Por Beatriz:
O sábado amanheceu como em dias de verão, poucas nuvens, e muito azul. As nove em ponto, as garota e eu iríamos para o centro comercial, onde providenciariamos as nossas roupas para a festa de hoje. A escola, não querendo que percamos aula, deu a folga para o sábado, e não para a sexta, como tinha falado.
Argh
Na noite passada, Manuel não abriu a boca em momento algum, e aquilo me preocupou muito. Lógico que tentei falar com ele, mas aquele cabeça dura apenas ignorou.
ㅡ Já estou indo ㅡ Afirmei, terminando de arrumar o meu cabelo ㅡ Fica bem.
ㅡ Eu já falei que estou bem! ㅡ Revirou os olhos e soltou um pequenino sorriso.
ㅡ Você vai com os garotos, ou ficará aqui? ㅡ Perguntei, verificando tudo em minha bolsa
ㅡ Vou com Pietro e Jhon ㅡ Diz
ㅡ Até mais tarde ㅡ O abracei e sai do quarto.
Desbloqueio meu celular é verifico as notificações, tinham sete chamadas perdidas de Celeste, e para variar, eu estava atrasada. Os degraus das escadas pareciam não ter fim, então, quando desci todos, esbarrei em uma garota, que já tinha visto na sala de aula.
ㅡ Olha por onde anda! Quem você pensa que é?
ㅡ Gritou e apontou o dedo em minha direção
ㅡ Queridinha, eu sou Beatriz Urquiza, e se você apontar esse seu dedo de urubu para mim novamente, eu o corto na hora! ㅡ Rebati, e a garota ficou de boca aberta ㅡ Passar bem.
Corri mais um pouco, ainda sentindo o olhar mortal sobre minhas costas, até que vi Celeste e Chiara, no portão principal.
ㅡ Eu falei nove horas da manhã, não dá noite!
ㅡ Celeste me puxou para um carro preto
ㅡ Vamos logo! ㅡ Afirmou Chiara, e entramos no carro.
A prima de Chiara era tagarela igual a mesma, então o caminho foi bem agitado. Eu contei as garotas sobre o meu incidente com a "urubu", e elas afirmaram que era uma tal de Mara Morales, a sobrinha da diretora.
Ela podia ser filha do papa, se jogou pedra, eu meto um tijolo
ㅡ Obrigada prima! ㅡ Chiara se despediu e todas seguimos até o centro.
Até que, para um "interior", tudo era bem movimentado! Andamos por várias lojas, mas todas elas custavam o olho da cara ㅡ Não que eu não tivesse dinheiro, mas gastar uma fortuna para vestir algo uma vez é idiotice.
ㅡ Chegamos, Valeria's Brechó! ㅡ Celeste apontou para uma loja, que passava despercebida ao meio das outras.
ㅡ Um brechó? ㅡ Questionei
ㅡ Nada melhor do que um brechó! ㅡ Chiara nos puxou até a loja.
O brechó estava vazio, a não ser pela moça do caixa, que folheava uma revista de 2016. Andamos até o final da loja, onde vimos milhares de vestidos de época, um mais extravagante que o outro!
ㅡ Eu quero um lilás! ㅡ Celeste afirmou, jogando para todos os lados todas as peças de roupa
ㅡ Aliás, quem te convidou? ㅡ Perguntei, ela não tocou nesse assunto em momento nenhum
ㅡ Jhon, me convidou ontem a noite, depois do jogo. Ele falou que o Thiago tirou o Manuel da posição de atacante ㅡ Celeste comentou, procurando seu vestido.
ㅡ Então era por isso que ele estava tão estranho e quieto! Eu não entendo nada sobre futebol, mas pelo o que eu vi nos treinos, ele joga muito bem! ㅡ Afirmei
ㅡ Ele foi o artilheiro do ano passado! ㅡ Chiara continuou.
ㅡ Ele me disse que o Thiago queria "um atacante que levasse o time a vitória"
ㅡ Coitadinho... ㅡ Chiara fez um biquinho.
ㅡ E quem é o novo atacante? ㅡ Perguntei
ㅡ Luan, o novato!
Tá tudo explicado!
Não sei o porquê, mas eu gosto de Luan, não consigo ver ele como má pessoa, do jeito q o Manuel vê.
Passamos uma hora naquele local, procurando e provando uma montanha de vestidos. As meninas já tinham escolhido o delas, mas eu, indecisa como sou, ainda não.
ㅡ Bia, você já provou esse umas quatro vezes!
ㅡ Celeste bufou, se referindo ao vestido verde que eu estava provando.
ㅡ Meninas, é que... ㅡ Parei, assim que vi algo no canto de uma prateleira
Cheguei perto e vi o tecido, era perfeito. O vestido ia até o joelho, com toda a delicadeza possível.
ㅡ É perfeito! ㅡ Sussurrei para mim mesma.
(...)
Meus cabelos estavam brilhantes e macios, com ondulações perfeitas, e minhas unhas estavam com um simples esmalte branco. Não passei muita maquiagem, apenas optei por brilho. Meu vestido, que era preto com detalhes brancos, encaixava perfeitamente em meu corpo, alinhando toda a minha silhueta. O salto agulha, que também era preto, chamava pouca atenção, mas era o meu favorito entre todos.
Eu estava linda. Pela primeira vez, eu me achei linda.
Estava terminando de passar o gloss em meus lábios quando Celeste e Chiara invadem o quarto, com um sorriso de uma ponta a outra.
Celeste usava um simples vestido lilás, e um delicado penteado no cabelo. Já Chiara, usava um vermelho chamativo, e seus cabelos estavam presos a uma trança. Elas estavam maravilhosas
ㅡ Você está linda! ㅡ Chiara se aproximou e me rodou com a mão
ㅡ Nós somos lindas! ㅡ A corrigi, e a mesma riu.
ㅡ Vamos? ㅡ Celeste perguntou, e assentimos.
Caminhamos até o corredor, que dava entrada ao salão principal. Músicas animadas podiam ser ouvidas, tudo parecia perfeito.
ㅡ Desculpa a demora ㅡ Sussurrei no ouvido de Manuel, que me esperava na "recepção"
ㅡ Wow ㅡ Me admirou ㅡ Você está mais maravilhosa que o normal.
ㅡ Obrigada ㅡ Sorri tímida ㅡ Vamos?
ㅡ Vamos!
Assinamos nossos nomes e entramos no salão, que estava repleto de pessoas. O local estava todo decorado, com luzes coloridas e uma enorme bola de cristal no meio da festa. Os alunos estavam devidamente arrumados, meninos com jaquetas de couro, e meninas com vestidos de época.
Quando estávamos prestes a entrar na área de descanso, Jailhouse rock começou a tocar, e eu abri um sorriso para Manuel.
ㅡ Você vem ou não? ㅡ Perguntei, e o mesmo me acompanhou até a pista de dança.
Do modo que a música seguia, eu e Manuel dançavamos como se não houvesse amanhã, como se ninguém estivesse ali, só nós dois. A música rapidamente se passou, e uma lenta tomou conta do local.
Manuel puxou minha cintura para seu corpo, e eu joguei meus braços em seu pescoço. Ele me olhava fixamente, me desejava, e eu desejava ele também.
ㅡ Manuel! ㅡ Pietro apareceu derrepente, cortando o clima ㅡ Vamos pegar bebida.
Pode ver que ele ficou sem jeito, só pelo fato de ter arrumado seu cabelo.
ㅡ Eh... Claro! Bia, que alguma coisa?
ㅡ Um refrigerante ㅡ Sorri sem graça
ㅡ Já volto.
E eu fiquei ali, sozinha, vendo todos os casais dançando, se beijando.
ㅡ Bia! ㅡ Alex apareceu derrepente ㅡ O Luan precisa de ajuda!
ㅡ O que aconteceu? ㅡ Perguntei preocupada
ㅡ Não tem como explicar, vem! Ele está no estacionamento da escola! ㅡ Gritou, indo para a saída
ㅡ Estou indo!
Estava tão preocupada que corri sem me importar com quantas pessoas esbarrei, e quando cheguei no estacionamento da escola, vi Luan, sentando no chão.
ㅡ Luan? Você está bem? ㅡ Gritei, e o mesmo não respondeu ㅡ Luan? ㅡ Me aproximei.
ㅡ Por que o mundo é tão injusto? ㅡ Ele se virou, seu rosto estava inchado, ele estava chorando.
ㅡ O que aconteceu? ㅡ Segurei a mão do mesmo
ㅡ As pessoas ficam me julgando, sendo que eu não fiz nada! ㅡ Se queixou
ㅡ Ei! ㅡ Toquei em seu ombro ㅡ As pessoas são idiotas! Eu não te julgo, eu sou sua amiga.
ㅡ Bia... ㅡ Ele pôs a mão no meu rosto.
Mas antes que eu pudesse pensar em algo, ele puxou minha boca para um beijo. Eu não consegui me mexer, eu estava impactada. Seu beijo não tinha sentimento algum, era como gelo.
ㅡ Que porra é essa? ㅡ Gritei, e quando olhei para o lado, vi alguém que não desejava.
Manuel tinha visto tudo.
___________________________
Eita porra!