Eu não consigo acreditar em como tudo mudou. Quatro anos fora realmente tiveram um grande impacto na personalidade de meus amigos.
Até Sunhee — minha inimiga de infância —, me procurou para pedir desculpas pelos acontecimentos do passado. Isso era impossível de acontecer! Nós chegamos a causar uma guerra de comida na escola uma vez.
Me perguntei como ela havia ficado sabendo da festa. Logo veio a explicação: tinha sido planejada apenas para os nossos amigos mais próximos, mas acabou se espalhando pelo colégio. Está uma loucura. Com certeza, Jihyo me pedirá para ajudá-la a limpar a casa mais tarde.
— Aqui está! — ela me entrega o copo de bebida, animada. — Eu estou tão feliz que você voltou! Senti tanta saudades...
Puxo a garota para outro abraço. Cheguei a perder a conta de quantas vezes tive que consolar Jihyo.
Nos conhecemos quando tínhamos cinco anos. Desde aquela época, nunca mais nos separamos. A notícia de que eu estudaria quatro anos no exterior, deixou Jihyo arrasada. Eu estava indo embora e ela não imaginava que isso aconteceria um dia.
— Eu também senti sua falta, bobinha! — deixo um beijo na bochecha da menor.
Vamos para a cozinha, onde a música alta não nos impede de conversar. Já enchia mais um copo, quando escuto uma voz familiar chamar meu nome. Não levo mais que dois segundos para compreender quem é o garoto de cabelos loiros em minha frente.
— Yoongi? — ele sorri ladino e me envolve num abraço longo.
Jihyo apenas observa o nosso reencontro, rindo da minha felicidade por vê-lo novamente.
Perdi o contato com Yoongi depois dos primeiros meses fora. É o mesmo garoto que conheci aos 12 anos, só está maior que eu.
— Eu não acredito que está aqui! — ele coloca a mão na boca, surpreso. — Por que não me avisou que ela estava voltando? — pergunta, bravo para Jihyo.
Quatro anos se passaram e eles ainda se odeiam...
Yoongi e Jihyo nunca se deram bem. Sempre brigaram pelos cantos da escola, mas todos sabem que, no fundo, eles têm uma quedinha um pelo outro. Só não conseguem assumir em
voz alta.
— Por que acha que eu te convidei, animal? Deixei bem claro na mensagem que era uma festa de boas vindas! — ela responde, já aumentando o tom de voz.
— Mensagem? Eu não recebi nada!
— É claro que recebeu! Você até visualizou.
Observo os dois discutindo e decido se deveria ou não, sair daquela situação. Acabo optando por deixá-los ali e dar uma volta pela casa. Uma pessoa ou outra me reconhece e conversamos brevemente.
Abro a porta da sala de jantar e vejo um grupo de garotos numa rodinha, sentados no chão. Analiso o rosto de cada um deles e paro num específico. Kim Taehyung, outro melhor amigo que eu havia deixado para trás. Como se lêssemos o pensamento um do outro, entro correndo na sala e me jogo em seus braços.
— Subin! — ele me gira enquanto enche minhas bochechas de beijos.
— Chega, chega! — tento dizer entre risos.
— É você mesmo? Está mesmo aqui? — ele para de girar e segura meu rosto com as duas mãos. Esboça um sorriso quadrado de canto a canto.
— Sim, sou eu, Tae — abraço o garoto novamente. — Você não tem noção do quanto eu senti sua falta!
Essa sim, é uma amizade especial. Jihyo e eu somos amigas desde sempre, mas era com Taehyung que falava todos as semanas. Por vídeo ou apenas por ligação, ele fazia questão de saber como eu estava no final de cada dia.
O pequeno momento acaba quando um garoto tosse falso, chamando a nossa atenção para o mesmo.
— Desculpa atrapalhar esse... reencontro, mas quem é ela, Tae?
Percebo que não conheço nenhum dos quatro garotos na rodinha. O que fez a pergunta tem maçãs do rosto avantajadas e um sorriso lindo.
Taehyung passa um braço pelos meus ombros e fala com uma voz séria:
— Eu esperei muito por isso. Meu caros, essa é a minha namorada!
Eles ficam de olhos arregalados, sem
saber como reagir. Dou uma cotovelada no garoto, que grunhe de dor.
É a cara dele fazer esse tipo de brincadeirinha.
— Ele está brincando, somos só amigos. Meu nome é Kim Subin, prazer.
Eles riem da pequena briga e se apresentam, um por um. Jimin é o loiro com carinha de inocente. Seus olhinhos viraram dois risquinhos quando riu de Taehyung. Namjoon é o das covinhas fofas, Jin o da risada engraçada, e Hoseok, o do sorriso belo.
São todos novos no colégio, por isso nunca havia os visto antes. Foi bom saber que Taehyung superou a sua preferência por ficar sozinho e optar fazer novas amizades.
A porta da sala é aberta, revelando um Yoongi com a boca borrada de batom e Jihyo com os cabelos bagunçados. Nem precisa ser adivinha para saber o que tinha rolado.
— Que bom que Taehyung te achou... — ela fala, tentando quebrar o silêncio.
— Ela que me achou — ele responde, sentando no chão e me chamando para tomar o lugar vago ao seu lado.
Yoongi e Jihyo trocam um rápido olhar e se juntam aos outros na rodinha. Ela senta ao meu lado, com um sorrisinho nos lábios.
— Trate de me contar tudo depois — cochicho em seu ouvido, me referindo a Yoongi. Ela concorda, com uma cara maliciosa.
Eu não falei que eles se gostam? Essa nem deve ser a primeira vez que acontece...
Passamos um bom tempo conversando com os amigos de Taehyung. São todos muito engraçados e divertidos. Yoongi conta algumas piadas ruins que arrancam risadas escandalosas.
— Ah, ele chegou! — Namjoon diz, olhando o celular. — Já volto.
Fico sem saber quem é "ele" por alguns minutos. Logo, Namjoon volta acompanhado de uma garoto que entra timidamente na sala.
Acho que não consigo conter minha expressão quando o vejo. O garoto é incrivelmente bonito: olhos pretos e sedutores; mechas rebeldes do cabelo preto, que insistem em atrapalhar sua visão; boca rosada e delicada, que parece te chamar para experimentá-la; e por último — talvez o detalhe que mais chama minha atenção —, aqueles dois piercings na orelha.
Ok, eu preciso urgentemente saber quem é esse. Ao mesmo tempo que não o conheço, sinto que já o vi em algum lugar...
Ele se senta entre Namjoon e Jimin. Talvez eu possa estar encarando descaradamente, mas quem liga?
Enquanto os meninos ao seu lado conversam animadamente, ele continua quieto. Levanta a cabeça rápido e me pega encarando. Tento desviar o olhar, mas já é tarde.
Ótimo, Subin! Agora ele te acha uma esquisitona.
— Quem é esse? — pergunto cochichando para Jihyo, impressionada pela beleza do menino.
— É o Jungkook, seu crush do fundamental. Lembra?
Meu queixo quase caiu.
Aquele é Jeon Jungkook? Não é possível. Isso só pode estar errado... Jungkook era tímido, sempre se escondendo dos outros e ficava na dele. Não trocava mais que duas palavras com ninguém. Seu único amigo era Taehyung — foi como o conheci.
Como nós dois tínhamos a amizade de Tae em comum, passávamos praticamente o tempo todo juntos no intervalo. Admirava Jungkook de longe. Tinha vergonha de falar com ele, pois achava que me rejeitaria ou algo do tipo. Mas, então, teve aquela noite do jogo...
Começo a me desesperar. E se ele já tiver me reconhecido, mas eu nem me toquei de quem ele era? É falta de educação? Se eu o cumprimentar, o que deveria falar? "Nossa, Jungkook, quanto tempo! Você está gostoso, hein".
É, talvez não seja uma boa ideia. Ele parece ter mudado. Eu não duvido nada que as garotas disputem por sua atenção no colégio.
— Kook, você lembra da Subin, certo?
Sinto vontade de matar Taehyung. Há vezes, em que eu acho que ele lê meus pensamentos e usa isso contra mim.
O menino me analisa por um tempo. Minhas bochechas acabam corando sem permissão.
— Ah, a-acho que sim...
— Ela voltou para fazer o último ano com a gente! O trio está junto novamente — ele pisca para mim.
Parabéns, Taehyung! Você sabe direitinho como constranger uma pessoa.
— Ei, tive uma ideia — Hoseok levanta e pega uma garrafa vazia no canto da sala. — Que tal um jogo? Tem bastante gente, vai ser divertido!
Todos concordam sem hesitar. Jin posiciona o objeto no meio da rodinha.
— Qual jogo? Tem vários com garrafa — Jimin pergunta.
— Achei que seria Verdade ou Desafio — Hoseok responde.
— Esse é chato — Jihyo faz um careta e eu concordo. — Pode ser Sete Minutos no Paraíso! Como nos velhos tempos...
Que droga, Jihyo! Olho para Jungkook e vejo o mesmo apertar as mãos, claramente envergonhado pela sugestão de brincadeira. Estava rezando para ele não lembrar...
Era a festa de aniversário de 12 anos da Jihyo. Naquela época ela não tinha tantos amigos, então fomos só eu, Taehyung, Yoongi, Jungkook, Annie — nossa amiga que se mudou um ano depois — e uma prima dela. É claro que sempre tem aquele idiota que dá as piores ideias para brincadeiras. Nesse caso, foi o Yoongi.
Ele sugeriu jogarmos Sete Minutos no Paraíso e todo mundo gostou da ideia. Bem, eu também, até a garrafa parar em mim e Jungkook. De um lado eu estava gritando de felicidade, mas do outro, morrendo de medo.
Nós entramos no armário e no começo foi bem estranho. Não falamos nada, só desviando o olhar para coisas aleatórias. Porém, eu cansei e decidi puxar conversa. E, é... aconteceu.
Sim, nós já nos beijamos. Mas não foi nada sério, apenas um selinho!
— Ótima ideia! — todos concordam animados.
Jin gira a garrafa. Começo a roer as unhas de nervoso, esperando pelo resultado. O objeto vai parando lentamente.
Namjoon e Yoongi.
— Sinto muito, Nam. Da sua fruta, eu não como — nós rimos do comentário bobo.
— Cala a boca, Suga — o de covinhas fofas se levanta. — Vamos acabar logo com isso!
Eles saem da sala e vão para outro corredor, acompanhados de Jimin, que irá cronometrar o tempo. Enquanto não voltam, conversamos sobre coisas aleatórias. Aquele momento entre amigos me fez esquecer que estamos numa festa. Nem a música alta incomoda mais.
Os sete minutos passaram rápido. Os três entram na sala novamente, discutindo sobre algo.
— Me poupe, Yoongi! Você está com medo?
— Para de me provocar, Jimin! Eu não estou com medo... Só...
— Do que vocês estão falando, hein? — Jihyo cruza os braços, querendo uma resposta.
— Assunto de homem — Namjoon fala, sério.
Cada um senta novamente em seu lugar, sem dar nenhuma explicação.
— Ei, eu também sou homem! — Taehyung protesta. — Quero saber o que é.
Jimin revira os olhos e puxa Tae. Ele passam alguns segundos cochichando no ouvido um do outro. Taehyung abre um sorriso enorme, olhando para Yoongi.
— Era isso?! Eu posso falar com a Jih...
— Cala a boca, Taehyung! — Namjoon, Jimin e Yoongi gritam juntos.
O resto de nós fica sem entender do que se trata. Hoseok bufa e gira a garrafa sem avisar ninguém. Cruzo os dedos, pedindo silenciosamente para o universo não brincar com a minha vida. Fecho os olhos com força quando a garrafa vai parando de girar.
Me ajuda universo! Não para em mim. Não para em mim. Não para em...
— Subin e Jungkook! — Taehyung grita.
Arregalo os olhos ao ver o resultado. Os meninos assobiam e dão soquinhos em Jungkook, que permanece paralisado no lugar, assim como eu.
Porra, universo! Eu confiei em você!
— Vai com tudo! — Jihyo sussurra, antes de eu me levantar.
Por que isto está acontecendo justo comigo?
Saímos da sala, junto com Jimin. Esbarramos em algumas pessoas, até pararmos em frente a uma porta. Jimin abre e empurra Jungkook lá dentro.
— Jimin! — é a primeira vez que escuto sua voz.
Onde está aquela voz fininha e doce que me encantava? Agora está mais rouca. Ele só falou uma palavra e eu estou quase derretendo.
Que merda, Jungkook! Você tinha que mudar tanto?
Entro devagar no cubículo, como se Jungkook fosse algum tipo de animal perigoso.
— Aproveitem, pombinhos! — o garoto cantarola e tranca a porta.
Jungkook desvia o olhar para o chão, sem saber muito o que fazer. Suspiro cansada e sento de pernas cruzadas. O garoto faz o mesmo que eu, ficando de frente para mim.
Observo o lugar. A dispensa continua a mesma de quatro anos atrás. Ainda bem que esse lugarzinho tem espaço pelos menos para nós nos sentarmos. Volto meu olhar para Jungkook e o flagro me encarando.
Será que ele também acha que eu mudei? Será que lembra daquela noite que nos beijamos?
Tomo coragem para puxar conversa. Normalmente, sete minutos passam rápido, mas, ali dentro, viram uma eternidade.
— Ah... Faz tempo, não é?
Meu Deus, Subin! Quem te ensinou a iniciar uma conversa assim?
— Sim...
Só um "sim". Que ótimo. Eu ainda vou me vingar, universo...
— Está tudo tão diferente... Menos o Tae, é claro. Ele continua doidinho — Jungkook ri, deixando à mostra aqueles dentinhos de coelho que eu amo. Digo, amava, no passado. Pretérito Imperfeito, não Presente. — Entre todos, você é o que mais mudou.
— Eu? — ele aponta para si mesmo, confuso.
— É, está muito gosto... gato.
Seu rosto fica todo vermelho. Ele abaixa a cabeça envergonhado e fala tão baixo, que quase não escuto:
— Você também está muito bonita... N-Não que não fosse antes, eu sempre te achei... — ele para quando percebe que disse demais.
Meu coração parece prestes a pular da minha boca. Seria possível Jeon Jungkook ter tido uma crush em mim na mesma época em que eu gostava dele?
— Se lembra do aniversário da Jihyo? Do beijo?
— Eu...
— Esquece. Você deve ter um monte de garotas aos seus pés. Provavelmente, nem se lembra...
— Como eu poderia esquecer meu primeiro beijo? Eu... não beijei mais ninguém desde que foi embora, Subin.
Eu quase caio para trás ao escutar o que ele disse.
Jungkook não havia ficado com ninguém desde o oitavo ano?! Mas isso é muito tempo! Ele deve ser o garoto mais bonito do colégio, como não beijou mais?
— Espera um pouco — paro, tentando encontrar as palavras certas. — Você está querendo dizer que é... BVL? — ele concorda tímido.
Não consigo esconder o quanto estou surpresa. Parece que certas coisas não mudam. Jungkook é o mesmo garotinho: inocente e tímido. O rosto engana, mas ele é mais delicado que uma flor.
Sinto um frio na barriga quando ele passa uma das mãos no cabelo, jogando a franja para trás. Sua boca rosada entreaberta me traz lembranças da noite do selinho.
É errado eu querer beijá-lo novamente?
— Subin...
— Jungkook... — rimos pela coincidência. — Pode falar.
— Não, você primeiro.
Mordo os lábios, nervosa. Se ele recusar vai ser tão estranho!
— Eu... Aish! Posso te beijar? — digo rápido.
Os longos segundos que ele demora para responder, me matam de vergonha.
— E-Eu ia te perguntar isso agora.
Tenho vontade de me jogar em cima dele, mas com certeza o assustaria. Se controla, Subin.
Ao poucos, Jungkook vai se inclinando em minha direção. Percebo como ele está nervoso.
— Ei — ele me olha como um cachorro assustado. — Relaxa...
Levo minha mão esquerda até sua nuca. Ele permanece imóvel, então decido ajudar. Guio sua mão até a minha cintura. Com a outra, ele toca minha bochecha delicadamente. Nossos rostos já estão tão perto, que consigo sentir sua respiração contra minha boca.
— Antes de... isso acontecer. Queria que soubesse que g-gosto de você desde o sexto ano — ele fala sussurando, como um segredo.
É impossível explicar a sensação de saber que os seus sentimentos são recíprocos. Espero que ele não esteja escutando o quão rápido meu coração está batendo. Só Jungkook consegue fazer eu me sentir assim.
Sem um aviso prévio, junto nossos lábios. Jungkook me beija suavemente. Seus lábios são tão macios, que me deixam com vontade de nunca acabar este momento. Lentamente, nossas línguas se encontram. Fico arrepiada ao senti-lo explorando cada parte da minha boca. Nossas respirações vão se misturando entre o beijo. Sua mão passeia pela minha cintura, enquanto a outra, acaricia de leve minha bochecha. Sinto o mundo parar a cada toque seu.
Ficamos ali pelo o que pareceu uma eternidade, até perdemos o fôlego. Deixo um último selinho antes de separar o beijo. Jungkook cola nossas testas. Vejo seu peito subir e descer rapidamente.
Foi tão... perfeito. Nossos lábios se encaixaram perfeitamente, como peças de um quebra-cabeças.
— Jungkook...
Sou interrompida por um barulho na porta. Nos afastamos o mais rápido possível. Jimin aparece, logo em seguida.
— Por que vocês estão vermelhos? Eu atrapalhei alguma coisa? — sorri malicioso.
Jungkook e eu nos entreolhamos, sem saber como agirmos. Realmente, como Jimin falou, as bochechas do garoto estão completamente vermelhas. Estou sentindo meu rosto quente, então não devo estar muito diferente.
Somos recebidos na sala de jantar por gritos e assovios de comemoração. É aí que me dou conta de como o tempo parou lá. Concentrei toda a minha atenção em Jungkook. Não existia festa ou jogo, éramos só eu e ele ali. Sete minutos foram muito poucos. Queria poder multiplicar esse número por quantas vezes eu quisesse.
Sento novamente entre Taehyung e Jihyo. Os dois começam a fazer perguntas, mas eu não os escuto. A única coisa que importa, é aquele par de olhos inocentes me observando do outro lado da rodinha. Jungkook abre um sorriso fofo.
Ele sabe. Eu sei.
Esse é o início de uma longa história de amor...
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minha primeira oneshot kkk. me falem o que acharam, é importante para mim saber a opinião de vocês :)
me desculpem qualquer erro, espero que tenham gostado! ^^