Me olha diferente, me abraça e não sinto seu calor
(Eu só queria te amar – Laís)
Belinda estava com razão quando falou para usar roupas confortáveis. O céu estava praticamente sem nuvens. Ela estava usando uma regata cinza, short jeans e tênis All Stars vermelhos. Uma pequena bolsa que dava somente para guardar o celular e óculos de sol enorme.
Rodrigo optou por uma bermuda jeans e tênis, uma camisa polo branca e um boné preto com a aba virado para trás. Senti-me confortável em minha legue preta, tênis e regata branca.
Os dois times já estavam um em cada lado do campo. As torcidas também estavam divididas. Caminhamos para o nosso lado e encontramos Jessye e Rafael acenando pra gente. Procurei por Nick entre os jogadores para que ele soubesse que já estávamos presentes. Ele estava treinando chute com o goleiro e assim que nos viu, caminhou em nossa direção.
— Ei, vocês vieram – ele parecia muito feliz.
— Eu falei que a gente viria – ela lhe lançou um sorriso.
— E ele, quem é?
— Meu irmão Rodrigo. Ele ficou muito empolgado quando eu disse que viria comigo.
— Gosta de futebol campeão?
— Mais do que tudo na vida.
Rodrigo exibiu um enorme sorriso.
— Bom saber. Que tal qualquer dia desses batermos uma bolinha juntos. As meninas podem ir também.
— Nanda não vai – Rodrigo afirmou.
— Não vou mesmo.
— Por que não? – Nick quis saber.
— Ela tem verdadeiro pavor de bola. Tudo porque quando ainda estava na escola levou duas boladas no rosto.
Nick e Belinda tentaram segurar o riso.
—Podem rir. Não está sendo engraçado agora, como no foi engraçado antes. Eu só fui por que Bernardo... – travei no final da frase — Enfim, não foi legal.
— Então posso me considerar um homem de sorte por você estar aqui? – Nick mudou de assunto entendendo que eu não queria trazer lembranças do passado.
— Muita sorte. Só vim por que sou sua amiga.
— Depois que ganharmos o jogo, podemos ir todos comemorar.
— Você está muito confiante – Belinda debochou.
— Claro. Somos os melhores.
— Não seremos se você ficar de papo com elas.
Diogo se aproximou ficando ao lado de Nick.
— Bom dia pra você também Diogo. Teve uma noite ruim?
— Poderia ter terminado melhor, se eu não tivesse tido alguns contratempos.
Seu olhar foi direcionado pra mim, mas resolvo ignorar. Só em saber que Ivy estava furiosa com ele, já é o suficiente.
— Chegamos juntos, pensei que tinha ido direto dormir – falou Nick sem perceber o clima.
— Tentei dormir, mas estava sem sono.
— Quer dizer que você estava sem a Ivy. E por falar nela, por que não a estou vendo?
— Um primo está veio para uma visita – falei.
— Ok, então vamos voltar para o campo então. Torçam por nós e depois vamos comemorar depois do jogo.
— Vamos poder comer bata frita?
Olhei para meu irmão e queria dar um tapa na cabeça.
— Rodrigo...
— Bata frita é uma boa pedida. Sim, vamos comer batata frita – Nick sorriu para Rodrigo e com isso ganhou vários pontos com meu irmão.
— Vamos logo sentar, este sol está me matando – disse Belinda já se encaminhando para a arquibancada onde estavam Jessye e Rafael.
— Ela está super feliz em estar aqui – disse Nick em tom de deboche – nos vemos daqui a pouco.
— Bom jogo – desejei.
— Teremos.
— Você não falou que ficaria em casa, que o sol estava muito quente para vir? –perguntei antes de me sentar.
— Falei, mas Rafael bateu lá em casa. Encheu-me tanto o saco, que vim – disse fazendo uma careta.
— Me deixa apresentar meu irmão Rodrigo.
Rafael o cumprimentou com um aperto de mão, e Jessye o presenteou com um sorriso.
O jogo estava demorando em começar, então deixei meu irmão na companhia dos meus amigos e fui comprar pipoca e refrigerante. Belinda me pediu uma garrafa de água com gás e algo doce para comer.
Quando cheguei à fila, parecia que estava distribuindo bebida de graça. Suspirei e fiquei aguardando minha vez.
— Ora, ora, quem eu vejo aqui se não é o novo brinquedinho do Kadu.
Olhei para trás e vi Simone acompanhada de outra garota. Dei as costas e continuei olhando para a fila à minha frente.
— Não adianta fingir que não ouviu.
Respirei fundo e olhei para ela.
— Você pode repetir o que falou?
— Você acha realmente que serve para o Kadu?
— Estou começando a achar que o seu cérebro tem alguma deficiência, por que até onde eu sei, ele brinca com você.
Alguns olhares voltaram para nossa direção. Eu estava pouco me importando.
— Você pôs os olhos em cima dele assim que o viu na festa... Só que você não faz o tipo dele.
— Corrigindo, ele não faz o meu tipo.
— Olha aqui sua...
— Olha aqui você, escuta bem por que só vou falar uma vez. Você não me assusta, a Barbie não me assustar. Não fujo de uma briga. Se quiser, então cai para dentro... Eu já sou preta e meu cabelo não ajuda.
Joguei meu cabelo para o lado e fiquei aguardando o seu próximo passo. Simone paralisou, ajeitou seu cabelo que estava preso em um rabo de cavalo e falou olhando nos meus olhos.
— Isso não acabou aqui.
— Quando quiser continuar nossa conversa sabe onde me encontrar.
Ela virou as costas para mim e saiu andando apressada. Dei-me conta que eu estava comprando uma briga idiota por causa de um cara. Em algum momento eu encontraria Kadu e teria uma conversa séria.
Quando voltei para a arquibancada, o jogo já estava rolando.
— O que estava fazendo, fabricando as bebidas? – brincou Belinda.
— Parece que todo mundo resolveu comprar bebida ao mesmo tempo. E aí, como está o jogo? – perguntei enquanto sentava e entregava os pedidos à Belinda e Rodrigo.
— Nosso adversário está dificultando nosso ataque. Mas Nick está lutando para reverter isso – respondeu Belinda sem tirar os olhos do campo.
— Nick é muito bom, Nanda. Sozinho ele driblou quatro caras do outro time – meu irmão falou cheio de empolgação.
— Parece que Nick ganhou mais um fã – disse Jessye enquanto pegava uma porção da minha pipoca e enchia a boca.
— É, parece que sim – fiz o mesmo que ela.
Terminamos o primeiro tempo no zero à zero. Nosso time estava indo bem, apesar de que Diogo parecia estar disperso o tempo todo. Se tivesse ido dormir ao invés de ter ficado para me infernizar, estaria acordado.
Jessye e Belinda resolveram ir ao banheiro e me arrastaram junto. Deixamos Rafael fazendo companhia ao meu irmão até nossa volta.
— Meninas, estou pensando em chamar o Nick para fazer um programa de amigos hoje a noite, o que acham?
— Programa de amigos... Tá falando sério? – perguntou Jessye enquanto se olhava no espelho.
— Ué, não é o que somos?
— Belinda, quando você tenta se passar por burra não fica legal. Então vamos parar, ok?
— Ele não me vê com outros olhos, então eu não vejo como...
— Belinda, você consegue persuadir qualquer um, por que com o Nick seria diferente?
— concordo com a Jessye – falei entrando na conversa.
— Acontece que ele está interessado em outra pessoa.
— Lá vem você com essa história de novo. Se isso fosse verdade, ele já teria soltado alguma coisa. Podemos arquitetar um plano para que vocês fiquem sozinhos, e depois é com você – falei porque estava na cara que queria tentar alguma coisa com ele.
— E como pretendem fazer isso?
— Podemos marcar uma comemoração do jogo...
— Isso contando se ganharmos – concluiu Jessye.
— Claro. Vamos marcar, e quando estiver em cima da hora, cada um inventa alguma coisa. Eu já tenho a minha desculpa perfeita, minha mãe me mata se eu não jantar com ela hoje.
— Meninas, Nick vai sacar na hora que é armação. Uma de vocês precisa ficar.
— Jessye parece perfeita. Encontro de casais sem o Nick perceber que é um. Plano perfeito!
— Não sei... – começou Belinda.
— Vai dar certo – afirmei.
Belinda revirou os olhos.
— O que temos a perder? – perguntei.
Começamos a rir.
— Estou me sentindo uma colegial arquitetando para ficar com o gatinho da turma.
— Bem, já que tudo está resolvido, vamos voltar para os meninos.
Quando voltamos para as arquibancadas, nosso time estava comemorando o primeiro gol.
— O que perdemos? – Jessye gritou por cima do barulho que as pessoas estavam fazendo.
— Nick marcou um gol de cabeça! – meu irmão estava em êxtase.
Olhei para o campo e Nick estava comemorando com sua equipe. Olhou para onde estávamos sentados e fez uma reverência, apontando para Rodrigo que não parava de comemorar.
Ao final do segundo tempo, fizemos mais um gol e todo mundo foi à loucura. O gol foi marcado por Henrique, um dos atacantes do time. Rafael aproveitou para ir ao banheiro e comprar água.
— Parece que teremos um encontro – disse Jessye.
— Encontro? Que encontro? – perguntou meu irmão.
— Nada que seja do seu interesse garoto. Se liga no jogo – falei.
— O jogo já terminou. E desde quando você tem um encontro? Mamãe está sabendo disso?
— Rodrigo, desde quando eu tenho que falar dos meus encontros? Já sou bem grandinha, se você não percebeu. E eu não tenho um encontro, ok?
— Às vezes você me trata como uma criança. Acha que não entendo as coisas. Eu tenho 10 anos...
— É Nanda, seu irmão não é mais uma criança. Ele tem 10 anos – Belinda piscou para ele.
— Isso Belinda, continua dando bola para ele.
Vinte minutos depois, Rafael voltou carregando cinco garrafas de água e algumas barras de cereais.
— Caramba Rafael, onde você estava? – perguntou Jessye.
— Você viu a quantidade de gente que está aqui? Eu estava tentado ir ao banheiro, mas parece que todos tiveram a mesma ideia.
— Claro né, quem iria querer perder algum lance do jogo? Lembre-me de nunca mais vir a um jogo quando o tempo estiver assim. Dá-me aqui minha garrafa.
— Calma, ok? Comprei barras de cereais. Era a única coisa que não vai deixar ninguém passando mal depois por causa do sol.
— Não estou com fome, mas vou aceitar assim mesmo – disse meu irmão esticando a mão.
— Olha educação garoto. Agradeça, pelo menos – ralhei Rodrigo.
— Tudo bem Nanda, eu trouxe para todos.
Esperamos um pouco até ser possível sair e depois seguimos para o estacionamento. Mandei mensagem para Nick avisando onde estávamos. A resposta não veio de imediato.
— E aí, ele ainda não respondeu? – perguntou Belinda.
— Acho que ainda deve estar no vestiário.
— Então manda uma mensagem para ele nos encontrar no McDonald na Avenida Rio Branco. Estou morrendo de fome e não dá para esperar por ele – disse Belinda já destravando o carro – Vocês vão Jessye?
— Vou com Rafael.
Peguei meu celular e mandei um zap para Nick.
Eu: Encontre-nos no McDonald, Rio Branco. Não demore.
Entramos no carro de Belinda e saímos do estacionamento. Não ficamos muito tempo no trânsito. Graças a Deus era sábado e não tinha engarrafamento
Quando chegamos, escolhemos uma mesa grande onde desse para todo mundo. Fizemos logo os nossos pedidos, aproveitando que o lugar ainda estava vazio. Meu celular vibrou e peguei para ver quem era. Mensagem de Nick.
Nick: Estou saindo daqui agora. Pede um mega sanduíche pra mim. Estou morrendo de fome. Estou levando alguns amigos.
Amigos? Como assim? Tipo todo o time de futebol? Isso incluiria o Diogo?
Ah, inferno!
— Quem é Nanda? – perguntou Belinda.
— Nick. Avisou que está saindo de lá agora. Pediu-me para fazer o pedido dele tamanho gigante pra ele. E está trazendo os amigos.
— Como assim, trazendo os amigos?
— Não sei, ele só me falou isso.
— Ok, eu sei do que ele gosta de comer. Vai pedindo o seu. Eu cuido do dele.
— Por mim tudo bem.
Quando ele e seus amigos chegaram, todos nós já estávamos comendo.
— Por que não esperaram por nós? – ele perguntou.
— Porque estávamos morrendo de fome e vocês estavam demorando demais? – respondeu Jessye.
— A culpa foi do treinador. Ele queria nos dar parabéns pela vitória. Pessoal, esses aqui são Henrique, Beto e João. O Diogo vocês já conhecem, então não preciso apresentar.
— Olá – respondemos quase ao mesmo tempo.
— Cara, que jogo! Vocês simplesmente detonaram o outro time. Quando é o próximo jogo? – perguntou Rodrigo.
— Que bom que você gostou. Jogaremos acho que no próximo fim de semana.
— Legal. Podemos ir ver Nanda? – Rodrigo perguntou olhando pra mim agora.
— Não sei Rodrigo, se der e você não tiver alguma lição de casa para fazer...
— Faço tudo na sexta. Vamos?
Ele me olhou com aqueles olhos pidões que só ele consegue fazer quando quer muito alguma coisa.
— Eu não sei...
— Tudo bem Rodrigo, mas só se você se comportar – falei na esperança que ele desistisse.
— Prometo que irei me comportar. Pode ligar para a mamãe e perguntar.
Todos na mesa riram.
— Esse aí sabe o que quer – disse Henrique.
— Eu quase me esqueci de apresentar, esses aqui são Rafael, Jessye, Belinda, Nanda e seu irmão Rodrigo, que agora se tornou mais um fã do nosso time.
— Olá – eles nos cumprimentaram.
— Então você é Nanda?
— Desculpa, já nos conhecemos antes? – perguntei sem entender sua pergunta.
— Não, mas é como se nos conhecêssemos, o Nick tem falado muito de você.
— Tem? – perguntei direcionando meu olhar para Nick.
— Henrique está exagerando, estávamos falando sobre os novatos desse ano e eu citei seu nome uma ou duas vezes.
— Foi bem mais...
— Cala a boca Henrique e vê logo o que vai pedir.
— Não sei se já sabem, mas ela está cursando jornalismo... E está solteira.
Eu quase me engasguei com a coca-cola.
— Belinda!
— Ué, o que eu falei de errado? Nick acabou de falar que eles estavam conversando sobre os novatos. Só estou poupando o trabalho dele. Para que perder tempo perguntando se você está namorando quando sua amiga aqui já respondeu.
Eu não sabia onde enfiar minha cara.
— Bem, eu não iria fazer essa pergunta... Não agora, mas obrigado pela informação.
— Fica longe – disse Nick rindo para o grupo todo.
— Oi, só lembrando que o objeto em questão está presente. Não fiquem conversando como se eu não estivesse aqui.
— Estou te poupando de dar um fora nele – Nick riu e os outros garotos lhe acompanharam.
— Você tem um assessor de imprensa Nanda – disse Jessye – e de quebra ainda pode usá-lo como guarda-costas.
Tive que rir com a minha amiga.
— Na verdade, minha irmã está namorando.
Dessa vez todos olharam pra mim. Até mesmo Belinda e Jessye.
— Eu não estou namorando. De onde tirou essa isso?
— Você disse que tinha um encontro hoje à noite.
Jessye e Belinda começaram uma crise de tosse.
— Encontro? Com quem? – perguntou Nick.
Nick havia parado de desembrulhar seu sanduíche e estava me encarando com aquela cara "porque você não me falou nada?"
Eu iria matar Rodrigo assim que tivesse a oportunidade. Como ele foi capaz de me colocar nessa fria?
Olhei para as meninas pedindo socorro, mas elas pareciam tão em choque como eu.
Valeu meninas!
— Rodrigo entendeu errado. Eu não estou namorando, e muito menos tenho um encontro.
— Mas você falou a palavra encontro.
— Sim, falei. Na verdade estávamos falando de um filme muito bom do Tom Cruise Encontro explosivo, que vai passar na TV e você entendeu que eu teria um encontro.
— Eu ouvi muito bem...
— Que tal mais uma rodada de coca-cola? – perguntou Belinda erguendo o copo.
— Eu topo – falei.
— Vem Rodrigo, me ajuda a pegar para todo mundo.
Belinda pegou meu irmão pelo braço e saiu guiando ele.
— Meu irmão às vezes tem uma imaginação que me surpreende – falei tentando não dar muita importância ao assunto.
— Dizem que crianças não mentem.
Diogo lançou a frase no ar, deixando Nick ainda mais desconfiado. Eu queria enfiar a minha lata de refrigerante em sua garganta
— Você tem razão, ensinei ao meu irmão que mentira é para quem não tem caráter. E eu não falei que estava mentindo.
— Eu não sei por que tanto auê por causa de um suposto encontro. Como Belinda falou, ela está solteira, pode sair com quem quiser e para onde quiser. Por acaso ela virou sua propriedade Nick? – Jessye perguntou rindo, mas senti uma leve alfinetada.
— Eu só quero que conheça os caras antes de sair aceitando um encontro.
— Gente, pelo amor de Deus, eu não estou e não pretendo sair com ninguém. Agora podemos mudar de assunto?
— Vamos fazer nossos pedidos, estou com uma fome de um leão – disse João.
— E então Nick, a comemoração está de pé? – perguntou Belinda voltando trazendo copos de coca-cola com a ajuda de Rodrigo.
— Nada demais, os meninos vão começar a fazer seus pedidos – falei.
— A comemoração ainda está de pé Nick? – perguntou Belinda.
— Que comemoração?
— Não foi você mesmo que propôs uma comemoração caso o nosso time vencesse?
— Claro, só resta saber se todos irão.
Olhei para as meninas e trocamos olhares.
— Eu queria muito poder ir, mas minha mãe ficou chateada por não almoçar com ela, e se eu não passar a noite conversando com ela, vai surtar.
— Ela está falando a verdade Rodrigo? – Diogo não perdia a oportunidade de ficar calado.
Qualquer dia desses se ele aparecer com o olho roxo, pode ter certeza que foi eu. Por que ele se sente feliz em me ver em saias justas?
— Mamãe nos quer para o jantar. Fim de semana lá em casa, na maioria das vezes é assim. Ela fez o bolo preferido da Nanda, e com certeza fez o prato preferido dela também – disse meu irmão enquanto enchia a boca de batata.
— E do que sua irmã gosta? – Nick perguntou.
— Ué, comida normal.
Todos riram.
— E o que seria comida a comida normal da Nanda? – perguntou Henrique.
— Nanda adora macarronada, creme de galinha, costela, purê e feijão e arroz, é claro...
— Nossa, menina você come, hein? – Rafael Brincou.
— Minha mãe iria adorar te chamar para almoçar lá em casa. Ela cozinha nos finais de semana, mas nós quase não comemos em casa. Vou te levar para almoçar qualquer dia desses – disse Nick.
— Posso ir também?
— Rodrigo, não seja mal educado. Não se convide para a casa dos outros...
— Vai ser um prazer receber vocês na minha modesta casa.
— Modesta casa? Não foi isso que a Nanda falou.
— Ela falou bem da minha casa? – Nick levantou as sobrancelhas em minha direção.
— Rodrigo, pelo amor de Deus, mantenha essa boca fechada, enquanto come.
Se eu deixasse, ele contaria em detalhes o que eu falei da casa dele.
— Relaxa Nanda, deixa seu irmão falar. Fala aê amigão, o que sua irmã falou da minha casa?
— Ela falou que parece um palácio, de tão grande que é. Uma escada com corrimão de ouro...
Eu joguei as mãos no meu rosto, por que não tinha onde me esconder.
— Corrimão de ouro?
Nick começou a rir, me deixando mais sem graça ainda.
— De onde você tirou que eles são de ouro, Nanda?
— Com o dinheiro que vocês tem, com certeza dá para colocar ouro na casa toda.
— Nanda, você é muito engraçada. Muito mesmo. Minha irmã vivia falando escorregando pelo corrimão.
— Eduarda? – perguntei.
— Você sabe sobre a Eduarda? – perguntou Belinda.
— Sei. Nick me falou...
— O que mais Nick andou lhe contando que não sabemos?
Nick e eu ficamos nos encarando por alguns segundos até ele responder a pergunta.
— Ela só sabe o que todo mundo sabe Belinda. Não entendo o porquê do espanto?
Antes que pudesse falar qualquer coisa, ela se levantou da mesa.
— Com licença, preciso ir embora. Está ficando tarde.
— Não vai terminar o seu refrigerante? – perguntei.
— Perdi a sede.
Belinda saiu para o estacionamento e Nick foi atrás.
— Calma meninos, eles vivem assim, brigando e fazendo as pazes. Amanhã nem lembrarão mais o motivo da briga – disse Jessye.
— Rodrigo, fica aqui, eu vou lá evitar que eles se matem.
— Não precisa Nanda. Eles são dois adultos.
— Eu sei Jessye, mas vou lá assim mesmo. Volto logo.
Saí e segui para o estacionamento.
*****
Antes mesmo de me aproximar do carro de Belinda, ouvi a voz alterada de Belinda.
— É disso que você gosta, não é Nick?
— Belinda, pelo amor de Deus, já conversamos sobre isso. Achei que tinha ficado bem claro...
— E ficou. Deixei de fazer parte da reserva da sua estante.
— Belinda... Eu te expliquei como estava me sentido...
— Você me deu a entender que poderia haver uma chance da gente voltar a ficar juntos.
— Belinda, eu realmente sinto muito...
— Sente muito? Você compartilhou mais coisas com ela em uma semana, do que comigo nesse tempo todo que nos conhecemos.
Eu não queria ouvir a conversa, mas o volume estava tão alto, que até algumas pessoas pararam para ver a discussão dos dois.
— Ela sabe da Eduarda. Sabe quanto tempo você demorou a me falar?
— Você já sabia quando te contei.
— Eu queria que você confiasse em mim para se abrir...
— Pelo amor de Deus, vamos parar com essa briga. As pessoas já começaram a acompanhar a cena.
— Eu estou pouco me lixando se estão me olhando ou não. Eu só queria que você parasse um momento e pensasse em mim Nick... No que estou passando.
— E você não acha que não estou pensando? Que não fico mal por está te magoando?
— E você acha que o que está sentindo agora é verdadeiro? Você vai acabar magoando ela também.
— Você está tentando me persuadir a mudar de ideia. Eu não conhecia esse seu lado – ele parecia magoado.
— Persuadir, você pelo menos sabe o significado dessa palavra? Eu só não quero ter que juntar os pedaços do seu coração dela quando você cansar do jogo.
Então ela conhecia a tal garota?
Essa menina realmente estava mudando a cabeça de Nick. Era por isso todo o ataque de Belinda. Ele realmente tinha encontrado a garota certa, e não era ela.
— Quantas vezes vou ter que falar que estou decidido dessa vez? Eu vou lutar pelo amor dela.
— Então não conte com minha ajuda Nick.
— Nunca pensei que contaria – ele parecia bem zangado.
Belinda me viu quando se virou para destravar o carro.
— Nanda, há quanto tempo está aí?
— Belinda, você já fez cena demais... – começou Nick.
— De todas as coisas de que me arrependi, ter ficado com você está no topo.
Belinda entrou no carro, deu partida e saiu do estacionamento cantando pneu.
— Acho que agora ela não vai querer me ver nunca mais – ele esboçou um sorriso.
— Vamos voltar para dentro.
*****
— Onde vocês estavam? E onde está Belinda? – perguntou Jessye assim que chegamos à mesa.
— Ela foi embora – falei.
— Já vi que a briga foi pior do que eu pensava.
— Pode ter certeza que dessa vez, ela está muito zangada – disse Nick.
— Vou ligar pra ela quando chegar em casa. Ligar agora não adianta, ela vai estar de cabeça quente e não vai me ouvir.
— Rodrigo, termina seu lanche e vamos pra casa. Há essa hora pegaremos ônibus vazio.
— Por que vocês vão de ônibus? – perguntou Nick.
— Minha carona foi embora.
— Não tem problemas, eu deixo vocês em casa.
— Nick, você está com seus amigos, eles vieram com você. Não tem espaço para mais duas pessoas.
— Se esse for o problema, eu vou deixar Jessye em casa, posso levar vocês – Rafael se ofereceu.
— Obrigada... – agradeci.
Quando terminamos nossos lanches, seguimos para o estacionamento. Despedi-me de Nick e seus amigos e entrei no carro de Rafael com meu irmão e Jessye.
Chegando na entrada do morro, agradeci novamente pela carona, peguei meu irmão e subimos a pé para casa.