocou a mão em frente a boca. Gael gritando tornava tudo pior.

- Você compreende que apenas alguns ômegas machos apresentam anomalias no corpo como portar útero e ovários atrofiados. Você faz parte disso.

- Você está me chamando de anomalia?

- Isso vai resultar em algo terrivelmente errado - Gael quase uivou, esfregando o rosto com força, ignorando Alan completamente. - Você pode ter paradas cardíacas, além do desenvolvimento irregular de hormônios e... a dor vai ser latente

- Eu preciso aguentar durante um mês. Depois disso desenvolveremos o bebê em laboratório. E eu farei qualquer coisa para ter esse bebê.

A última frase fez Gael olhar diretamente para ele. Aquilo era um desafio.

- Você deve fazer aborto.

Alan rosnou, suas pupilas começando a dilatar.

- Não. Eu não vou.

- Vamos retirar antes que seja tarde demais - Correu até o ômega, tentando agarrar seus braços para que o olhasse, mas o ômega estava decidido a não se deixa levar.

- Eu decido, Gael. Você não pode opinar sobre isso.

- Eu posso, e eu vou interferir.

Alan deu passos para trás, olhando-o tão raivoso que o alfa sentiu pela primeira vez odiado por Alan. No inicio, os dois tinham implicância e rivalidade. Não ódio. E Gael ainda não tinha experimentado o amor, e... Meu Deus... Perder o amor de Alan naquele instante doeu tanto que fez com que ele rosnasse baixinho, sentindo sua própria garganta se fechar.

- Se você permitir que isso aconteça saiba que tudo que teremos será acabado. Eu mesmo farei questão de desmanchar essa relação pedra por pedra. Eu farei com que se arrependa amargamente se tocar no meu bebê.

Tão seco e duro que Gael rosnou, antes de gritar:

- Eu sou seu alfa, Alan!

- Você é meu alfa agora, mas não sei se continuará a ser - A cada passo que Gael dava, ele recuava três, com o rosto tão frio que assustou Gael de um jeito que ele jamais conseguiria explicar.

- Eu tenho apoio judicial se eu desejar que o aborto seja feito.

- Você está comigo, sim. Mas não tem o direito de interferir na minha vida! Quem sentirá dores será eu não você! QUEM ESTÁ CARREGANDO UM BEBÊ SOU EU NÃO VOCÊ! - Sua voz estava tão alta que Gael tapou os ouvidos, se encolhendo. Mas Alan não estava se importante com sua sensibilidade agora, já que o alfa tinha acabado com toda a sua. - Isso faz parte de um ritual de ômegas, não de alfas. Não queira interferir naquilo que não lhe pertence. E foda-se se a lei permite ou não. A lei defende alfa, não ômegas. E se você quiser mesmo ser igual aos outros alfas e começar a controlar minha vida e minhas decisões... Saiba que eu não vou deixar isso acontecer.

Continua llegint

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