SEE YOU AGAIN「 Changki 」

By pinkihyunnie

19.4K 2.5K 3.4K

Yoo Kihyun é cegamente apaixonado por seu melhor amigo, Lee Minhyuk, há quase cinco anos, e acredita, fielmen... More

Um: Em um ponto de partida, iniciava-se uma história recém-chegada
Dois: Tintas neon não conseguem esconder um coração partido
Três: Ad vitam aeternam, a eternidade prometida que nunca existiu
Quatro: Não há fumo sem fogo
Cinco: Você não consegue se esconder atrás de poesias
Seis: A luz e a sombra
Sete: Corações partidos, vidros quebrados e um segredo escapado
Oito: Chaves e fechaduras
Nove: Verão e outono
Dez: Chamas ardentes
Onze: Escute meus gritos silenciosos e sinta a dor que sinto
Doze: O primeiro quase beijo de Kihyun
Treze: Iniciativa
Catorze: Marcas que se completam
Quinze: O que seremos de nós sem almas gêmeas?
Dezesseis: Assombrações
Dezessete: O céu estrelado inveja o brilho dos seus olhos

Prólogo: Aqueles que morrem de flores são tão infelizes quanto almas solitárias

2.9K 238 324
By pinkihyunnie

Kihyun desenhava, com as pontas dos dedos de sua mão direita, carinhosa e docemente, pela testa de Minhyuk, o qual estava deitado, de olhos fechados, entre seus braços, de forma encolhida, como se criança fosse. A cama, sutilmente bagunçada, com o lençol desdobrando-se para o lado e o travesseiro quase que escalando a cabeceira de madeira, abrigava os dois corpos esguios de Kihyun e Minhyuk; a cortina, esbranquiçada, flutuava acima de suas cabeças graças ao sopro gélido que assobiava do lado de fora, vez ou outra arrancando folhas pálidas dos galhos, acabando, dessa forma, por trazê-las para dentro do quarto de Minhyuk.

Era outono.

Kihyun amava o outono como amava Minhyuk. Amava, se não mais. Bastava Minhyuk sorrir que, como se fosse tocado pelo Lee, seu corpo se derretia. Kihyun deu um suspiro longo, queria tê-lo em seus braços para sempre. O Yoo, por outro lado, sabia que isso seria impossível. Minhyuk era como o outono; sempre trajava cores neutras e em tons pastéis, e, o fato de seus óculos de aros dourados o darem o aroma de leitor de romances e escritor nas horas vagas, deixavam Kihyun ainda mais tolo porque adorava olhar para o melhor amigo. E ele o olhava silenciosamente há quase dez anos, degustando, sozinho, do amor que ele incrementara ao longo dos meses desde que completaram treze anos.

Minhyuk deu um sorriso de canto ao que ergueu, lenta e gradualmente, seu rosto, para que pudesse pegar Kihyun de surpresa, cujo encarava a tela em branco, apoiada no tripé, cercada de pequenos potes de tinta e uma paleta no pé da cama. O Lee amava a arte, e Kihyun sabia disso. Por isso, sempre que havia uma exposição na cidade, o de fios escuros convidava Minhyuk para ir com ele. A arte de Minhyuk era bela, não tanto quanto seus orbes quando finalmente sabia quais cores pintar suas flores, porém, bela. Kihyun considerava-se um mero espectador na vida do platinado, sempre o elogiava por trás dos panos avermelhados do teatro que estava sendo fingir que não sentia seu coração bater mais rápido sempre que estavam juntos. Quando as mãos de Kihyun suavam e seus lábios se contorciam de forma inquieta, ele sabia que se Minhyuk tocasse seu ombro e indagasse qual era o problema, ele infartaria ali mesmo. O principal problema de Kihyun é que era extremamente transparente, como a água do oceano mais límpido no dia mais ensolarado. E, por não saber esconder o que sentia, o Yoo, de vez em quando, tropeçava nas próprias palavras e procurava desconversar se passava tempo demais observando Minhyuk. No entanto, uma das coisas que Kihyun não conseguia fazer, além de ser um fracasso em quase todas elas, era não olhar para Minhyuk quando ele preenchia a tela branca com suas bagunças, cujas tornavam-se claras ao que as cores pegajosas das tintas coloridas abrigavam o rascunho traçado por este. Enquanto Kihyun apenas não fracassava ao escrever suas poesias românticas, Minhyuk não falhava em ser o centro das atenções. Seus dedos, longos e finos, delicados e hábeis, inundavam as pinturas com suas cores e encantavam aqueles que apreciavam os traços do Lee.

— Já sei o que vou desenhar — disse o platinado, com um sorriso radiante ao se sentar na cama. Apoiou as mãos, uma de cada lado de seu corpo, e inclinou as costas um pouco para trás, de forma que olhasse para o teto, como se fosse sua tela e ali ele fosse deleitar todas as suas lamúrias e perdições.

— O que? — indagou Kihyun, curioso, ao escorar suas costas na cabeceira da cama, tendo, em primeira mão, a imagem de um Minhyuk pulando do colchão e saltitando até o centro do quarto, cujo, diga-se de passagem, somavam duas casas de Kihyun, onde estava a tela. A verdade é que Minhyuk cresceu em uma família extremamente rica e, com isso, vieram enormes responsabilidades. A todo momento, o Lee devia agradar e fazer como bem entendessem, ao bel-prazer dos pais. Pela manhã, ia para a escola com Kihyun, à tarde, tinha aulas no cursinho e, pela noite, quando tinha paz, pintava. O de fios escuros tinha certa inveja do melhor amigo, tudo sabia, tudo conhecia. Era fato e Kihyun sabia que o mero esforço não podia superar aqueles que já nasciam com o dom.

— Uma baleia jubarte — respondeu-o. O brilho que emanava de seus olhos castanho-escuros trouxe alegria para Kihyun, cujo, cautelosamente, acompanhava os movimentos de um Minhyuk enérgico.

Kihyun queria poder não acreditar em seus sentimentos, talvez, deveras, doesse menos, contudo, ele não parava de pensar que Minhyuk era, de fato, sua alma gêmea. E, bem, almas gêmeas passam o resto de seus anos juntos, porque foram feitas uma para a outra. Assim Kihyun pensava. Os dois se comunicavam com apenas olhares, vez ou outra se desentendiam, porém, acima de tudo, se amavam. Eram melhores amigos, afinal de contas. Apesar de nunca ter conseguido reunir coragem o suficiente para falar sobre o assunto com Minhyuk, o Yoo sabia que poderia ter algo a mais entre eles. Esperar nunca foi o forte de Kihyun, mas, pelo sorriso brilhante do platinado, Kihyun poderia continuar atuando as cenas mais baratas que tinha em seu arsenal, fazendo de conta que não sentia nada pelo melhor amigo.

Yoo Kihyun cresceu sendo ensinado quatro coisas: a primeira, você está destinado à alguém, seja romanticamente ou não; a segunda, todos nascem com uma marca, da mesma forma que sua alma gêmea, afinal, é assim que se encontram, na maioria das vezes — quando as marcas queimam; a terceira, é possível nascer sem ter uma alma gêmea, e, nesse caso, não se tem uma marca — o que não era o caso do Yoo, já que ele tinha uma em sua costela direita; e, a quarta, e a mais amedrontadora aos olhos de Kihyun, é possível que seu amor seja não correspondido, por isso, há aqueles que sufocam-se em suas próprias flores e falecem. Kihyun sempre teve medo da quarta hipótese, por isso, procurou sempre evitar tocar no assunto de Minhyuk; tinha medo da rejeição e morrer de flores, da mesma forma que seu avô se foi.

Kihyun levantou-se da cama de Minhyuk e caminhou, despreocupada e lentamente, até o baú de couro que ficava na frente da cama; ali, sentou-se e permitiu-se apreciar Minhyuk por longas horas enquanto ele esboçava seu rascunho.

— Minhyuk — Kihyun, finalmente, chamou-o. Umedeceu os lábios. Sentia-se um tolo — você já pensou como seria morrer de flores?

O Lee, por um instante, parou de tracejar e, após suspirar, deixou o lápis atrás de sua orelha, de forma a girar o corpo, de braços cruzados, e encarar o melhor amigo. Com o queixo entre o indicador e o polegar de sua destra, Minhyuk ponderou, verdadeiramente, sobre a situação hipotética que seria não ter seu amor correspondido por aquele que o destino impôs a ser sua alma gêmea, vomitar flores e sangue, perder a respiração até que perdesse a vida.

— Deve ser triste. E doloroso.

Kihyun fez um movimento positivo com a cabeça, tornando a olhar para o chão de mármore. Com os as pontas dos dedos arranhando as coxas, Kihyun contorceu os lábios em angústia, as sobrancelhas levemente crispadas.

— Estava lembrando de seu avô? — Minhyuk perguntou, com o cenho levemente caído, ao se aproximar de Kihyun — não pense nisso, hm? — de maneira carinhosa, Minhyuk, com a canhota, ergueu o rosto de Kihyun, o fazendo olhá-lo, e sorriu docemente — você não vai morrer de flores. Você é Yoo Kihyun, e eu tenho certeza que alguém ama você. Quero dizer — Minhyuk, timidamente, limpou a garganta ao afastar a franja platinada de seus orbes — não tem como não amar você.

Yoo Kihyun foi ao céu e voltou. Indubitavelmente, aquela cena à sua frente era, de fato, a oitava maravilha do mundo; Minhyuk, quando sentia-se envergonhado, além de envergar os lábios e levemente acanalhar seu rosto, enrolava os dedos em seus fios, de maneira a evitar contato visual com quem quer que estivesse conversando.

Kihyun, por sua vez, não tinha tanta certeza disso — de que alguém o amava e ele não morreria de flores. Apesar de ter uma marca enclausurada em sua pele, na costela direita, fugia dos costumes o fato de o Yoo acreditar que Minhyuk lhe era sua cara-metade e, nem uma vez sequer, houvesse sentido a marca queimar. Talvez fosse uma fuga às regras, Kihyun orgulhar-se-ia disso.

— Pelo o que eu me lembro, você havia dito que ia ser melhor que eu, Minhyuk — e lá estava quem Kihyun tinha certo medo. Para ser franco, o Yoo não sabia corretamente o que sentia ao ver o irmão de Minhyuk, Changkyun, nos largos e vagos corredores da mansão dos Lee, o que acontecia poucas vezes durante o dia, uma vez que passava a maior parte do tempo dentro do quarto do melhor amigo, fosse jogando conversa fora, vendo-o pincelar, fosse estudando e resolvendo exercícios de matérias que Kihyun pouco sabia e precisava da ajuda de Minhyuk para entender o que diabos estava escrito — mas, se continuar pintando o dia todo, você vai ser deixado para trás — Changkyun cruzou os braços ao escorar-se no batente amadeirado da porta, cujo o irmão havia aberto, sem cerimônias, e suspirou — você de novo — referiu-se a Kihyun.

Assim que Kihyun entreabriu os lábios para retrucar o Lee mais velho, Minhyuk revirou os orbes e respirou profundamente ao deixar o pincel em cima da paleta, no chão. Minhyuk e Changkyun não eram irmãos que não davam certo juntos, mas isso não queria dizer que eles eram engrenagens do mesmo relógio. Enquanto Minhyuk sempre fora mais extrovertido, aberto e colorido, Changkyun, talvez por ter tido criação direta do pai, era pouco falante, contudo, isso não o dava o ar de antissocial ou de desdém; acreditava que Changkyun era tímido — menos quando se tratava de irritar o irmão mais novo. Kihyun gostava de colocar os dois na mesma paleta de cores: Minhyuk, ainda que relembrasse o Yoo do outono, era amarelo como o sol, já Changkyun, um tom mais escuro, quiçá cinza ou marrom. Extremos opostos.

— Eu venho aqui desde pequeno e você até hoje não se acostumou? — brincou Kihyun, sendo possível ouvir a risada abafada de Minhyuk. Changkyun escabujou os lábios em um sorriso acanhado, porém, logo o fez desaparecer, pigarreando.

— Você só fica no quarto, às vezes desce para a cozinha e, quando te vejo, penso que é um fantasma — Changkyun disse — o que Minhyuk tem de tão especial? — farpou, de forma a fazer com que Kihyun inflasse as bochechas, caminhando até a porta, em passos duros e irritadiços. Changkyun, diante da cena, riu, mas, assim que Kihyun o virou de costas e o empurrou para fora, a indignação preencheu seu rosto, e o Yoo fechou a porta ao vê-lo do outro lado do corredor, apoiando as mãos na mesinha de vidro, de frente para o quadro que Minhyuk pintara ano passado. Changkyun chiou, porém, logo respirou fundo, pôs as mãos nos bolsos e girou os calcanhares, caminhando para seu quarto de forma preguiçosa. Estava entediado, irritar Minhyuk após terminar de estudar era seu passatempo, que, infelizmente, estava sendo tomado por Kihyun.

Changkyun não desgostava de Kihyun, muito pelo contrário, tinha sentimentos, ainda não desvendados, pelo Yoo. Changkyun, no entanto, não sabia se durante as vezes que via o de fios escuros pelos corredores ou na cozinha, enchendo as mãos com lanches não saudáveis, sentia-se diferente porque achava-o bonito, ficava curioso como alguém podia ser tão esperançoso, ou se realmente alimentou um sentimento unilateral desde que o conheceu e recusava-se a desbravar os pensamentos que trancou em um cofre à sete chaves. Kihyun sempre foi mais atrelado ao irmão mais novo, e Changkyun, de certa forma, invejava-o. Não sabia o motivo de sentimento tão egoísta, todavia, não o incomodava pela intensidade ser insanamente pouca. Havia noites em que Changkyun perdia o sono, levantava-se da cama e erguia o tecido da blusa do pijama até que pudesse ver a marca em sua costela esquerda, perdia-se em devaneios de que jamais encontraria sua alma gêmea — se é que sua outra metade o quereria da mesma forma que ele.

— Seu irmão pode ser mais velho, mas ele continua sendo um babaca — Kihyun murmurou ao sentar-se, novamente, na cama. Minhyuk deu-lhe uma risada ao abaixar-se para pegar a paleta e segurá-la, pensativo.

— Não fale como se Changkyun fosse tão velho quanto meus pais. Ele é só dois anos mais velho que nós — Kihyun bufou, para ele, não importava. O Yoo não queria que nem mesmo a alma mais audaciosa tocasse em um fio de cabelo de Minhyuk, queria vê-lo somente sorrindo. E Kihyun sabia que o melhor amigo se sentia da mesma forma em relação a ele.

— Nunca entendi porque ele passa pelo corredor duas vezes antes de vir aqui — Kihyun disse, impaciente — parece que o hobby dele é te irritar — Minhyuk, diante disso, deu uma risadinha — o que? Por que riu? — a toada de risadas aumentou, contagiando Kihyun, que deixou escapar uma risada alta — Changkyun é estranho, para falar a verdade.

— O trabalho de todos os irmãos mais velhos do mundo é irritar o mais novo. É a lei natural de como o mundo gira, Kihyun — Minhyuk deixou a paleta de lado para abrir o pote de tinta vermelho e, em seguida, o azul, para misturá-los em sua paleta com o pincel de cílios grossos — e só porque Changkyun é considerado um gênio aonde quer que ele vá, não isenta ele desse trabalho — brincou.

Kihyun inclinou, curioso, o rosto para a direita, coçando a nuca.

— Changkyun é considerado um gênio desde quando? — quem houvesse acabado de ouvir tais palavras, diria que Kihyun tratou-o com desestima, sendo que, na realidade, o Yoo estava meramente intrigado. Nunca vira Changkyun com esses olhos. Para ele, Changkyun vivia como um ábdito eremita, em uma cabana longe da vila. Ouvir aquilo de Minhyuk, justo o irmão mais novo, cujo, vez ou outra sentia-se como a sombra de Changkyun, parecia tornar o Lee mais velho uma pessoa inalcançável, tão distante quando a lonjura da constelação de Andrômeda até a Coroa Boreal.

— Desde que éramos pequenos. Ou você não se lembra de quando eu e você íamos para o parque e meu pai fazia Changkyun ficar em casa e estudar? — Minhyuk desistiu de pintar ao perceber que as cores não ficaram do seu agrado. Respirou fundo e pôs as mãos na cintura, mentalizando outra forma de pintar sua tão amada baleia — eu percebia que ele era diferente, de alguma forma, desde que começamos a conviver, mesmo que não tanto assim. Jurei que seria melhor que ele em tudo, mas pintar é minha paixão, e, de algum modo, isso me impediu de voar mais alto que ele.

— O que quer dizer com isso?

— Meu pai costumava dizer que aqueles que tem alguma paixão acabam se desvencilhando do verdadeiro potencial — Minhyuk umedeceu os lábios, engolindo em seco — ele moldou Changkyun à imagem dele, você pode ver que os dois não conversam tanto e dão um ar... meio...

— De que podem fazer qualquer coisa? — Kihyun murmurou. O Lee assentiu, afirmativamente, com certo pesar em seus orbes. Kihyun sabia que o melhor amigo se sentia pressionado por estar naquela família, mas Changkyun certamente sentia-se dez vezes pior, por ser o mais velho e esperarem mais dele do que o mais novo — isso é ridículo — o de fios escuros disse, após um minuto inteiro se passar — você pode ser quem você quiser e fazer o que você quiser, Min. E você está voando mais alto que seu irmão.

Minhyuk franziu o cenho.

— Quero dizer, você sabe pintar. Pintar é um reflexo da alma. Sem contar que você pode ir para a melhor faculdade de artes de Seoul, afinal, é seu sonho, não? — e seu sonho é o meu, completou o Yoo, mentalmente.

Nada mais disse o Lee mais novo. Apenas deu-lhe um sorriso que acabou por cobrir os orbes com os fios platinados, bagunçados.

No que decorreu o resto da tarde até o anoitecer, Kihyun e Minhyuk decidiram, além de ver um filme antigo, estudar para a semana de provas que se aproximava sorrateiramente. Aquela semana era temida pelo Yoo, uma vez que ele não gostava de passar horas e horas resolvendo exercícios e lendo livros que, no fim, não eram tão interessantes quanto ouvir as histórias de Minhyuk ou escrever suas poesias. Por ele, aqueles longos e exaustivos dias jamais existiriam. Preferia, mil vezes, passá-los embaixo da sombra do pinheiro em seu quintal, deitado em uma toalha quadriculada avermelhada, com seu caderno de poemas em mãos e uma caneta jogada para o lado oposto; mesmo que estivesse cansado de pensar em rimas para suas estrofes, estava em paz e com um sorriso sincero nos lábios carnudos por estar sob a sombra fresca que lhe era proporcionada.

Logo que as pequenas estrelas, não tão brilhantes dadas as inúmeras luzes de Seoul, tocaram o céu, indicando que já passava das oito da noite, Kihyun decidiu que devia voltar para casa. Minhyuk havia adormecido em cima dos cadernos e, Kihyun, como um bobo, cobriu-o com o edredom que estava guardado no armário, para que não pegasse um resfriado. Obviamente, aproveitou daquela visão, Minhyuk inteiramente vulnerável, os lábios entreabertos, e parecia ter o melhor sonho do mundo, dormia, deveras, como uma criança que tivera um dia fantástico e agitado no parque de diversões. Kihyun escrevera, em um pequeno bilhete, que estava grato pela ajuda do melhor amigo e que tivera de ir antes que ficasse muito tarde.

Com cuidado para não acordar o Lee, Kihyun arrastou a cadeira para trás após guardar seus cadernos e livros na mochila e suspirou ao olhar para o desenho incompleto de Minhyuk, com cores avulsas e rabiscos incompreensíveis. Se bem que era assim a mente dele. Cheia de ideias, todas se misturavam, e a obra que saía era impecável. Kihyun se perguntava como o platinado conseguia ser tão incrível, enquanto que ele não passava de um romancista barato com notas pouco acima da média. Ele queria ser tão incrível quanto Minhyuk.

Andando, silenciosamente, pelos corredores, Kihyun observava os quadros emoldurados com as pinturas de Minhyuk, decorando a mansão. A luz branca, baixa, o impedia de ver com clareza, por isso, caminhava com cautela. Ao descer as escadas, Kihyun teve de segurar no corrimão dourado e, dado o tempo, frio, quase congelante, porque era outono e, durante o ocaso, parecia ser mais gélido, gerou um choque no de fios escuros. Quase tropeçou de susto, ao, sem querer, fazer barulho. Hangil, o dono da fortaleza Lee, com certeza o olharia com o mesmo ar de reprovação, o que não era atípico, já que o senhor Lee sempre o olhara assim, desde que eram mais novos. Kihyun sentia-se tão deslocado ali. Já estava na hora de desenterrar seu verdadeiro potencial, não somente com a escrita, mas também na escola. Nem que tivesse de escavar com suas próprias mãos, pequenas e frágeis. O sonho de Minhyuk era entrar na faculdade de artes mais famosa de Seoul, e Kihyun não desejava ficar para trás.

Sua atenção moveu-se para outro ponto no momento em que ouviu o piano de cauda ser dedilhado, na sala de estar, com melancolia e, ao mesmo tempo, leveza. Despreocupação era a definição correta. Já no último degrau, Kihyun congelou e sua mochila quase foi de encontro ao chão, parando, com um baque, em seu antebraço. Changkyun era quem tocava o instrumento. Aquilo era tão não-Changkyun. Os orbes acastanhados de Kihyun, que antes estavam assustados diante da situação, repontaram-se em surpresa.

— Vai ficar encarando por muito tempo? — Changkyun indagou com um sorriso debochado nos lábios. Havia sido empurrado horas atrás, o mínimo era falar com Kihyun nesse tom. Maldito seja Kihyun, pensou — não acha que está muito tarde? — o Lee mais velho questionou quando sua primeira pergunta, apesar de retórica, não fora respondida.

Com o pigarreio de Kihyun, Changkyun cessou os movimentos por entre as teclas monocromáticas do piano de cauda.

— Por isso já estou de saída — Kihyun respondeu-o, reverenciou-se e caminhou até o hall de entrada, sendo parado pelo barulho do banco do piano se arrastando no mármore. Pelo reflexo do vidro retangular da porta de entrada, Kihyun sabia que Changkyun estava de pé, com as mãos cerradas dentro dos bolsos da calça do pijama. A feição dele não era tão agradável.

— O último ônibus saiu há uma hora, Kihyun — Changkyun disse, de forma com que Kihyun se xingasse mentalmente. Definitivamente, devia controlar o tempo que passava com Minhyuk. Perdia, facilmente, a noção dele.

Kihyun pensou em chamar um táxi, porém, não tinha dinheiro o suficiente para cobrir a distância que era da mansão dos Lee até sua casa, e, muito menos pediria à sua mãe que o ajudasse a inteirar o valor, estava trabalhando meio-período em uma cafeteria próximo à escola e ganhava o suficiente para usar o dinheiro quando necessário. O Yoo, por outro lado, havia deixado que o tempo ficasse ao seu favor e contou com a sorte para que o último ônibus da estação não tivesse partido. Esperanço demais, conforme o Lee mais velho o julgava ser. Changkyun aproximou-se, arrastando as pantufas pelo chão, pegou a chave do carro, situada dentro de um pequeno pote, acima da mesinha logo na entrada da casa, ao lado de um vaso de flores.

Changkyun, por sua vez, não disse nada para Kihyun, somente abriu a porta e saiu, tendo Kihyun o seguindo como uma criança perdida. O Yoo não tinha certeza se deveria acompanhar os passos de Changkyun ou não, contudo, como não foi repreendido por este, continuou a fazê-lo até que chegassem na garagem. Changkyun abriu o portão e destravou o carro, de forma a entrar no veículo e Kihyun, mesmo que atônito e imerso em dúvidas, fez o mesmo. Como ainda não havia recebido um sermão do Lee mais velho, afivelou o cinto de segurança e evitou olhá-lo nos olhos. Depois da conversa que tivera com Minhyuk, Changkyun, além de parecer inalcançável, agora parecia, também, intocável com seu carro de luxo e feição despreocupada ao dedilhar as teclas do piano e, delas, soar a música mais difícil de Beethoven. Difícil, porém, bela. Kihyun sabia que a beleza das notas de Beethoven tocadas por Changkyun não eram nada equiparadas às pinturas de Minhyuk, todavia, ele devia admitir que o Lee mais velho também era talentoso. Um talento que Kihyun não podia compensar com mero esforço e noites mal dormidas.

Kihyun não teve coragem para conversar com Changkyun durante o caminho, mesmo assim, o guiou, timidamente, até sua casa. O que o Yoo estranhou durante a rota que faziam era que Changkyun parecia estar familiarizado com as direções que dava, transmitindo despreocupação, e, algumas vezes, parecia sequer estar ouvindo o mais novo, dirigindo por onde achava mais conveniente. Kihyun e Minhyuk raramente se encontravam na casa do primeiro mencionado, poucas foram as vezes que Changkyun ou um dos motoristas da família deixara Minhyuk na casa do melhor amigo, uma vez que a casa é bem menor e seus pais, na maioria das vezes, estão discutindo. Um cenário que Kihyun não conseguia imaginar, desentender-se inúmeras vezes com sua alma gêmea até alcançar o ponto de sequer conseguir olhá-la, como seus pais vinham fazendo, há quase um mês. Sentia falta de seu avô. Ele ajudava a preencher os dias tristes de Kihyun.

— Obrigado pela carona — disse Kihyun, assim que o carro encostou na calçada e Changkyun desligou-o. Changkyun não o respondeu, apenas suspirou quando Kihyun pegou a mochila do colo e, com a mão livre, abriu a porta metálica. No momento em que o Yoo pôs as alças da mochila sobre os ombros, prestes a fechar a porta novamente, Changkyun disse:

— Não é de graça — Kihyun teve de arquear as costas e inclinou-se para baixo, apoiando-se no carro, com o cenho crispado.

— Eu não tenho dinheiro o suficiente.

Ele riu. Kihyun piscou algumas vezes.

— Só quero que isso não se repita — ligou a chave na ignição e sorriu, falsamente — te trouxe até em casa porque sei que Minhyuk me irritaria até o inferno se eu não o fizesse. Se bem que — Changkyun fez uma pausa e seu sorriso tornou-se malicioso — aposto que você adoraria dormir lá em casa. Minhyuk pode ser sonso, mas eu não. Não tem como não perceber o que está acontecendo ali.

Kihyun sentiu as bochechas arderem. A noite havia se tornado quente, de uma hora para a outra, e, ter aquela conversa, estupidamente ridícula, aos olhos do Yoo, com Changkyun, fazia parecer que nadava em sopa quente. Nada respondeu-lhe, Kihyun tratou de entrar logo, sem olhar para trás, pois sabia que, caso o fizesse, Changkyun o olharia uma última vez, com o maldito sorriso vitorioso quando deixava alguém sem palavras.

Isso não vai se repetir, Kihyun pensou após entrar em casa e fechou a porta.

Kihyun havia acordado tarde. Estava atrasado. Levantara-se às pressas, nem mesmo se preocupou em tomar café ou avisar aos pais, os quais quase terminavam de comer, tranquilamente, ainda que sem conversarem mais do que o necessário, que chegaria ao entardecer, pois trabalharia depois da escola. Kihyun ia para a cafeteria duas vezes na semana, e, caso precisassem de ajuda quando o movimento era mais intenso, diga-se, nos finais de semana, ele também ia.

A sorte de Kihyun era que a escola situava-se à somente quatro quadras de sua casa, então, ele só precisava correr um pouquinho. Para sua surpresa, ao destrancar a porta, com impaciência, deixou a mochila, que estava atravessada de mal jeito em seu ombro, cair no chão, graças ao baque que foi ver o carro de Changkyun estacionado na frente de sua casa. Kihyun, lentamente, ergueu o corpo, cujo estava levemente inclinado para frente, e limpou a garganta, visivelmente confuso com a repentina presença do Lee mais velho, o qual usava o metal do carro para escorar as costas.

A expressão de Kihyun, que antes oscilava entre dúvida e sobressalto, suavizou-se somente quando a janela do banco do passageiro frontal foi abaixada e, de dentro do veículo, o Yoo avistou os fios platinados do melhor amigo. Minhyuk sorriu larga e brilhantemente ao ver Kihyun, e, com um aceno com a cabeça, indicou que ele deveria entrar. Kihyun olhou para Changkyun, que revirou os olhos e fez o mesmo movimento que o irmão — para que entrasse no carro, porque hoje o Lee mais velho seria o motorista, à mando do irmão, dos dois. Kihyun, ainda inepto de conseguir proferir qualquer palavra, assentiu afirmativamente e caminhou, desviando-se do olhar árido de Changkyun, até onde estava Minhyuk, abriu a porta traseira, colocou sua mochila de lado e, finalmente, sentou-se, fechando-a.

— Você podia ter me acordado ontem — Minhyuk rumorejou. Estava brincando com o melhor amigo, mas ver Kihyun com as maçãs do rosto levemente coradas, buscando milhares de justificativas, era engraçado — o que foi, Changkyun? — indagou para o irmão, que o olhava como se fosse matá-lo — desaprendeu a dirigir? Já estamos atrasados o suficiente.

Changkyun fez-lhe como era de seu feitio, permaneceu calado. Girou a chave e acelerou, queria livrar-se daqueles dois e, quem sabe, chamar Hyungwon para matar a primeira aula com ele, que era basicamente o que ele já estava fazendo, além de ter sido obrigado, não só por Minhyuk, mas também pelo pai, a fazer um agrado para o irmão mais novo. Recordando-se disso, Changkyun revirou os olhos.

O percurso inteiro Changkyun teve de ouvir as queixas de Minhyuk sobre as provas para as universidades já serem daqui a dois dias e ele não tinha certeza se conseguiria passar para a Academia de Artes. Ainda que Minhyuk fosse seu inimigo natural, Changkyun tinha ciência de que o irmão era mais do que capaz de fazer qualquer coisa que desejasse. Então, reclamar era inútil. Kihyun, no que lhe concerne, fez seu papel de melhor amigo e mimou Minhyuk, enchendo-o de elogios, inflando seu ego, o que, aos olhos de Changkyun, era desnecessário, já que Minhyuk gostava de ouvir o que já tinha cognição. Se o Lee mais velho tivesse crescido recebendo tamanho exalçamento, o mínimo que lhe fosse entregue, não importava se fosse tão pequeno quanto um grão de areia ou enorme como um iceberg, ele já estaria satisfeito. O fato de seu pai o ter tratado se já esperasse que Changkyun fosse a sua obra de arte irritava-lhe um pouco.

Houve uma vez em que Changkyun olhou, de soslaio, pelo retrovisor interno, para Kihyun, cujos orbes acabaram encontrando-se com os dele, porém, foram velozmente desviados e atenção foi inteiramente dada para o irmão mais novo.

No instante em que Changkyun freou o carro e destravou as portas para que os dois paspalhos — nome dado por Changkyun, um tanto quanto carinhoso, ainda mais vindo dele, — descessem. Minhyuk agradeceu a carona e sorriu, de forma radiante, para o irmão. Kihyun fez o mesmo, todavia, com a voz um pouco mais baixa que a do melhor amigo, e desceu do carro. Quando Changkyun ligou, outra vez, a chave na ignição, olhou para o lado, de maneira a esperar Kihyun e Minhyuk atravessarem os largos portões metálicos, bronzeados, da escola e desaparecerem de seu campo de visão.

O Yoo, por um segundo de descuido, tropeçou no degrau mais alto cujo dava acesso à porta principal, e chiou pela dor. Minhyuk, como uma mãe extremamente preocupada e cuidadosa, segurou o braço de Kihyun, para que ele não caísse e a queda fosse ainda pior, fazendo com que o coração do de fios escuros errasse as batidas e ele até mesmo esquecesse de respirar, dada a pequena distância que se encontravam. Kihyun fora pego de supetão.

E Changkyun também.

Quando Kihyun chiou pela dor, Changkyun fez o mesmo, de forma inconsciente, tocando-lhe o próprio pé. Com os lábios entreabertos e sobrancelhas encarquilhadas, Changkyun se perguntava, incontáveis vezes, por que diabos havia feito aquilo. Se era um movimento solidário pela dor alheia, o Lee não sabia. A única coisa que veio à sua mente, naquele iminente ínterim, foram as palavras de sua mãe. Há diferentes formas de descobrir sua alma gêmea. Eu e seu pai, por exemplo, descobrimos uma nova cor, nem tão escura, nem tão clara. Ouvi, uma vez, que havia um caso de um casal que sentia a dor um do outro. Deve ser extremamente doloroso, não? Uma dor que, de fato, machuca, afinal de contas. Não quero que você encontre uma alma gêmea assim.

Changkyun ergueu os orbes, com a canhota sobre sua marca, encarando Kihyun mexendo o pé, para mostrar ao melhor amigo que estava tudo bem e que havia sido pego desprevenido, que não havia motivos para se preocupar com o estado dele.

— Isso só pode ser piada — murmurou Changkyun, árdego.


NOTAS

oioi bebês!!!!! depois de tanto tempo, finalmente uma fanfic nova aaaa!!!! vocês gostaram desse prólogo? estou pensando seriamente em manter capítulos grandes, gostaria do feedback de vocês ❤️

não sei se vou atualizar essa fanfic todo domingo igual "a lei do amor", mas vou me esforçar porque tô super inspirada e ansiosa pra ver o que vocês vão achar da história!!!!

gostaria de agradecer à beta-reader mais linda desse brasil wjsnchateau !!!!! 💗🥺 realmente espero que vocês gostem e desfrutem dessa temática, está sendo algo novo pra mim~~

vou ficando por aqui, assim que possível, vou atualizá-la 💗 um beijo e um queijo pra vocês, nenês 😗✌🏻

Continue Reading

You'll Also Like

9K 606 16
Um garoto chamado Katsuki Bakugou conhece um garoto que conhece numa balada e esse garoto o começa perseguindo por todo o lado!! Agora quer saber que...
273K 13.1K 63
• Onde Luíza Wiser acaba se envolvendo com os jogadores do seu time do coração. • Onde Richard Ríos se apaixona pela menina que acabou esbarrando e...
1.7K 164 10
Yoongi e um grande empresário com seu amigo, mas quando se casou esqueceu um pouco de quem era, cego pelo amor que parece que nunca lhe foi retribuíd...
56.2K 1.5K 47
Ele foi criado no mundo do crime. Teve uma infância até boa mas seu pai o forçou a uma situação que mudou completamente sua vida e seu jeito de ser...