[CONCLUÍDA] Overlord| Jikook

By SaikoMente

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[CONCLUÍDA] "Solidão e escuridão combinadas, podem fazer com que coisas aconteçam nas sombras." Jimin decide... More

Reinado: LIVRO FÍSICO
A Dança com o diabo ▶PLAYLIST⏩
01° Reinado: Iniciação
02° Reinado: Decisão
03° Reinado: Ligação
04° Reinado: Imersão
5º Reinado: Aproximação
6º Reinado: Construção
7° Reinado: Destruição
8° Reinado: Aniquilação
9° Reinado: Fragmentação
10° Reinado: Retaliação
11° Reinado: Inquisição
12° Reinado: Conexão
13° Reinado: Aquisição
14° Reinado: Ambição
15° Reinado: Presunção
16° Reinado: Estagnação
17° Reinado: Persuasão
19° Reinado: Divisão
20° Reinado: Regressão
21° Reinado: Ascenção
22º Reinado: Anunciação
23º Reinado: Restituição
24° Reinado: Intervenção
25º Reinado: Transformação
26° Último Reinado: FINAL + EPÍLOGO
PROMOÇÃO BOOKFRIDAY SÓ HOJE!

18° Reinado: Submissão

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By SaikoMente


🐍💬 Confira se leu os capítulos anteriores, Alteza!

👑

submissão

substantivo feminino

1. condição em que se é obrigado a obedecer; sujeição, subordinação.

2. disposição para obedecer, para aceitar uma situação de subordinação; docilidade, obediência, subalternidade.


Jungkook se forçou a abrir os olhos.

Certamente minutos se foram, antes que sua mente funcionasse propriamente, e ele soubesse aonde poderia estar. A primeira coisa que buscou sentir, foi a sensação daquela dor insuportável, com a qual teve que lidar por horas a fio. Mas não havia nada.

Um sentimento assustador, no entanto, facilmente se fez presente em seu peito, quando notou que não estava sozinho. Aquela pessoa de cabelos cinzentos puxados para trás estava de costas, mexendo na bandeja de prata e parecendo atento a isso.

— ...Você realmente me ajudou.

— Duvidou que eu iria? Eu disse que iria te curar. — ele respondeu, se esticando e pegando uma bandeja, destampando uma louça e se aproximando com uma colher cheia, o vapor subindo. — Devia comer agora.

Jungkook apertou os lábios. Claro que se sentia duvidoso, mas a maior parte de si tendia a confiar naquela aparência quase cegamente. Ele não era alguém que dava apenas parte de seu coração. — Como fez isso? — perguntou, pensando em seguida que devia ter sido mais direto, fazendo uma afirmação e não uma pergunta. — Como está...? Aqui.

Jimin não era alguém comum nesse mundo. Longe disso. — Milagre? Talvez eu seja um anjo. Não dos melhores, claro. — murmurou, dando um sorriso condescendente de novo, voltando a encher a colher e continuando a alimentar o Príncipe, pacientemente. — Vou te deixar descansar agora. Venha me ver quando estiver pronto. — O Suserano disse por fim, de repente, se aproximando devagar do Príncipe e segurando sua nuca, lhe acariciando com suavidade, afagando os cabelos. Terminou se levantou dizendo que ele poderia se trocar, indicando uma pilha de peças em vários tons de vermelho, que ele poderia chutar que deviam pertencer ao Duque. E educadamente deixou o quarto, caminhando com elegância até a porta, suas botas escuras com pequenos saltos fazendo barulho no chão de longos tacos de madeira.

O outro encarou a porta por um longo tempo, atônito, e então a janela.

Quando desceu após se lavar e colocar algumas daquelas roupas, depois de perceber que até mesmo externamente parecia totalmente recuperado, a cor de volta a seu rosto.

Passou pelo Duque na sala polindo uma longa espada prateada, sentado. Este lhe encarou de alto a baixo, antes de levantar o nariz. — Vermelho fica realmente terrível em você. — foi tudo o que disse.

Ele disse que o odiava, mas mais parecia um dos seus primos antigamente, fazendo pirraça quando não os deixavam vir brincar com ele, ou quando deixavam e ele simplesmente não sabia brincar. Por isso não reagiu, ao invés disso respondeu com um aceno como se estivesse agradecendo, dando as costas para ele, presumindo que ninguém o impediria de circular naquela casa. Aliás, preferia muito fazê-lo quando sabia que eles estavam por perto.

A solidão e o escuro combinados podem sempre fazer coisas acontecerem.

Nos últimos dois anos, percebeu que era resiliente, muito mais do que imaginava. Depois de recuperar sua saúde e ter tempo para pensar, não podia ficar de mãos atadas.

Por isso não hesitou a ir até uma das portas do andar de baixo, uma delas entreaberta, com o Suserano do lado de dentro. Ele estava sentado atrás de uma mesa, e não parecia ocupado. Parecia na verdade esperando que ele viesse. — Não vai entrar? — questionou, só então erguendo o olhar, os olhos de cristal encontrando os obsidianos do Príncipe ainda contido na porta.

Havia ali uma mesa de jogos bastante empoeirada, claramente há muito tempo não usada, pilhas de livros, móveis escuros, um canapé.

Jungkook caminhando calmamente para o lado de dentro encarou fixamente a mesa por um tempo, se lembrando de algo.

No palácio haviam salas e entretenimentos para todos os gostos. Alguns deles ele nunca poderia visitar, com a agenda cheia por sua rotina de antes. Mas depois que sua relação com Jimin mudou, eles passaram tempo juntos em cada parte daquele palácio, envolvido em todo tipo de atividades.

O príncipe suspirou, se apoiando no taco com um sorriso amplo no rosto, encarando o professor. — Você perdeu pela terceira vez, é uma pena. — comentou. Embora Jimin fosse muito habilidoso, o ensinou alguns de seus truques, e depois de algumas rodadas e talvez com algumas facilidades discretas da parte dele Jungkook parecia estar ganhando tudo, repetidamente.

Suspirou, apoiando o taco na mesa novamente. — O que posso fazer, além de pedir uma revanche?

— Revanche? Por acaso tem algum vício em perder? — Jungkook perguntou, se livrando do casaco pesado azul e ficando mais à vontade, sem conseguir parar de sorrir.

Jimin deu de ombros olhando para ele do outro lado da mesa, com um sorriso doce. — Até mesmo derrotas podem ser viciantes em alguns casos, sabia disso?

O Príncipe lhe encarou por apenas alguns segundos, antes de dar a volta pela mesa para ir para o lado dele. O jogo foi facilmente esquecido.

— Jungkook. — piscou, deixando de encarar o canto da sala, para olhar para aquela pessoa, que fazia seu estômago gelar.

Tão claros quanto os cabelos eram seus olhos, que agora tinham manchas escuras ao redor, como olheiras que quase pareciam uma maquiagem pesada, tornando suas íris ainda mais claras e chamativas, assim como a pele, que se diferenciava também da de Jimin. Antes saudável e com cor, agora pálida e sem vida. Exceto por isso, todas as feições eram exatamente iguais. E apesar de seu olhar ser obviamente frio, pareceu o oposto ao ver Jungkook, com um sorriso vívido que não preenchia seus olhos, mas parecia cheio de contentamento, de forma que o Príncipe precisasse de um momento para se recuperar.

— Você me trouxe. Não sei o que fez no palácio, mas cuidou de mim, disso eu sei. Não vai me dizer nada? Me dar explicações? Eu... — O Suserano ergueu as sobrancelhas, balançando a cabeça, antes de se levantar, caminhando devagar. Jungkook se virou para ele enquanto o seguia com os olhos lacrimejantes, se apoiando de costas para a mesa e de frente para o outro, pronto para ouvir cruzando os braços para esconder as mãos que tremiam, geladas. Ele não queria estar ali, e ao mesmo tempo era o único lugar em que queria estar. Seu coração e mente estavam completamente divididos, e suas emoções a respeito disso tiravam completamente sua paz — Você... Não... Não parece o mesmo... Essas coisas são...— tentou empurrá-lo para sair, mas suas mãos seguraram a cintura, afrouxando o aperto à medida que a resistência do nobre se desmanchava — O que eu estou fazendo aqui? O Duque é o dono do Lar Vermelho, ele não me quer aqui.

— Não é verdade. Taehyung é doce, você também, não tem motivos para desavenças.

— Eu não entendo o motivo de ter me trazido, se é mesmo você, por que me prenderia?

— Quer ir embora? — ele ergueu uma sobrancelha, encarando o Príncipe, que parou imediatamente de falar. Como? Como ele poderia ir, e deixar Jimin para trás, no estado em que estava? Seus olhos já lacrimejavam, mas não deixaria nenhuma lágrima cair.

— Os portões estão fechados.

— Alteza. — Jungkook sentiu seus lábios se abrindo, ouvindo aquela voz e vendo aquele rosto, associado a palavra. — Os portões são para impedir que entrem. Não que você saia. — comentou, com o tom de voz condescendente que incomodava o outro. Pensou em perguntar se não queria que seu pai e soldados entrassem, mas pelo que viu na noite em que se reencontraram esmagar todos eles como formigas não era problema algum. Então era para impedir outras pessoas. Ou pior.

— Eu pensei que estava indo até o palácio no monte, para retaliar um assunto entre o Rei e eu. Ele enche os arredores de guardas, mas é claro que pra mim é como se as portas estivessem escancaradas, desde que eu queira entrar, eu vou. Não seria difícil reduzir o reinado dele a pó, e jogar esse pó em cima de seu caixão — Jungkook ergueu o olhar, surpreso. Esperava ouvir muitas coisas, mas nada tão direto quanto aquilo. — Claro, todas as pessoas merecem um enterro digno, ao contrário do que ele pensa — riu secamente — mas no caso dele eu enterraria para garantir que seria alimento para a terra. — O Príncipe o observou caminhar devagar, enquanto em sua mente não conseguia concluir se ele tinha feito o que estava falando ou não, até então. — Mas então eu vi você. — O Suserano parou no lugar, se virando para o outro na sala. O que quer que estivesse pensando, era impossível saber. — Quando te vi, mesmo que eu não saiba dizer com certeza todos os motivos... — tocou com indicador na cabeça algumas vezes, como se estivesse tentando se lembrar, teatralmente, caminhando de um lado para o outro — eu soube que minha última memória clara foi você. E que era por você que estava ali, no fim das contas.

O Suserano deixou que os olhos claros caíssem sobre os lábios do mais novo, que se abriram com a surpresa, assim que concluiu aquela sua frase. Então ele riu, sem nenhum som ou expressão relevantes.

— Presumo que com explicações, esteja esperando um derramar de sentimentos, ou uma série de argumentações sobre como eu na verdade, escapei da morte, e voltei pra você — Ele voltou a falar. — Mas acho que vou desapontá-lo um pouco.

Na sala escura ele voltou a caminhar elegantemente, até que estivesse perto, apenas a um passo de Jungkook.

— Digamos que sua mãe, e a minha... mãe. Eram... Como eu devo dizer? Amigas muito próximas.

O Príncipe perdeu qualquer resquício de compostura, quando o assunto iniciado pelo outro foi tão diferente de qualquer coisa que pudesse esperar — ...Amigas?

O Suserano assentiu, e parecia achar graça de tudo — Sim. Amigas como eu e você costumávamos ser — Contou, movendo as sobrancelhas alinhadas, e sequer deu tempo para que a informação fosse processada, antes de continuar — De qualquer maneira... Acredito que sua mãe sabia de algumas coisas que a minha não imaginava... E as duas sendo bruxas do mesmo clã, habitando o topo do Belo Monte, eram naturalmente unidas, mas por algum motivo, sua mãe decidiu se afastar e partir caminhos; tornando uma longa história... Curta. Como deve ter desconfiado à essa altura, não posso ser considerado um ser vivente agora. E na realidade, nunca houve sangue bruxo correndo em minhas veias, ainda que eu conjure. Eu sou um mero espelho da natureza, que pode replicar toda espécie de poder. Um assistente e um espectador.

Jungkook tinha uma expressão complicada mediante tudo aquilo, mas ela se tornou ainda mais difícil, à medida que o Suserano falava.

— Um utensílio útil como eu, se torna fraco quando o assunto são catástrofes naturais, como a que sua mãe descobriu que viria sobre a humanidade na nossa geração... E simplesmente escondeu de todos — Riu. Ele ergueu a mão, e como se tivesse chamado, o móvel do espelho se arrastou para perto dos dois, obedecendo sua magia —O mundo revolve, se encolhe e expande até que hajam eventos assim. Quem pode explicar o nascimento espontâneo de uma erva daninha, ou como uma praga se alastra? Algumas coisas simplesmente precisam acontecer. Existe o alto para que o baixo também exista. A escuridão e a luz... A loucura e a lucidez. Sem oposições, nada no mundo teria diferenciação. Mas eu... Não sou oposto de nada. Sou esse... Espelho.

O outro o observou abrir os braços mostrando o próprio corpo, com uma expressão insatisfeita.

— E como um espelho, não posso refletir e lutar contra aquilo que não posso ver. Você nunca foi louco, Jungkook. Apenas compartilha da natureza presente na sua mãe.

Jungkook não conseguia mais sustentar os olhos cinzentos, ouvir o que ele dizia era difícil o suficiente, então seu olhar caiu sobre o reflexo dos dois. Juntos, tão perto. Era uma visão que jamais esperava ver de novo, por mais que ansiasse por isso dia e noite sem cessar.

— Então, minha proposta é simples. Vamos derrotar o Senosta juntos. E em troca... — O Príncipe prendeu a respiração, quando a distância entre eles simplesmente foi anulada, o outro deu o último passo para perto, apoiando as mãos na mesa atrás de si, dos dois lados de seu corpo, o cercando por completo — Você acaba vendo o rosto do qual certamente sentiu falta de perto. E pode até mesmo fingir que ainda é seu Jimin, dormindo e acordando do seu lado todos os dias.

Os olhos escuros de Jungkook não falhavam em esconder seu descontentamento e indignação. Ele ainda pensava que aquele era um sonho distorcido, mas agora dizer que era um pesadelo não lhe parecia tão absurdo.

Por essa tênue mudança, ele voltou a respirar novamente, não deixando que o ar trêmulo entregasse suas emoções — Você me diz todas essas coisas, e espera ainda que mesmo depois de tudo até aqui, eu concorde facilmente, em troca de olhar para um rosto parecido, e ter na verdade uma personalidade como essa por perto?

O outro sorriu novamente — Não sei, Alteza. Por que não me diz você? — Inclinou a cabeça, montando sua melhor expressão sutil — Ainda temos tempo, até que o novo ajuste passe a te agradar. Embora os detalhes sobre o Senosta sejam algo que apenas sua mamãezinha e o idiota do seu antigo amante tinham conhecimento sobre.

Pela primeira vez desde que pisou naquela mansão, e talvez em quase dois anos, Jungkook quis rir.

— Não te magoa referir a si mesmo assim? Há um momento você mesmo se nomeou como algo junto dele, inseparável.

— A separação aconteceu, e caso não tenha percebido, entre mim e aquele que você conheceu, existe um inferno de distância — Voltou a falar, e não deu chances que Jungkook se livrasse quando agarrou uma de suas mãos, forçando a palma contra o próprio peito, e a manteve ali, contra a pele desnuda ao enfiá-la por baixo do tecido, desconcertando qualquer opinião que o outro tivesse exposto um momento atrás — Então não se preocupe. Nesse coração, não existem mais coisas estúpidas, como amor — Os olhos cinzentos não piscaram o encarando, ao levar a mão de Jungkook até os lábios, selando uma vez.

👑

Em algumas ocasiões, a vida não oferece muitas opções de escolha.

Sua fraqueza no momento não era física, uma vez que como Príncipe recebia treinos desde muito novo, para se defender com exímia. Os portões estavam fechados, mas ele de fato poderia arquitetar uma fuga, procurar armas pelo Lar Vermelho para atravessar a floresta em segurança. A grande questão era ter Jimin de volta, à alguns passos de distância. Aquele Jimin. As palavras amargas destiladas por ele ainda ecoavam em sua mente, e cada uma delas lhe fez chegar à uma conclusão óbvia. Se estivesse ido com ele naquela noite, provavelmente teria sobrevivido, e não estaria como se apresentava agora. Tão distante, sarcástico, irreconhecível.

E mais que isso. A memória daquela pessoa, a qual foi simultaneamente sua razão para querer morrer e persistir na vida nos últimos tempos, agora parecia distante demais, como Suserano diante dele. Por isso, não deu um próximo passo sequer, ao descer as escadas, e parar diante da porta aberta, na noite anterior.

Por dentro, a tristeza que antes o afogava parecia ter secado, mas não havia nenhum outro sentimento. Apenas um silêncio desconhecido, a sensação de estar perdido, sem imaginar o que poderia fazer.

— O Suserano me disse que você se sentiu incomodado com meu comportamento... que pena. — O Duque murmurou, se escorando na porta do quarto.

— Estranho que chame ele assim, se sabe o nome — Foi tudo o que respondeu.

— Claro. Jimin. — Taehyung retificou — No entanto muito mudou desde que eu o chamava assim o tempo todo. — Te trouxe este presente como prova do meu contentamento em te ter aqui. — disse, apontando com a cabeça para o roupão vermelho de seda sobre a cama.

— ...Não disse que vermelho não fica bom em mim?

— Fica terrível. — sorriu, desgostoso. — Faça bom proveito. O outro apareceu na porta, e o Duque sorriu, ao passo que Jungkook rapidamente desviou o olhar. — Viu? Adoro que ele esteja aqui. Até o presenteei. — disse gesticulando com a mão. — Se me dão licença, logo preciso sair.

O que ficou assentiu com a cabeça, voltando a o fitar nos olhos por um tempo que nenhum dos dois disse nada. E então encarou o roupão e suspirou, arqueando uma das sobrancelhas antes de analisar de alto à baixo, como se soubesse como ficaria nele, dando um sorriso de lado, inclinando a cabeça num cumprimento, antes de sair ali. Não importa o quando suas orelhas esquentassem, seu couro cabeludo ficasse arrepiado e a boca seca. Mesmo que vê-lo lhe acendesse muitas paixões, ainda percebia que havia algo de muito errado com ele, porque quanto mais o via, mais distante de Jimin o Suserano parecia ser.

Por muitas vezes depois de sua morte, imaginava como seria se aquilo tivesse sido um pesadelo, e ele simplesmente voltasse. Imaginou várias reações, vários jeitos de recebe-lo e de valorizar o relacionamento que tinham. Agora ele estava a alguns cômodos de distância, e Jungkook não conseguiu dar sequer um abraço, nem dizer o que queria dizer, porque claramente não era mais um direito seu. Não podia fazer nada, e isso começava a se empilhar em seu coração, se transformando num pesar sem precedentes. Talvez fosse loucamente apaixonado fisicamente por ele em qualquer circunstância, mas amasse uma parte muito específica de Jimin, a qual não podia tocar simplesmente estendendo a mão.

Do lado de fora do casarão, aquela pessoa parecia aguardar, com uma espada de ponta cabeça em uma das mãos, a qual estendeu em sua direção. Quando falou em unir forças com Jungkook, quis dizer um treinamento físico?

O silêncio provavelmente se prolongou por tempo demais, até que o Príncipe dissesse algo — Tenho mais habilidades no arco e flecha.

— Hm. Claro que tem. Mas essa é pra que mantenha perto de você. Não espero que vá precisar, no entanto...

Jungkook o observou, sem intenção de aceitar a espada — Se eu fizer o que me pediu... Eu suponho então que não haverá mais nada a ser feito por mim aqui. E que eu possa retornar pra casa.

— Que casa? Por que tem tanta certeza de que seu palácio ainda está de pé? Confia tanto assim em mim? Realmente pensei que seu amante, concubina ou o que quer que fosse tivesse muita importância, talvez eu tenha superestimado a relação de vocês. Ou devo dizer, a nossa relação? — Inclinou a cabeça, e de alguma forma até mesmo seu olhar parecia condescendente — Imaginei que por enquanto você estaria... Quebrado.

Jungkook não tinha intenção de responder antes, mas abruptamente seu coração se encheu de indignação. Por muitas vezes quis acabar com a própria vida, e sua situação ruim se tornou deplorável depois da morte de Jimin, apenas para que agora o Suserano risse deles assim? Os olhos castanhos encontraram os prateados, mas ali o nobre engoliu as palavras de raiva, trocando por outras que o distanciassem dele — Sobre confiança... Não existe um tipo de persona que eu não tolere bem, a não ser esta que me apresentou, desde que nos vimos no palácio, dias atrás. Não te desprezo como você claramente despreza a mim, mas isso é tudo que posso dizer a seu favor. Então... Por favor, não me superestime demais.

O Príncipe ia seguir seu caminho, mas a espada nas mãos do outro foi de encontro ao chão, num tilintar que ergueu a poeira.

— O que te faz pensar que te desprezo, quando na verdade foi você quem me deixou partir sozinho? — Jungkook tinha parado antes de caminhar, mas a pergunta do outro fez com que prendesse até mesmo sua respiração — Essa... Persona. Nada mais é do que uma parte de Jimin que ele nunca quis te mostrar. Talvez porque ele te conhecesse muito bem, melhor do que permitiu que eu fizesse, ou porque sabia que hipócritas são muito bons em exercer suas habilidades. Por outro lado, sendo a parte oprimida, acabei muito tempo enjaulado comigo mesmo. E sei reconhecer que meu ego nunca me permitiria me arrastar pelo herdeiro do trono que matou minha mãe e seu clã inteiro, herdeiro esse que preferiu este exato trono, no lugar da pessoa que supostamente amava, assim como a mãe. Então me chame pelo nome. Essa persona, é Jimin. Eu sou Jimin, Jungkook.

Os olhos injetados do mais novo brilhavam, ganhando toques vermelho enquanto se tornavam tristes.

O outro não olhou mais, já se afastando— Há um livro deixado no seu quarto, para que se inteire dos assuntos que temos de tratar... Não penso que queira dormir comigo, nos meus aposentos. Até mais ver, Alteza.

Jungkook ficou sozinho, do lado de fora, mas logo se recolheu, silenciosamente.

Ele chegou a ler metade do livro, ainda que não entendesse a maior parte, e existissem páginas muito vazias.

Respirou fundo. Uma, duas, três vezes, e ainda assim seu coração pesava, tanto que na próxima vez em que tentou respirar profundamente e apenas suprimir seu choro, suas emoções simplesmente saíram de controle, de forma que precisasse abafar a própria voz. Era como se estivesse revivendo o luto, de um jeito diferente, talvez ainda pior. Ele ainda se odiava quando deixava que os sentimentos transbordassem assim, e isso acontecia com uma frequência muito maior do que podia suportar. Seu peito doía, e não queria apenas chorar, haviam coisas a serem vociferadas por dentro, coisas que prendeu e evitou pensar para sobreviver de alguma forma.

Mordeu o lábio até sentir dor e sangue, enquanto abraçava o próprio corpo, ao se deixar escorregar para o chão, sem forças. Queria calar a si mesmo, a qualquer custo.

Não via Seokjin há dias, e agora não tinha certeza sobre a segurança de Chung-hee. Se ele nunca tivesse se envolvido com seu professor, o ódio de Jimin agora seria menor? O que no mundo poderia fazer, para se livrar daquela culpa?

O Príncipe então se aquietou. Não adiantava pensar numa forma de se redimir. Coisa alguma podia lavar o sangue derramado, em nome da família a qual pertencia. Coisa alguma podia mudar também, o sangue em suas veias. Nem a decisão que tomou, em se acovardar e não fugir com ele. Era a morte em si, porque acabou por causar não apenas mortes literais, mas também a do relacionamento com aquele que foi o único a enxerga-lo naquele lugar, e querer levar Jungkook para longe. Por isso seu choro suprimido foi embora antes de realmente acontecer. A culpa é um amargor que consome silenciosamente substituindo as estruturas até os ossos, mas que o permitiu perambular pelos últimos quase dois anos, ainda que fosse matéria morta por dentro.

Não saberia dizer por quanto tempo permaneceu ali, imóvel, mas um barulho o fez recobrar a consciência. Do lado de fora, as nuvens escuras se agitavam e moviam criando um formato estranho, como ondas vistas da submersão. No entanto, embora a tempestade iminente perturbasse seu coração, o que realmente o deixou em alerta foi uma mancha escura se arrastando silenciosamente pelo vidro da janela, antes de sair de seu campo de visão.

O Príncipe suspendeu a respiração, ao caminhar cuidadosamente levando a espada empunhada, mas ao abrir a janela, não havia nada a ser visto diferente dos dias anteriores. Pelo contrário. Tudo parecia ainda mais silencioso e distante, visto de tão alto.

No cômodo ao lado, no entanto, pele fria caiu sobre o chão num baque surdo pelo peso da criatura, escamas úmidas e cobertas pelo breu completo aos poucos se distorceram em pele, panos e altura.

— Desde quando se disfarça de serpente para ir bisbilhotar outros aposentos? —A voz do Duque ecoou em seu quarto, mas não era o suficiente para que Jungkook ouvisse, por conta das paredes grossas, algumas delas até com corredores por dentro. O Suserano torceu o lábio na tentativa de ignorá-lo, sem realmente se assustar ainda que estivesse surpreso, mas o outro apenas entrou no cômodo de vez — Não está sendo duro demais com seu objeto de estimação?

Os dedos do outro coçaram a própria testa, impacientemente — ...Não foi você mesmo quem disse que iria sair?

— E vou, para caçar, mas quero a sua companhia em outro assunto. Sabe que a recepção no Grande Domo passou a ser calorosa demais, com as suas promessas de emancipação desde a invasão de terras.

— Não me importo mais com o que é feito por lá. Resolva como quiser, libere todos, coloque seu nome no país.

— Não vou até lá tratar de território. Quero conversar com o Casagrande — O Suserano estreitou os olhos em sua direção, mas já sabia suas razões. Hoseok vinha visitar a família no Lar Vermelho, e o alertou várias vezes sobre perigos iminentes, mas nunca lhe contou que se tratava do próprio Rei. Hoseok era um daqueles que gostava se se isentar e sair com nome e integridade limpos, mas aos olhos de Taehyung, isso só o tornava ainda mais sujo que todo o resto.

Isso é o que pensou, superficialmente.

Mas olhar o perfil do outro, aparentemente interessado em folhear um de seus livros, levantou uma dúvida, tão pequena quanto um sussurro, ainda assim existente.

O que seu adorável irmão de vermelho poderia estar tramando?

Não aprovava a vinda de Jungkook, ainda assim permitiu que ele ficasse. Não aturava Hoseok, e queria vê-lo. Queria a morte do Rei, mas foi obediente em não mata-lo ainda, durante a oportunidade de ouro dos últimos dias. Taehyung foi quase indomável durante a transição de humano para criatura, e sua persistente sede de vingança parecia absurda. É claro que oscilar os direitos de Belo Monte sobre aquelas terras não seria suficiente para ele. Mas talvez pelo grande atraso agora tivesse algo contra ele?

— Claro. E vou acompanha-lo na caçada também — Anunciou, afastando os papéis com desenhos perturbados, que acabava fazendo quando seu nível de inquietação se tornava alto demais.

Os olhos claros não falharam em capturar surpresa em Taehyung. Então realmente havia um problema? — Pensei que não fosse querer deixar seu Jungkook sozinho — Comentou, no entanto.

O outro encarou a parede ao lado, e depois a pilha de livros escritos por ele mesmo antes da morte.

— Ele não é meu.

👑

O quarto estava vazio e silencioso no fim da tarde seguinte, quando finalmente abriu os olhos de novo. A mansão igualmente sem barulhos provavelmente indicava que ainda estava sozinho. Os relógios com seus ponteiros sendo ouvidos com mais facilidade marcavam o meio da tarde, ainda que já tivesse escurecido relativamente depressa pelas nuvens densas e escuras no céu. Eles retornariam em pouco tempo, se tinham partido no fim da madrugada. Mas pela janela, viu algo incomum, que fez seu corpo reagir com surpresa imediata. Os portões estavam abertos.

Abertos.

O Príncipe, no entanto riu, ainda que fosse uma risada sem qualquer humor ou sentido. Talvez tivesse dispendido horas encarando da janela os grandes portões abertos.

Ele não saiu. Não se moveu nem calculou uma fuga.

Era quase como na época de seu luto meses atrás, em que Chung-hee chegou ao ponto de voltar a chamar os médicos, para que as crises de choro se tornassem apatia de novo. Mas dessa vez Jungkook velava um túmulo vazio, porque Jimin perambulava por aí.

A solidão causava desconforto. Desconforto esse que levava ao medo, antes que percebesse.

Sua mente voltou dos pensamentos enevoados quando o corpo encontrou a água quente na banheira, ao se afundar parcialmente nela. Se não tem um coração, como faria aquela pessoa voltar a amá-lo?

Seu rosto se afundou na água também, e de olhos abertos encarava o teto moldado. A vida só dá passos para frente, encurtando o tempo, mas ainda assim qualquer pessoa na condição humana é incapaz de abandonar o passado.

Quase sem ar ele estava prestes a emergir, mas seu ato pausou quando olhou para o lado. A porcelana estava coberta de uma caligrafia que reconhecia, ainda que grande parte das palavras estivesse torta ou trêmula. Fora da água não tinha visto nada assim antes, mas agora podia ver bem. Ainda que não entendesse a tradução, via que haviam enumerações. Uma ordem.

Jimin tinha escrito isso, mas não disse nada a respeito agora, quando o mandou para o quarto. Os olhos escuros perseguiam as linhas e encontrando cognatas em cada frase, mas mais que isso. Eram semelhantes ao livro, do qual também não entendia uma palavra sequer, porque parecia ter partes faltando.

A mão aquecida foi seu melhor teste. Ao pressionar a borda da porcelana fria por alguns segundos, viu claramente a tinta escura emergir sob o lugar exato aonde seu calor antes estava. O teste pelo mármore das paredes deu um resultado exatamente igual.

A atenção do Príncipe foi roubada quando uma urgência surgiu, para olhar pela porta entreaberta. A fresta dava para o quarto vazio.

Ficar num ambiente fechado como o banheiro talvez lhe desse a impressão de que do lado de fora algo terrível estaria esperando. Sempre pior do que a última vez. Seu coração disparou, e piscava com força, tentando me livrar daquela sensação. A porta se moveu minimamente, rangendo, ainda assim nada passou por ela.

Acontece que Jungkook já não era o garoto que se esconderia debaixo das cobertas.

Seu corpo forte se ergueu agitando a água enquanto a gravidade trazia as gotas escorrendo para baixo, nas descidas sinuosas dos músculos bem desenvolvidos sob a pele. Suas mãos organizaram os fios para trás, e logo se envolvia no roupão vermelho, ao pisar cautelosamente para fora do cômodo frio, as mãos empurrando a porta devagar.

— Jimin...? — Sua voz saiu num sussurro incerto, mas suas mãos muito firmemente buscaram a espada que lhe foi entregue antes, empunhando com precisão, ainda que não fosse sua arma favorita.

Naqueles livros, naquela casa, existia alguma coisa, que ele sentia se agitar, como um arrepio sutil na pele, a sensação de saber que não estava sozinho. E essa sensação o arrastou até o andar de baixo.

Assim como qualquer residência nobre, haveria uma sala que funcionaria como galeria e arsenal, de onde aquela espada foi retirada antes, por Jimin.

Agora esta mesma sala estava aberta.

Talvez um dos dois estivesse de volta. Ou talvez, os portões abertos tivessem sido um bom convite para um invasor. Jungkook notou o ambiente parcialmente escuro, a luz da porta que abriu iluminando lâminas e foices ao criar uma faixa de luz que ia pelo chão até uma distância razoável, mas que não parecia cobrir nem um quarto do ambiente que ecoava sons de um espaço bastante amplo. Era melhor testar as luzes para saber se funcionavam, as seus movimentos congelaram antes de acontecer, quando no último quadrante da penumbra feita pela claridade da porta aberta, notou pés juntos, e barras de vestes bordô.

Havia uma pessoa parada dentro daquela sala.

A respiração de Jungkook se tornou nitidamente densa. Se fosse uma paralisia, tentaria gritar e fugir, mas mesmo tremendo, mal respirando permaneceu ali, segurando a porta.

Apenas o Suserano, o Duque foram vistos por ele. Como podia ser que mais alguém morava ali?

Seus olhos naturalmente arderam quando o pavor imergiu em seu peito, porque se fosse uma pessoa normal, não reagiria assim. Antes que abrisse a boca para perguntar ou erguesse a espada, ela se moveu, levantando o pé e empurrando com ele uma das armas, de lâmina vermelha, e a primeira reação do outro foi acender as luzes em desespero, para clarear totalmente o lugar e ver de quem ou do que se tratava.

A sala de armas não tinha ninguém além dele, e um manto pendurado.

Engoliu pesadamente o choro que vinha prendendo desde a festa no Palácio, recuando de costas sem me virar, ainda encarando aquele lugar vazio.

A adaga rubra no chão tinha lâmina e punhal rústicos de material desconhecido, atraiu sua atenção quando girou lentamente no chão coberto por longos tacos de madeira lustrosa.

Ela apontava para o lado de fora. E se tratando especificamente daquela sala, na direção dos portões abertos, rangendo pelo vento do dia nublado.

Os dois cavalos seguiam as rotas da floresta no caminho em alta velocidade. Hoseok não tolerava bem Taehyung, mas aparentemente não suportava mais Jimin. Era compreensível, afinal de contas se tratava de uma aberração, um sentinela que precisava de uma alma para existir e se tornar vivente agora era uma casca vazia e desenfreada.

As nuvens perturbadas tinham começado a dispensar grossas gotas de chuva encharcando a pelagem escura dos animais, e também as roupas dos dois — O que foi? — Taehyung gritou, e o outro virou o rosto por apenas um segundo, sem responder — Se não concentrar na rota vai acabar saindo dela — Notificou, já que a floresta mudava os caminhos sozinha até mesmo com alterações bruscas de tempo e espaço, mas Jimin ainda olhava para o céu revolvendo, que logo começou a ter clarões.

Se lembrava que Jungkook tinha medo desse tipo de coisa, mas talvez fosse uma lembrança vaga demais — Algo está errado... — Sua frase mal saiu antes que um raio encontrasse o solo bem diante deles, e o cavalo selvagem se colocasse sobre duas patas para recuar inesperadamente. É claro que ambos conseguiriam desempenhar um pouso adequado, mas não foi o que aconteceu, quando o de cabelos cinzentos foi lançado a metros de distância por um vulto obscuro. A água turvando sua visão não permitia que visse aonde Taehyung poderia estar, e uma tontura repentina atingiu sua cabeça, que latejava, e cogitou que se tratasse de Namjoon, mas também não o via, e os clarões continuavam no alto. Como o Príncipe estaria, sozinho na mansão?

Sua dúvida precisou ser deixada de lado, porque seus reflexos voltaram a capturar o movimento ao seu redor, apenas a tempo de ver um espirito de árvore se mover em sua direção. É claro que impediu o tronco com uma das mãos, por um instante permitindo que a besta em seu coração saísse e possuísse sua forma, dilacerando a rígida madeira com as garras afiadas, que desfizeram-no num só golpe. Mas não podia enxergar que no mesmo instante outro investia contra ele, e atravessou seu corpo, o empalando.

Um gemido mudo escapou entre os lábios grossos, enquanto encarava o estrago feito em seu abdômen. Ainda assim, antes do próximo golpe ele simplesmente agarrou fincando os pés no chão e impedindo que fosse lançado. Haviam runas gravadas com lâmina naquele monstro de galhos, feitas por alguém, mas sendo um fantoche justamente curado na madeira, ele ainda tinha sua fonte e fraqueza nesse elemento natural, assim como exercia algum controle sobre ele. De qualquer maneira, naquele momento não conseguiu manipular o espírito, que voltou a avançar à medida que a espessura aumentava, de forma que sentisse que a qualquer momento seria simplesmente dilacerado por completo.

No entanto um brilho translúcido e afiado atravessou sua visão no mesmo instante, cortando o galho ao meio, e o próximo e o último, impedindo que qualquer um deles se enroscasse ainda mais no corpo do Suserano.

Quem empunhava a espada era Jungkook, que com as pernas desnudas de músculos potentes firmou um impulso ao pisar, subir e caminhar sobre o galho para cortá-lo completamente, olhos escuros cobertos de determinação e bravura ao agir no último instante, chegando no momento exato em que Jimin aparentemente precisava de ajuda, ainda que o chicotear do golpe arranhasse sua pele, não podia se preocupar menos. Ofegante, observou friamente quando os galhos caíram e secaram, imediatamente se tornando secos, carbonizados em sem vida, num raio de cem ou duzentos metros ao redor.

Adrenalina corria seu corpo e tornava o bombear do coração em seu peito ensurdecedor, mas ainda assim ouviu um pequeno gemido surpreso às suas costas.

Sangue escuro jorrava do ferimento, as entranhas ramificadas imediatamente se refazendo, mas ainda assim o rombo deixado demorava a se fechar novamente, então era inevitável que caísse.

Apesar disso não encontrou o chão, e sim braços firmes quando foi acolhido, logo repousando a cabeça nas pernas parcialmente descobertas do Príncipe.

Reviver coisas que lembrem um trauma, desorganiza os sentimentos humanos. Reviver a exata cena de Jimin tão machucado a ponto de parecer que morreria, fez o mais novo desmanchar em um choro engasgado.

O outro estava em completa confusão. Se Jungkook temia tempestades, jamais sairia numa chuva com raios e trovões como essa, o que demônios estava fazendo no meio daquele lugar, e numa ocasião perigosa assim?! Não permaneceu em repouso, ao se colocar de joelhos diante dele, ainda que isso piorasse a expressão do mais novo, para agarrar seu rosto com apenas uma mão — Por que está chorando? Eu não estou vivo mais, não sou o que você conheceu antes!

— Você nunca me disse! — O grito do Príncipe irrompeu sob a chuva, enquanto de seu rosto lágrimas quentes desciam junto da água que caía, e o aperto da mão de Jimin instantaneamente se desfez, cativado pelo olhar e tom que nunca tinha presenciado vindos dele. Os lindos mirantes escuros baixaram para continuar falando, em murmúrios perdidos, carregados de mágoa — ...Não importava quantas vezes eu perguntasse o que estava acontecendo, como conseguia cruzar o palácio sem ser visto ou por que parecia exausto... Distante. Nunca me disse. Pode dizer que quis me poupar, me salvar ou o que demônios quiser. Mas sofrer um pouco pela verdade é muito melhor do que ver as consequências de uma mentira. Ou de um segredo.

A mão que já ficava azulada pelo frio e com rastros do sangue que diluía secou bruscamente o rosto, ainda que a água não fosse desaparecer dali, porque a chuva caía impiedosamente. Era a primeira vez que seus rostos ficavam tão próximos, a ponto de poder sentir a respiração carregada dele, então não podia deixar de imaginar qual era o próximo e o mais natural dos passos entre eles — Jungkook.

Mas o Príncipe não parecia estar na mesma sintonia quando riu em escárnio de si mesmo — Perguntou se eu confiava em você? Me fazer responder isso é ridículo, Jimin. Não tem ideia de quantas vezes eu quis ter morrido no seu lugar naquela noite, e isso não é sobre não valorizar a minha própria vida. Porque você tinha se tornado minha vida. E eu falhei em te proteger.

As mãos do outro agarraram folhas e terra ensopadas no chão, quando o impacto das palavras lhe atingiu em cheio.

A confissão do Príncipe não tinha apenas raiva e mágoa, sua expressão chorosa devia desestruturar algo dentro de Jimin, porque era incapaz de continuar apenas olhando, mas Jungkook não deixou que ele falasse coisa alguma — Então sim... Eu estou chorando. Porque eu estou vendo um pedaço da minha alma andar ao meu redor, brincar comigo e rir de mim. Quando tudo que sonhei durante todo esse tempo, foi apenas um último abraço seu.

Jimin até poderia ter alguma resposta reservada, mas o fim do que Jungkook disse simplesmente desmontou suas reações.

Consciência. Alma. Besta. A trindade de qualquer ser vivente.

Animais, almas de vidro, são bestas com almas vívidas e consciências silenciosas. Humanos são almas com consciências vívidas e bestas silenciosas, portanto pensantes e sentimentais.

Já não era assim. Era consciência. Frieza e racionalidade gritando mais alto que quaisquer sombras de sentimentos, com uma besta rugindo ao peito, incontrolável pela ausência da alma, depois de tê-la quebrado em pedaços. Em seu primeiro encontro com Jungkook, metade de sua alma foi roubada, evento que quase o levou à morte. E agora, era uma casca vazia, consciente, que mimicava a vida que um dia teve.

Jungkook se tornou atônito. E não era para menos, os braços do Suserano simplesmente o envolveram, sem deixar que continuasse falando qualquer coisa, num abraço. E apertaram.

Este por sua vez não estava diferente, os olhos cinzentos antes arregalados pela irritação, agora tomados pela surpresa, ambos atrelados e ajoelhados sob a chuva. Não entendia o que demônios tinha acabado de fazer, não se tratava de apenas repetir o que naturalmente faria, como o antigo Jimin, comandado pela alma. O espaço em seu peito aonde deveria existir um coração pulsante se tornou pesado, apertado e impossível de carregar. Primeiro, o choro de Jungkook fez raiva e desespero ferverem dentro de si. E depois, suas palavras trouxeram a urgência de que não deixasse que mais nenhuma delas escapasse por aqueles lábios, como se não pudesse tolerar que aquela pessoa experienciasse sofrimento. Porque literalmente, estava sofrendo junto com ele.

Algo dentro dele se agitava e exigia que aquelas lágrimas e palavras desaparecessem.

Por isso seus olhos recém fechados não permaneceram assim por muito tempo, porque foi empurrado no chão pelo outro, sem sobreavisos.

—Acha isso engraçado?!

— ...O que?

Jungkook não respondeu, mas parecia indignado ao se levantar agitando a água da chuva com passos pesados. Mais que isso, estava furioso ao sacudir o tecido encharcado do roupão, e tudo que Jimin conseguiu fazer foi assistir enquanto ele se afastava, até atinar novamente — Ei! Alteza Real, não é hora de me irritar! O caminho é perigoso, está ouvindo?!

Jungkook parou e olhou por cima do ombro, apenas — Então seja útil e me guie.

O Suserano tinha perdido suas palavras. Um riso soprado escapou dos lábios, mas nenhum traço de humor estava presente quando o fez e moveu a mão direita, todo o sangue diluindo sumiu de suas vestes agora esburacadas e sua carne se fechava dificultosamente mediante a magia, antes que assoviasse pelo cavalo preto, que retornou a galopes, evitando a repartição morta da floresta ao redor dos dois.

Jimin não montou, mas também não soltou as rédeas, e mal conseguiu calcular suas atitudes antes que estivesse obedecendo o Príncipe, como um perfeito idiota, no silêncio desconfortável entre os dois. Não estava nem perto de seus planos que aquele dia terminasse assim. Antes tinha conseguido intimidar Jungkook, então como agora estava numa posição como essa?

Olhar de soslaio lhe permitia ver as pernas do outro pressionadas no corpo da besta sobre a qual estava a cada vez que o céu retumbava de novo. Até mesmo as mãos em volta do punhal da espada apertavam tanto que parecia ser doloroso, e com isso Jimin quase se arrependeu de ter escolhido a rota mais longa propositadamente. Não tinha problemas com medo ou frio, mas tinha se esquecido que Jungkook era apenas um ser humano.

Uma expressão estranha aborrecida cobriu seu rosto, enquanto se dava conta de que nas mãos daquele Príncipe, até mesmo culpa estava mimicando. Soltou as rédeas com raiva e ergueu a mão para que o monstro de montaria parasse e logo montou atrás do mais novo, ao decidir parar de se submeter a tantos tipos de humilhação. Permanecia sendo ignorado, mas a determinação de Jungkook flutuou um pouco quando ao voltar a segurar as correntes da guia a distância entre eles inevitavelmente sumiu, de forma que a voz do outro soasse junto de sua pele — Devia se segurar em algum lugar, Alteza. Não pretendo ir devagar mais — O aviso veio um momento antes da ação. Logo a distância entre um dos epicentros da floresta e a mansão vermelha passou a ser drasticamente encurtada, eucaliptos passavam rapidamente diante dos olhos do Príncipe, os quais forçava a permanecerem alertas o tempo todo, até conseguir ver através de uma névoa estranha os portões escancarados como deixou. Ali a noite estava densa, mas não havia chuva, por mais que esta pudesse ser ouvida ao longe.

Ele parecia perfeitamente bem exceto pelos arranhões dos galhos em seu braço, ao contrário do outro, que desceu primeiro assim que pisaram no jardim coberto por plantas rasteiras da cor que combinava com tudo em volta.

O par de olhos prateados encontrou os escuros por um momento.

Memórias são naturalmente conjugadas a sentimentos. Ainda que pudesse experimentar uma variedade de emoções, o calor constante de qualquer coisa havia esfriado no coração de Jimin, e até mesmo seu projeto de vingança já não era mais carregado pelo sentimento de ódio, e sim pela emoção semelhante a uma tênue ambição, e o firme plano de pisar sobre a cabeça daquele que exerce poder.

Por isso era esperado que se sentisse confuso ao estender a mão para ajudar Jungkook, como se fosse o que devia fazer, simplesmente. E de confusão foi rapidamente à irritação, porque foi descaradamente rejeitado, e Jungkook começou a descer sozinho.

Emoções não eram seu forte, muito menos servidas numa montanha russa.

Suas mãos agarraram primeiro o quadril, desajustando completamente o tecido grudado à pele do outro, e ainda mais quando ao terminar de descer suas palmas se firmaram na cintura dele, tanto que sentisse as pontas dos dedos pressionando a carne. Existia a possibilidade de que o percurso tivesse sido um pouco desnorteador para o mais novo, porque não fugiu imediatamente do toque, ainda parado ali a tempo de perceber com detalhes o instante em que o corpo do outro se posicionou junto do seu, numa respiração que imitava a sua, fria, mas ofegante.

Um fio de sangue escorria de seu ferimento entre os dedos até pingar no chão, e Jimin capturou isso com os olhos. Imediatamente agarrou também o braço de Jungkook ainda que ele protestasse na tentativa de tirar de seu alcance, aparentemente não conseguia se opor muito, já que permitiu que o cercasse com o outro braço e apertasse ainda mais junto dele, olhos claros como vidro observando suas expressões ao esticar a língua para lamber o corte.

Não importa o que exatamente tinha atiçado suas paixões, depois de espalhar a reversão de um veneno sobre a pele de Jungkook que começou a se fechar, sua boca ainda foi parar na mandíbula dele, e a próxima coisa que sua língua voltou a experimentar foi a textura macia da pele da face do Príncipe, enquanto espalhava sua saliva adocicada por ela. Provavelmente tinha enlouquecido, porque mordeu também, e sorriu por ouvir o gemido imediato em resposta.

E queria morder mais forte, talvez devorar no sentido literal não faria mal, assim quem mais poderia tê-lo? A ideia fez fogos de artifício explodirem e congelar em suas entranhas, os olhos brilhando sob uma expectativa intolerável.

É claro que Jimin tinha enlouquecido, mas forçou a cabeça da besta contra o solo de seu coração frio, porque agora era seu momento e oportunidade, não importa o quanto tivesse que sufocar a outra fração de si mesmo, porque Jungkook tinha o rosto cada vez um pouco mais voltado para ele, os lábios separados e sobrancelhas franzidas, na expressão exata de alguém que pedia atenção.

Não tinha interesse em esperar mais um segundo sequer, então ignorou as escadas enquanto puxava o Príncipe para a entrada à esquerda da porta que se fechou assim como as portas da saleta assim que passaram por elas. O cinza brilhante dos olhos de Jimin podiam se assemelhar a luz, mas pareciam ainda mais obscuros que as íris de um preto denso o observando naquele momento. A verdade é que aquele corpo ainda reconhecia Jungkook. Desceu como um abutre atacando a presa, rosto inclinado enquanto usava o nariz para traçar a pele do outro, inalando Jungkook como uma droga potente. Um barulho áspero e necessitado escapou do fundo de sua garganta, a língua bifurcada entrando em contato com a pele suave novamente, e isso era realmente tudo que ele precisava para perder o que ainda retinha em termos de controle. Seus lábios não deixam escapar o som sensível quando estremece com o toque, e quando foi forçado a dar passadas na direção da poltrona diante da lareira, agarrou o móvel com tanta força ao cair sentado que seus dedos frios se tornaram ainda dormentes.

Amarelo e laranja refletiram nos rostos quando fogo se ergueu na madeira, crepitando e aquecendo o ambiente já não tão mal iluminado. A língua supreendentemente quente continuou testando, tão suavemente que Jungkook tem que fechar os olhos para sentir, mas as mãos do outro apenas ameaçando tocá-lo são um lembrete vivo de que ele realmente estava ali, e o toque ainda que suave não era uma alucinação ou uma impressão do ar agora aquecido encontrando finas gotas da chuva que ainda desciam por sua pele começando a secar.

Quando a carícia singela cessou, encontrou os olhos claros, tão claros que pareciam iluminados, mas havia um sentimento pesado que os obscurecia também. Era óbvio o quanto queria devorá-lo, e a pior parte era o fato de que uma parte deturpada de Jungkook gostou, queria que Jimin o reivindicasse e fizesse como costumava ser antes.

Mais do que costumava ser antes.

Se existia hesitação da parte do mais velho, foi esmagada sob os dedos de Jungkook, que o puxaram pela nuca em sua direção antes de escorregar entre os fios densos dos cabelos cinzentos, até que finalmente sentisse os lábios grossos contra os seus.

Jimin tinha os olhos abertos, observando livremente os bem fechados do mais novo, enquanto suas pálpebras também pesavam, carregadas de desejo, à medida que seu corpo copiava o calor Jinte a si, e fazia seu pau pulsar. Se não estivesse correspondendo o envolver de lábios que o Príncipe propunha no beijo, provavelmente estaria rangendo dentes pela raiva.

Até sua cabeça voltou a latejar. Em que parte de seu dia planejou estar ali, naquela situação com essa pessoa?!

As mãos enluvadas abriram o tecido do roupão vermelho com impaciência, para expor a pele. Desde que o viu no roupão esmeralda, no palácio, pensou ter sentido alguma coisa. Agora, nos últimos dias enquanto o Príncipe ingenuamente perambulava com os roupões vermelhos razoavelmente abertos, ou as camisas especialmente indecentes cedidas por Taehyung, a única certeza de vida — ou de morte — de Jimin era que queria afundar o rosto naqueles peitos, sugar e marcar a pele enquanto estivesse com a boca grudada junto daquela obra de arte obscena.

— Até o seu beijo é diferente — O comentário sussurrado congelou suas ações quando o Príncipe precisou respirar, afinal de contas ele devia achar no mínimo estranha a textura inumana — Você é impaciente.

Piscou, aturdido, mas apenas por um instante — Se você sabe, por que a conversa? A espera vai acabar me matando de novo.

O mais novo abriu a boca para reclamar, parecendo ofendido por algum motivo, mas foi apenas a oportunidade perfeita para que a língua do outro descesse de novo e encontrasse a sua. Ele parecia estar fazendo barulhos propositais, de forma que os quadris de Jungkook se movessem para cima buscando os dele a cada movimento daquele beijo, instigado pelos sons. É claro, jamais deixaria escapar esse detalhe. As luvas foram de encontro ao chão, e uma palma quente apertou Jungkook ao circular em volta dele para sentir a pele úmida, macia e quente, e como se soubesse de cor, logo seu polegar acariciando firmemente a ponta arrancava gemidos da boca do Príncipe, que se contorcia sobre a poltrona, tentando abrir as pernas ou se movimentar para cima, mas impedido com Jimin em seu colo, que parecia estar se divertindo especialmente, cada vez que sua ereção encontrava aquele contato desesperado.

Esteve desejando isso por muito mais tempo que poderia aturar. Não se tratava apenas dos dias em que seguia Jungkook com os olhos pelo Lar Vermelho como um cachorro sem comida. Pela janela dos olhos, sempre o observou como algo intocável. Jimin tinha perdido metade da alma que era o elo potente entre consciência e besta, portanto era quase como viver com três personalidades completamente distintas e praticamente incomunicáveis entre si, num mesmo corpo. A administração de pensamentos, razões e conexões eram sua responsabilidade, como subconsciente, então o que experienciava dos toques e sentimentos era o equivalente a uma amostra, ou uma gota de água quando tudo que queria era o galão por inteiro. Queria agarrar, conhecer, e saber o gosto, porque tudo se tratava de conhecimento e sensações absolutamente novas para uma parte intangível como ele.

Afinal de contas, na cabana quando desmaiou enquanto forjava o fogo azul, foi a primeira parte a ter contato com Jungkook. Era inevitável que se sentisse injustiçado, então. Mas agora com uma das mãos em volta do pau do mais novo numa carícia para atormentar o Príncipe e conseguir ver todas as suas expressões de desespero, ele se sentia tão bem, que era quase como se estivesse vivo de novo.

Dessa vez, podia ter, ver e sentir tudo.

A língua bifurcada umedeceu os lábios grossos enquanto os olhos cinzentos brilhavam em paixão ao observar o outro se contorcer, na tentativa de fechar as pernas, mas impedido já que ele estava entre elas. Ouvir a voz de Jungkook quebrar e suspirar era tão bom que pensou que poderia morrer de novo, emoções fervendo na necessidade de possuir aquela pessoa por inteiro, de forma que não sobrasse um fio de cabelo sequer que não pudesse chamar de seu — Devagar... — O outro pediu, e o Suserano vibrou por dentro ao capturar o formato dos lábios lhe pedindo o que quer que fosse.

— Não adianta me pedir nada, Alteza — Negou enquanto sorria. Os dedos agora confortavelmente úmidos desceram pelo períneo e mais além, acariciando antes de puxar o mais novo pelas coxas, para que o expusesse mais, até que a carícia se tornasse uma penetração lenta. Estava espelhando o calor de Jungkook, mas ao sentir a temperatura superior em seus dígitos, a urgência de estar dentro dele imediatamente se tornou sufocante — Olhe pra mim — Se Jungkook tivesse ódio, raiva, timidez, remorso, expectativa, paixão... Até mesmo amor. Queria que tudo fosse direcionado a si mesmo.

Abriu a calça e retirou seu pau para fora o enterrando dentro do Príncipe por mais que fosse cedo demais, e não lhe deu descanso até estar completamente dentro dele, baixando os olhos para observar a junção dos corpos, com o peito carregado de satisfação. E o contentamento só parecia crescer e agitar seu interior, de forma que precisasse se sossegar de alguma maneira, porque seus pensamentos corriam rapidamente como um borrão, enquanto sua racionalidade se derretia sem que percebesse.

E só pareceu pior quando decidiu se mover dentro dele, ao perceber que ainda que estivesse tentando se agarrar e abraça-lo completamente, as mãos do mais novo permaneciam apenas segurando e apertando o couro da poltrona sob os dois.

O espaço quente o apertava sempre que saía minimamente antes de se afundar dentro dele de novo, e a sensação de torpor foi esmagada pelo prazer a cada vez que sua glande chegava um pouco mais fundo enquanto empurrava dentro dele. O pescoço alvo do Príncipe logo se tornou a obsessão dos lábios que chupavam e marcavam a pele com força por onde via, deixando mordidas sempre que deslizava dentro dele sob qualquer resistência, e logo estaria arremetendo dentro de Jungkook como um louco de novo, fazendo com que os gemidos do Príncipe se tornassem mais altos e descontrolados, pedindo para que fosse devagar sem ser ouvido, até manchar a pele e a roupa dos dois de branco, enquanto seus olhos se reviravam para fechar e apertar.

— Jimin... — A voz do mais novo escorregou entre os lábios que ainda tinham o formato de um arquejo. Os braços do outro envolviam sua cintura, e mantinha o rosto colado ao do Príncipe, enquanto esfregava sua pele contra a dele numa carícia, ainda ondulando o quadril para testar até que ponto aquele tipo de prazer iria, o apertando com força que era quase além do necessário.

Estava insano, seus olhos ardiam e a lareira tinha se tornado totalmente desnecessária, porque sua pele dispensava até mesmo gotículas de suor, que faziam fios dos cabelos antes organizados para trás caírem sobre o rosto bonito; embora fosse pálido demais agora parecia vívido e corado quando se afastou minimamente apenas para encontrar os olhos do Príncipe, que tinham trilhas de lágrimas nos cantos, mas brilhavam ao olhar para ele.

Não conseguiu manter a distância. Num instante tinha o nariz contra a pele do mais novo, e o apertava com os braços, parado, ainda dentro dele. No entanto, seu abraço dessa vez foi uma tentativa de se esconder, antes que apresentasse a ele uma expressão entregue demais.

Por outro lado, se arrependeu de ter contado a verdade sobre sua incapacidade de sentir. Porque senão por isso, poderia agora dizer que o amava, e assim afastaria o rosto magoado de Jungkook de sua mente.

Ele conseguia perceber sua consciência se esvaindo à medida que travava a mandíbula em resposta da dor que tomava toda a cabeça, se alastrando pelos nervos e músculos dos ombros, serpenteando até o coração. Se encolheu um pouco mais pela dor agravada em sua cabeça, e um coração insatisfeito, mas seu descontentamento se desfez, quando sentiu os braços de Jungkook ao seu redor também.

Jimin não poderia notar sem se ver num reflexo, que ao abrir os olhos tinha uma névoa escura sobre eles. Muito menos o momento em que essa escuridão se dissipou, e acalmou ao ouvir e imitar a respiração de Jungkook.

O Príncipe suspirou longamente, e o apertou ainda mais, engolindo todas as declarações de saudade, luto e descontentamento. É claro que era um abraço carregado de medo, afinal, já tinha experienciado a perda, e naquele dia experimentou novamente dessa sensação destruidora. Por isso o remédio escolhido por ele naquele momento, foi o abraço.

Em sua mente exausta pairava a urgência de salvar Jimin de alguma forma, no entanto seu coração estava coberto de incertezas.


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