Hiatus - You're my magic shop...

By JYeomin7

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Jeon Jungkook é um promotor criminal que cresceu lidando com a ausência de sua mãe e concentrou toda a sua vi... More

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Personagens
Serendipity
Universe's providence
When you see me, when you touch me
Seven billion worlds
Winter lake
Hold my hand
But I still want you
Can I live with a broken heart?
How to live with a broken heart?
A small gesture
It's worth it
Cherry blossoms
Cracks
Just let me love you
Which hell is the worst one?
Our hearts are on fire
The clash between two hearts
The way you look at me
Our grave
I miss your heart of doubt
Personagens (parte 2)
The key to our hearts
Our mistake
Love in intimacy

Louder than bombs

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By JYeomin7

Olá!

*Espero que não achem o capítulo chato... Comentem bastante e votem!

*Aviso: esse capítulo contém relato de violência doméstica.

*Tradução do título: Mais alto do que bombas.

*Narração: Jungkook.

***

Apoio minhas mãos na parede marrom-escura e deixo a água morna molhar meu cabelo. O piso creme é manchado por pinceladas avermelhadas que se diluem no líquido transparente e desaparecem pelo escoamento. Inspiro pela boca abruptamente e o gosto de sangue toca meu paladar.

O sabor metálico e amaro não me parece tão estranho quanto deveria. Talvez porque isso seja como me sinto desde aquela fatídica madrugada e nem o meu corpo é capaz de fugir da avalanche de mentiras que me soterrou sob os escombros que um dia foram o que eu mesmo edifiquei.

Fecho os olhos, cansado de encarar a água levando parte de mim, cansado de me deixar perder algo mais, e me recordo do que aconteceu há minutos atrás...

- Um, dois, três... Um, dois, três... – A manopla pesada acerta a lateral da minha cabeça de repente. – Vamos, Jeon. Nós dois sabemos que você pode fazer melhor do que isso. – Encaro meu treinador enquanto algumas gotículas de suor alcançam meus lábios e respiro fundo, desferindo socos imponentes no equipamento em seguida.

- Melhor... – Jin Hee se movimenta no tatame montado no centro da minha pequena academia e insinua me atingir algumas vezes, testando meus reflexos aparentemente adormecidos já que novamente sou atingido por um golpe direto no estômago. – Merda, Jeon. Concentre-se.

- Continue. – Dou pequenos saltos e fixo meus olhos nas manoplas acopladas em seus antebraços.

Ele as posiciona e golpeio os equipamentos violentamente, finalizando a sequência com um cruzado de direita que o faz deixar de sustentar seu braço na posição. Ele desfere um chute em direção a minha coxa, mas atinge a caneleira quando levanto minha perna em noventa graus lateralmente para me proteger. Jin Hee assente silenciosamente, satisfeito.

- Nós dois sabemos que você pode fazer melhor do que isso, hyung. Eu não pago um lutador profissional aposentado para me acariciar. Sua idade está gritando? – Ele revira os olhos e sorri discretamente, avançando sobre mim. Desvio-me de suas tentativas mais realistas e em meu contra-ataque, sou empurrado com força para trás.

Continuamos trocando golpes mais agressivos enquanto decido ignorar minha velocidade, apesar de rápida o suficiente no momento, um tanto reduzida. Quando ele se afasta, uma melodia familiar do Linkin Park soa através das caixas de som e eu me lembro do dia que Jimin me observou treinar. A imagem de seu olhar flamejante arremata minha tênue concentração e a última coisa que vislumbro é o braço de Jin Hee revestido pela manopla sendo descarregado em minha direção até que uma dor ardente atinge meu nariz.

- Porra, Jungkook! – Com o impacto, meu corpo vai ao chão e vejo gotas de sangue respingando no tatame. Meu treinador retira os equipamentos e se abaixa. – Merda. – Ele agarra meu queixo e levanta minha cabeça, observando o estrago.

Fecho os olhos devido à dor retumbante em meu rosto e sinto o sangue escorrer pelo meu peito nu e suado.

- Yah, garoto. – Jin Hee dá leves tapas em minha bochecha. – Você está bem? – Coloca uma toalha em meu nariz para estancar o sangramento.

- Sim. – Abro os olhos e pressiono a toalha, levantando-me.

- Vou pegar a bolsa de gelo.

- Não precisa, eu estou bem. – Afasto o tecido e o sangramento continua, então pressiono novamente.

Jin Hee cruza os braços, fazendo seus bíceps saltarem, e arqueia uma sobrancelha.

- Só preciso de um minuto. – Explico.

- O que está acontecendo com você? Nós treinamos juntos há anos e essa é a primeira vez que te vejo tão distraído.

Meus dois encontros semanais de uma hora e meia com Jin Hee fazem parte da minha rotina há muito tempo, mas, apesar do período de convivência, raramente conversamos sobre nossa vida pessoal.

- Não dormi muito bem. – Afasto a toalha e, novamente, meu sangue escorre. – Ugh! Por que ainda está sangrando?

- Porque eu quase quebrei o seu nariz. – Reviro os olhos. – Se já está assim com vinte e sete anos, não posso esperar para te ver lutando com a minha idade. – Debocha e se retira da academia, rindo.

- Babaca. – Sorrio apesar do meu estado deplorável e me sento no chão.

Após alguns minutos, ele retorna com a bolsa de gelo.

- Pressione a bolsa por trinta minutos a cada três horas e vá se lavar. Até terça-feira.

- O que? Nós apenas começamos o treino! Eu já estou bem. – Ele desfere um tapa estalado em minha nuca.

- Hoje é sábado e você provavelmente ficará com o nariz inchado por alguns dias. Vá descansar, garoto, e lide com o que quer que esteja te atormentando. – Solto o ar bruscamente, frustrado. Meu treinador sai do cômodo e logo escuto a porta da entrada se fechando.

Inspiro impensadamente pelo nariz e uma queimadura agonizante se inicia.

- Porra!

Levanto-me apesar da tontura e sigo até meu banheiro.

Na última vez em que tentei lidar com algo que me atormentava, construí um labirinto sem saída e não fui o único a entrar dentro dele...

Depois de me vestir, sento-me em minha cama enquanto seco meu cabelo com uma toalha até que meu celular começa a tocar. Surpreendo-me ao ver o nome na tela, mas não hesito em atender.

- Jong Suk?

- Hyung, você atendeu a minha ligação!

- Como vai, garoto?

- Eu estou bem, hyung! E você? Ah, estou tão aliviado por você não ter me ignorado... Achei que não queria mais me ver. Pensei que você tinha ficado realmente bravo comigo por ter entrado na sala do desenho do Jimin-ssi sem permissão. Eu tenho uma prova de biologia nesta segunda-feira, mas estou confiante porque é sobre animais e eu amo animais! Posso te ligar depois para te contar como foi? Hyung? Você ainda está ai? – Balanço a cabeça, tentando acompanhar o ritmo dele, e um sorriso involuntário surge em meus lábios enquanto organizo minhas respostas.

- Estou bem e não fiquei bravo com você, Suk. – Talvez no começo, mas opto por omitir esse detalhe. – Não se preocupe demais com a prova, conte-me o resultado depois e, sim, eu ainda estou aqui. – Rio.

- Tudo bem, hyung! Hum... O que acha de jogarmos videogame hoje? – Suspiro.

- Hoje eu não posso. Tenho que trabalhar. – Preciso resolver o que estava pendente ontem porque fui incapaz de me concentrar, embora tenha ficado no escritório até a madrugada. – Estou com alguns problemas no trabalho. Assim que eu tiver algum tempo livre eu te ligo para marcarmos algo, pode ser?

- Pode! Vou esperar então. Eu posso te ligar de novo caso demore? – Sorrio. Não consigo entender porque ele se preocupa tanto em manter contato comigo.

- Claro.

- Espero que dê tudo certo com o seu trabalho. Fighting! – Finaliza a chamada.

Deixo meu corpo cair sobre a cama e alcanço a bolsa de gelo na mesa de cabeceira, pressionando-a em meu nariz inchado e vermelho.

"Na sala do desenho do Jimin-ssi".

Eu deveria ter deixado alguma mensagem avisando-o que tinha ido embora?

Eu deveria ter mentido e dito que tinha um compromisso?

Naquela noite eu não estava em condições de pensar no que eu deveria fazer, muito menos tinha capacidade de digitar algo.

No entanto, nada poderia ser tão sincero quanto o meu pânico. Mentir para ele me faria sentir mais miserável do que me sinto por fugir.

Ontem eu não estava conseguindo lidar com a minha própria presença, por que faria Jimin enfrentar algo que nem eu posso?

A vergonha pela forma que eu o deixei, a dor pela minha impotência, o medo de permitir que ele me visse naquele estado e o pânico que se apossou de mim pareciam me encarar através da minha sombra. Antes fosse apenas através do meu reflexo.

Como eu poderia procurá-lo se não sei o que dizer?

Se eu nunca fui capaz de perdoar, por que eu exigiria que ele o fizesse?

Imagino a reação de Jimin ao notar que eu tinha o deixado após nossas horas de amor. Fecho os olhos e cubro meu rosto como se assim eu pudesse me esconder de mim mesmo ao sentir o familiar nevoeiro de vergonha e insuficiência me alcançar.

Eu estava aqui e ele veio até mim. Jimin adentrou meu coração sem hesitar e trouxe um pouco de primavera para o meu inverno particular. Desculpe-me, amor, mas eu não sou corajoso o suficiente para me aventurar em meio a neve e te assistir derretê-la.

Encolho-me e deixo a bolsa de gelo cair sobre o colchão.

A dor física sempre me parece uma boa distração diante da dor emocional.

A tempestade me atinge com o peso de deixá-lo e me soterra com a culpa pelo meu egoísmo porque foi uma decisão minha. Cada ricocheteada do vento severo me traz o sofrimento que eu causei a ele. Uma dor que me é tão conhecida: a do abandono.

Você que foi punido em meu lugar, você que apenas foi delicado e frágil.

E então eu me sinto sujo porque eu fiz exatamente a mesma coisa que a pessoa que eu mais odeio me fez.

Agarro meu cabelo e puxo os fios em frustração.

A máscara que eu tanto necessitava não era para me esconder de você, Jimin, mas para me esconder de como eu sou tão destrutivo quanto Young Ae. Eu quero estar ao seu lado e ser o seu primeiro calor da manhã, mas eu não consigo me livrar dos sussurros que soam em minha mente dizendo que eu não mereço o seu amor e não sou digno o suficiente de você. Quando eu tento confrontá-los, a única resposta que me é dada é o silêncio. Afinal, isso foi tudo o que eu tive de quem deveria me amar e me proteger.

Nunca tive confiança para depositar em alguém porque não fui ensinado a construí-la, mas, principalmente, não tenho o suficiente para mim mesmo.

Minha mãe nunca mentiu para mim. Seu silêncio, espaço e desgosto eram a mais mortal verdade. O meu egoísmo me fez mentir para você, tornando-a mais digna do que eu sou.

Afastar-te do meu veneno depois de te tocar como uma serpente oleosa me parece a única chance que tenho de te salvar e honrar o amor mais genuíno que o destino, por alguma razão completamente desconhecida, me permitiu sentir.

Diga-me, meu bem, como eu poderia não te deixar?

Minha garganta se tranca, tornando o ato de respirar uma merecida tortura, lágrimas descem pela minha face e o gosto extremamente salgado me faz questionar há quanto tempo elas têm se acumulado dentro de mim.

Eu fui muito forte ao deixá-las se libertarem só agora ou eu fui muito covarde por me impedir?

Meu rosto é inundado pela minha tão temida fraqueza enquanto meu coração é bombardeado pelos sentimentos que me tomaram quando Jimin se deu a mim. Consigo sentir sua pele tocando-me, sua língua me lambendo, seus olhos louvando-me e seu coração amando-me.

Eu pensei que tinha me entregado a você, mas se eu fui capaz de me tomar de volta, minha entrega nunca foi sincera e real. Eu queria tanto, tanto, tanto que fosse.

A sua dor é a minha dor, meu bem, mesmo que eu não tenha o direito de sentir-te. Ela me sufoca enquanto o meu próprio sentimento me mata e ambos nos enterram.

Desculpe-me por não conseguir aceitar o seu amor e tomar de você o seu coração.

Desculpe-me por ser igual a ela.

*

Avisto Min Woo enquanto percorro o corredor cinza da delegacia que, apesar de mórbido, acalma-me.

- Woah, o que aconteceu com o seu nariz? – Reviro os olhos, irritado. Ninguém se atreveu a me questionar sobre isso quando atravessei o departamento. – Você está horrível.

- O garoto já está dentro da sala? – Ignoro-o e ele assente. – Não entre.

- Jeon.

- Você sabe porque me chamou aqui. Não entre. – Adentro o cubículo e vejo um guarda perto da parede e um rapaz de cabelos negros e olhos cansados sentado à mesa. – Saia, por favor. – Peço ao oficial, que me encara desconfiado.

- Oficial Park. – Min Woo o chama, confirmando minha ordem, e o homem se retira.

Assim que a porta se fecha, eu me sento em frente ao rapaz que me olha com medo e raiva entrelaçando-se em seus olhos.

- Qual é o seu nome? – Pergunto.

- Por que está me perguntando algo que você já sabe? Tenho certeza de que já verificou minha ficha criminal a essa altura. – Inclino a cabeça, observando-o atentamente, e apoio meus antebraços sobre a mesa.

- Qual é o seu nome? – Ele revira os olhos e se inclina sobre o encosto da cadeira. Reconheço o brilho de determinação que o permite sustentar meu olhar, por isso permaneço em silêncio durante minutos, esperando-o.

- Yoo Seung Ho. – Suspira, derrotado.

- Quantos anos você tem?

- Por que está fazendo isso?

- Porque não abrimos um processo investigatório contra você ainda e eu estou tentando fazer com que continue assim. – Cruzo os braços e noto um pouco da tensão deixar os ombros dele enquanto franze a testa em confusão.

- Por que? Você não é promotor?

- Sou eu quem faz as perguntas aqui. Fui informado de que você foi pego em flagrante tentando assaltar uma pequena conveniência em um bairro residencial e ameaçou atirar no dono. – Acuso.

- Eu não ia realmente atirar nele. – Sua voz soa baixa e ele encolhe os ombros.

- Oh, não?

- A arma não estava carregada. – Explica, confirmando que não tinha a intenção de atirar já que sabia disso antes.

- Por que você fez isso? – O rapaz encara o chão por um longo momento. Suas mãos apoiadas sobre a mesa tremem enquanto o barulho irritante de seu tênis batendo no chão freneticamente me incentiva a insistir. – Por que assaltou a loja de conveniência, Seung Ho?

- Isso realmente importa? – Ele me olha.

- Eu não faço perguntas inúteis. – Digo calmamente. O garoto entrelaça seus dedos sobre a mesa e fecha os olhos por um instante.

- Minha mãe tem insuficiência renal crônica e precisa realizar a diálise peritoneal todas as noites através de uma máquina portátil. Eu preciso de dinheiro para pagar a energia. Se ficarmos sem, ela não pode usar a máquina e... – Ele engole em seco, apertando as mãos uma na outra.

- Vocês não têm alguém que possa ajudar? – Seung Ho abaixa a cabeça novamente.

- Não, somos só eu e minha mãe. Ela começou o tratamento há um ano e parou de trabalhar. Eu nos sustentava trabalhando em uma cafeteria, mas acabei sendo demitido por chegar atrasado quando precisei apresentar um trabalho na escola e agora eu não tenho dinheiro para pagar a porra da conta de energia. – Ele desliza uma mão pelos fios lisos e respira fundo.

- Então assaltar uma conveniência foi a sua alternativa?

- Eu sei que eu não deveria ter feito isso, não sou uma criança. Eu estava desesperado, ela é a única família que eu tenho. Não consegui outro emprego e eu tentei em todos os lugares que podia. Eu iria devolver o que eu pegasse assim que estivesse trabalhando de novo. Até fiz um bilhete, mas acabei deixando cair no chão quando os policiais me pegaram...

Min Woo me chamou aqui por causa desse bilhete.

- A arma?

- Era do meu irmão. Ele escondeu em casa e nunca voltou para buscá-la já que foi morto em uma disputa de gangues. – A naturalidade com a qual ele relata o acontecido me revela a maturidade de alguém que viveu pouco tempo, mas o suficiente para entender que não há outra alternativa a não ser seguir em frente, mesmo que não seja por si próprio e, definitivamente, mesmo que não seja da maneira correta.

- Quantos anos você tem, Seung Ho?

- Quinze.

- Dê-me o seu número de celular. – Entrego a ele o meu aparelho depois de desbloquear a tela.

- O que? Por que? – Encara o celular com desconfiança.

- Eu estou confiando em você, garoto. Confie em mim também. – Ele me observa por um momento com suas sobrancelhas grossas franzidas, denunciando sua confusão, até que digita o número.

Levanto-me quando ele me devolve o aparelho.

- Espere aqui. Logo você será levado para casa.

- Eu não vou ser preso?

- Seja inteligente e não me faça te encontrar aqui novamente. – Ele assente, entendendo que não há uma segunda chance. – Em breve alguém entrará em contato com você em meu nome. Dê a ele os dados da sua conta bancária. – Ele arregala os olhos, abrindo e fechando a boca, sem saber o que falar por um instante.

- Qual... qual é o seu nome? – Fixo meu olhar no seu antes de responder.

- Jeon Jungkook. – E saio da sala.

*

- E então? – Min Woo questiona quando entro na parte lateral da sala de interrogatório e encaro o garoto confuso e aliviado pelo vidro.

- Você assistiu?

- Sim.

- A câmera?

- Desligada.

- Mande dois de seus homens levá-lo para casa e confirmar se sua mãe está mesmo doente. Envie-me um relatório com tudo o que descobrir sobre a família dele. Tudo isso confirmará a história dele provavelmente.

- Você não vai abrir o processo investigatório? – O oficial Park se pronuncia. – Foi um flagrante de assalto à mão armada!

- Eu tenho todas as informações que preciso. Não há necessidade de gastar tempo com isso. – Explico calmamente.

- E o dono da conveniência?

- Ele não sofreu dano algum e sabemos que a arma estava descarregada.

- Promotor Jeon...

- O senhor está tentando me ensinar a fazer o meu trabalho, oficial Park? – Indago. O homem não disfarça sua irritação, mas não se atreve a me desafiar.

- Leve o garoto para casa juntamente com seu parceiro e faça o que o promotor Jeon disse, oficial Park. – Min Woo se pronuncia.

- Eu não recebo ordens dele, tenente Lee.

Inclino a cabeça e fuzilo o homem com meu olhar. Apesar de que ele é mais velho do que eu, minha posição me confere uma autoridade que eu não admito que seja ignorada.

- Confirme se a mãe dele realmente está doente e me relate tudo o que descobriu assim que voltar para cá. – Min Woo finaliza pacientemente, tornando minha ordem sua.

O oficial continua me encarando e posso ver uma veia pulsando em seu pescoço.

- Sim, tenente Lee. – Não desvia os olhos de mim até sair do local, provavelmente em busca de seu parceiro.

- Mas que porra? – Arqueio minha sobrancelha, questionando Min Woo.

- Ele não gosta muito de você. – Comenta, debochado.

- Foda-se. Só preciso que ele faça o trabalho dele direito e me deixe fazer o meu. – Abro o primeiro botão de minha camisa preta.

- Ele realmente não gosta de você. O oficial Park já ficou internado por alguns dias depois de apanhar em um interrogatório no qual você fez o cara perder a cabeça. – Franzo o cenho, tentando me lembrar disso.

- Woah... Isso foi quase um ano atrás e ele apanhou porque não me ouviu. Eu podia lidar com aquele cara sozinho, você sabe... – Min Woo ri, balançando a cabeça em negação.

- Tem certeza disso? Parece que você apanhou muito do seu treinador. – Aponta para o meu nariz.

- Yah, eu estava distraído. – Defendo-me, irritado.

- Tem certeza de que o garoto está falando a verdade? Ele não parecia amedrontado pelo que fez. – Retoma o assunto.

- Ele não estava amedrontado por tentar salvar a vida da mãe dele, Min Woo hyung. Ele só estava envergonhado pela forma que tentou fazê-lo. Não vou colocar uma criança desesperada dentro desse sistema de merda. Além disso, vou conferir se ele está dizendo a verdade e ficarei de olho nele. – Pego meu celular e ligo para o gerente da rede de restaurantes minha e do meu pai.

- Yah, você... – Pisco com um olho para Min Woo e saio, entrando no corredor.

- Sr. Jeon. – Song Seung Heon diz.

- Sr. Song, ainda está contratando garçons, não é?

- Sim, ainda temos duas vagas.

- Agora temos apenas uma. Enviarei os dados do rapaz em breve para que você agilize a burocracia, mas aguarde minha confirmação final para entrar em contato com ele.

- Sim, senhor. – Desligo o telefone.

Observo os pequenos cortes arroxeados em meus dedos e guardo o celular em meu bolso rapidamente, lembrando-me de que não progredi muito durante o final de semana e minha segunda-feira já começou agitada.

*

No dia seguinte, encontro-me encarando o grande copo plástico com café em minha mesa, tentando decidir por onde começar o meu trabalho, mas sou interrompido pela entrada repentina de Yongsun em meu escritório.

- Bom dia, oppa! – Massageio minha testa, respirando fundo. – Woah, seu nariz parece cada dia pior. – Observa-me, cruzando os braços sobre sua blusa rosa-clara.

- Direto ao ponto, Srta. Kim. – Ela arqueia uma sobrancelha.

- Foi você quem me chamou, Jeon.

- Hum? Ah... Certo. – Yongsun franze a testa, mas não a deixo me questionar. – Terminou de analisar o arquivo?

- Sim. Não há depoimento de vizinhos ou parentes, as informações sobre a vítima são vagas e incompletas, a polícia concluiu que se trata de suicídio e encarou o local dos fatos como resultado de um surto psicótico. – Senta-se e ajeita sua saia branca. – O relatório médico cita o procedimento de cesariana emergencial e a autópsia constata que a morte foi causada pela ingestão demasiada de medicamentos.

- Ela foi socorrida por um médico que eu conheço. Segundo ele, além de ter pétalas de orquídea em suas vestimentas rasgadas, ela estava machucada e ensanguentada quando chegou ao hospital, mas a autópsia não aponta qualquer lesão.

- Esse é o médico identificado como o que fez a cesariana?

- Não, ele era voluntário no National Hospital, o que significa que realizava somente atendimentos emergenciais iniciais e sua especialização não condiz com a necessidade da vítima. Ele é cirurgião ortopédico.

- Ele é a pessoa importante para você? – Reviro os olhos e ela suspira. – Tudo bem, não vou perguntar de novo.

- Há outra coisa. Eu consegui ver os registros do National Hospital. A irmã dela estava no hospital e foi listada como responsável quando a Sra. Choi chegou ao local na ambulância.

- Está dizendo que ela estava junto com a Sra. Choi quando ela foi levada ao hospital?

- É uma possibilidade. Tenho informações de que alguém encontrou a vítima em sua casa e chamou a ambulância, provavelmente a polícia também. No entanto...

- Consta no arquivo que foi uma chamada anônima. – Finaliza meu raciocínio. Yongsun desliza a mão pelos seus fios castanho-escuros.

- Se a Sra. Choi foi encontrada pela irmã, isso deveria ter sido relatado e ela deveria ter prestado depoimento.

- A irmã dela não é mencionada nos arquivos. Não há uma declaração formal dela pelo menos alegando que a vítima tinha depressão, histórico de tentativas ou que foi algo inesperado. Nada.

- Uma testemunha que levaria o caso para uma direção a ser evitada é uma testemunha a ser descartada. – Digo.

Permanecemos em silêncio por alguns minutos, organizando nossos pensamentos.

- Yah...

- Hum? – Respondo.

- A autópsia condiz com o relatório do hospital?

- Sim.

- Então o médico fez um relatório falso?

- Ou incompleto. É a única explicação, assim como o perito omitiu informações. Ela pode ter tentado se suicidar, mas algo antes disso definitivamente aconteceu.

- Merda. – Ela se levanta e anda de um lado para o outro enquanto começo a girar em minha cadeira.

- Se eu não soubesse das informações que o médico atendente tem sobre o estado em que a vítima se encontrava e como ela chegou ao hospital para identificar uma possível autópsia manipulada e uma possível testemunha omitida, não haveria suspeita fundada apesar da falta de informações nos registros da investigação.

- Esse caso foi claramente manipulado ou então se trata de uma investigação vergonhosamente ruim. – Acaricio meu maxilar e inclino a cabeça rapidamente, entendendo a escolha de Yongsun de não eliminar a possibilidade de ser apenas um trabalho mal feito. Uma investigação subestimada por causa da vítima ser uma mulher grávida, pobre e aparentemente solteira me surpreenderia menos do que uma investigação manipulada, considerando o nosso sistema seletivo. Afinal, o que ela tinha a esconder para alguém precisar chegar a esse ponto?

- Qual das duas possibilidades você acha que é a mais provável? – Minha pergunta é quase retórica pois, apesar das ressalvas, ambos temos uma resposta. Yongsun explicita a principal constatação quando para de andar e eu a encaro fixamente.

- Alguém estava escondendo algo, o que significa que é uma pessoa poderosa o suficiente para manipular totalmente uma investigação criminal. – Ficamos em silêncio novamente.

É impressionante como dinheiro e poder pesam mais do que qualquer coisa quando colocados na balança da Justiça.

- Pedirei ao Min Woo hyung para encontrar o endereço de Choi Ji Woo, irmã da vítima, e precisamos ir até a delegacia onde o caso foi investigado.

- Eles não irão nos entregar ou dizer algo informalmente.

- Mas podemos tentar fazer algumas perguntas. – Explico.

- Yah... – Ela se senta novamente, estreitando seus olhos escuros e franzindo suas sobrancelhas retilíneas. – Como você conseguiu ver os registros do hospital sem uma ordem oficial? – Apoia o maxilar em sua mão.

- Cobrei um favor. – Ela me olha, esperando uma continuação, e eu respiro fundo. – Por que você é tão curiosa? – Encolhe os ombros, sem responder.

- Você está bem? Seu lindo rosto está com olheiras e como foi que o seu nariz ficou assim?

- Eu estava treinando com meu treinador e me distraí por um instante. – Aponto para o café. – Não consegui dormir muito bem, só isso.

Ela parece desconfiada, mas aceita minha resposta, e vai em direção à porta.

- Não fique trabalhando até tarde de novo. – Encara-me. – Você tem que me obedecer, eu sou sua noona afinal. – Pisca com um olho e sai, fazendo-me sorrir verdadeiramente por um momento.

*

Deixo o livro cair sobre o meu rosto enquanto estou deitado no sofá do meu lugar secreto, frustrado pelo cansaço que faz meu corpo pesar e pela ausência de sono que me impede de dormir. Respiro fundo e fecho o exemplar, observando a capa.

Não existe sentido algum nisso, mas ler algo que significa muito para Jimin me conforta minimamente, como se isso me aproximasse dele de alguma forma. Deixo o livro na mesa, calço minhas pantufas de coelho e vou para o meu quarto, indo até o closet.

Todas as paredes são preenchidas por repartições de madeira escura. Um banco de estofado cinza centraliza o cômodo e um tapete creme e felpudo cobre o chão. Paro em frente ao espelho no lado direito e observo as olheiras sob meus olhos, o arroxeado em meu nariz um pouco mais suave do que ontem e as pontas do meu cabelo ressecadas, urgentemente precisando de um corte.

Fui embora do escritório no final da tarde para evitar um sermão de Yongsun amanhã e continuei minha leitura em busca de cansar minha mente o suficiente para apagar, mas, como esperado, não funcionou.

Sento-me no chão e alcanço uma caixa no fundo da repartição, colocando-a em minha frente. Encaro-a, deslizando meus dedos sobre a tampa vagarosamente, e fecho os olhos antes de finalmente abrir o objeto.

Várias folhas amarelas cobertas por uma caligrafia distorcida e inconstante estão desordenadamente espalhadas juntamente com desenhos que fiz para dar de presente a Young Ae no dia dos pais¹. Conforme os anos passaram, desisti de entregar a ela e apenas os fazia para guardar nessa caixa com os anteriores. Observo o lindo rosto da mulher que me deu à luz ao pegar uma fotografia, surpreendendo-me por notar que mesmo com mais sinais de expressão decorando sua pele e estando cabisbaixa quando a vi no hospital, ela parecia bem mais viva do que o sorriso capturado nessa foto mostra.

Lágrimas repentinas escapam dos meus olhos quando pego outra fotografia. Meu pai a abraça pela cintura enquanto ela sorri verdadeiramente, com seus braços envoltos no pescoço dele, e ele a olha como se ela fosse a única mulher que ele poderia amar nessa vida.

Essa foto foi tirada antes da minha gestação.

Abro alguns botões da minha camisa branca e puxo as mangas até meus cotovelos em busca de respirar facilmente.

Mesmo sabendo que ela não aceitaria os meus desenhos infantis depois de muitas recusas, eu ainda os fazia. Eu gastava horas fazendo algo completamente ridículo para alguém que não queria. Embora não soubesse na época, agora consigo entender que eu continuei por mim. Quando pedi um sketchbook como presente de natal ao meu pai aos sete anos, eu estava lutando para não deixá-la me arruinar. Arruinar uma parte de mim.

O que aconteceu com aquele menino tão inocente e tão forte? Quando olho para o espelho, tudo que vejo é um covarde que se escondeu dentro de si mesmo sem se importar com quem fosse afetado. Eu escrevi uma história fictícia em que apenas eu era importante e era o único capaz de decidir como tudo aconteceria, sem perceber que minha escrita criou vida própria e escreveu a minha verdade entre as linhas da minha mentira.

Eu odeio esse sonho em que estou morto.

E ele me acordou. Jimin despertou-me com um afago em meu rosto impassível, um sorriso clareando minha visão, um toque aquecendo minha frieza e sua presença sustentando a minha fraqueza.

Não quero ser solitário, só quero ser seu.

Você consegue escutar os batimentos do meu coração se acelerando? Nos últimos meses, você estava comigo sempre que isso aconteceu e eu podia sentir sua pulsação descompassada também. Nossos batimentos seguiam a mesma melodia inconstante.

Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.

Você é eu.

Eu sou você.

Preciso do seu amor antes de eu cair.

A vergonha ainda vagueia meu corpo, trazendo arrepios, mas um cobertor de saudades me envolve e me aquece.

Respiro fundo como se eu tivesse emergido da água após um longo tempo. Meus pulmões vibram e ardem com a sensação de alívio e aquele gosto desagradável em minha boca começa a dar lugar aos vestígios do gosto dos lábios dele.

Agora eu sei o que preciso dizer.

Obrigado por acordar-me de ser sufocado. Obrigado por me acordar de um pesadelo que era tudo o que eu estava vivendo.

Alcanço meu celular no bolso da minha calça jeans e digito o número de Jimin, sentindo meu sangue sambar em meus vasos sanguíneos quando apoio o aparelho em minha orelha. Ando pelo closet com ansiedade exalando dos meus poros.

- Jimin... – Sussurro.

O barulho repetitivo da chamada em andamento se finda e encaro a tela quando a ligação é finalizada sem ser atendida.

Um som de rachadura ecoa por dentro de mim e me desespero ao notar que vem do meu coração e não do gelo que o cobre.

Inicio a chamada novamente e novas lágrimas voltam a correr pelo meu rosto. Minha garganta começa a se fechar conforme a ligação segue em direção ao seu final infeliz e fecho os olhos com força quando ela é finalizada.

Eu finalmente percebi. O pior inferno é a realidade na qual eu destruí a minha única verdade, o nosso amor.

Reinicio a chamada mais uma vez, esfregando minha mão em meu cabelo caótico, sento-me no chão e apoio minha cabeça em meus joelhos, escutando o último grito da minha bagunça pela chamada em seguida terminada.

Eu tentei preservar o meu coração e proteger o seu, mas no final acabei nos quebrando.

Você se lembra do nosso castelo de areia, amor? Ele sobreviveu à maré alta, mas eu me joguei no mar.

Sozinho.

*

Termino de me preparar para o julgamento que será hoje de manhã e me inclino sobre o encosto da cadeira do escritório, fechando os olhos. O prédio é quieto normalmente, mas nesse horário o silêncio é quase tocável.

- Eu vou te matar, Jeon Jungkook! – A porta é aberta agressivamente, fazendo-me abrir os olhos. – O que pensa que está fazendo? – Yongsun adentra a sala usando uma calça jeans e camiseta cinza. Seu cabelo está preso em um coque mal feito e seus olhos brilham com indignação.

- Trabalhando? – Sorrio com uma expressão culpada.

- Aish! São duas horas da madrugada!

- E o que você está fazendo aqui a essa hora?

- Eu vim buscar o carregador do meu celular porque esqueci e não virei aqui até a tarde. – Ela desliga o computador, ainda fuzilando-me com o olhar.

- Yah.

- Levante-se.

- Eu preciso terminar algumas coisas antes de ir, Yongsun-ah.

- Faça isso durante o seu expediente.

- Eu não consigo. – Suspiro e me afundo na cadeira, frustrado.

Ela franze o cenho e me encara, pedindo silenciosamente uma explicação.

- Não estou conseguindo me concentrar e durante a noite não consigo dormir, então prefiro ficar aqui e tentar um pouco mais.

- Você não estava tendo esses problemas há algum tempo.

- Nunca tive esses problemas. Eu ficava até tarde no escritório porque queria continuar trabalhando e não porque não conseguia trabalhar. – Jogo a caneta sobre a mesa.

- O que está acontecendo? Você está assim por causa da investigação do caso da Sra. Choi? – Ela se senta.

- Eu nem sei se deveria continuar investigando. – Deslizo as mãos pelo meu cabelo e fecho os olhos.

- Por que? – Suspiro pesarosamente. Quando abro os olhos, eles ardem.

- A pessoa importante para mim é aquele bebê prematuro que hoje acha que a mãe não o amava e por isso se matou. – Ela assente, pensativa. – Você pode me dar uma carona? Eu vim de táxi ontem.

- Vamos. – Ela joga uma pasta na minha cara.

- Noona! – Sorri, satisfeita, mas logo sua expressão se torna séria.

- Você está proibido de ficar no escritório depois das sete horas da noite.

- Uhum. – Dou a volta na mesa.

- Jeon.

- Vamos, Srta. Kim. – Saio da sala, deixando-a para trás.

- Aish!

*

Visto uma calça bege e uma camisa jeans após secar meu cabelo e escovar os dentes e peço uma pizza para mim e meus amigos já que não estou com vontade de cozinhar.

A porta de entrada do meu apartamento se abre e Taehyung e Lisa entram. Ela veste uma grande camisa xadrez amarela e preta e calça jeans, deixa seus tênis brancos no pequeno armário e corre até mim, abraçando-me.

- Oi. – Diz.

- Oi. – Envolvo a cintura dela enquanto Taehyung me observa atentamente. Seus olhos inquietos denunciam que ele está tentando ler os meus.

Quando deixei o apartamento de Jimin naquela madrugada, caminhei até a casa de Taehyung sem avisá-lo, já que estava sem celular. Ao ver o meu estado, ele me abraçou por quase uma hora até eu finalmente parar de chorar e dormir. Quando acordei, Taehyung preparou o café da manhã enquanto eu tomava banho, emprestou-me suas roupas e me levou ao trabalho. Não conversamos muito e ele nunca perguntou o que tinha acontecido.

Ele apenas estava lá, cuidando de mim. E isso era tudo o que eu precisava naquele momento. Ambos sabíamos que eu falaria quando estivesse pronto. Ou desesperado.

Lisa se afasta e coloca suas mãos delicadas em meu rosto, acariciando minhas bochechas com seus polegares.

- Yongsun-ah me ligou.

- Aish, ela realmente... – Solto o ar bruscamente, incrédulo, mas logo sorrio.

Conheci Kim Yongsun quando comecei a trabalhar efetivamente como promotor. Ela é mais experiente do que eu e me ajudou no processo de adaptação, embora eu tenha lidado bem com as tentativas de intimidação dos meus colegas de trabalho por eu ser o mais novo a ocupar o cargo desde sempre. Conquistei o respeito, ou o ódio, não me importo muito com qual deles, de muitos por ser implacável e ser temido pelos advogados criminalistas mais conhecidos. Quando me afogava no trabalho, Yongsun me fazia ir para casa descansar e às vezes ligava para Lisa ir ajudá-la.

Olho para Taehyung, que veste uma blusa branca e de gola alta, calça preta extremamente larga, óculos de lente transparente e sandálias. Ele deixa sua bolsa de couro no chão e guarda os sapatos.

- Vocês se esqueceram de mencionar algo quando disseram que viriam me ver? – Aponto para a bolsa. – Eu não vou dormir no sofá. – Ele revira os olhos e bagunça meu cabelo.

- Seu cabelo está horrível. – Abraça-me.

- Taehyung! – Empurro-o, revoltado, e Lisa ri. Ela retira de sua bolsa dois elásticos e me faz sentar no sofá, dizendo que vai arrumar meus fios quebrados, enquanto ele vai até a portaria buscar nosso jantar quando somos informados de que o entregador está lá.

Comemos a pizza sentados no chão da sala e eles riem do meu penteado, dizendo que pareço adorável e fofo, enquanto conversamos sobre assuntos aleatórios. Depois, lavo a louça e eles guardam o que sobrou e limpam a bagunça. Quando saio da cozinha, ambos estão em pé, sussurrando, e param imediatamente ao perceberem minha presença. Fico em frente ao sofá e os encaro, confuso.

- Jungkook. – Taehyung me chama, olhando para Lisa. Estranho a apreensão sutil em sua expressão, mas espero ele continuar. – Lisa e eu precisamos te contar algo.

- Hum? O que? – Ele fecha os olhos e respira fundo, como se estivesse se preparando para algo ruim, mas Lisa o impede de falar.

- Taehyung e eu estamos saindo.

- Ham... – Franzo o cenho, sem entender. Lisa ri e estende a mão para Taehyung, que entrelaça seus dedos aos dela, e eu arregalo os olhos quando percebo, perplexo.

- Jungkook? – Lisa me chama.

- Quando... woah... quando isso começou? – Pergunto, curioso. Felizmente eles percebem isso e não interpretam meu questionamento como desconfiança, algo que nem cogitei por um segundo sequer.

- Nós nos aproximamos depois que vocês terminaram, mas com o tempo... aconteceu. – Jogo-me no sofá, tentando entender meus sentimentos.

Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer, por isso estou completamente surpreso. Apesar de serem meus melhores amigos, Lisa e Taehyung nunca foram próximos. Ela ter ligado para ele quando terminamos não me surpreendeu, até porque ela estava preocupada comigo e sei que o afeto amoroso entre eles não existia antes. Olho para eles e vejo Taehyung encarando-a como se pedisse ajuda. Seus ombros estão tensos e ele respira pesadamente. Percebo quando ela aperta sua mão ainda mais, aproxima-se e sorri para tranquilizá-lo. Ele assente e volta sua atenção para mim.

Alívio.

Esse é o sentimento que abraça meu coração agora e me ajuda a sentir-me um pouco mais leve.

Tudo o que construí nos últimos dezessete anos é uma sádica e triste ilusão. Nem mesmo o trabalho que eu tanto amo me parece um mérito meu quando me lembro do motivo que me fez almejá-lo. No entanto, os relacionamentos que desenvolvi com Lisa e Jimin são as únicas coisas que me puxam para perto de mim mesmo, para perto de tudo o que eu perdi e pensei que jamais recuperaria.

Fico extremamente aliviado e atormentado pelo meu egoísmo ao saber que pelo menos um deles eu não fui capaz de arruinar.

Saber que Lisa está amando de novo e que Taehyung é essa pessoa me enche de alegria. Além de admirar e amar ambos, o jeito que eles se adoram e se apoiam flui através da mais discreta troca de olhar, escancaradamente visível para qualquer um, menos para mim porque nunca fui muito bom em perceber sentimentos assim. Eu desejei que ela vivesse o amor que a adora sem compartimentar sentimentos, que a faz feliz sem buscar recompensa, que se amplia apenas por vê-la sorrir, que seca suas lágrimas e que sofre com ela suas dores. Nada poderia ser melhor do que isso a não ser duas das poucas pessoas importantes para mim encontrarem o verdadeiro amor em toda a sua pureza ao mesmo tempo e juntas.

- Yah, Taehyung. Por que parece que você pode desabar a qualquer momento? Eu estou muito feliz por vocês estarem juntos, hyung. De verdade.

- Mesmo? – Ele parece atônito.

- Eu te disse que ele não ficaria bravo. – Lisa revela. – Você não notou algo naquele dia no karaokê? – Pergunta para mim.

Repasso os acontecimentos daquele dia e os toques e abraços sutis dançam em minha mente. É como se eu tivesse gravado um vídeo sem olhar para a câmera, meu foco estava em outra coisa. Em outra pessoa.

- Você sabe como eu sou um pouco lerdo às vezes. – Eles riem, concordando. – E naquele dia eu estava... eu não conseguia desviar o meu olhar do Jimin. – Suspiro, derrotado.

Sei exatamente como um coração quebrado pode acabar com a sua vida, controlando-a e limitando-a. Não sei se prefiro que Jimin não me ame, assim não haveria estrago, ou se prefiro que o machucado que eu tenha causado seja curável.

O amor não é egoísta, certo?

Tenho medo da minha escolha.

- Argh! – Escondo meu rosto em minhas mãos e apoio meus cotovelos em minhas coxas.

Taehyung se senta ao meu lado em silêncio e Lisa vai para a cozinha.

- Vou preparar algum chá.

Deslizo uma mão pelo meu cabelo e puxo as duas partes presas, afastando as mechas caídas em meu olho com minha expiração. Inclino a cabeça rapidamente, tentando organizar meus pensamentos.

- Estou muito feliz por você, hyung. Eu jamais imaginaria isso, mas...

- O que aconteceu naquela noite, Jungkook? – Balanço a cabeça negativamente.

- Eu quero saber sobre vocês...

- Jungkook-ah. – Encaro suas íris pintadas com um tom inebriante de avelã e carinho misturado com preocupação.

- Jimin não te contou. – Concluo.

- Se ele não contou, significa que não foi uma simples briga.

- Eu estou tão cansado, Taehyung. – Minha respiração se agita em desespero e meu corpo implora por uma pausa. Ele me abraça e me apoia em seu peito. – Estou cansado de me sabotar.

Seus braços me apertam com força e cuidado, acalmando-me. Respiro fundo e conto a ele sobre como minha primeira vez com Jimin foi surreal, como adormeci nos braços dele, sobre a crise de pânico e como o deixei sozinho sem deixar qualquer mensagem. Conto sobre as ligações não atendidas, minha insônia e falta de concentração e sobre o medo de que qualquer coisa entre nós possa ter acabado antes mesmo de começar apropriadamente por minha causa.

Taehyung me arrasta para meu quarto, leva um travesseiro e um cobertor para Lisa enquanto coloco uma camiseta e um short qualquer e se deita comigo, desfazendo meu penteado e acariciando meus fios soltos.

- Você provavelmente não sabe quando começou a se machucar. Apenas durma, Jungkook. – Ele sussurra e eu fecho os olhos, aconchegando-me ao seu corpo.

- Não me deixe sozinho hoje, Taehyung, por favor. – Seus braços me envolvem.

- Nunca. – Deposita um beijo singelo em minha testa.

E assim, depois de uma semana, eu finalmente sou capaz de dormir tranquilamente por horas.

*

- Yoo Jung, sei que é difícil falar sobre isso agora, mas nós estamos aqui para te ajudar, tudo bem? – Detetive Bae pergunta suavemente, segurando a mão da adolescente pálida.

- Vocês irão prendê-lo? – Responde, olhando fixamente para algum ponto qualquer da mesa branca, mas sem soltar a mão da detetive.

- Os promotores responsáveis pelo caso solicitarão a prisão preventiva do seu pai para quando ele for liberado do hospital e faremos de tudo a fim de que ele permaneça preso. Precisamos da sua ajuda para que as coisas aconteçam como planejamos. – A jovem assente silenciosamente.

Estou no gabinete paralelo à sala de interrogatório com Yongsun, observando através do vidro a detetive incentivar a garota a falar. Um guarda permanece estático perto da porta e Min Woo está sentado ao lado da detetive. Eles não podem nos ver, mas sabem que estamos aqui.

- Você prefere ficar sozinha com a detetive Bae, Yoo Jung? – Min Woo questiona. Ela nega, balançando a cabeça, sem desviar o olhar do ponto fixo ao menos uma vez.

- A campainha tocou logo após minha mãe chegar. Eu estava descendo a escada quando ela abriu a porta porque quase todos os funcionários tinham ido embora, mamãe nunca abre a porta. Ele entrou e desferiu um soco nela, fazendo-a cair no chão e gritar para eu me esconder. Subi as escadas enquanto pegava meu celular no bolso para chamar a polícia e vi mamãe se defender, ela... ela quebrou uma garrafa de vinho na cabeça dele, mas meu pai a agredia com tanta força... Quando ele me viu no andar de cima, eu entrei em desespero e me tranquei no meu quarto, foi quando a polícia atendeu e eu pedi ajuda. Depois disso eu só escutava barulhos de coisas quebrando e... de gritos da mamãe. – Seu rosto delicado e jovem é invadido por lágrimas, mas ela continua apesar da sua voz falhar algumas vezes. – Os barulhos ficaram mais altos, como se eles estivessem mais perto. Escutei a porta da frente sendo aberta abruptamente e o barulho prolongado de algo batendo. Acho que foi quando mamãe o empurrou e ele caiu pela escada. Percebi que os policiais já estavam lá, mas não consegui me mexer. Um oficial abriu a porta do meu quarto e ficou comigo por algum tempo. Quando saímos, ambos já tinham sido levados ao hospital. – Ela respira fundo e fecha os olhos com força.

Yongsun me encara, mas logo volta a observá-los.

- Nós verificamos que há um processo de divórcio em andamento iniciado há quase seis meses. O Sr. Yoo não concordava com a separação? – Ela abre os olhos e encara Min Woo.

- Não. Desde quando mamãe pediu o divórcio e se mudou, levando-me com ela, ele começou a persegui-la. Ouvi minha mãe conversando com alguém no telefone, provavelmente com o chefe de segurança, sobre isso. – Min Woo faz anotações em seu bloco de notas imediatamente. – Ela também brigava muito com a minha tia por causa do divórcio. A irmã dela sempre dizia que ela estava cometendo um erro e manchando a honra da família.

- O Sr. Yoo tem algum histórico de alcoolismo? – A detetive Bae pergunta.

- Sim. Sempre esteve sob controle, mas ele teve algumas recaídas alguns meses antes da mamãe sair de casa. Acho que por causa das brigas frequentes que eles começaram a ter. – Ela franze o cenho. – Ele estava alcoolizado?

- Provavelmente. – Min Woo responde. – Conseguimos identificar o carro dele que estava em frente à casa da sua mãe ontem em alguns trechos da cidade através de câmeras de vigilância. Ele não parecia estar sóbrio ao conduzir o veículo antes de chegar a sua casa. Isso será confirmado pelo relatório médico do atendimento emergencial.

- Você está dispensada, Yoo Jung. Sua avó está te aguardando na sala de espera. O oficial irá acompanhá-la. – Diz a detetive.

A adolescente se levanta, porém para de repente.

- Ele será realmente preso, certo?

- Não se preocupe, já estamos agindo. – A detetive responde e Yoo Jung sai da sala com o guarda após assentir minimamente.

- Acha que ele estar alcoolizado será um problema? – Yongsun me pergunta.

- A defesa pode usar isso para tentar abrandar a pena.

- Se algum juiz maldito acatar essa alegação...

- Yah. – Interrompo sua fala.

- Quem é o juiz? – Ela pergunta enquanto Min Woo e a detetive Bae se juntam a nós.

- Isso não importa. Não podemos apenas esperar que um juiz que não seja machista assuma o caso. Tenente Lee, mande alguém do setor de tecnologia da informação vazar informações para a mídia. Escolha plataformas que relataram casos de violência doméstica e não mascararam a culpa do homem ou tentaram fazê-lo de vítima, mas também precisam ser plataformas influentes, pois temos que formar a opinião pública. Tenha cuidado para não divulgar informações confidenciais.

- Certo.

- Eu ouvirei o depoimento do chefe de segurança e da irmã da Sra. Yoo. – A detetive Bae diz.

- Eu te enviei os documentos acerca das empresas do Yoo Jae Myung e da Yoo Se Ah. Chegou a ver? – Min Woo me pergunta.

- Sim. Legalmente, ambos adquiririam parte das ações da empresa do outro com o divórcio, mas na proposta de acordo do advogado da Sra. Yoo há a sugestão de uma renúncia recíproca. Além disso, o advogado dele em nenhum momento questionou a guarda unilateral da Yoo Jung, que logo alcançará a maioridade. Não existia discórdia acerca das condições do divórcio aparentemente.

- As ações da empresa dele caíram desde o anúncio oficial da separação há três meses enquanto a de Yoo Se Ah, por ser uma cooperativa, manteve-se relativamente estável. Acha que isso pode mesmo ser descartado como motivo? – Yongsun questiona.

- Sim. Acredito que a motivação foi ele não ter aceitado o divórcio. Se foi por um amor obsessivo e doentio, por medo de manchar a honra da família ou para evitar a humilhação, considerando o cargo dele de CEO, não me importa porque nenhuma dessas merdas são justificativas dignas de uma mínima consideração. Há uma coisa que está me intrigando, no entanto... – Eles me olham, curiosos. – Porque dirigir o próprio carro, não se preocupar em estacionar o veículo em alguma rua afastada e entrar na casa já agredindo a vítima? Ele não estava tão embriagado a ponto de não saber o que fazia, visto que dirigiu de sua empresa até a casa dela, apenas estava em alta velocidade e desrespeitando os sinais de trânsito.

- Com pressa. – Detetive Bae constata.

- Nós já sabemos para que, mas por que? – Digo.

- Seu gênio da tecnologia consegue acessar as gravações das câmeras da empresa? Especificamente do escritório do Yoo Jae Myung. Pediremos um mandado, mas isso precisa ser feito imediatamente para que ninguém altere ou delete as gravações. – Yongsun pergunta para Min Woo.

- Falarei com ele.

- Temos que reunir o máximo de evidências que pudermos, esse cara precisa sair daquela maca direto para a cadeia. – Digo.

- Se ele sobreviver, o quadro dele é grave. – Detetive Bae informa.

- E a vítima?

- Também.

Yongsun apoia as mãos na mesa e abaixa a cabeça, suspirando pesadamente. Acaricio suas costas, demonstrando meu apoio. Casos como esse a sensibilizam demasiadamente, embora ela nunca os deixe afetar seu trabalho.

- Precisamos ir ao hospital mais tarde. Eles foram socorridos ontem e precisaram ser levados para as salas de cirurgia imediatamente. – Min Woo fala.

- Em qual hospital eles estão? – Pergunto.

- Parkim Medical Center. – Detetive Bae responde.

*

Min Woo, Yongsun e eu seguimos um enfermeiro pelo corredor da Unidade de Internação VIP até pararmos em frente ao quarto de Yoo Jae Myung. Os dois oficiais parados ao lado da porta se curvam e permitem a nossa entrada.

- Os doutores estão aguardando. – O enfermeiro avisa.

Yongsun entra, seguida por Min Woo. Assim que passo pela porta, eu o vejo.

Jimin conversa distraidamente com uma mulher que suponho ser médica também. Ele usa uma blusa listrada em preto e branco, calça preta e tênis. O jaleco branco e simples é moldado pelas suas costas e ombros esguios perfeitamente. Ao observar seu cabelo dourado e seu rosto delicado e marcante, meu corpo esquenta devido à ansiedade que me envolve. Seus olhos transmitem calma e suavidade, mas quando ele me encara, eles transmitem nada.

- Boa tarde, doutores. Eu sou Kim Yongsun e este é Jeon Jungkook, somos os promotores encarregados do caso da Promotoria Oeste. Este é o tenente Lee Min Woo, responsável pela direção da investigação. – Ambos se curvam e eu apenas abaixo um pouco minha cabeça, desnorteado.

Jimin não desvia o olhar do meu, porém permanece completamente impassível.

Seu rosto frio me diz tudo melhor do que palavras.

Essa é a primeira vez que sinto a frieza nele, mas não é como se ele não sentisse algo ou estivesse totalmente indiferente a mim. É totalmente o contrário. Ele sente. Ele sentiu tanta dor por minha causa que ser frio foi a única coisa que lhe restou.

Não é uma forma de esconder seus sentimentos, como eu fazia por não querer me sentir vulnerável, é uma forma de mostrar o que ele sentiu e transformar sua vulnerabilidade em sua força para continuar.

Continuar sem mim.

- Boa tarde. Eu sou o Dr. Park Jimin, neurocirurgião, e esta é a Dra. Moon Byul Yi, chefe do departamento de cirurgia geral. – Eles se curvam e Jimin volta a me encarar, desviando seu olhar em seguida. – Assim que o paciente foi atendido no setor emergencial, a Dra. Moon e eu o encaminhamos para o centro cirúrgico. Havia dois pontos hemorrágicos no cérebro, eu contive um sangramento e quanto ao outro, por ser menor e para preservar o paciente, optei por esperar uma reação natural do corpo. Caso o sangramento não pare, precisarei operá-lo novamente. – Sua voz soa serenamente, consistente.

Como se minha presença não o abalasse. Como se eu fosse irrelevante.

Ele me olha, mas ele não me vê.

Mais alto do que bombas, eu explodo.

Toda a dor que se acumulava em mim desde o momento em que eu soube que aquela neutralidade não corresponde a sua expressão natural entra em erupção.

Meu peito sobe e desce, buscando controlar minha pulsação errática, e a adrenalina corrente em meu sangue ameniza os fios de agonia que enrolam meu coração.

O quão bobo fui ao pensar que eu poderia quebrá-lo?

Você ainda é como uma flor perfumada, meu bem. Não há terra infértil que possa apagar a sua vida.

Nem mesmo a minha.

Se eu tivesse tido coragem de ficar diante de você naquela madrugada, tudo seria diferente agora?

- Eu controlei o sangramento dos órgãos internos, mas a situação dele é grave. Se houver a necessidade de uma nova intervenção cirúrgica, seu organismo poderá não suportar o procedimento, por isso optamos por permitir um intervalo de recuperação. Ele se manteve estável quando encaminhado para a sala de recuperação pós-anestésica, então permitimos a transferência para o quarto. – Dra. Moon explica, mas eu não consigo parar de olhá-lo enquanto Jimin observa a médica.

Apenas fora de contato, mas ainda te sinto perto o suficiente para ser parte de mim.

- Há alguma previsão de quando ele poderia acordar? – Yongsun pergunta.

- Isso é muito relativo, considerando as circunstâncias. Pode ser dias ou semanas. No entanto, estamos otimistas visto que ele tem se mantido estável, o que é vital nas primeiras horas após a cirurgia. – Dra. Moon responde.

- Mantenha-nos informados, por favor. Agradecemos o trabalho duro, vocês fizeram bem. – Yongsun continua a conversar com a médica e Min Woo, mas eu não consigo prestar atenção. Meus olhos ardem enquanto observo Jimin tão perto, mas tão longe de mim. – Certo, promotor Jeon? Jeon? – Jimin me encara e arqueia uma sobrancelha, despertando-me.

- Desculpe-me, promotora Kim. Sim? – Pigarreio e pisco algumas vezes, orientando-me.

Yongsun franze o cenho enquanto todos me observam.

- Com licença, eu preciso ir. Estou sendo chamado – Jimin diz, curva-se e anda em direção à porta.

Os demais assentem e também se curvam, voltando à conversa.

Quando ele passa por mim, seguro seu braço impulsivamente.

- Jimin? – Sussurro. O quarto de repente fica em silêncio, apenas os sons maçantes dos equipamentos médicos são escutados.

Nós estamos próximos e consigo sentir seu cheiro de canela e baunilha. Suave e instigante. Preciso me reprimir para não afundar meu nariz em seu pescoço. Meu toque em seu braço, ainda que coberto pelo tecido, permite-me perceber que ele está tremendo. Desvio o olhar da minha mão e vagarosamente procuro por seus olhos amendoados, amedrontado pelo que eu encontrarei ao vê-lo assim tão de perto.

Há um pouco de umidade dançando sobre sua visão, olheiras suaves disfarçadas por maquiagem se tornam notáveis e o brilho com o qual me deparo exala raiva e dor.

Ele olha para seu braço e imediatamente o solto. Sem me encarar novamente, Jimin continua a andar enquanto eu, completamente envergonhado pelo que fiz a ele e derrotado pela nevasca de sentimentos que me encobre, encaro um ponto qualquer sem olhar para trás e fecho os olhos quando ouço a porta ser fechada.

Não tive coragem para vê-lo me deixar apesar de toda a coragem que reuni para deixá-lo.

Amor, o mais doloroso de morrer nos seus olhos foi não ter onde me enterrar.

***

Inspirações:

A Brand New Day – BTS (j-hope e V), Zara Larsson

Boy With Luv – BTS, Halsey

Heartbeat – BTS

Hold Me Tight – BTS

Louder than bombs – BTS

Magic Shop – BTS

Promise – Jimin

Save Me – BTS

Serendipity – BTS (Jimin)

Stigma – BTS (V)

The Truth Untold – BTS

Livro Here comes trouble, A. E. Via (Nothing Special Series)

*Nota textual:

¹Na Coréia do Sul, o dia dos pais e o das mães são comemorados em uma única data sob a denominação de dia dos pais e é no dia oito de maio.

*Personagens eventuais:

-Ji Jin Hee

-Yoo Seung Ho

-Park Sang Wook (oficial Park)

-Song Seung Heon

-Bae Doona

-Yoo Jung

-Yoo Se Ah

-Yoo Jae Myung

*Então, o que acharam? Vocês entendem o Jungkook? O que acham que o Jimin sentiu ao vê-lo?

*Importante: o fato do Jungkook decidir não investigar e denunciar o Yoo Seung Ho não significa que porque a pessoa tem uma justificativa como aquela para cometer um crime, ela merece ser absolvida. Ao analisar as circunstâncias do fato e as consequências que mandar um adolescente para a cadeia geraria, ele viu que, naquele caso, não era o melhor caminho. O que não podemos assumir é que ele faria isso com todo jovem que cometesse ou tentasse um crime por desespero. No Brasil, há a possibilidade de não denunciar crime de furto/roubo pelo princípio da insignificância (do valor do objeto furtado/roubado e circunstâncias), então mesmo que a materialidade e a autoria do crime sejam comprovadas, o caso pode ser arquivado. Não sei se isso existe na Coreia do Sul, mas não tirei o comportamento do Jungkook da minha cabeça, tem embasamento jurídico aqui. Além disso, o personagem se responsabilizou pela sua decisão e ajudou o rapaz porque ele podia e quis.

*Aproveitando o assunto, deixo clara minha posição contrária em relação à redução da maioridade penal no Brasil. Nosso sistema carcerário é carente de uma estrutura mínima e é completamente ineficaz. O objetivo é reeducar o preso para que ele possa voltar a conviver em sociedade, mas sabemos que o próprio crime comanda as cadeias. O que uma criança aprenderia indo para uma prisão? Vejo como solução um sistema reeducador específico para adolescentes e crianças, que inclusive existe, é a Fundação Casa. Porém, carece de infraestrutura decente, investimentos e efetividade, infelizmente.

*O caso de violência doméstica que eu descrevi é baseado em um caso real que aconteceu na Coreia do Sul em 2018.

*Obrigada pelos 5K de views! Fico muito feliz com o crescimento da história e por saber que estão gostando.

Até o próximo capítulo e obrigada pelos votos e comentários!

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