Nas Mãos do Diabo [1] O Maest...

By atimewritting

3.4M 447K 1.7M

[CONCLUÍDA, Jikook] Livro 1 da Saga Nas Mãos do Diabo. Há algo errado ocorrendo no Inferno. As gárgulas não r... More

Aviso Infernal
Aviso de Sobrevivência Infernal
Prólogo: o Limbo.
|01| Saia da fila do Inferno
|02| Saiba Como Morreu
|03| Conheça o Diabo
|04| Seja Mal Pela Primeira Vez
|05| Tente negociar com a ira
|06| Receba a ajuda de quem não quer
|07| Estranhe o Diabo
|08| Dance com ele
|09| Fuja do Circo Infernal
[10] Não morra em silêncio
[11] Deixe que ele o toque
|12| Vá para o Hotel Mortal
|13| Divida o quarto com Jungkook
|14| Sobreviva ao Hotel Mortal
|15| Descubra o erro da redenção
|666| A última pista: O X E L F E R
|16| Não olhe para os reflexos
Interlúdio: O Jogo.
|01| Veja através de outros olhos
|02| Comece a mentir de verdade
[03] Pule de um precipício
|04| Corra
[05] Dê prazer para ele
|06| Veja seu pior pesadelo
|07| Conte sua história: Horácio
|08| Conheça o Diabo: Adiv
|09| Deseje o Diabo: Devon
|10| Não chore por ele: Eliel
|11| Roube a memória dele e fuja: Samandriel
|12| Veja ele trocá-lo lentamente
|13| Faça-o olhar somente para você
|14| Entre na Sala Proibida
|15| As revelações: Eles
|15| As revelações: O veneno
|15| As revelações: Nêmesis
|16| O Apocalipse: Tânatos
|16| O Apocalipse: Khaos
|16| O Apocalipse: O Espelho
ESPECIAL DE NATAL - !leoN iapaP o etaM
NAS MÃOS DO DIABO: ¿2?
O LIVRO FÍSICO DE NAS MÃOS DO DIABO
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Como poderia ter sido: Parte 1.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Uma longa escada: Parte 2.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Um Hotel inusitado: Parte 3.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Fim: Parte 4.
NAS MÃOS DO DIABO [3]: APOCALIPSE
O Maestro está no Kindle e, temporariamente, DE GRAÇA!

Epílogo - Nem tudo foi o que pareceu ser

46.1K 6.2K 33K
By atimewritting

Gelado, eu o sinto até o pescoço. É algo que me cobre, reveste e prende. Uma teia de aranha? Não, seria quente e viscosa contra minha pele. Um cobertor? Não, seria macio e suave contra minha pele. Tento me mover, mas a coisa respinga em meu rosto e eu afundo ainda mais, dessa vez por inteiro. O choque me desperta, empertiga, e me faz convulsionar. A coisa está invadindo meu corpo por minhas narinas, meus ouvidos, e a pressão me leva para o fundo. Sinto que vou morrer, e deveria estar apavorado, mas a sensação me faz rir. Morrerei afogado, miserável, mas rindo. O riso explode de minha boca e mais água invade minha garganta, mas o riso continua a soar. Ele soa e ressoa e reverbera em espirais ao meu redor. Então a água está desaparecendo. Evaporando? Não, sei, mas estou recobrando meus sentidos pouco a pouco, e quando percebo que estou acordado, finalmente...

...abri os olhos.

Estava engasgando, com o peito em chamas e os olhos queimando. Cuspi muita água para fora de meu corpo, meu sistema, e me senti um pouco melhor. Minha visão estava embaçada, mas consegui ver paredes vermelhas e quadros estranhos e tochas acesas. O chão era áspero e cortou meus antebraços quando me arrastei para longe do que parecia ser uma grande banheira, agora rachada. Estava sem ar, completamente molhado e desnorteado, mas os quadros com cruzes invertidas me lembraram exatamente onde estava: no Inferno.

Pisquei com força, para clarear a visão, e foquei em meus braços, esperando vê-los translúcidos, repletos de veias, maiores, mas estavam normais. Brancos, finos e normais. Toquei em meu cabelo, sentindo-o maior, um pouco além das orelhas, e um fio loiro enganchou em meu dedo. Loiro, não vermelho. Encarei minhas roupas, percebendo que estava usando as mesmas do dia em que caí na segunda Fila Infernal, no Inferno.

Assustado, tive dificuldades para levantar, mas quando o fiz, fui rapidamente até o espelho ao lado da banheira, apenas para confirmar o que tanto suspeitava: sou o garoto que caiu no Inferno, com cabelos loiros (não vermelhos), longos (não curtos), pele branca (não translúcida) e olhos castanhos (não cinzentos ou vermelhos). Sou...

— Park Jimin! — Gritou alguém, alegre, no canto da porta. Estava tão concentrado em minha confusão, que não havia percebido a gárgula-gerente das Filas Infernais entrar. Rubel era seu nome? — O humano! — Prosseguiu, anotando algo em sua prancheta. — Finalmente acordou.

— O... — Gaguejei, chiando com a dor em minha garganta. Fazia bastante tempo que não falava. — O que está acontecendo?

— Meus desparabéns! Você completou o Teste Infernal Final para conseguir sua Redenção!

Recuei dois passos, cético com seu sorriso afiado em minha direção.

— Há quanto tempo estou aqui, nessa sala?

Rubel analisou sua prancheta, murmurando uma música animada, depois disse:

— Há vinte e nove dias, humano. E você concluiu seu teste bem a tempo, no prazo de Ruda.

— Eu... — olhei ao redor, prolongando-me um pouco mais na banheira inundada, depois nos quadros, depois no espelho, depois em Rubel. Minha mente estava dando voltas e voltas e parecia não chegar em conclusão alguma. — Não estou compreendendo. O que aconteceu comigo?

— Não lembra do que conversamos assim que o tirei da Fila Infernal? — Indagou.

Balancei a cabeça negativamente.

— Havíamos acabado de falar com Ruda, você já havia sido avisado sobre o problema de sua Redenção, o que não sabia era que...

... — Humanos com problemas com a redenção são bem raros de aparecer por aqui. Geralmente, quem é de cima vai para cima e quem é de baixo vem para cá — disse Rubel, a pequena gárgula-gerente das Filas Infernais.

Estávamos atravessando o corredor em direção ao quarto em que Yoongi, o último humano com problemas em sua Redenção, havia ficado. O local era escuro, tremendo, e tinha um cheiro de carvão puído e tangente. As escadas se desenrolavam como o rabo de um rato, às vezes como como a concha de um caracol, e podiam seguir de ponta-cabeça ou normalmente. A sensação era de que estava caminhando por um labirinto infinito, acompanhado por uma gárgula falante comicamente encarregada de fazer os humanos condenados não saírem das Filas.

— Quando o humano cai aqui, mas não é para estar aqui, isso quer dizer que o universo está o pondo em teste.

— Que tipo de teste? — Perguntei, genuinamente curioso.

— Algo relacionado ao que reside na essência desse ser. Os testes são realizados aqui, pois somos bem conhecedores do único método capaz de revelar as verdadeiras intenções de um humano.

Engoli em seco, seguindo-o por mais um corredor, dessa vez mais estreito e confinador que os demais.

— Que... — Gaguejei. — Que método?

Rubel sorriu, e seu sorriso me causou calafrios.

O método do medo — respondeu.

... — Você foi submetido a uma série de desafios, Jimin — disse Rubel, ainda encostado contra a porta, enquanto ambos encarávamos meu reflexo no espelho sujo do quarto vermelho.

A água da banheira respingava no chão, relembrando-me que estive afogando nela por quase trinta dias.

— Mas o seu não foi um teste qualquer, como o de Yoongi ou do outro que o antecedeu.

— Por que? — Perguntei baixinho, encarando-o através do reflexo do espelho.

Ele tinha o mesmo sorriso tenebroso de antes.

— Porque você foi curioso e não me escutou quando disse para não sair pelo castelo sozinho. Não me escutou quando disse...

... — Tenha paciência — disse Rubel, então virou-se e começou a se afastar para cada vez mais longe. — Ah! — E parou de repente, retornando para avisar: — Não saia por aí bisbilhotando! Coisas estranhas acontecem com quem se perde por aqui.

Estremeci.

— Que tipo de coisas estranhas?

Ele gargalhou.

Coisas estranhas.

Então, virou-se e começou a voar até desaparecer por completo.

Encostei-me contra a parede vermelho-escura com tochas e quadros fixados em sua superfície e, pela primeira vez depois daquele desastre, permiti-me digerir todas aquelas informações em um choro retumbante, regando minha pele com lágrimas de sofrimento e inquietação. Esse não é meu lugar, eu chorava, tudo é tão escuro e estranho! Senti-me esgotado no final, atormentado por uma dor de cabeça sufocante. A sensação de que eu não pertencia àquele lugar estava corroendo meus ossos cada vez mais.

— Mais uma coisa! — Rubel reapareceu com um sorriso maléfico nos lábios. — Caso queira saber, você morreu mesmo de fome. Irônico, não?

Então desapareceu de vez, deixando-me ainda mais vulnerável e depressivo para trás.

... — Talvez você não seja capaz de lembrar agora o que aconteceu quando o deixei sozinho na frente de seu quarto, mas estou aqui para lembrá-lo — prosseguiu, fechando a porta do quarto vermelho atrás de si. — Você quer lembrar, Jimin?

Virei-me em sua direção, com lágrimas nos olhos, e concordei.

— Então volte para a banheira e deixe que a Água Medonha o relembre de tudo o que aconteceu.

Receoso, acatei sua ordem e fui até a banheira, estremecendo ao enfiar o pé direito na água. Ao entrar por completo, ela me acolheu como uma teia de aranha e me recobriu como um cobertor, então prendi a respiração e deixei-a me dominar por completo.

O DIA EM QUE CAÍ NO INFERNO

Assim que Rubel me deixou sozinho no corredor, não soube o que fazer. Estava dormente e paralisado, incapaz de pensar em alguma frase coerente ou que não envolvesse o nome de Lúcifer. Medo era o que sentia, e ele tingia minha pele do mais pálido e fantasmagórico branco já visto. Mas, apesar do pavor, não entrei logo no quarto. Ao invés disso, engolindo duas doses do único punhado restante de minha coragem, caminhei na ponta dos pés até o final do corredor – por onde Rubel havia sumido – e espiei ao redor, para ver se ele ainda estava por perto. Quando concluí que não havia mais ninguém ali, saí.

Eu iria para o céu e não esperaria ordem de Rubel ou Ruda para isso. Acharia o caminho do céu por conta própria, então não precisaria passar por aquele pesadelo.

Não soube por quanto tempo andei, depois de muita caminhada, mas sabia que havia sido horas. Os corredores eram tantos, e se desdobravam nas mais estranhas formas possíveis. Meu objetivo era chegar até as Filas Infernais e, assim, falar com outro demônio encarregado, mas não sabia o caminho, nem o que iria encontrar até lá. Houve um momento em que quase entrei em uma sala cheia de dragões horrorosos, foi quando realmente temi pelo que estava fazendo. Estava assustado, faminto e nauseado, e sentia que minha caminhada havia sido em vão.

Foi quando ouvi uma voz doce e suave chamando por meu nome. Um som quase hipnotizante, exalando persuasão. Pensei ser a voz de um anjo finalmente guiando-me para o caminho celestial, e a segui. Cantava uma música bonita, melódica e angelical. A sensação que tive era de que estava levitando enquanto a seguia. Quando percebi, estava em frente a uma porta de aço, com uma trinca peculiar e brilhante, que revelou uma sala de paredes vermelhas.

Uma sala vermelha com uma banheira e um espelho, decorada com quadros estranhos e invertidos. Ao lado da banheira, havia alguém. No começo, pensei ser um anjo, mas assim que sorriu, revelando dentes pontudos e olhos pulando de sua garganta, percebi, com horror, que havia sido compelido por um demônio.

— Olá, humano — disse o demônio. Sua pele era roxa, com pequenos e aleatórios pontos espalhados. De longe, parecia até que era feito de um pedaço recortado do céu. Na mão, carregava um cajado com um pentagrama sutil fundido no topo. — Sou um demônio do sono, é um desprazer conhecê-lo.

— Mas eu achei que fosse um anjo... — murmurei, estremecendo.

No fundo, sabia que não era.

Rubel apareceu na sala logo em seguida, com um sorriso quase tão assustador quanto o do demônio do sono.

— Vejo aqui que você é muito curioso, Park Jimin — disse Rubel, fechando a porta atrás de si. — Não deveríamos começar o seu teste tão cedo, mas acho que você está preparado.

Intercalando o olhar entre os dois demônios, perguntei em um fio de voz.

— Preparado para o quê?

O demônio do sono se aproximou lentamente, flutuando. No lugar de seus pés, uma nuvem de poeira roxa se movia. Era como se ele fosse feito de poeira.

— Diga-me, humano... — murmurou o demônio do sono, raspando o indicador em meu queixo. Seu toque me fez relaxar imediatamente. — ...qual é o seu maior medo?

Rubel concordou risonho, esperando por minha resposta.

— O... meu maior medo — sussurrei sonolento, embalado por seu toque velado em meu rosto. Quando vi, já estava na margem da banheira, com água até os joelhos.

Apesar da sonolência, minha mente trabalhava aos trancos e barracos, revivendo memórias passadas de situações em que questionei qual era o propósito de minha existência. Quando minha mãe me batia, eu me perguntava o porquê de aquilo acontecer comigo. Quando meu pai me negligenciava, eu me perguntava o porquê de fazer aquilo comigo. Quando, no final do dia, em minha cama eu questionava o porquê de ainda estar vivo, nenhuma resposta me vinha a mente. No final, entre a vida e a morte, cheguei à conclusão de que não havia chegado a nenhuma resposta porque estava me fazendo a pergunta errada durante toda a minha vida.

Entre a vida e a morte, perguntei-me: por que deixo fazerem isso comigo?

E a resposta veio-me à mente como uma bala:

Você tem medo de ser esquecido.

Eu deixava me maltratarem, me cortarem, me baterem, me humilharem, porque, caso não fosse aquilo... o que mais seria? Eu não teria serventia, então seria esquecido. Para sempre. Como se nunca tivesse nascido. E aquela percepção era muito mais dolorosa do que qualquer tortura de minha mãe ou descaso de meu pai.

Embalado, respondi ao demônio:

— Tenho medo de ser esquecido.

Minha visão estava embaçada, nublada pelo sono, mas consegui captar seus sorrisos maquiavélicos.

— Sua mente é algo muito peculiar, humano — disse o demônio do sono. — Consigo senti-la, você é especial. Tenho certeza de que seu teste será... além do esperado.

— Quando isso acabar, conseguirei minha Redenção? — Indaguei a Rubel, à beira do sono.

— Se for merecedor — disse ele.

— E... — Gaguejei, deixando que o demônio me deitasse na banheira. A água já estava em meu pescoço. — Como vou saber que sou merecedor?

Rubel se aproximou e sussurrou em meu ouvido:

— Assim que você provar que...

... — Superou seu medo — disse Rubel, assim que emergi na banheira.

Tossi goles de água para fora, agarrando-me a beirada de mármore com desespero.

— E você superou, humano — prosseguiu.

Com o peito em chamas, perguntei:

— Como?

Ele sorriu, parecendo orgulhoso, e disse:

— Quando, em seus sonhos, assumiu a forma de Khaos.

Ele esperou que eu saísse da banheira para prosseguir.

"Pense comigo. Não há como superar um medo interno, externamente, então o teste precisava acontecer dentro de sua mente. Assim que você entrou em seu quarto, encontrou com Morfus, teve seu primeiro descafé-da-manhã com Lúcifer... tudo aquilo... tudo aquilo já não estava acontecendo no plano do real. A seita em que você pensou ser a oferenda, o Baile Infernal, os Pecados Capitais, até minha pseudoamizade com você, tudo aconteceu em seus sonhos. Mais especificamente, em seu teste divino".

"A primeira manifestação de seu medo surgiu com o Demônio Albino, alguém medroso, que se achava insuficiente, não-merecedor de amor, um miserável. Ele foi a manifestação mais crua de seu medo. Logo após veio Hades, que surgiu como uma espécie de estratégia para superar tudo o que o Albino representava. Os Cinco Cavaleiros da Destruição, os Espelhos do Caos, tudo isso fez parte do plano feito em seu inconsciente para superar seu medo. Então, veio Jimin, a personificação da ponte entre seu maior Medo e a Superação. Como Jimin, apesar de seu medo, você teve mais facilidade para interagir com demônios, fazer amizades, conquistar um amor. Jimin era a perfeita representação de equilíbrio. E, sim, você poderia ter parado o teste no ponto em que Jimin surgiu, mas..."

"...sua psique resolveu ir além. O jogo, criado pelo maestro – a representação de sua mente criou para personificar seu medo – foi uma forma de superá-lo de uma vez por todas. Jimin não era, e nunca seria, suficiente para sua mente ávida, especial. Foi quando você criou Khaos, a mais perfeita personificação do que seria a Superação, e o teste foi finalizado".

— Assim que você atravessou o Espelho do Khaos, você também rompeu as barreiras criadas pelo demônio do sonho, em sua mente, e acordou de seu sono profundo, vinte e nove dias após sua chegada. Você conseguiu, Jimin — disse ele.

Saí da banheira, de olhos bem abertos e corpo desperto. Minha mente já não era mais uma bagunça de pensamentos ou uma dissintonia de indagações. Eu lembrava do que havia acontecido e como.

— Eu consegui — murmurei.

Não sou o Demônio Albino, não sou Hades, não sou Khaos.

— Eu vou para o Céu — murmurei. De repente, um soluço rompeu por minha garganta.

Não cometi atrocidades em busca de atenção, foi tudo uma simulação. Tudo...

— Espera — chamei a atenção de Rubel, com as mãos tremendo. — Isso significa que o que vivi com Lúcifer não passou de uma...

— Simulação — ele concordou.

Nada é o que pareceu ser.

Os beijos, os abraços, as noites em que passamos em claro conversando sobre trivialidades, o jeito como ele me pegava em seus braços e dizia que sentia algo forte por mim, as formas como nossos corpos se encaixavam com perfeição; tudo... tudo foi...

— ...uma simulação — concluí, e uma lágrima escorreu por minha bochecha.

Encarei meu reflexo no espelho, meus olhos estavam vermelhos, minhas bochechas também, meu corpo doía, mas não tanto quanto meu coração. Atrás de mim, Rubel apareceu.

— Está pronto? — Perguntou.

— Para o quê? — Indaguei.

— Para ir para o Céu — sorriu, e dessa vez um sorriso gentil e orgulhoso.

O sorriso que meu pai, talvez, me daria.

Explodi em soluços, concordando.

— Estou — murmurei entre lágrimas de dor e alívio. — Estou, de verdade.

Ao passarmos pelos corredores em direção ao salão das Filas Infernais, reconheci demônios que, por muito, viveram em meus sonhos. Wonho estava brigando com Mino, um demônio verde pequeno e rabugento. Zen estava sentada em uma poltrona enorme, lendo um livro, enquanto Jennie fazia tranças em seu cabelo. Dong Han dormia no colo de Kai, que brincava de contornar as elevações de seu rosto. Procurei por ele por todos os lugares, à procura até mesmo do mais singelo som de uma bengala batendo contra o chão, mas ele não estava ali. Apesar disso, encarava os demônios que, de certa forma, haviam marcado minha morte com lágrimas de nostalgia nos olhos.

Acabei colidindo com um demônio enorme, de olhos amarelos, no meio do caminho, e o reconheci quase que imediatamente.

— Cuidado por onde anda, humano — disse Morfus, antes de sumir por um corredor escuro.

Chorei em silêncio, relembrando-me dos momentos bons e ruins que tivemos; relembrando de como o amei.

Morfus está vivo.

E nada mais importa.

Você não me conhece, Morfus, mas eu te amo.

— Aqui estão os papéis de sua Redenção, humano — disse Ruda, carrancuda, entregando-me uma pasta pesada. — Meus desparabéns.

— Obrigado, Ruda — sorri.

Arg! Continua falando palavrões? — Perguntou ela, com uma careta.

Sorri, concordando.

— Se não se importa em responder, eu morri mesmo de fome? — Indaguei a ela.

Confidencialmente, ela respondeu:

— Você tropeçou no poço d'água de sua casa e morreu afogado — então se afastou.

Inundado de alívio, concordei. Não havia morrido de fome, em uma seita satânica.

Rubel me empurrou até uma porta gigante, que estava conectada a um tubo grosso e quadrado. Um elevador? Talvez. Um elevador que levava direto para o céu. Ele estalou os dedos e a porta foi aberta, revelando paredes esbranquiçadas com desenhos de anjos e nuvens gravados. Dentro do elevador, havia um anjo, e ele sorriu um sorriso familiar para mim.

— Olá, Park Jimin! Fiquei sabendo que sonhou comigo em sua simulação e resolvi vir buscá-lo pessoalmente. Sou Chamuel! — Disse, estendendo a mão em minha direção.

Envergonhado, aceitei-a e entrei.

— Está pronto? — Perguntou.

Suspirando, concordei.

— Mais do que pronto.

No mesmo momento, uma voz poderosa rompeu pelo salão. Grave, rouca, e totalmente familiar.

— Rubel! Onde estão meus sapatos vermelhos? — Gritou a voz, do corredor escuro. Ele estava se aproximando.

— Já estou indo, senhor! — Gritou Rubel.

Ele estalou os dedos e a porta do elevador começou a se fechar.

Eu só preciso vê-lo uma vez.

Somente uma vez.

E assim saberei se ele é como imaginei.

Antes da porta fechar, ele apareceu e seus olhos vermelhos caíram diretamente sobre mim. Olhos vermelhos, pelo branca, cabelos roxos e terno estranho. Era ele, era Jungkook, exatamente como havia imaginado.

Quando a porta se fechou, coloquei a mão contra a porta fria de metal e sussurrei:

— Obrigado por me ajudar a aperceber que posso ser amado, mesmo sem perceber, Jungkook.

Porque eu mereço.

Eu sou alguém.

Agora sei disso.

Fim.

¿?

Pedido: não removam a fanfic da biblioteca, por favor. Em breve, trarei novidades!!!

Continue Reading

You'll Also Like

1.3M 112K 31
Jeon Jungkook é ganancioso, principalmente por dinheiro. Desde quando completou a maioridade, acostumou-se a cantar em um bar afastado, e seu sonho...
8.5K 882 5
鑔 ⃟꙰ཷཷꦿPark JiMin viveu uma vida miserável sendo torturado e humilhado por sua mãe, e tendo um pai que negligenciava tudo o que tinha a ver consigo. ...
682K 76K 47
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
319K 613 3
[CONCLUÍDA] Por onde posso começar, a contar sobre minha vida? Bem, não que tenha acontecido algo surpreendente ou que sempre estive repleto de felic...