Dois Opostos

By Lua_Sima

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Dizem que a guerra faz apenas duas coisas com as pessoas, ou mata, ou marca para sempre seus sobreviventes. ... More

Dedicatória
Epígrafe
Prólogo: Expresso de Hogwarts
Capítulo 1: Amigos?
Capítulo 2: Olhares
Capítulo 3: Cretino
Capítulo 4: Possibilidades
Capítulo 5: Triunfante
Capítulo 6: Pesadelos
Capítulo 7: Ex-Comensal
Capítulo 8: Luz e Trevas
Capítulo 9: Jogo
Capítulo 10: Compatíveis
Capítulo 11: Vingança
Capítulo 12: Poder
Capítulo 13: Uma dança
Capítulo 15: Salvador do Malfoy
Capítulo 16: Ninguém
Capítulo 17: Minha causa
Capítulo 18: Flashback
Capítulo 19: Pijama Amarelo
Capítulo 20: Hipócritas
Capítulo 21: Fogo
Capítulo 22: Abstinência Malfoy
Capítulo 23: Ofego
Capítulo 24: Apaixonado
Capítulo 25: Ministério
Capítulo 26: Casa
Capítulo 27: Melhor amigo
Capítulo 28: Com afeto
Capítulo 29: Importância
Capítulo 30 - Estou aqui
Capítulo 31 - Simplicidade
Capítulo 32: Significado
Capítulo 33: Quentura
Capítulo 34: Farol
Capítulo 35: Linha Tênue
Capítulo 36: Segurança
Capítulo 37: Galáxia
Capítulo 38: Favorito
Capítulo 39: Válvula de escape
Capítulo 40: Inverno 1997
Capítulo 41: Avada
Capítulo 42: Draco Black
Capítulo 40: Brilhando
Capítulo 41: Recordar
Capítulo 42: Livres
Capítulo 43: Fugir
Capítulo 44: Incapaz
Capítulo 45: Sempre
Capítulo 46: Ação e Reação
Capítulo 47: Amor
Capítulo 48: Aviso
Capítulo 49: Destrono
Capítulo 50: Eu te odeio
Capítulo 51: Confiança
Capítulo 52: Willians
Capítulo 53: Tiziano
Capítulo 54: Ele vai pagar
Capítulo 55: Sorte
Capítulo 56: Chance única
Capítulo 57: 100%
Capítulo 58: Julgamento
Capítulo 59: História
Capítulo 60: Intuição
Capítulo 61: Reage!
Capítulo 62: Liberdade
Capítulo 63: Vasto amor
Capítulo 64: Rótulos
Capítulo 65: Mon amour
Capítulo 66: Memorável
Capítulo 67: Nosso
Capítulo 68: Mudança
Capítulo 69: Três anos
Capítulo 70: Reações
Capítulo 71 - Snape Filho
Capítulo 72 - Lancaster
Capítulo 73 - Cofre
Capítulo 74: Conselheiro
Capítulo 75: Encontro
Capítulo 76 - Salvo
Capítulo 77: Juras
Capítulo 78: Herói
Capítulo 79: Lumos Maxima
Capítulo 80: Jura de dedinho
Capítulo 81: Padrinhos
Capítulo 82 - Casamento (final - parte um)
Capítulo 83: Obrigado, Harry Potter (final)
Epílogo
Agradecimento
Livro Físico
E-BOOK GRÁTIS

Capítulo 14: Crucius

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By Lua_Sima

Harry

Draco está lindo, belo, maravilhoso, encantador, não sei se existe uma palavra ideal para descrever o quão estonteante ele está nessa noite, usando uma camisa social branca que aparece só a gola porque está toda coberta pelo terno inteiramente preto, sua gravata é prateada assim como o lenço em seu bolso, o detalhe que o difere da maioria é o broche de cobra estampado no seu terno, todos os alunos da Sonserina usam um.

Eu pensei em me aproximar hoje à noite, o provocar, continuar nosso jogo, mas não estava nos meus planos a pequena discussão com Córmaco, entretanto, assim que o vi humilhando Malfoy enquanto ele visivelmente não estava fazendo nada, uma onda de raiva tomou conta de mim, só não o azarei porque estava mais preocupado em tirar Malfoy daquela multidão.

Não sei porque senti tanta vontade de entrelaçar nossas mãos, sinceramente não sei nem quando a vontade apareceu, de uma hora para outra nossas mãos já estavam entrelaças e nenhum de nós pareceu disposto a separá-las.

A última vez que ficamos tão perto lembro de pensar que todo o seu corpo era frio, mas dessa vez seu toque foi quente, me senti queimar por dentro, como se meus órgãos todos entrassem em colapso, é isso que Malfoy tem feito comigo, me colocando em colapso.

Também não tenho a mínima ideia de como surgiu a loucura de querer dançar com Malfoy, não é loucura porque tenho vergonha dele ou medo da reação das pessoas, mas sim porque simplesmente essa aproximação toda não faz sentido, se me falassem há um mês que eu estaria dançando com Malfoy tão próximos como estamos agora eu chamaria a pessoa de maluca.

Assim que paramos bem no meio da pista de dança, a música Making Love Out Of Nothing At All começa a tocar, e nunca na minha vida eu quis tanto que o som fosse eliminado da existência, porque a música se encaixa um pouco demais nessa situação, de um jeito desconfortável demais para aceitar.

Contudo, não posso fugir agora, sequer consigo enquanto Malfoy me olha tão profundamente como agora, tão temoroso com as pessoas ao nosso redor, não posso abandoná-lo agora, não quero.

- Olhe para mim, não para elas. - Digo, colocando sua mão livre na minha cintura, erguendo as que estão entrelaçadas para cima.

- Ainda não sei se isso é uma boa ideia. - Admite, quando começamos os primeiros passos da dança.

- Conhece essa música que está tocando?

- Conheço.

- Sabe que tem uma parte que diz "você realmente quer me ver rastejar?"

- Sei, por que essas perguntas?

- Porque eu vou te fazer a pergunta da música, você realmente quer me ver rastejar por uma dança? - Pergunto, com minha melhor expressão de manipulação, que é completamente desmanchada quando Malfoy sorri naturalmente, como ele fica lindo sorrindo.

- Querer eu até quero, mas não faça isso, vai parecer que está me pedindo em casamento.

- Ó, Draco Malfoy, você quer casar comigo? - Zombo, feliz por ele estar parecendo mais leve.

- Claro, posso te matar e ficar com sua herança. - Responde, me fazendo rodopiar, o que me faz rir ainda mais.

- Que horror! Casaria comigo apenas por interesse? - Finjo estar decepcionando quando retorno para seus braços.

- Obviamente, qual outro motivo eu teria?

- Minha beleza? Meu carisma? Sua visível paixão por mim?

- Sua prepotência? Sua visível falta de neurônios?

Ficamos em silêncio, a música ecoando no ambiente, por alguns instantes tudo parece vazio, como se o mundo tivesse se calado, é a primeira vez que não ouço o mundo gritando ao meu redor, a única coisa que consigo prestar atenção é em Malfoy, não sei se isso é aterrorizante ou reconfortante.

- Ouviu o que a música disse? - Malfoy quebra o silêncio, sussurrando no meu ouvido.

- Qual parte?

- "Sei exatamente onde te tocar" - Ele canta o trecho novamente antes de apertar a mão na minha cintura, descendo-a um pouco mais, me fazendo tremer, meu corpo sendo dominado pelo arrepio que já está se acostumando a sentir na presença de Malfoy. - "E sei o que provar".

- E o que você está provando, Malfoy?

- Que você perdeu.

- "Sei quando devo puxar você para perto de mim" - Entro no seu joguinho, cantando o outro trecho da música, usando nossas mãos entrelaçadas para puxá-lo para mais perto, fazendo nossos peitos roçarem um no outro, tremo quando Malfoy deixa um suspiro escapar de seus lábios, próximo demais do meu ouvido.

Ergo os olhos para fita-lo, e o encontro me olhando também, sinto-me submerso no mar dentro de seus olhos, Malfoy está me afogando em si, na sua presença, no seu contato.

Contra minha vontade meus olhos descem para os seus lábios, se perdendo neles por tempo demais, como pode alguém ter todas as partes do rosto tão imersivas dessa forma?

- "E sei quando deixar você sozinho" - Malfoy sussurra no meu ouvindo, afastando-se dele calmamente, parando a centímetros de distância da minha boca, fazendo questão de falar nessa exata distância, o calor de sua fala atravessando todo meu rosto. - Até a próxima, Potter.

- Fugindo, Malfoy? - Falo, quando ele solta minha mão, se distanciando sem se virar de costas.

- Prometi uma dança.

- Isso foi meia dança.

- Exatamente, vou deixar você sozinho agora para que possa me procurar outra hora para acabarmos essa dança. - O sorriso meio malicioso meio sincero em seu rosto me faz sorrir também.

- Está dizendo que quer me ver de novo, Malfoy? É um convite?

- Interprete como quiser, Potter, obrigado pela meia dança. - Em contradição a malícia da primeira frase, ao agradecer a dança Malfoy parece sincero e feliz, nunca imaginei que o ver feliz me contagiaria tanto, no nível que sinto que sou capaz de sonhar com seu sorriso durante um longo tempo.

"Eu sei que a noite está acabando

E eu sei que o tempo vai voar

E jamais te direi

Tudo que tenho que para te dizer"

É o que diz a letra enquanto o loiro se distancia a passos sutis, deixando-me sozinho com os mesmos pensamentos da música, não sei o que tenho exatamente para lhe dizer, mas as batidas descoordenadas no meu peito dizem mais do que eu gostaria.

Droga, Draco Malfoy, você realmente quer me ver rastejar.

...

- Que doidera foi essa? - Rony berra, assim que me aproximo do lugar onde ele e Hermione estão, eu sabia que ele ia surtar, mas supus que demoraria pelo menos até eu falar algo. - Você foi amaldiçoado? Enfeitiçado? Está sob o efeito de alguma poção?

- Não para todas as perguntas, Ronald. - Respondo, revirando os olhos e me sentando na cadeira vazia ao lado deles.

- Então, por que estava dançando com a doninha? - Pergunta, em total estado de choque, sentando-se do meu lado.

- Porque me deu vontade - Dou de ombros.

- Desde quando você sente vontade de dançar com ele?

- Pronto, vai agir que nem o McLaggen? Dizer para eu não me misturar com gente como ele? - Minha voz sai um pouco mais agressiva do que eu esperava.

- Acalmem-se os dois. - Hermione intervém, ficando de pé na nossa frente. - Ronald deixe o Harry em paz, Harry você sabe que não foi isso que o Rony quis dizer, só não... esperávamos que você fizesse isso.

- Eu sei, me desculpem, não estou pensando direito. - Verdadeiramente não estou, minha cabeça não consegue focalizar em qualquer outra coisa diferente do calor da mão de Malfoy que ainda sinto na minha, nos seus lábios, seus olhos, sua voz.

- Vou pegar um ponche, alguém quer? - Rony oferece, levantando-se.

- Eu quero, por favor. - Beber talvez ajude.

- Quer falar sobre isso? - Hermione questiona, quando Ronald se afasta o suficiente, sabia que eu não responderia nada com ele por perto.

- Sobre ter dançando com Malfoy? Não.

- Sobre ter ficado de mãos dadas com ele uns cinco minutos antes de começarem a dançar? - Era óbvio que alguém veria isso, mas precisava ser justamente a rainha dos interrogatórios?

- Também não.

- Está gostando dele?

- Não. - Não estou?

- Tem certeza?

- Não - O sorriso vitorioso se alarga no rosto de Hermione, acabei de criar um monstro. - mais alguma pergunta?

- Não ligo se você gosta - Gina diz, chegando inesperadamente e se infiltrando na conversa. - mas vocês deveriam se beijar, para que estudar química se vocês dois deram uma baita explicação sobre como ela funciona no meio da pista de dança?

- Não exagera, Gina. - Digo, me perguntando onde está Ronald com a porcaria da bebida.

- Estou falando sério, com um pouco mais de esforço eu conseguiria ver as faíscas sobre a cabeça de vocês, foi fenomenal, gato.

- Gina, eu vou te azarar.

- Me azarar? Sinta-se à vontade, porque agarrar é com o Malfoy. - Gina quase se engasga de tanto rir, Hermione tenta disfarçar por um tempo, porém acaba gargalhando também.

- Odeio você.

- Amo você, namorado da doninha.

- Não fale isso, vou vomitar. - Rony diz, entregando-me um copo de ponche.

- Meu Merlin, tudo isso por causa de uma dança? - Reclamo, revirando os olhos mais uma vez, eles estão surtando mais que eu, e era eu que estava dançando.

- Uma dança com rodopiadas, carinho na mão, sussurros no ouvido, falas no canto da boca...

- Gente, é sério, vocês vão me fazer vomitar.

- Pare com isso, Ronald, vai me dizer que você e a Mione são fofos 24 horas?

- Gina! - Hermione grita, dando um empurrão delicado na ruiva.

- Parei, parei, e você por que está aqui? - Gina volta-se para mim, a olho confuso com a pergunta.

- Não posso ficar com meus amigos?

- Não enquanto seu homem sumiu do salão, vá atrás dele.

- Malfoy deixou bem claro que não quer que eu vá atrás dele agora. - Não posso negar que gostaria de ir dançar o fim da dança com ele ou talvez até mais uma. Meu Merlin, no que eu estou pensando?

- Se ele não tivesse deixado claro você iria?

- Eu não vou mais te responder, Ginevra.

- Então, espere uns dez minutos, mas depois vá atrás dele, precisa beijar alguém, Harryzinho, já faz tanto tempo que você não beija que deve estar virando virgem de beijo novamente.

- Isso é verdade, você precisa beijar alguém, cara, mas não precisa ser a doninha. - Rony concorda com a irmã pela primeira vez na conversa inteira.

- Mas se você quiser que seja ele, tudo bem, nós entendemos, não é, Rony?

- Fale por você, eu não entendo - Hermione discretamente dá um beliscão no braço de Rony, que solta um pequeno grito. - não adianta me bater não, Hermione, quem em sã consciência escolhe beijar o Malfoy? É o Malfoy.

- Vamos por favor parar de falar do Malfoy? - Peço, e incrivelmente eles mudam de assunto, preciso me segurar para não me ajoelhar e agradecer aos céus, não aguentava mais ouvir o nome de Malfoy.

- Certo, vamos falar sobre onde está a Luna? Perdi ela faz uns vinte minutos. - Gina retoma a conversa.

- Última vez que eu a vi ela estava parada mudando a cor do vestido repetidas vezes.

- Parada onde?

- Perto da mesa das comidas.

- Obrigada, vejo vocês depois. - Quando já está consideravelmente longe, a ruiva se vira para nós, berrando. - Não se esqueça, Harry, vá atrás da cinderela antes da meia-noite, não se sabe se ele não virar um gato borralheiro de novo amanhã de manhã.

Surpreendentemente eu entendo o sentido da frase, é, talvez eu deva ir atrás de Malfoy.

Draco

- Potter realmente mexe muito com você, senhor "é impossível eu sentir algo por ele". - Blásio debocha, levando a mão ao meu ombro, me fazendo virar para ele, estava tentando fugir deles desde do fim da dança com Potter, entretanto como nada que é bom dura para sempre meus amigos me acharam.

- Você tem que parar de falar essas coisas, Zabini, não quero ter que lhe azarar, mas caso seja do seu interesse, estou a um passo de fazer isso. - Ameaço, Blásio ignora totalmente a fala, começando a rir novamente.

- Se quer que eu pare de falar coisas verdadeiras, você tem que parar de me chamar de Zabini toda vez que acredita que eu tenho razão, mas não tem coragem de admitir.

- Vocês têm algo a acrescentar nas acusações do Zabini? - Dirijo a atenção para Goyle e Pansy que se juntam a nós.

- A única coisa que eu tenho a acrescentar é que estou muitíssimo feliz de ter ganhado a aposta. - Pansy diz, visivelmente animada ao receber dez galeões de Goyle.

- Opa, não me olhe assim, não preciso lhe pagar nada, eu também ganhei, o único perdedor aqui é o Goyle. - Blásio também fica entusiasmado ao receber os dez galeões, nenhum deles realmente liga para o dinheiro, mas sempre foi uma coisa nossa isso de apostar sobre coisas banais, quando éramos pequenos apostávamos até sobre quem iria acordar primeiro.

- Jurei que Potter iria dar para trás - Goyle admite, enquanto guarda a carteira no bolso. - o garoto de ouro me surpreendeu nessa, quase te beijou em plena pista de dança, que surpresa.

- Nós nem chegamos perto de nos beijar. - Finalmente me pronuncio no meio da conversa sobre minha vida amorosa.

- Eu senti um pesar no seu tom de voz? - Zabini zomba, caindo na risada.

- Vocês devem estar testando minha paciência, não pode ser.

- Pare, Draco, estamos apenas falando coisas óbvias, ou pensou que iriamos ignorar que você ficou todo bobinho dançando com o Potter? - Pansy intervém a favor do namorado, não é possível que todos estejam contra mim.

- Você realmente aprendeu muito bem com o Blásio, sobre a arte da manipulação. - Retruco, após a morena terminar de falar, isso parece distrai-los, porque o assunto felizmente muda de foco para o fato de Goyle querer ficar bêbado.

- Eu sempre quis ter idade o suficiente para beber dentro de Hogwarts sem ser escondido.

- Sou obrigado a concordar com você, o que é muito raro e estranho. - Pansy assume, e Goyle revira os olhos, é realmente muito raro os dois concordarem sobre qualquer coisa.

- Para mim você nem sabia ler, quem dirá beber. - Ironizo, e Goyle me dá um empurrão enquanto todos voltam a rir, é óbvio que sei que ele bebe, já bebemos escondidos no dormitório incontáveis vezes, mas nunca perderei a oportunidade de relembrar essa piada interna.

...

O tempo passa com uma energia ótima, nós damos risada, contamos piada, conversamos, bebemos bastante, dançamos mais do que eu esperava, em vários momentos perdemos Pansy e Blásio, Goyle também sumiu algumas vezes com Greengraas, mas na maior parte do tempo ficamos juntos, aproveitando enfim um tempo sem preocupações nas nossas costas.

- Não consigo mais olhar para esse lugar com naturalidade. - Deixo escapar quando saímos do salão, parando sem querer na frente da parede onde atrás dela se encontra a Sala precisa, a fatídica Sala precisa.

- Suponho que ninguém consegue. - Blásio reconhece e os outros concordam, não sei dizer se algum dia conseguiremos.

Ficamos algum tempo em silêncio apenas observando o lugar, permitindo que nossas memórias tomem conta da nossa mente, todavia, somos inesperadamente interrompidos quando um copo atingi minha cabeça.

Viro-me na direção de onde veio o copo e encontro a pessoa que eu menos gostaria de rever essa noite, esse homem não se cansa de me atormentar.

- Córmaco... - Falo, com os dentes trincados, é quase involuntária a maneira como levo a mão até minha varinha, não sei porque, mas estou com um péssimo pressentimento sobre esse encontro.

- Ora, ora, ora, o que temos aqui? Uma doninha desprotegida, onde está o Potter agora, Malfoy? - Exprime, sorrindo ironicamente.

Goyle imediatamente se move, ficando na minha frente, porém inusitadamente Córmaco estala os dedos, fazendo com que outras três pessoas surjam dos corredores ao nosso lado, agarrando e imobilizando Goyle, Pansy e Blásio, os levando para longe de mim, fora do meu campo de visão.

Tento identificar os rostos dos cúmplices de Córmaco, entretanto todos estão usando máscaras, o que impossibilita a identificação.

Mexo-me, decidido a ir atrás dos meus amigos, mas McLaggen lança um Bombarda bem na frente, me obrigando a recuar.

- Pelo bem dos seus amigos eu não iria a lugar nenhum.

- Não ouse encostar nos meus amigos. - Vocifero, me aproximando dele a passos largos.

Com a varinha em punhos agarro-o pelo colarinho, a pressionando contra seu pescoço, o desafiando a tentar alguma coisa, deixando claro os riscos que ele corre, apertando tão forte que uma gota de sangue escorre pela sua pele.

- Bem que eu deveria..., mas eles são indiferentes para mim, meu único objetivo aqui é você, porém se tentar me machucar farei questão que seus amiguinhos sofram as consequências.

Olho ao redor, procurando por algum sinal de qualquer pessoa, Córmaco percebe essa procura, sorrindo satisfeito.

- Se está procurando pelos professores, Filch ou alguém assim, você não deve estar pensando que sou tão burro, não lhe atacaria se o caminho não estivesse limpo.

- Essa escola é cheia de gente, alguém virá aqui, McLaggen, você não vai se safar.

- Todos os professores estão bem felizes no baile, Filch está aproveitando a festa para ter um descanso, os alunos estão enchendo a cara, e vocês se afastaram bastante do salão, com a música alta é improvável que alguém consiga lhe ouvir se decidir gritar, resumindo... sem ajuda, Malfoy.

- Qual é o seu problema comigo? - Pergunto, praticamente gritando, o ódio invadindo meus pulmões, nunca precisei me esforçar tanto para não amaldiçoar ninguém.

- Lucius Malfoy, seu querido pai, matou a sangue-frio os meus pais.

Congelo, a revelação me faz abaixar a varinha por alguns segundos, isso é tempo suficiente para Córmaco chutar o meu peito, me fazendo cambalear por conta da dor, aproveitando-se da situação ele pega a minha varinha e a joga para longe.

- Minha família foi destruída pela sua, eu não posso nunca mais ver os meus pais porque sua família me tirou esse direito, agora vou tirar deles o seu único filho, eles vão sentir o mesmo que fui obrigado a sentir. - Por mais que eu queira argumentar contrariamente, minha voz simplesmente morre na minha garganta enquanto sinto meu corpo começar a tremer pela culpa tão conhecida que começa a me invadir.

- Minha mãe não tem culpa pela maldade do meu pai, e eu não sou o meu pai. - Respondo, buscando acreditar nas minhas próprias palavras, mas minha voz sai falhada e sem convicção, a culpa por todo o sangue derramado em Hogwarts recai sobre minhas costas e não consigo reagir.

Lembro dos corpos no chão, dos gritos, de Crabbe, de Theo, de todos que ajudei a matar, todas as famílias que ajudei a destruir, eu era um comensal, estava do lado daqueles que tiraram das pessoas o direito à vida.

Será que realmente mereço estar vivo depois de indiretamente ter tirado a vida de tantas pessoas? Será que Córmaco está assim tão errado?

- Você pode até não ser o seu pai, Malfoy, mas é tão baixo quanto ele, você também viveu a guerra e não estava defendendo Hogwarts, estava nos aniquilando, nos vendo definhar.

Um soco atinge meu rosto, fazendo com que minha cabeça penda para o lado.

- Diffindossum. - Córmaco executa um feitiço na direção do meu joelho, e de acordo com a dor que envolve todo o meu corpo, tenho certeza que um osso foi quebrado.

Caio no chão, mordendo intensamente o lábio para conter um grito desolado, bato com força no piso, forçado a me jogar para trás para não ter que sustentar o meu peso no joelho quebrado.

- Córmaco, eu sinto muito, ok? Sinto muito pelo meu pai, pelos seus pais, por todas as pessoas que prejudiquei, mas me agredir não vai trazer seus pais de volta. - McLaggen ignora totalmente minha frase, aproximando-se com odiosidade.

- Você nunca se importou com ninguém além de si mesmo. - Pressiona o pé no meu rosto, o prensando contra o chão. - Eu quero ver você sofrer, alguém precisa pagar pelos meus pais, se não posso fazer isso com Lucius, o filho já me basta.

Inesperadamente minha camisa pega fogo sobre o meu braço direito, possivelmente McLaggen realizou um feitiço não-verbal, não consigo conter um grito de dor quando o fogo começa a queimar a minha pele.

Córmaco ri de gargalhar, olhando enquanto me contorço, a cada segundo a dor se torna superior a qualquer ato que eu posso pensar em fazer.

Assim que a minha camisa se carboniza por completo o fogo finalmente se dissipa, respiro descontroladamente empenhando-me em aliviar a dor terrível que ainda me domina. Não consigo identificar se o cheiro de queimado que adentra o meu nariz é da minha roupa ou da minha pele.

Córmaco tira o pé do meu rosto, o direcionando para o meu peito, me firmando ainda mais contra o chão, fazendo com que o ar que eu estava recuperando volte a se esvair do meu pulmão e a dificuldade de respirar se torna imensa.

- Olhe para no seu braço, Malfoy. - Segura meu rosto nas mãos e o joga em direção ao meu braço, me obrigando a olhá-lo.

Eu sei exatamente o que ele quer que eu veja, não são as queimaduras de segundo grau que se formam ali, nem as bolhas de calor, quer eu veja algo muito pior que isso, aquilo que tem me matado há anos.

- Olhe para a marca nele, você nunca defendeu Hogwarts, nunca esteve aqui para nos ajudar, estava do lado das pessoas que mataram os meus pais, que mataram milhares, você não deveria ter voltado para essa escola, não deveria ter o direito de desonrar tantas vidas.

- Acredite, não foi escolha minha voltar. - Consigo falar com extrema dificuldade, com pausas entre cada palavra.

Novamente um soco acerta meu rosto e eu automaticamente fico um pouco sonso, algo justificável considerando que meu rosto já doía por conta da pressão que o seu pé fazia contra ele há alguns instantes.

- Não venha me falar que você não tem culpa, que não é o seu pai, que não é como os outros comensais, porque você não é melhor que eles, deveria estar apodrecendo em Azkaban como qualquer outro comensal, porque é tão nojento e asqueroso como qualquer um deles.

Suas palavras me ferem muito mais que todos os chutes e socos que já me deu, durante todo esse último ano tudo que fiz foi tentar apagar da minha mente cada morte que ajudei a gerar, cada rosto, cada nome, porém, essa marca me lembra diariamente sobre quem estava o meu apoio.

Por alguns instantes desde que retornei consegui esquecer um pouco, suportar as memórias, mas agora tudo voltou com a mesma cruel intensidade de sempre.

Ainda lembro de cada pessoa que me parabenizou na minha casa, me falando que havia feito a melhor escolha, ficado do lado certo, consigo ouvir a voz fria e mortal de Voldemort me dizendo que eu havia sido sua maior conquista, seu maior aprendiz, enquanto eu só tentava evitar olhar em seus olhos e aceitar aquelas palavras, eu só queria fugir, só queria ir embora dali...

Lacrimei e tremi todas as vezes que o vi sentado na minha mesa de jantar, contudo eu não podia deixar transparecer minha fraqueza, meu medo, "não posso chorar, não devo chorar" foi meu mantra durante todos esses anos, palavras que Lucius me ensinou severamente.

Minha fraqueza poderia gerar a morte das únicas pessoas que eu amava, essa culpa eu não conseguiria carregar nunca.

No decorrer desse último ano que passamos escondidos do Ministério essas memórias infelizes me invadiram dia após dia, em contraponto eu me trancava no meu quarto fazendo mais um corte em cima dessa maldita marca, me esforçando para apagá-la, esquecê-la, fingir que tudo não passava de um pesadelo, um enorme pesadelo, mas ela nunca sumiu, nunca saiu dali.

Todas as palavras de Córmaco são verdadeiras, eu não sou melhor que qualquer um deles.

- Você tem razão. - É a única coisa que consigo falar sentindo as lágrimas se formarem dentro dos meus olhos, e apesar de tudo executo o mesmo ritual de sempre, "não posso chorar, não devo chorar", e as lágrimas continuam paradas, se secando progressivamente, sem nem entrarem em contato com a minha pele fria e mórbida.

- Sua rendição não me causa nenhum tipo de pena, Malfoy. - Fala, quando me chuta mais uma vez e mais uma, tantas vezes que perco a conta no meio do caminho, só sinto o gosto de sangue na minha boca. - A única coisa que sinto por você é nojo.

E com essas palavras Córmaco me faz ficar em pé, sentindo meu corpo inteiro gritar em contrariedade com esse movimento, ele me prensa contra a parede, fazendo exatamente aquilo que eu estava esperando que fizesse, porém, qualquer espécie de pensamento sobre isso é incapaz de ser proferido por conta da dor imensurável que me apoderam no segundo que as palavras saem de sua boca.

- Crucius. - É a última coisa que ouço antes do meu corpo inteiro começar a tremer.

Sinto os espasmos e a dor é indescritível, cada pedaço do meu corpo queima, é como se estivesse se destruindo em pedaços, fazia algum tempo que eu não sentia essa dor, já estava quase me esquecendo qual era a sensação, se é que é possível se esquecer de algo agoniante como isso.

Tento gritar, mas o grito morre na minha garganta, incapaz de sair por conta da dor, sinto um líquido o sangue escorrer da minha boca enquanto os espasmos aumentam de velocidade.

Talvez eu finalmente esteja pagando por tudo que fiz, talvez esse seja meu fim, o comensal morto por um daqueles que feriu, muitas pessoas ficarão felizes com a notícia, Draco Malfoy está morto graças a Merlin, quem sabe isso é o que chamam de carma.

Fecho os olhos, aceitando a dor, aceitando a morte, torcendo que não demore muito, que acabe de uma vez, que eu possa finalmente descansar em paz, sem pesadelos, sem medo, sem Voldemort, sem Lucius, sem cortes, porém, inesperadamente a dor cessa enquanto ouço uma voz suave me chamando.

- Draco.

Córmaco sai de cima de mim, correndo corredor adentro, com tamanho esforço consigo abrir uma pequena fresta entre meus olhos, vendo seu rosto se aproximando, não sei dizer se é uma alucinação ou não, mas mesmo assim o chamo.

- Harry.

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