ENCONTRE-ME NO PARQUE | #1 Da...

By autoraluanaoliveira

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O ano era 1993. Barbie St. Claire havia acabado de perder prematuramente o seu adorado pai, que não bastando... More

notas+cast
dedicatória
epígrafe
capítulo um: tem nome de boneca
capítulo dois: quem muito fala, pouco faz
capítulo três: nem você acredita nisso
capítulo quatro: backgammon
capítulo cinco: mais parecidos do que poderíamos imaginar
capítulo seis: a garota do Alasca
capítulo sete: verdade ou desafio?
capítulo nove: meu radar
capítulo nove.dois
capítulo dez: roda-gigante
DISPONÍVEL NA AMAZON

capítulo oito: único e singular

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By autoraluanaoliveira

"Podemos ser mais do que arte
Se a vida fosse um museu
Você seria
A mais bela pintura."
SHE LOOKS LIKE ART|ERICK ENDRES.


7 minutos no céu com a Barbie.

Repito. 7 minutos no céu com a Barbie.

O que caralhos estava passando pela cabeça de John Scott quando ele sugeriu isso?

Se Barbie não tivesse levado isso na maior naturalidade possível, e não estivesse passeando no meu trailer com fascínio nos olhos, eu certamente acertaria um gancho de direita no rosto engomadinho do meu melhor amigo só por ele ter tido a audácia de fazer uma coisa dessas.

Observo ela tocar cada enfeite que compõe a minha humilde casa como se estivesse conhecendo um mundo paralelo ao seu, as íris azuis percorrendo por todo centímetro do trailer com um brilho de curiosidade reluzindo sobre elas. De certa forma, St. Claire está mesmo conhecendo um mundo diferente do seu. Duvido que tenha entrado em algo parecido com isso antes, ou até mesmo visto alguém fazer morada neles.

- É tudo tão bizarro assim? - pergunto com um sorriso brincalhão no rosto, apoiando meus cotovelos na bancada atrás de mim, que acaba dividindo a pequena cozinha da pequena sala.

Barbie solta um objeto antigo de decoração na prateleira, e direciona seu olhar até mim. Ela une as sobrancelhas, me olhando como se eu tivesse dito a maior estupidez do universo.

- Aqui é tão... - ela para de falar, olhando cada móvel que compõe o meu trailer. - Fascinante.

Mordo um sorriso na mesma hora, claramente sem entender aquela garota. Que pessoa em sã consciência, principalmente como ela, que já viveu em um grande palácio, olha para a minha casa e diz que é fascinante?

Não faz o menor sentido.

- O que é que aqui tem de fascinante, boneca? - digo, em um tom irônico. - Isso aqui só falta cair aos pedaços.

Ela dá de ombros, antes de responder:

- Se você acha que coisas fascinantes só são coisas luxuosas - Se aproxima de mim, parando ao meu lado. - Então você precisa urgentemente mudar o seu conceito de vida.

- Uma lata velha pode ser fascinante? - me divirto, vendo seus olhos rolarem. - Tudo bem. Acho que posso me contentar com ele então.

- Tudo pode ser fascinante. É tipo a arte, sabe? - Barbie vira seu rosto em minha direção, e seus olhos estão presos ao meu, completamente injetados de... fascínio. - A arte só precisa ser única e singular para ser incrível. Ao meu ver, isso aqui é bem único e singular.

Minha boca abre e fecha por longos segundos, e mesmo que eu queria muito responder alguma coisa, nada parece disposto a sair. Na verdade, mesmo que eu tente muito, nenhuma frase que eu acabe formulando em minha mente será o certo a se dizer.

Simples assim, Barbie St. Claire acaba de me deixar sem palavras.

- Como é morar aqui? - Muda de assunto quando percebe que eu não irei lhe responder, acabo agradecendo aos céus por isso.

- Hmm... - Penso com um bico de lado, procurando o que dizer. A verdade é que ninguém nunca tinha me perguntado isso antes, e eu nunca havia parado para analisar. - É bom, eu acho - respondo, incerto. - Nunca pensei sobre isso, para ser sincero. Essa sempre foi a minha realidade, eu cresci aqui. Não é como se eu tivesse tido outras experiências, mas eu gosto. De qualquer forma, esse sempre foi e continuará sendo o meu lar. Ele me lembra todos os dias de como vim parar aqui. De como eu tenho que ser uma pessoa melhor sempre, independente dos erros dos meus pais biológicos.

E é a mais pura verdade. Olhar todos os dias para o lugar onde moro me lembra como vim parar aqui, e definitivamente, como não quero ser nenhum pouco parecido com os meus progenitores, que não pensaram duas vezes em largar um bebê prematuro para trás. Não faço ideia do motivo que os levaram a essa ação, sinceramente, não me importo nenhum pouco, mas ela é a combustão para me lembrar todos os dias que, apesar de ter sido um garoto abandonado e amargurado durante boa parte da minha infância e adolescência, sempre farei de tudo para evoluir como um ser humano melhor. Como um ser humano parecido com o meu pai adotivo.

Eu tenho muito orgulho de todo esforço do meu coroa, afinal, ele quem me deu esse lar.

- Você é um cara incrível, Devin, de verdade. - ela garante, tomando minha mão para si só para apertá-la levemente, demonstrando que me entendia mais do que qualquer um. Eu sabia disso, de qualquer forma. Lá no fundo, bem lá no fundo, nossas histórias são parecidas. Nossas dores também. - E, de qualquer forma, você tem uma casa. Imagina quantos não queriam ter uma, huh?

Ela empurra meu ombro de modo brincalhão, e sei que está tentando suavizar o clima da nossa conversa, por isso não penso duas vezes na hora de lançar o meu melhor sorriso em sua direção.

- E como era a sua casa em Nova York? - Apesar de ainda ser uma zona perigosa, não poderia deixar de perguntar, já que a curiosidade está me corroendo por dentro.

- Era simplesmente enorme. Tinha vários quartos, várias coisas legais para fazer. Tinha tudo que você podia imaginar - Barbie conta, mas sem nenhum traço de saudade em sua voz, ou qualquer tipo de expressão nostálgica tomando seu rosto. - Porém, o principal não tinha, que era o sentimento de que ali era o meu lar, minha casa. Eu não sentia nada disso. Na verdade, me sentia mais uma intrusa na maior parte do tempo.

- Seu pai não era presente?

- Não. Ele chegava do trabalho super estressado, e se enfiava na sala do seu escritório por incontáveis horas para continuar trabalhando ainda mais. Eu tinha mais proximidade com os trabalhadores da casa do que com o meu próprio pai. - Ela solta um suspiro profundo, cansado, mas não se deixa abalar. - E eu não guardo nenhuma mágoa dele, pois acredito que deve ter sido difícil perder a esposa bem no dia em que eu nasci, e ter que descobrir como ser pai pela primeira vez sozinho, sem ninguém para ajudar. Como se não bastasse esse fardo para carregar, teve que conciliar a empresa e todo seu trabalho com a vida nova. Deve ter sido difícil.

E pela segunda vez na noite, Barbie me deixa sem palavras. Eu sabia que a sua vida tinha sido difícil, mas não imaginava que tinha sido tanto. Se ela não contasse, ninguém suspeitaria, pois está sempre alegre, sempre brincalhona, sempre positiva. Isso poderia ter feito-a uma pessoa amargurada, sem coração. Mas ela preferiu dar a volta por cima, ver o lado positivo das coisas, e continuar seguindo a vida como uma verdadeira batalhadora.

Além disso, acaba de me dizer que não sente nenhum tipo de mágoa do pai. Nenhum. Mesmo o pai preferindo o trabalho do que ela, mesmo tendo que ter mudado de cidade por causa dele, mesmo apesar de todo dano causado, não não sente mágoas.

Se eu não a estivesse vendo bem à minha frente, se eu não estivesse sentindo o seu perfume adocicado impregnar as minhas narinas, e se eu não estivesse sentindo o choque magnético que a sua mão causa em minha pele, provavelmente diria que ela não existe. Provavelmente diria que a sua pessoa, tão linda e incrível, era algum tipo de projeção alucinante do meu subconsciente.

Sinceramente, não tenho palavras para descrever a garota que ela é. Cada vez que eu a conheço mais, mais vontade eu tenho de permanecer ao seu lado.

Tenho certeza que tem muito a me ensinar.

Quando eu abro a boca, prestes a elogiá-la, a garota de cabelos dourados e olhos azuis mais harmoniosos que já vi, sai na frente ao falar:

- Mas está tudo bem, Devin, de verdade.

- Eu sei que está! - Sorrio, tentando demonstrar o quão foda eu acredito que ela é. - Sei que você é forte.

Viro de lado para poder observá-la melhor, apoiando-me agora em um cotovelo só. Pendo a cabeça para o lado, e encosto-a na minha mão, tentando captá-la de vários outros ângulos.

- Será que falta muito? - Não precisa ser um gênio para saber que está se referindo aos 7 minutos da brincadeira, o que acaba me deixando levemente ansioso. Ela olha para o relógio pregado logo atrás de mim, projetando o lábio inferior para baixo quando se dá conta de que não sabe o horário em que entramos.

- Está tão ruim assim ficar sozinha comigo, boneca?

- Um pouquinho - debocha, transformando o polegar e o indicador em uma pinça, como se estivesse mostrando a pequena quantidade. -Achei que fosse ter algo mais emocionante.

Deixo meu rosto mais próximo do seu quando escuto suas palavras, mas não perto o bastante para as nossas bocas ficarem a míseros centímetros de distância uma da outra. Ainda há distância entre nós, mas não tanto quanto antes. O jeito como nos encontramos agora é o suficiente para que eu consiga enxergar com nitidez cada traço do seu rosto, cada sinal, cada micro expressãozinha, e claro, conseguir me sentir ainda mais tentado a viajar pela vastidão oceânica que abriga os seus lindos olhos.

Encarando-os fixamente, percebo que eles fazem o mesmo trajeto pelo meu rosto. Barbie parece me analisar bem, como se estivesse gravando na memória cada centímetro do meu rosto.

- E o que você sugere? - Minha voz sai levemente arrastada em um sussurro, meu hálito quente fazendo ondulações em seu rosto delicado.

- Ahn, deixa eu ver... - Bate as unhas pintadas de rosa bebê no queixo, pensativa. Suas íris passeiam pelo trailer, como se buscasse uma resposta nele. Quando parece não ter encontrado, apenas sacode os ombros. - Me mostre você.

Eu pisco uma, duas, três, e até quatro vezes.

Não senti desafio no seu tom de voz, e acredito que nem tenha sido a intenção quando proferiu a frase, mas minha mente traiçoeira parece sair na frente e já começa a interpretar de mil formas diferentes o que ela havia dito.

Garanto que nenhuma das mil formas foram para menores de dezoito anos.

Cacete, mas que merda eu estava pensando?

Isso provavelmente é culpa das garrafas de cerveja que ingeri esta noite.

- Caramba, boneca- Suspiro, levemente debochado e um tanto quanto malicioso. - Não sabia que você era assim tão desafiadora.

Ela rola os olhos para mim de forma dramática e teatral, soltando um suspiro maior do que o meu.

Certeza que também entendeu da mesma forma que eu, pois solta a minha mão - que estava envolvida com a sua até agora
-, e cruza os braços.

- Há Há Há - Finge uma risada, e eu me seguro para não rir como um idiota. - Vai se f... - Antes que ela possa continuar falando, coloco meu dedo indicador em seus lábios, impedindo-a de prosseguir com a frase.

- Você ia xingar, St. Claire? - Finjo estar incrédulo. - É isso mesmo?

Barbie dá um leve tapinha no meu braço, e a minha boca se forma em um perfeito "O" com a ousadia de sua ação. Aliso o local onde o tapa foi desferido, fingindo estar dolorido.

Minha atuação é tão péssima que só faz ela balançar a cabeça negativamente, esquadrinhando meu rosto como se eu fosse maluco. Porém, apesar de tudo, conseguia enxergar um lampejo de sorriso divertido querendo escorregar por entre seus lábios. Se havia realmente chance dele aparecer, tudo foi por água baixo no segundo seguinte em que a porta metálica rangeu, nos mostrando a ilustre presença de Violet Mohn, que estava ali apenas para avisar que os minutos já tinham extrapolado há muito tempo.

Depois da Violet ter nos tirado de lá com uma carranca enorme emoldurando rosto, o jogo continuou acontecendo, e várias perguntas e desafios inúteis continuaram prosseguindo bem na minha frente, mas acabei não prestando atenção em nenhum deles.

Após mais algumas jogadas, a brincadeira parecia ter perdido a graça não somente para mim, mas também para os demais, que resolveram parar de imediato com aquilo, e concentraram-se apenas em jogar conversa fora para acabar com as últimas cervejas que ainda restavam.

Quando toda a graça da "festa" no rancho pareceu ter chegado ao fim juntamente com a brincadeira, John e eu levamos as meninas para as suas respectivas casas em perfeita segurança, andando com a moto extremamente devagar para que nada acontecesse conosco. Imprudente da nossa parte? Completamente.

St. Claire agradeceu pela noite com um beijo estalado na bochecha assim que a deixei na porta da sua casa. Depois disso, segui para a minha casa vi que todos os meus amigos já haviam desaparecido, provavelmente já se encontravam no décimo sono.

Agora, deitado de bruços no colchão da minha cama, olho para o objeto que a Barbie havia segurado na prateleira assim que adentrou no trailer, e sua voz doce ecoa pela minha cabeça. Antes de acabar pegando definitivamente no sono, tudo que escuto é a sua voz dizendo que a minha casa era como arte. Única e singular.

Acordo com a claridade do sol escaldante de Hellaware bem no meu rosto, me fazendo grunhir e murmurar algum palavrão aleatório.

De todas as coisas que eu odeio nesse lugar - não que sejam muitas -, a que ocupa o primeiro lugar da minha lista de "Coisas que odeio em Hellaware", é, sem dúvida alguma, o clima dessa cidade.

Tudo consegue ficar mil vezes pior no verão, e sei que ele mal começou. Ainda entraremos em julho, mas sinceramente, não vejo a é a hora de chegarmos em dezembro para conseguir dormir sem ser interrompido pelos raios luminosos entrando em meu quarto, transformando-o em um completo inferno de tão quente.

Com isso, me sento na cama, e passo o dorso da mão pela minha testa suada, retirando as gotículas de suor que estavam deixando meu cabelo grudado na raiz. Uma sensação enorme de abafamento me toma, e eu opto por retirar a camiseta, tentando deixar meu corpo livre de qualquer peça desnecessária.

Uma batida leve na minha porta é tudo que eu escuto no meio de tanto silêncio me rondando, e antes que eu possa me levantar para atendê-la, o rosto de Kieran surge por entre a frecha.

- Boa tarde, garotão. - Ele exibe o seu maior sorriso, e sobe os degraus até entrar de fato no trailer. - Hibernou, huh?

Uno as sobrancelhas para ele, puxando os fios do meu cabelo.

- Que horas são?

- Duas horas da tarde. - Dá de ombros. Eu arregalo os olhos, sem acreditar que tinha dormido tantas horas. - Eu vim conferir se você não tinha morrido. Sabe como é, Violet e Kara já estavam ficando preocupadas.

A preocupação é compreensível, pois eu sou o primeiro a acordar de todos eles.

Me levanto meio desnorteado, procurando o meu Marlboro. Quando não encontro pelos cômodos, tateio pelos bolsos da minha calça, e quando finalmente encontro junto do isqueiro, acendo-o com as mãos em formato de concha.

- Não foi dessa vez que vocês se livraram de mim. - Sorrio, soltando a fumaça por entre os lábios.

Kieran tosse, tosse mais uma vez, e me xinga várias vezes por estarmos em um lugar fechado. Seus olhos amendoados estão arregalados, e ele passa a mão sobre o cabelo crespo recém cortado em um corte rebaixado, claramente desconfortável.

- Por que caralhos você fuma aqui dentro? - soa irritado quando percebe que eu não vou parar. Apenas rio ainda mais, me divertindo à suas custas nesta manhã.

- Porque eu estou na minha casa, oras. - Dou de ombros. - Não tenho direito de fumar na minha própria casa?

- Todo direito do mundo. - Levanta as palmas da mão em um sinal claro de rendição, e segue dizendo: - Você que manda.

Anuo com um sorriso orgulhoso, mostrando que havia gostado da escolha das suas palavras. A única coisa que recebo como resposta é seus olhos revirando sobre as órbitas, assim como um sutil mandado para ir ao inferno.

- John ainda dorme? - Mudo de assunto, ainda chocado com o fato de ter dormido tanto.

- Por incrível que pareça, John Scott foi um dos primeiros a acordar.

Entreabo os lábios em espanto, piscando algumas vezes. John Scott sendo um dos primeiros a acordar? E eu sendo o último?

O dia só podia ter começado do avesso.

- Eu provavelmente devo ter morrido mesmo. Acho que acordei em outra dimensão. - digo, balançando a cabeça em negação.

Kieran ri, confirmando minha teoria.

- E o que vocês estão fazendo agora?

- Nós vamos começar agora a lavar as motos. Você vai querer lavar a sua Ducati também?

Eu coço a testa, pensando se devo ou não. Pior que tem tempo que eu não tiro um dia para cuidar dela, e me sinto péssimo por isso. Mas, para ser sincero, a preguiça está consumindo cada molécula do meu ser nesse exato momento, não sei se estou disposto a fazer isso.

Parecendo adivinhar a resposta que viria logo a seguir, McAllister se apressa em dizer:

- Coitada dela, Devin. - O tom da sua voz é de quem está com pena da minha pobre e suja moto, mas sei que ele está só fingindo para que eu possa entrar nessa junto com eles. Por algum motivo, lavar as nossas motos em conjunto é uma das coisas que nós mais amamos fazer. - Aposto que ela está doidinha para ficar brilhando para você.

- Acho que ela entenderia que o papai aqui não está no momento.

Ele revira os olhos para mim, dizendo que eu não passo da porra de um bundão preguiçoso. Soco o seu braço de brincadeira, dessa vez detestando sua escolha de palavras.

- Vem logo, deixa de ser reclamão.

Kieran me puxa pelo braço, e eu bufo, derrotado.

- Bundão - o corrijo, rindo.

- Isso! - Ele ri. - Bundão.

Quando boto o pé fora do trailer, vejo que os meus amigos já estão com todos os quites em mãos para começar a limpeza em suas motos. As meninas estão com a parte de cima do biquíni, e o John está sem camiseta, usando apenas uma bermuda despojada qualquer.

Olho para Kieran parado ao meu lado, e só agora percebo que o garoto de pele escura também está com o traje de acordo.

Sou o único a estar de calça jeans.

- Vou colocar um short - aviso a Kieran, e antes que eu possa me mover, ele me impede ao colocar a mão ao redor do meu pulso.

- Vai lavar de calça mesmo - diz, sério. Provavelmente pensa que estou dando para trás. Quero rir disso. - Nem mais um passo - meu amigo ordena.

- Tá certo, cara. Se a minha presença é assim tão importante para você, eu fico de calça mesmo.

Ele sorri ironicamente para mim, e eu rio, indo em direção ao pessoal.

- Olha só, pessoal! - Violet se pronuncia em alto e bom tom, logo após notar minha presença. Seu dedo indicador está apontado em minha direção. - Não foi dessa vez que Leblanc nos deixou.

Ela projeta o lábio inferior para baixo, fingindo estar triste. Eu engancho meu braço no seu pescoço, e a trago até mim para conseguir depositar um beijo em sua bochecha.

- Bom dia para você também, idiota. - Bagunço o topo da sua cabeça, e ela me empurra para o lado com o seu jeito reclamão de ser.

- Mesmo que não seja de dia ainda, bom dia, Leblanc! - Kara vem até mim de braços abertos, se aninhando em meus braços. Dou um beijo no topo da sua cabeça, e ela ergue os olhos até mim, mostrando o seu melhor sorriso.

- Forçada - Violet fala baixinho para Kara, e a garota de cabelos cacheados ainda grudada a mim, mostra a língua para a ela. - Bajuladora - continua, no seu tom petulante.

- Ciumenta - a negra rebate, fazendo Violet dar um riso debochado.

- Nunquinha - ela cantarola. - Se tem uma coisa que eu não sou, essa coisa é ciumenta.

Kara se desvencilha dos meus braços, virando-se de frente para a garota de olhos castanhos pincelados por uma boa camada de sombra preta. Elas se olham por breves segundos, mas Violet não aguenta sustentar a postura de birrenta, começando a dar risada logo depois.

- Você foi quase convincente, Violet. -Sorrio, cruzando os braços em frente ao peito. - Só quase.

- Fala, garanhão! - John se aproxima gritando, como se nós estivéssemos a longas distâncias uns dos outros. - Como foi ontem com a Barbie? Dormiu tanto assim pela canseira que ela te deu, foi?

Kara, ao meu lado, pigarreia, e Violet morde o interior da bochecha, concentrando seu olhar no verde da grama.

- Do que você está falando? - Espalmo as minhas mãos no quadril, o olhando com um vinco super formado entre as minhas sobrancelhas.

- Dos sete minutos no céu - John me olha como se não fosse óbvio o que ele estava falando. - Vai me dizer que você pagou de idiota na frente dela e não fez nada?

Abro minha boca para lhe responder, mas Violet sai na frente ao dizer:

- Não seja bobo, Scott, é claro que eles fizeram alguma coisa.

- Sim. Nós apenas conversamos.

- Até parece... - Violet debocha. - Até parece que ela ia ficar sozinha com você e não ia dar mole.

- Dá pra parar? - Levo meu olhar até o seu, totalmente sério. - Isso é coisa que se fale, Violet Mohn? - Ela cruza os braços em frente ao peito ao me ouvir, e vira o rosto rapidamente. - Barbie não é o tipo de garota que você está pensando. Você não a conhece, e também não tem a menor noção das besteiras que fala. A única coisa minha que ela quer é amizade, e eu achei que já tivesse dito isso a vocês um milhão de vezes.

Ainda com o rosto virado, Violet deixa os lábios em uma linha fina. Parece distante.

John arrasta os pés até ficar ao seu lado, balançando a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse desaprovando sua atitude. Ela apenas ergue os grandes olhos para o nosso amigo, arqueando as sobrancelhas perfeitamente feitas em sua direção, esperando uma resposta.

- Assume que foi mancada, furacão - com um tom de voz extremamente calmo e baixo, pede. - Vai, não custa nada assumir.

- Não haja como se você também não tivesse culpa. - Aponto o dedo em riste, lhe causando espanto.

- Que porra eu fiz?

- Começou com toda essa idiotice.

- Tá bom, tá bom - Violet bufa, derrotada. - Desculpa pelo que falei, foi uma frase idiota. Não vai mais se repetir, eu prometo.

Scott bate palminhas de felicidade, e a abraça de lado. Seu olhar preocupado procura os meus, como se buscasse aprovação, ou até mesmo como se estivesse procurando algum traço de raiva em meu rosto. Não podia negar que estava levemente enfurecido, mas apenas deixo para lá, lhe direcionando um sorriso sem descolar os lábios, que acaba sendo o básico para ela sorrir de volta, e sentir que está tudo bem entre nós. Apesar de tudo, gosto de quando assume os erros, mesmo que esses momentos sejam quase raros, já que acha ser a dona da razão.

- Agora vamos deixar o mau humor de lado, nossas bebês nos esperam - John se refere a nossas motos, o que é um tanto quanto engraçado. Ele se desvencilha rapidamente do abraço, puxando Mohn pela mão.

É impossível não rir da animação dele, por isso seguimos seus passos sem pestanejar. Quando estou próximo o bastante da minha Ducati, pego a mangueira cor limão, e encho um balde com água.

Alguns minutos se passam em silêncio, cada um concentrado em fazer o seu trabalho bem feito. Porém, nesse pequeno intervalo de tempo, Violet sai a procura de um rádio, e volta com um Sanyo meio empoeirado em mãos, colocando em alguma estação para que possamos embalar o ambiente com alguma música legal.

A música que ecoa do rádio é Girls Just Want To Have Fun da Cyndi Lauper. No mesmo instante, ergo meu olhar para a garota, e a vejo balançar o corpo no ritmo da música. Sorrio com a cena, pois ela sempre se anima ao escutar aquela música, afinal, é a sua favorita.

- ESSA MÚSICA É UM HINO! - grita, ainda mexendo o corpo, como se nós estivéssemos em uma balada. - Nunca me canso dela.

Violet chama Kara para dançar com o dedo indicador, e a mesma larga a bucha para o lado, seguindo a amiga nos passos de dança.

- OH GIRLS THEY WANNA HAVE FUN - as duas gritam juntas, acompanhando a letra da música. - OH GIRLS JUST WANNA HAVE...

Busco Kieran e John com o olhar, e os dois já se encontram me encarando. Começo a rir com eles, e John aponta a mangueira ao meu lado com o queixo. No primeiro momento, fico sem entender, mas quando ele coloca o sorriso malicioso e arteiro no rosto, tudo acaba se clareando em minha mente.

Com as meninas ainda dançando, totalmente dispersas com o que planejo, acabo pegando a mangueira jorrando água, e a viro na direção das duas, gritando logo em seguida:

- GUERRA DE ÁGUA!

Elas começam a gritar quando a água as atingem com força, tentando inutilmente proteger o rosto com as mãos abertas. Eu rio, pois obviamente, a tentativa de proteção não dá certo, e elas acabam ainda mais encharcadas. Os olhos das duas me fulminam, gritando que vai ter volta assim que correm atrás dos baldes cobertos por água e espuma. John e Kieran vêm me proteger, pronto para o próximo ataque com o balde deles em mãos.

Nós ficamos um tempo nos encarando, os olhos intejados de desafio. Não demora muito para que o contato seja desfeito, Kara e Violet empurrando o balde em nossa direção, exatamente na mesma hora em que os meninos jogam os deles de volta.

Algum tempo depois, estamos todos correndo um atrás do outro pela grama verde musgo do rancho, totalmente encharcados de água e espuma, e rindo feito crianças arteiras ao termos a maior certeza do mundo que ali, perto um do outro, é o melhor lugar para chamarmos de lar.

NOTAS:

espero que gostem, pois eu amei escrevê-lo. ah, e lembrem que eu tento fazer os personagens os mais reais possíveis, e é claro que eles vão errar. o importante é que eles terão evolução, e isso é gradativo.

beijos, e até a próxima. ❤️

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