Condão (Lista Internacional)

Galing kay GiordanoMochel

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A obra de ficção científica “Condão” diferencia-se pela abordagem político-técnica de um futuro onde o contro... Higit pa

Prólogo
Capítulos 2 e 3
Capítulos 6 e 7
Capítulos 8 e 9
Capítulos 10 e 11
Capítulos 12 e 13
Capítulo 14

Capítulos 4 e 5

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Galing kay GiordanoMochel

Capítulo 4

Estava exausto. Não aguentava mais aquele tipo de negociação. Jurou que seria a última vez que compraria na Galeria Chinesa. Sempre que discutia valores com os orientais, os níveis de estresse subiam. Agora era pior: queria trocar uma peça. Argumentou que o vendedor tinha lhe garantido que a lente era a prova d'água. O chinês usou o microscópio eletrônico e o detector biológico no aparelho e constatou a presença de salitre. Não tinha dito que era a prova de salitre. Teve ódio do chinês. Queria o dinheiro de volta, mas isso, sabia, era impossível. Por fim, mesmo com o conhecimento de que a peça não era a prova d'água, entrou em acordo e adquiriu uma nova pela metade do preço. Ainda devia lucrar 500%, o pilantra.

— Tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar discutindo com esse miserável.

Colocou a peça, mas não ativou a identidade. Jurou que não ativaria. Seria só um quebra-galho até comprar um dispositivo ótico original. Gostava dos produtos chineses porque sempre traziam alguma funcionalidade adicional, mesmo que a qualidade fosse, na maioria das vezes, duvidosa. Aquele trazia um identificador de íris. Era pouco útil por enquanto, pois só serviria para íris cadastradas por ele mesmo ou íris públicas. O banco de íris global era privativo da Central. Mas Achou interessante e comprou.

— Preciso de informações Jan. Vou ter que fazer uma idiotice.

— De que tipo?

— Nenhuma informação da mídia é confiável. Os drones não as passaram corretamente. Terei que acessar o banco de ocorrências da Central para tentar identificar por que mataram os rapazes.

— É loucura. Se tentar acessar a Central saberão em menos de um milésimo de segundos e mandarão um pelotão de drones atrás de você.

— Tenho um plano.

Era um plano idiota, inegavelmente. Mas era um plano. Lembrara-se que há cerca de 2 anos descobrira uma backdoor1 em uma rotina de manutenção de um dos serviços de conexão da central. Era um programador curioso. Irresponsável e curioso. Não aguentou e foi subindo pelas camadas de acesso, queria ver até onde chegaria. Alcançou um entrocamento de conexões. Um espaço usado para bots2 que faziam limpezas de cache de dados, partículas de protocolos fragmentados e perdidos. A backdoor seria detectada em breve, por isso inseriu um código no setor para clonar um dos bots de manutenção. Criou sua própria backdoor, mas não no serviço, e sim no bot. Sabia que o miniprograma poderia navegar muito mais longe dentro da rede que um usuário que sempre precisaria romper firewalls, correndo o risco de ser detectado. O bot não, era uma miniarquitetura pertencente ao sistema, portanto suas mensagens eram protocolizadas pela central. Mesmo assim, era a Central e tudo era perigoso. Fez a tolice, deixou o bot lá e esperou a bronca. Passaram-se duas semanas e não veio bronca alguma. Criou coragem e acessou a backdoor do bot. Estava lá. Nesse dia conseguiu chegar a central de controle de tráfego terrestre, baixando uma massa de dados da rede inteira dos trens a vácuo. Dados de linhas auxiliares, desativadas, projetadas e tudo o mais. Ficou maravilhado, mas com a leve sensação que havia exagerado na dose. Fechou o bot e deixou-o lá. Nunca mais o chamou.

Agora o faria de novo.

— Acha que está lá? – Perguntou Jan.

— Não sei. Se estiver, creio que consigo chegar ao banco de ocorrências da Central. Mas lá não é um setor de trânsito. É uma área de segurança. Talvez não seja detectado inicialmente, pois existem inúmeros bots de limpeza por todo o sistema. Porém, assim que acessar os dados da ocorrência dos garotos a detecção será imediata. A conexão será fechada e os drones chegarão em 3 minutos. Talvez menos, dependendo do local. Mas tem outro problema.

— Qual?

— Não dá pra acessar um bot de serviço por um dispositivo móvel como uma caixa de conexão ou uma lente ótica. Preciso estar logado fisicamente na super-rede. É um dos protocolos de segurança da Central. Se eu tentar acessar via qualquer tipo de emulação à distância, os pacotes de dados terão a encriptação de acesso remoto e a Central vai identificar. Temos duas opções: a primeira é tentar encontrar um roteador que decripte o código de acesso remoto dos pacotes no mercado negro para criar uma conexão. Essa é a mais difícil, pois além de ser praticamente impossível achar o aparelho no mercado, as redes de dados tem rastreadores de algoritmos de decriptação. A segunda é tentar uma conexão em uma rede física de um ponto de acesso disponível. Podemos tentar puxar um acesso em alguma escola, mas teríamos que estar disfarçados do início ao fim, pois bastaria à Central acessar as câmeras de segurança da escola para descobrir quem fez a conexão. A não ser que consigamos acessar um dispositivo fisicamente conectado sem sermos filmados. Mas não conheço nenhum.

— Talvez possamos ser filmados e não identificados.

— Como assim?

— Confie no seu amigo antiquado.

***

Horas antes, a aranha robótica voltara para o seu habitat no corpo do drone terrestre. Sabia que não era parte do drone. O protocolo de inteligência artificial distribuído garantia que não haveria mais integração lógica entre dois corpos robóticos físicos. A aranha tinha apenas o nível de raciocínio suficiente para executar as tarefas inerentes a sua função e até uma certa liberdade para tomadas de decisão em situações de emergência. Só que havia algo mais embutido em seu software: a noção de que era, de alguma forma, um indivíduo.

Aninhou-se em seu nicho e colocou o pequeno fragmento vegetal no receptor externo do drone terrestre, que o recolheu. Dentro, a pequena ponta de folha foi inserida em um compartimento e decomposta até virar uma pitada de pó. Lasers vermelhos escanearam o punhado de poeira e o drone terrestre enviou uma mensagem ultracodificada para a central: “seqDNA:TGCCACCT...”

Capítulo 5

Chegaram no apartamento às 17 horas.

— Vamos comer. Talvez não voltemos tão cedo hoje e não quero perder tempo com lanches.

Edwardo sempre tinha um bom estoque de comida desidratada. Não tinha paciência para preparar refeições a partir de alimentos crus e ninguém que o fizesse para ele. Na verdade isso era cada vez mais raro. Tanto preparar refeições quanto ter alguém para prepará-las. A última babá que tivera notícia fora a que ajudara a criar o seu pai. Só tinha visto em fotos. Empregadas domésticas também só conhecia por registros históricos. A maior parte da limpeza era feita por robôs domésticos e o lixo jogado nos tubos de sucção que levavam às centrais de reciclagem. Obviamente que existiam robôs cozinheiros, mas achava isso um luxo desnecessário. Gostava da comida desidratada. Escolhia-as mais pela tabela de nutrientes impressa na embalagem do que pelo sabor, já que gostava de todas as comidas desidratadas. Só tinha o cuidado de variar bastante. Quando faltava alguma coisa bastava solicitar pela super-rede e um drone de entrega chegava em menos de 10 minutos. Estes drones transportavam qualquer coisa na cidade, mas o transporte de passageiros era restrito aos drones de saúde ou ambulâncias aéreas, decisão tomada pelo governo.

Os antigos drones aéreos particulares de passageiros haviam proporcionado uma pequena revolução de transporte no passado. Quando surgiram, substituíram os automóveis de forma muito rápida. Infelizmente verificou-se que o caos terrestre movera-se para o ar. Mesmo com a utilização de uma variante do sistema de transporte aéreo do italiano Donargio Tento na utilização de camadas direcionais em faixas de altura diferenciadas, o sistema sobrecarregou-se e a velocidade operacional caiu bastante, ainda que não houvesse acidentes devido ao controle de localização das aeronaves. Curiosamente, tudo isso parecia ter sido previsto pelo governo. Enquanto o sistema aéreo entrava em colapso, em terra era construída a enorme rede de tubulações do metrô a vácuo. Como o uso dos veículos terrestres havia caído drasticamente pela utilização dos drones aéreos, foi muito menos traumático demolir 70% do solo e subsolo da cidade. Após entrar em operação, o metrô a vácuo foi gradativamente substituindo os drones de passageiros. Mesmo com as ruas liberadas era mais prático usar trens a vácuo ou continuar com o drone aéreo do que usar os antiquados veículos terrestres de passageiros. Foi então que, com as avenidas pouco utilizadas, o governo teve espaço para criar a supervia, propiciando dois tipos de transportes rápidos para a população e excluindo definitivamente o uso de veículos terrestres motorizados. Por fim os drones particulares de passageiros foram proibidos de voar sobre a cidade, restando apenas os drones aéreos de saúde, os drones de transporte de carga e os drones de segurança, já que o transporte público supria toda a necessidade de locomoção.

Edwardo lembrou-se de que prometera pedir uma lasanha para jantar com Sílvia naquela noite. Não poderia cumprir o combinado. Pensou em mandar uma mensagem, mas seria uma descortesia. Estava desmarcando um jantar, afinal. Prometeu ligar às 19:00 horas quando já estaria acordada. A menina dormia o dia todo quando fazia plantão.

Enquanto Ed preparava a comida no hidratador, Jan aproveitou para explicar seu plano.

— Existe um clássico da ficção científica chamado Star Wars. Uma série de 9 filmes com 45 anos entre o primeiro e último. Apesar de ter feito sucesso há muito tempo, ainda existe um pequeno grupo de fãs que se reúne em um clube na cidade antiga para simular as batalhas. É um lugar antiquado, mas os equipamentos são funcionais, e as batalhas são bem reais. O pessoal sabe programar uma simulação bem fiel ao estilo. Falo por experiência própria.

— Creio que já assisti a algum dos filmes no canal Desiderio. – Disse Ed – É bem a sua cara mesmo ser fã desses filmes. Não há nenhum recurso de projeção, nenhum efeito espacial em 360º, nada. Apenas o antigo 3D. Até para assistir é mais complicado. Tive que gerar um óculos na impressora de sólidos.

— Pois bem. O que importa é que o clube tem uns 50 anos, assim como o simulador. A aparelhagem é bem antiga e ainda existem vários terminais físicos de acesso. E o que é melhor: o simulador exige altíssima precisão, mas não trabalha com o escaneamento zimmer dos lasers atuais. O grupo gosta mesmo de todo esse ambiente nostálgico. Teremos que usar as roupas de detecção de movimentos, então estaremos naturalmente disfarçados, mas precisamos pegar as roupas lá em casa. Se usarmos um drone de transporte para pedir novas roupas, a Central pode cruzar o pedido quando a confusão estiver instaurada. Hoje é sexta-feira. Haverá uma batalha na Estrela da Morte às 20:00 horas.

Ed tinha que concordar que era um bom plano. Melhor que o dele de invadir a Central com um bot antigo que poderia já estar desativado.

— Vamos então. Mas não podemos sair vestidos com o uniforme do seu apartamento. Teremos que pensar em outro artifício.

Escolheram o metrô a vácuo dessa vez. Usaram a Supervia até a Estação de Ipanema e de lá foram direto para a Estação Uruguai. Em 12 minutos estavam no apartamento de Jan. Ed aproveitara a viagem para elaborar o plano.

— Usaremos uma estratégia para as roupas. – Disse – Vamos vesti-las por baixo das nossas. Existe um ponto cego de câmeras na estação Carioca que fica a cerca de 300 metros do clube. É um trecho de 100 metros junto à parede interna da plataforma, entre duas escadas, de apenas 50 cm. Descobri fazendo análises de câmeras do sistema de transporte, mas não disse a ninguém. Tenho um arquivo de vários pontos cegos na cidade. Às vezes, quando estou com Sílvia, levo-a a alguns desses lugares. Mas ela nunca teve coragem de mais nada além de beijos – Riu-se. – Nesse pequeno espaço tiraremos as roupas de cima, ficando apenas com os uniformes. Faremos o inverso na volta. Mas antes passaremos no cabeleireiro da Conde de Bonfim.

— Para que?

— Explicarei no caminho. O importante é que você distraia o proprietário tentando marcar o corte em um horário improvável. Quanto mais improvável melhor.

Colocaram as roupas emborrachadas por baixo do vestimento e se dirigiram ao salão. A maioria das pessoas usavam robôs domésticos para fazer o corte. Mas os mais sofisticados e os antiquados ainda preferiam a intervenção humana. As mulheres mais vaidosas também faziam as unhas.

No salão, Jan tentava afetadamente marcar um corte para as 3 horas da manhã de sábado, alegando uma superstição de que sob o efeito lunar evitaria a calvície. O proprietário, espantado à sua frente, negava qualquer possibilidade disso acontecer. Enquanto isso, Ed recolhia discretamente algumas pontas de unha e fios de cabelo que haviam caído no chão, colocando-os em um saquinho. Depois da encenação se dirigiram ao metrô a vácuo.

Lembrou-se de Sílvia. Não ligaria identificado, pois não habilitaria aquele aparelho chinês. Mas através de um link de voz não havia problema. Chamou-a pelo chat acadêmico, que era o que comumente usavam quando estavam na super-rede. Tocou três vezes e ela não atendeu, então deixou um recado avisando que ligaria mais tarde. Ainda estaria dormindo. Imaginou aquela princesa da cor de azeviche deitada, sonhando, apenas com a pequena peça de seda que não cobria nada daquelas coxas maravilhosamente grossas. Sentiu que aquela roupa de borracha era muito mais incômoda que imaginara. Afastou o pensamento para tentar reestabelecer o conforto.

— Vamos nos concentrar Jan. Estamos quase na Rua Uruguaiana. Lembra do Plano?

— Sim. Tudo bem.

Saltaram na Estação Uruguaiana e foram pela supervia até a Estação Carioca. Desceram à plataforma, colados à parede. Já estavam invisíveis às câmeras. Àquela hora, no metrô, havia um número razoável de passageiros que voltavam do Centro da Cidade, após compras nos centros comerciais. Esperaram o trem chegar. Passageiros desceram e os que estavam na plataforma embarcaram. Quando o trem se foi a estação ficou completamente vazia. Mas sabiam que seria por um intervalo de tempo mínimo.

— Agora!

Com cuidado para não exceder os 50 cm à frente tiraram as roupas de cima e colocaram-nas na lixeira colada à parede. Puseram os capuzes no exato momento em que pessoas começaram a chegar na plataforma. Alguns acharam os uniformes estranhos, mas não deram muita importância. Quando o trem parou e os passageiros desceram, misturaram-se aos que desembarcavam e subiram de volta à rua, dirigindo-se ao clube.

O prédio era exatamente como Ed imaginara. Antigo, com uma porta grande frontal a vácuo e uma pequena porta de serviço lateral, também a vácuo, obrigatória por segurança em todos os prédios comerciais. Ambas estavam abertas. Ed foi à porta de serviço e discretamente soltou o saquinho que havia coletado.

Haviam planejado chegar às 20:30 horas. A simulação já teria começado e ninguém os importunaria com perguntas sobre suas identidades. Entraram no salão de simulação e escolheram os personagens na área intermediária. Dois soldados imperiais. Não havia figurantes mais discretos que esses, ainda mais em uma simulação na Estrela da Morte.

Assim que escolheram os personagens e colocaram o cartão de jogo na roupa entraram em conexão com o simulador. Um impressionante ambiente da enorme nave esférica apareceu em volta deles. O salão tinha pelo menos 700 m2, a área livre para a atuação. Feixes de lasers eram disparados por todo lado. Pareceu ser a cena em que tentavam voltar para uma nave. Ed não conhecia a história muito bem. Não importava. Levantou um pouco o capuz para liberar os olhos e avistou os dois terminais na parede ao lado. Àquela hora não havia como se sentar. Ajoelhou-se e pediu para que Jan continuasse a figurar. O professor encostou-se a ele e começou a atirar. Instantaneamente veio-lhe uma imagem na cabeça: Um soldado imperial agachado junto à parede e outro às suas costas atirando. Se houvesse uma garota com dois discos voadores no cabelo e um cachorro de dois metros ao lado a cena seria completa.

O acesso ao terminal era via teclado. Ainda bem. O simulador era polifônico e o som, ambiente. Com o barulho seria impossível ditar os comandos. Chamou um dos proxies de acesso que usava para mascarar navegações. Para garantir, acessou um proxy europeu dentro deste. Isso daria tempo para atrasar a detecção do local de acesso no momento crítico. Só então se conectou ao Instituto com uma senha de serviço. Não em um terminal do seu prédio de trabalho e sim em um terminal na subsidiária de Belo Horizonte, com uma senha de serviço pública, das que se davam aos estudantes e pesquisadores que diariamente frequentavam o órgão. Não permitia nada a não ser acessar a super-rede, a menos que se conhecesse alguma falha de segurança. No caso, uma inserida por ele mesmo. Mandou a mensagem inocente para a subrede de serviço onde havia deixado o bot, rezando para que não tivesse havido uma reformatação da área. Houve uma resposta de conexão. Inseriu a senha da backdoor, e em questão de segundos, estava comandando o bot.

Precisava agora subir os níveis que levavam ao coração da Central. O bot estivera coletando fragmentos nos últimos 26 meses, bem disfarçado. Ed arriscou o nível superior. Entrou, como há 2 anos, mas em uma área destinada a pacotes de dados em nível intermediário de exclusão. Arquivos de 7 a 12 anos que já estavam em um período de descarte pós cópia de backup. De repente pensou em algo: valeria a pena perder um tempo ali para tentar. Colocou em modo de busca e procurou por “íris” e “banco de dados”. Demorou 9 segundos para encontrar, pois era um bot bem rudimentar. Achou um banco de íris de 10 anos atrás, com alguns fragmentos faltando. Se arriscasse um download e fosse descoberto poderia pôr tudo a perder. Mas se acessasse a central de ocorrências antes de tentar baixá-lo, nunca mais veria esse bot na vida e nem a chance de ter um banco de íris como aquele. Resolveu tentar, mas fez de forma diferente. Coletou os fragmentos do banco como se fosse uma limpeza, movendo-os para o nível abaixo, livre. A Central não encararia como download, e sim como uma limpeza de um arquivo que já estava lá para ser descartado. Os bots de serviço poderiam estranhar, mas não era, ainda, uma falha de segurança. 20 segundos depois, quanto todo o arquivo estava no nível inferior, ordenou o envio do arquivo para o terminal. Com os dados armazenados localmente pôde conectar sua lente diretamente à máquina, sem o risco de ser interceptado pela Central. Ligou o dispositivo e transferiu o banco. 5 Petabytes.

— Pelo amor de Deus, Ed. Já fazem quase 3 minutos. Que demora é essa?

Ed ignorou-o para ganhar tempo. Voltou a subir o nível e buscou o acesso diretamente aos boletins de ocorrência. Estavam em uma área de segurança maior, proibida a bots de serviço como aquele. Provavelmente mudavam constantemente os protocolos de segurança.

— Não vai dar.

— Droga, então vamos embora!

Perto de desistir se lembrou de uma estratégia que havia aprendido em uma classe avançada de geneprogramação. Algo como um algoritmo baseado em genética. Como todo bot é, em si, também um conjunto de pacotes, o desafio era tentar substituir um pacote deste bot com um pacote seu. Algo como é feito pelos vírus, que alteram os DNAs das células. Na época, de 10 tentativas conseguira 2. Mas agora tinha uma pequena vantagem: seu bot era um coletor. Tentaria algo mais radical. Emparelhou com um bot de alto nível, muito mais complexo, com cerca de 10 vezes o seu tamanho. Tentaria invadir o grandão sem destruí-lo. Trocou algumas mensagens com ele, descobrindo onde ficavam os pacotes de segurança que precisavam ficar intactos. Sabendo aquilo, arrancou pacotes suficientes para que pudesse substitui-los e se juntou ao corpo do gigante, como um parasita digital. Dentro da sua estrutura, foi fácil manobrá-lo para que entrasse na área de segurança máxima. Depois disso, arrancou-lhe os pacotes de segurança e deixou-os no acesso para garantir a conexão de entre os níveis. Naquele momento, o bot maior já era uma peça amorfa. Desconectou o seu pequeno bot do que restava, sobrando apenas fragmentos do maior. Lixo. Matara o bot de alto nível. O pequeno herói agora estava na área da central de ocorrências.

Ed colocou os dedos da mão esquerda em sinal de V e cruzou com o indicador da direita. Era o comando para que a lente começasse a gravar o vídeo. Na hora que acessasse o boletim de ocorrência não sabia quanto tempo teria para lê-lo, então gravaria a própria tela. Dentro do setor de segurança havia vários outros bots de serviço de nível mais alto. Sabia que era questão de segundos para que o algoritmo sentisse a anomalia de um bot rudimentar. Colocou em modo de busca e procurou “MORTE”, “CAIS” e “MENOS DE 24 HORAS”. Em 4 segundos encontrou o arquivo. Não havia mais tempo a perder. Ativou o download diretamente para a tela.

Só conseguiu ver o rosto dos dois rapazes antes da tela se fechar. Logo depois todas as luzes foram apagadas. A porta do salão se abriu e a porta frontal do edifício se fechou. Normalmente, em uma emergência, todas as portas se abririam. Mas aquilo não era uma emergência e ocorrera exatamente como previu. A porta lateral mantivera-se aberta.

Piscou 3 vezes pra desligar sua lente. Os jogadores agora estavam se recuperando do susto. Viram a porta frontal fechada e uma luz vinda da porta lateral. A única saída! Como previra, o protocolo de segurança das portas não permitia que se fechassem nem com uma unha bloqueando a passagem. Mas também colocara fios de cabelo para garantir.

— Vamos Ed!

— Espere!

Deixou que alguns partissem na frente. Depois foram. Se amontoaram todos na estreita porta. Vários indivíduos com a mesma roupa, correndo em todas as direções. As câmeras não os identificariam de imediato, tampouco os drones saberiam quem procurar, mas provavelmente seguiriam todos. Não tinham tempo a perder. Saíram a rua e correram. Alguns, logo atrás, os seguiram. Outros pararam logo, próximos à saída. Fato é que não havia uma direção uniforme para seguir. Mas Ed e Jan sabiam onde estavam indo.

Entraram no metrô da Carioca, a apenas 300 metros dali. Desceram à plataforma e pararam ao lado da lixeira, recostados. Quando o trem se foi e a plataforma estava naquele vazio fugaz, pegaram as roupas e colocaram-nas por cima do uniforme, rapidamente. A plataforma se encheu novamente. Daquela vez, quando trem parou, entraram juntos com os outros passageiros.

1Backdoor é um recurso utilizado por diversos softwares para garantir acesso remoto ao sistema ou à rede infectada, explorando falhas críticas não documentadas existentes em programas instalados, softwares desatualizados e do firewall para abrir portas de roteamento.

2Bot, diminutivo de robot, também conhecido como Internet bot ou web robot, é uma aplicação de software concebido para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, da mesma forma como faria um robô. No contexto dos programas de computador, pode ser um utilitário que desempenha tarefas rotineiras e , num jogo de computador, um adversário com recurso à inteligência artificial.

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