Liz
A noite de ontem está martelando minha cabeça incessantemente, eu deixei Dominic me levar a um lugar distante da cidade e isso sem pestanejar, agora me dou conta do risco que corri, poderia estar em uma vala esta manhã. Nunca mais em minha vida beberei tanto álcool.
Mas não foi isso que ocorreu, não é mesmo Liz?
Lembro de sua boca sugando meu lábio, de seus dedos passeando em todos os lugares, até...
Sinto meu rosto esquentar.
-Liz! - Minha mãe estala os dedos na minha frente - Está aí? Preste atenção no que estou falando, garota.
Pisco várias vezes seguidas e olho para minha família ao redor da mesa de café da manhã. Minha mãe está na ponta da mesa, impecável em seu blazer cinza e Scarpin preto me olhando como se eu fosse de outro mundo, a minha frente estão os gêmeos conversando algo banal enquanto desperdiçam comida jogando um no outro. Meu pai foi cedo para a empresa e Sebastian ainda está viajando.
-O que disse, mamãe?
- Você está muito distraída esta manhã!
-Perdão, estou meio sonolenta.
-Eu havia dito que chegou muito tarde ontem, onde esteve a noite toda?
-Eu fui com Alex a uma boate.
-Boate Liz? Você é uma mulher comprometida agora, não deve se deixar influenciar por esse seu amigo sem vergonha.
-Ele não é má influência mãe, é mais decente que muitas amigas suas, e além do mais Fui encontrar Dominic também.
-Eu deveria ter mandado você estudar para fora do país, quem sabe assim você tivesse adquirido bons modos.
-Deveria ter mandado ela para uma escola de freiras, como os pais de antigamente faziam com filhas rebeldes, assim você e o pai teriam mais sossego.
Ricardo se mete no meio da conversa dando risada da situação.
-Ninguém falou com você Ricardo - Pego uma colherada da minha granola com Iogurte e enfio na boca com desgosto.
-Vocês dois também não foram educados corretamente
A sobrancelha da nossa "querida mãe" forma um arco enquanto olha para os gêmeos.
-Não me metam nas discussões bobas de vocês, eu estou quieto no meu canto. - Ângelo fala indiferente.
Esse ar de superioridade me irrita profundamente.
-Todo mundo sabe que os dois são farinha do mesmo saco, Ângelo. -Digo não me aguentando quieta.
-Calem a boca os três e terminem o café. -Mamãe bate os dedos contra a mesa enquanto nos observa pensativa.
-Vocês deveriam ficar feliz me vendo sair com o homem para quem me venderam.
-Não vendemos você, Liz, seu pai apenas arranjou uma união vantajosa. Eu fui contra, mas as decisões são do seu pai.
-Que seja, eu fui a boate e depois sai com Dominic para outro local.
-Você é louca menina!? - Ela se exalta.
-Não, não sou. Qual o problema?
-Você não sabe o que dizem sobre o homem? E se ele tivesse te sequestrado e matado?
-Isso não faz o menor sentido, eu já sou noiva dele, para que me sequestrar?
-Usufruir de você sem cumprir o acordo me parece um motivo válido.
Sinto um rubor cobrir novamente meu rosto.
-Fala como se nós mulheres fossemos um bem para ser usufruído, isso soa muito mal.
-Não seja tão sentimental, estou apenas sendo prática.
Ângelo estranhamente sai em minha defesa.
-Não diga essas coisas sobre ela mãe, por mais sonsa que seja, não deveria ser tratada como uma mercadoria.
-E você sabe o que meu filho? Alguma coisa sobre a vida ou sobre criar filhos? Não. Então faça um favor para a mamãe e cale a sua boca antes que eu tenha que conversar com seu pai sobre te mandar estudar para fora também.
Nossos olhos se abrem em espanto e Ricardo se engasga com seu pão, tossindo desesperadamente. Nunca tínhamos ouvido nossa mãe falar assim com um dos filhos homens diretamente.
-Eu só não quero que minha irmã seja assassinada por conta dos interesses de vocês. - Ele se levanta e sai da cozinha nos deixando plantados a mesa.
-Garoto insolente. Vá atrás dele e mande-o voltar, Ricardo.
-Sim mamãe.
E assim minha mãe e eu ficamos a sós nos encarando.
-Olha Liz, eu não apoio esse casamento com a Fera, mas seu pai acha uma boa ideia. Eu já disse a ele que é perigoso pois não sabemos nem onde ele mora ou como é fora dos negócios, mas o que está feito está feito, só peço que tome mais cuidado da próxima vez, aliás não saia mais com ele até sua união, ok?
Tanta preocupação me comove, obrigada.
Puxo o ar dos meus pulmões pronta para argumentar sobre minha maior idade, mas desisto ao lembrar que ainda preciso de um teto sobre a cabeça.
-O que te deixar feliz.
Deixo a mesa sem mais uma palavra.
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Departamento de polícia
Tenente Rodrigues
-Tenente, tenente - Nosso estagiário vem correndo em minha direção.
-O que houve garoto? Respira.
-O senhor já viu a matéria nova que saiu na revista sobre o dono da Origin?
O novato me entrega o celular e na tela a capa da revista salta me deixando enraivecido.
Aquele bastardo de braços cruzados sobre o peito enquanto olha para lado com os olhos fixos em algo em uma pose ameaçadora, como se nada o pudesse atingir.
Dominic Mackenzie, o cara que a anos atrás me fez de trouxa sumindo com as provas de um crime hediondo bem diante dos meus olhos, enquanto eu não tive o que fazer a não ser o deixar livre.
Nunca vou me esquecer o quanto me empenhei no caso, o quanto corri atrás do meu próprio rabo até entender que se quisesse o pegar teria que ser mais esperto do que ele.
Nesses longos anos para cá venho montado uma complexa rede de investigação para esse caso, cerquei a vida do bastardo com meu pessoal e um passo em falso será o suficiente.
Fecho meus olhos e a cena volta a minha mente. O bastardo em pé no meio do porão imundo com sangue até os cotovelos enquanto sua mãe grita desesperada do lado de fora.
Esse psicopata colocando as mãos na cintura enquanto nos cumprimenta: "olá, detetives, como estão nessa noite?"
Eu não pude me mover ao olhar para aquela nojeira, nunca vi algo tão apavorante em minha vida.
-Tenente o senhor está bem?
O jovem a minha frente me olha preocupado.
-Sim.
-O senhor ficou um pouco pálido, tudo bem mesmo?
-Sim, meu jovem, pode ler para mim? - Entrego o smartphone novamente a ele.
-Claro, aqui diz: " Boatos afirmam que a empresa de bebidas intitulada Origin pretende fechar negócios com a Índia até o próximo semestre, o que deixará a empresa ainda mais a frente das demais do ramo, o que torna o ato um feito extraordinário levando em conta tanta concorrência no mercado. Mas de onde vem o sucesso da marca? Nós pretendemos responder essa questão.
Fundada em 1895 por Ronan Darcy Mackenzie na Irlanda, a empresa passou de geração em geração na família Mackenzie fazendo seu nome no país, até que em 1970, seu tataraneto, Aiden Dominic Mackenzie e sua família migram para os EUA levando sua marca para o país. Dez anos depois, após o falecimento de Aiden a empresa passa para o filho mais velho, Connor Mackenzie que resolve expandir os negócios para Portugal, o que leva a marca a explodir de vez no mundo dos negócios.
Em 2013 Dominic Mackenzie assume a empresa após a morte trágica de seu pai, logo depois de um escândalo que colocou a Origin e o herdeiro em maus lençóis. O ocorrido não solucionado paira até hoje sobre nossas cabeças, mas isso não impediu o novo CEO de prosperar e abandonar o passado para trás, se mantendo completamente reservado sobre o assunto que o torna o empresário mais misterioso da atualidade, levando o carinhoso apelido de "fera".
O CEO tem feito muitas parcerias no exterior ao longo dos sete anos que administra os negócios da família, mas o que tem mantido a fera nos holofotes é a possibilidade de uma união entre a Origin e a O'Brien que eram consideradas rivais no ramo, tudo isso por conta do recente noivado com a filha mais nova de Jorge Owen, atualmente dono da empresa rival.
Liz Ohana Owen, formada em Relações Internacionais tem apenas 22 anos de idade e é um pequeno gênio linguístico, falando seis idiomas incluindo o Russo que provem de sua origem. A herdeira mais nova não era conhecida no meio dos negócios até o recente compromisso.
-Já chega de ler essa porcaria! Me cansei de ouvir sobre o bastardo, me traga um café. - Digo a nosso estagiário que me olha assustado.
-Sim senhor, um momento.
Sai apressado da minha frente e some entre o pessoal.
É melhor que Campbell consiga arrancar algo desse bastardo o mais rápido possível ou não sei o que será da vida da pobre jovem que ele irá desposar.
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Dominic
-Senhor Mackenzie, o senhor Allen está aqui com o advogado e deseja vê-lo, posso mandar entrar?
Levanto meus olhos dos papeis e olho para minha assistente que aguarda na porta.
-Pode sim Carla, obrigado.
Alguns segundos depois o homem entra na minha sala seguido de um baixinho barrigudo de terno usando óculos redondos como sua cara.
-Boa tarde usurpador! - Allen quase cospe em minha cara.
-Boa tarde. Posso perguntar o que o traz aqui?
-O senhor ainda pergunta? Vim reclamar o que o senhor roubou de mim.
- E o que seria? - Aponto a cadeira para os dois se assentarem.
-Não se faça de tolo sua besta, você sabe muito bem que aquelas terras são minhas!
-Eram suas, você quis dizer.
O suposto advogado ajeita a gravata e se pronuncia.
-Meu cliente tentou lhe pagar a quantia devida, mas o senhor não aceitou, peço que reconsidere ou teremos que processá-lo.
-No contrato dizia claramente que o pagamento deveria ser exclusivamente até a data estipulada, ademais as terras passariam para meu nome, onde está o erro?
-O que pretende fazer com terras na Escócia? Elas são minhas, de minha família a décadas. O que você pretende com isso?
-Nunca visitei o local, me parece agradável.
Sorrio para os homens.
-Meu cliente não pode perder essas terras, é direito dele.
Suspiro já farto da ladainha.
-Não gostou? Me processe. Por favor saiam da minha sala que tenho muito trabalho a fazer.
-Nos vemos no tribunal então Sr. Mackenzie - o Advogado me estende a mão e eu ignoro.
-Verá meu advogado, eu não costumo perder meu tempo com coisas insignificantes.
Vejo os dois patetas saírem da minha sala com o rabo entre as pernas.
Adoro o cheiro de desespero no meio da tarde.
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Oi pessoal, esse capítulo foi curto, mas amanhã sai outro fresquinho.
O que estão achando do nosso Dominic? Os boatos são verdadeiros?