Entre Paredes

queridaloba

4.5K 120 37

Houve uma noite em que Giselly acordou atordoada no meio da noite, abriu os olhos receosa, o coração dava sal... Еще

Introdução
Capítulo 1 - Daqui até a eternidade

Capítulo 3 - Ou você me come ou você cai fora

1.6K 54 22
queridaloba

Quando o dia amanheceu e a manhã se fez preguiçosa, o espaço fora preenchido por um cheiro nostálgico de terra molhada. Era como uma manhã de férias, na casa daquela avó de voz doce e mão enrugadas trazendo um bolo quente para o café da manhã. Choveu durante toda a madrugada, cessando aos poucos no início do dia. Os brothers tiveram resistência em deixar os lençóis, estava garoando e o barulho natural da água a deslizar pelas janelas causava ainda mais sonolência. Ivy foi a primeira a se levantar, coçou os olhos com dificuldade, espreguiçou-se e sentiu o estômago reclamar de algo. Os pés mornos tocaram o chão e ela deu um gemido penoso. "Que droga, a cerâmica congelou?", praguejou em baixo tom, indo em direção à cozinha. Pensou em fazer algo que preenchesse a barriga, tamanha era a fome pós-festa, mas também sentia-se sem apetite e só teve ânimo para fazer um café preto e forte.

Estava desajeitada, cantarolando algo e reclamando do frio que fazia ali, serviu-se de uma caneca estupenda do líquido e quase tomou um susto de desjejum quando se virou e avistou Giselly de pé, estranhamente bela naquele pijama grande demais para o seu corpo pequeno, os cabelos armados e um bico que dava medo.

— Gi! — sorriu, nervosa. — Eu tive um tremendo susto!

— Estou tão feia assim? — a morena caminhou ao encontro da outra, beijou-lhe na testa e se serviu do mesmo café. — Bom dia!

— Bom dia, garota. Como dormiu?

Giselly se dispersou olhando a chuva escorrer lá fora, notando que fazia mesmo um frio desonroso. "Desnecessário esse gelo todo, só queria uma piscina.", pensou sozinha com os seus arrependimentos fantasmagóricos da noite passada.

— É... foi estranho dormir sem ela. Mas é impossível não apagar depois de meter o pé na jaca misturando vodka, caipirinhas, gim, cervejas e sabe-se lá o que mais eu não enfiei no juízo ontem. — o jeito da advogada era particularmente cativante, era desajeitada e genuína. Havia um quê de doçura no tamanho das mãos, no formato dos olhos, no jeito estranho de falar rápido e destemida demais.

— Você não bebeu tanto assim, Gi... — Ivy mexeu o café para lá e pra cá, brincando com o calor da bebida. — Deve ser a ressaca moral falando com os seus demônios matinais, diga-lhes que está cedo para te aborrecer e beba logo esse café horrível que eu fiz sem pensar muito nas minhas habilidades culinárias.

Giselly riu e as duas acharam aquilo bom. Fazia tempo que a morena não se divertia com ninguém mais além da loira, estava começando a notar uma certa dependência afetiva dos carinhos de Marcela, tinha sido realmente sofrido dormir sem os cabelos longos dela fazendo cócegas em seu nariz até que aquilo a despertasse do sono profundo e a fizesse ir parar no chão, orando para que nunca perdesse o hábito de segurar as mãos enquanto dormia separadas. Começou com um pesadelo da Gi, ela achou que estava nadando em um cubículo cada vez menor até que se afogava repetidamente, mas nunca morria, a sensação era angustiante. Ela estava no chão e a loira agasalhada em sua cama, despertou assim que ouviu os gritos da amiga e serenamente lhe deu a mão. "Foi só um pesadelo, minha menina, segure os meus dedos, estou protegendo você em auras cármicas, prometo que não vai acontecer outra vez. Dorme... ", as palavras saíram com tanta doçura da voz embargada de sono de Marcela que a outra só soube deleitar-se naquela sonoridade pacífica e retornou a dormir, como prometido, sem mais sonhos violentos.

Ivy ainda ficava sem jeito de se aproximar, porque Giselly era tão aberta ao mundo quanto fechada. Sim, as duas coisas ao mesmo tempo, a moça era uma incógnita.

— No que está pensando? — perguntou, chegando-se para mais perto dela, estavam próximas da janela.

— No quanto você realmente estava certa quando disse que o café estava horrível! — disse em tom zombeteiro, buscando um sorriso no rosto de Ivy.

— Droga, afoguei o seu filhote! — desculpou-se, levando as mãos ao rosto, mas ainda risonha. — Vou limpar, calma! — Rápida, trouxe um pano úmido que repousa sobre a pia de louças e se apressou diante da amiga.

— Não precisa disso, Ivy! Eu lavo quando fizer sol, sua desastrada... — No entanto, a mais alta deu de ombros e a encostou no balcão.

— Fique quieta, pode manchar, imagine...

Enquanto Ivy limpava, esfregando devagarzinho a região do "acidente", Giselly fez alguma piada de conotação erótica sobre aquilo, algo típico dela, e as duas caíram na risada pela terceira vez naquela manhã. Ivy tombou a cabeça no ombro dela para abafar o riso alto e uma brincadeira de cócegas poderia ter se tornado ainda mais divertida se elas não tivessem sido interrompidas pela presença sorrateira de Marcela, que parou bem do lado das duas.

— Meio cedo para tanta animação, não? — perguntou, respirando fundo. Não esperava ver Giselly tão bem pela manhã, tinha dormido pessimamente sem ela, esperava que fosse recíproco.

Giselly não a olhou diretamente, fingiu estar limpando ainda mais a parte suja do pijama, enquanto Ivy se servia de mais café para manter a boca ocupada. Marcela respirou fundo, mexeu na geladeira, encontrou algum iogurte natural e largou a porta com descuido. Deu uma boa olhada nas duas garotas outra vez e tentou algum contato visual com Giselly, mas a outra havia congelado o olhar em algum ponto cego na cozinha, segurando a vontade de correr de mansinho e perguntar por que dormira longe, por que estavam tão estranhas e como voltar ao início. Mas ela não perguntou, e Marcela deixou o cômodo, voltando para o quarto onde havia dormido na noite passada.

O clima havia esfriado, não só no céu, não só lá fora. Dentro delas também. Cabem aqui todas metáforas interpretadas, haja vista que a tensão fizera o coração das duas esfriar. Giselly sentiu que o seu ia sufocá-la bem na garganta, como um nó trançado três vezes, Marcela pensou que o dela havia se partido em alguma área em que jamais imaginou ser ferida. Uma linha as unia, puxando-as para um encontro que somente almas irmãs poderiam ter, mantendo quente os sentimentos que entre elas floresciam, esta mesma linha agora soava ameaçada por emoções que pareciam eruptir vulcanicamente em seus corações. Ora estavam pegando fogo, ora pareciam deslizar em placas de gelo.

— Eu acho que não faria mal tentar conversar. — Ivy aconselhou, notando a frieza instalada entre as duas. — São amigas, sei que encontrarão um caminho de falar sobre essas coisas todas.

— Eu não sei se estou pronta para falar. — explicou, deixando a xícara vazia por ali, voltando a atenção para a chuva lá fora. — Eu acho que vou ficar um pouco nas cadeiras ali... Dar uma olhada nessa manhã cinzenta não vai me deixar pior.

— Qualquer coisa me chama? — Ivy pediu, deslizando um polegar carinhoso nas costas da mão direita de Giselly, fizera um carinho sutil.

— Juro. — disse, baixinho, depois soltou um beijo e saiu dali. Queria ficar a sós com os próprios devaneios.

Passou-se alguns minutos após a mente passear em cenários diversos desde que havia entrado na casa e conhecido cada participante. Primeiro, tentou compreender o que o seu coração havia visto em Marcela que a fizera ceder às vulnerabilidades que perto dela desapareciam; a começar pelo hábito de abraçar outra pessoa, odiava, sentia-se exposta, mas não se importava nem um pouco em se jogar naqueles braços longos e se aninhar em seu calor místico. Em seguida, tentou buscar razões para desejar algo além de abraços e carinhos fraternos da loira, só encontrou peças soltas na própria cabeça exausta de enganar a si mesma.

— Desculpa, não sabia que você estava aqui, volto depo-

— Ma, 'tá doida? Para com isso. — Giselly viu a sister retornando para o interior da casa e a chamou de volta, sequer havia notado quando se aproximou. — Não precisamos agir assim...

Marcela tinha acabado de ter uma explosão cardial. Isto é, seu coração trabalhou exaustivamente em busca de uma resposta para as últimas emoções sentidas e um grande breu surgiu em seu cérebro. Uma voz racional lhe dizia que era hora de dar uma chance a Daniel porque queria beijá-lo e precisava de alguém, seu corpo clamava por esse contato mais íntimo. No mais, a alma gritava por outro alguém, seus impulsos imploravam-lhe que se jogasse de cabeça ao turbilhão de emoções violentas que tinham o rosto de Giselly. Quis correr dessas questões e buscou a solidão que a chuva lá fora parecia oferecer, tola, deu de cara com a moça pensativa.

— Eu só vim... Sei lá. — franziu a testa, respirando pesadamente. — Pensar, entender algumas coisas... Sinto que estou perdendo o senso e talvez outra coisa.

Giselly afastou-se, para que se sentassem juntas. Deu o espaço que coube exatamente para que ficassem coladas, as peles roçavam, estavam próximas o bastante para recuperarem o contato perdido.

— Que coisa seria essa? — a morena questionou, virando o rosto para não fugir daquele olhar.

E o olhar  veio,
Marcela mirou os seus dois olhos, que pareciam estar sempre em chamas negras, no centro dos olhos vulneráveis de Giselly, não disse nada, só a encarou por tempo o suficiente até que as a expressão da face respondesse por ela.

Giselly desviou, ainda mais confusa do que antes, não sabia mais o que dizer ou como tratar a relação das duas. Se avançava, sentia-se jogada para longe, dava espaço, era puxada de volta para os ares daquele sentimento novelesco que apertava o coração recluso que tanto tentara proteger.

Marcela passou a língua no lábio, em um gesto ansioso, deixou um monte de ar escapar da boca e balançou a cabeça, triste com o silêncio barulhento entre elas.

— Não há nada que queira me dizer? — disse, mantendo os olhos distantes, temia invadir espaços que ainda não estavam prontas.

— Não sei — Giselly respondeu prontamente. —, você tem?

— Eu perguntei primeiro.

— Então é isso, você tem dezesseis anos? — Giselly soou irritada, sentia que estava fazendo algum papel de boba, odiava a sensação.

— Gi! — defendeu-se. — É complicado, você sabe!

— Olha, Marcela... Eu acho que tenho sim uma coisa para te dizer.

Surpresa, a loira se mexeu, dessa vez buscando os olhos da amiga. Giselly se levantou, ajeitou o microfone no pescoço, tomou um pouco de coragem na voz e se deixou ser observada por ela.

— O quê? — a loira perguntou, ansiosa, sentindo a barriga dar reviradas amendontradas.

— Ou você me come ou você cai fora.

Disse, sem tremelicar, e saiu, na chuva, sem se importar, só queria se distanciar sem se preocupar com outra aparição inesperada.

Продолжить чтение

Вам также понравится

Doors open. ash

Фанфик

613K 9.6K 88
A text story set place in the golden trio era! You are the it girl of Slytherin, the glue holding your deranged friend group together, the girl no...
222K 4.6K 47
"You brush past me in the hallway And you don't think I can see ya, do ya? I've been watchin' you for ages And I spend my time tryin' not to feel it"...
329K 9.9K 105
Daphne Bridgerton might have been the 1813 debutant diamond, but she wasn't the only miss to stand out that season. Behind her was a close second, he...
964K 22K 49
In wich a one night stand turns out to be a lot more than that.