[Aviso de imersão] Toque Mitski "I Will"
Um espirro abafado puxou o olhar de Yejin em direção à direita. — Saúde.
— Obrigada — A voz saiu anasalada, o dedo indicador tampava as narinas para tentar não espirrar de novo, mas escapou novamente. — Atchim! Aiai... Deve ser uma alergia.
A mais alta inspecionou as bochechas coradas e o nariz vermelho.
— Pode ser um resfriado — E a mão cobriu a testa da japonesa. — Você 'tá um pouco quente.
Haru murmurou, enganchou no braço de Yejin e encostou a cabeça ali. — Minha garganta está começando a doer... Será que foi o picolé?
— Pode ser. Você tomou chuva quando saiu do ônibus ontem?
— Só um pouquinho, mas eu me sequei quando cheguei.
Pararam no meio fio, Yejin puxou o celular rapidamente e verificou o horário, seis minutos até o ônibus de Haru chegar. — Você não tomou um banho quente?
— Tinha uma fila muito grande de meninas para tomar banho.. Então eu apenas desisti e..–
Nem houve tempo para terminar a sentença, Yejin se desprendeu e na metade da faixa de pedestres avisou:
— Me espera no ponto de ônibus, eu já volto!
Haru teria protestado a atitude repentina, gritado o nome da outra, mas sua garganta dolorida não permitiria. Então apenas caminhou até o banquinho do ponto de ônibus, vendo Yejin sumir na esquina de uma lanchonete.
Havia uma farmácia á uns cinco minutos da onde estava, Yejin começou a correr o máximo que pôde, olhava para baixo vendo suas pernas se esticando na corrida, soltava alguns sorrisos tímidos, em outra ocasião talvez ficaria envergonhada das pessoas a verem correr, mas não estava ligando, o impulso de cuidar da mais velha se tornou um combustível.
Chegou lá em dois minutos suando e com falta de ar. Pegou uma cartelinha de quatro comprimidos para gripe que ela conhecia.
— Gostaria de um xarope para resfriado também.
— Desculpe não vendemos xarope sem receita — disse a atendente, ao colocar a cartelinha em um saquinho de papel.
Ficou pensativa observando outros remédio atrás do balcão. — E algo para dor de garganta? — perguntou entre a respiração pesada já tirando o dinheiro do bolso.
— Recomendo chá de hortelã com mel.
— Certo... Obrigada! — Nem parou para pegar o troco, puxou o pacotinho e saiu correndo novamente.
O peito ainda fatigado latejava forte, decerto pelo esforço e, porventura, não tirara a japonesa de seus pensamentos.
A Haru viu-a cruzar a faixa de pedestres rapidamente, olhou para trás por um momento e viu seu ônibus se aproximar, mas seus pés direcionaram-se apressadamente em direção a mais alta.
Ignorou o pacotinho estendido em sua direção e abraçou Yejin.
As arfadas de ar se misturavam com a risada da mais alta, Haru levantou a cabeça encarando Yejin com um beicinho e de olhos fechados, as bochechas parecerem mais coradas ainda.
— Aqui unnie..–
Se pudesse teria terminado sua frase dizendo "Aqui unnie, tome quando chegar em casa e se puder, faça chá de hortelã com mel." Mas quando Haru ficou nas pontas do pés e depositou um beijinho próximo ao canto da boca de Yejin, ela congelou.
Era possível que Haru nem tivera prestado atenção na direção que os lábios estavam indo de encontro, era certo que seu alvo era a bochecha macia da mais alta, mas ela também sentiu o canto dos lábios se encontrando, se aninhou mais um pouco no colo da outra e, infelizmente, Yejin não pode ver o sorrisinho no rosto da outra.
— Obrigada Yejinie. — Soltou a voz arranhada, acompanhada de um murmuro manhoso de dor.
Kang se manteve petrificada, até a ponta de suas orelhas estavam vermelhas. Retomou a consciência à realidade quando Haru começou a se desprender do abraço, indo em direção a porta do ônibus.
— Ah!... Unnie, tome chá de hortelã com mel, e me avise se melhorar.. — O olhar preso no chão impossibilitou-a de observar os olhos brilhante que lhe encaravam.
Haru adentrou o automóvel, a mão saiu pela janelinha para acenar e mandar um beijo para Yejin. Definitivamente as formigas que sentia por todo o corpo surgiram devido a tanta doçura.
(...)
Ao chegar em casa, um tanto mais aérea que costumeiramente, Yejin se dirigiu a janela da cozinha, onde alguns galinhos de hortelã ficavam na pequena hortinha da vovó Kang.
Puxou o celular e abriu o aplicativo de mensagens, concluiu que ela e Haru não tinham muitas conversas, tocou na barra de mensagens e começou a digitar.
"Como está se sentindo?"
Alguns segundos depois recebeu a notificação, passava pela sala e acenou para sua avó que estava entretida na tevê, normalmente a senhorinha perguntaria, como habitualmente, sobre o dia de trabalho da neta, mas Yejin apressou-se para o quarto com um sorriso na cara.
Jogou-se na cama barulhenta, o cobertor desarrumado sob o colchão estava lá desde manhã, pois insistia para que sua avó não se desse tanto trabalho de arrumar seu quarto.
"Minha febre diminuiu! ^-^ Estou muito grata Yejin, obrigada por ter feito isso.. Posso te reembolsar mais tarde? Me diga quanto pagou, deve ter sido um valor considerável, esse remédio é bom!"
Ela sorriu, olhos miravam o teto tentando achar palavras, e para tentar parar de sorrir tanto.
"Não há de quê, unnie! E não pense em se preocupar com isso, apenas descanse, certo? como está a dor na garganta? lembre-se de tomar o chá!"
"Yejinie sempre cuidando de mim :')
Ah.. minha garganta ainda dói um pouco, não tenho hortelã nem mel por aqui, nem qualquer outro tipo de chá T^T... Mas tudo bem, amanhã estarei melhor graças a você!~"
"Não precisa ir trabalhar amanhã se não estiver bem! Eu avisarei o Sr Cho, ele ficará despreocupado se você estiver descansando."
Se revirou na cama, estava escuro, nem se importou de acender a luz. Os pézinhos esfregavam-se um no outro, o estômago estava cheio de borboletas enquanto criava coragem para mandar a mensagem.
"Amanhã eu posso ir ai cuidar de você?"
"Amanhã eu posso ir ai cuidar de |"
"Amanhã eu posso ir ai |"
"Amanhã |"
[Digite uma mensagem]
"Amanhã eu posso ir ai ver como você está?"
Enviou, praticamente já mastigando os dedos de nervosismo.
"Claro! Mas está meio bagunçado por aqui, minha colega de quarto não tem muito tempo para arrumar a bagunça dela T^T k k k k"
"k k k k Certo, certo... agora é melhor você descansar! Te vejo amanhã, Haru."
"Tudo bem! Até amanhã Yejinie. Obrigada novamente [coração]"
Sorriu, as pálpebras desceram suavemente, mergulhando mais ainda no escuro que já se encontrava, por muitas vezes já esteve nessas circunstâncias, em razão das feridas ardidas que ela tentava cicatrizar com lágrimas salgadas e silenciosas. Mas agora ela só sorri, ela só pensa na garota.