Comodidade

By meizomei

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Ninguém gostaria de ficar preso em um amor unilateral por anos a fio, ainda mais quando se sabe que vocês doi... More

02: A pressa é inimiga do cozimento perfeito
03: O seguro morreu de velho mesmo?
04: Se não tem cão, caça com alto-falante
05: Um tapa vale mais que mil palavras
06: Santo Luffy, o padroeiro dos pares encalhados
07: Quem cedo aparece, cedo passa raiva

01: A paciência faz o monge, ou nem tanto

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By meizomei

Zoro chegou em casa perplexo.

Sem nem tirar os sapatos, ou acender as luzes, ele seguiu para o sofá e se sentou com ar pensativo. Mais cedo tinha saído em um encontro com sua atual namorada — se é que podia chamá-la assim visto que nenhum dos dois fizera questão de nomear aquelas saídas sazonais — e não entendia como o clima tranquilo do início virou uma tempestade depois. Quando já estavam a caminho de um hotel para finalizar a noite, Monet quis antes ter uma conversa séria que, de alguma forma, chegou ao nome de um de seus amigos de longa data: Sanji.

Fazia um tempo que Zoro tinha percebido que a simples menção à existência de Sanji parecia deixar Monet irritada, mas nunca imaginou que um dia Sanji seria realmente tema de briga entre eles. Quer dizer, ela lançou algumas acusações estranhas e sem fundamento sobre coisas que Zoro não entendeu — ou talvez ainda não conseguisse entender — muito bem. Contudo, o que mudou definitivamente o fim daquele encontro foi a fatídica pergunta:

"Quem é mais importante pra você: eu ou Sanji?"

Zoro nem gastou meio segundo pensando no tópico, pois a resposta saiu quase como um ato reflexo de tão rápido que pronunciou o nome de Sanji.

Monet lhe lançou um olhar rancoroso e disse, com tom de quem estava tentando segurar a raiva e a indignação, que a resposta não a surpreendia nem um pouco. Ela nem chegou a se despedir, somente apertou a alça da bolsa e se afastou pisando tão duro que seus saltos estalavam perigosamente. Algo na falta de despedida lhe soou como se dessa vez não fossem se ver tão cedo. Talvez nunca mais voltassem a sair daquela maneira.

Em casa, Zoro franziu o cenho e mirou distraidamente o contorno do tapete na sala escurecida. Porque Monet o fizera escolher entre o quase-relacionamento deles e uma amizade duradoura que nada tinha a ver com ela? Sanji foi uma constante em sua vida desde que se conheceram aos 14 anos.

A princípio, verdade seja dita, Zoro o marcou como uma presença indesejada, mal conseguindo se manter no mesmo ambiente que Sanji sem que iniciassem uma briga por qualquer motivo ridículo. Ainda nem tinha completado uma semana de transferência na escola quando ganhou a primeira detenção conjunta com Sanji. E tudo por ter sabotado o trabalho de artes de Sanji em resposta por suas roupas de educação física terem aparecido misteriosamente rabiscadas com caneta permanente. Na semana esportiva ambos foram desclassificados por disputarem entre si, mesmo que estivessem dentro da mesma equipe. Caíram no soco durante uma aposta de quem arremessava mais longe uma bola de metal — bola essa que tinha sido tirada da coleção pessoal do vice-diretor e que não ficou nada feliz quando notou o desfalque. Quase foram expulsos quando derrubaram a estátua da diretora em uma sucessão de eventos difíceis de explicar de tão absurdos que foram. Passaram por tantas detenções que perderam a conta!

Mas também foi junto a Sanji que Zoro cultivou, pela primeira vez, cebolas e alfaces na horta comunitária do bairro. Era uma punição escolar, mas Zoro se divertiu ao ver Sanji realmente colocar as mãos na terra mesmo odiando sujeira e riu alto quando Sanji gritou a plenos pulmões quando eventualmente encostou em um inseto. Foi graças a ele que Zoro reconheceu a contragosto que alguns doces eram sim comestíveis, pois aparentemente Sanji tinha o dom de fazer qualquer comida parecer fabulosa.

Ou o dia em que encontrou Sanji fumando em meio a lágrimas no terraço da escola e ficou tão desnorteado ao ver aquela cena que não conseguiu deixá-lo sozinho e ficou chocado quando Sanji não rejeitou sua companhia. Também teve a vez que ambos se esconderam debaixo de um viaduto pra fugir de uma chuva forte enquanto procuravam o gato de Nami, só para serem avisados minutos depois que o gato foi encontrado dormindo dentro do armário na casa da amiga. Zoro ainda lembrava nitidamente da risada cristalina que Sanji deu quando Nami terminou o relato e do quanto a pele do braço junto ao seu estava fria pela chuva que não conseguiram evitar totalmente.

Enfim, houve uma extensa convivência anterior com Sanji que definitivamente não dava para equiparar com a relação casual que mantinha com Monet. Nunca houve a menor possibilidade de Zoro considerar Sanji inferior em questão de importância. Afinal, quem Zoro mal conhecia e que não fazia muita questão de manter em seu dia-a-dia era Monet.

O ruído de um molho de chaves e do movimento na porta de entrada o despertou do devaneio. Não demorou muito para avistar um homem loiro emergir do pequeno corredor que antecedia a sala. Nas mãos, várias sacolas de supermercado.

Sanji parou ao vê-lo e Zoro o encarou de volta.

Sanji não tinha mudado tanto assim de sua versão mais jovem. A franja loira costumeiramente caída sobre um dos olhos ainda era a mesma, as ridículas sobrancelhas de espiral permaneciam iguais e os olhos incrivelmente azuis ainda faiscavam sempre que discordava de algo que Zoro dissera ou fizera (o que acontecia com bastante frequência).

Essa noite, entretanto, seus olhos estavam límpidos e tranquilos como um céu sem nuvens. Bom, talvez houvesse um pouco de surpresa ali.

"...Zoro? Você não deveria estar com a belíssima Monet pelo resto da noite...?" Sanji olhou para a televisão desligada com uma sobrancelha erguida e depois se atentou a posição reflexiva de Zoro, que estava com as mãos cruzadas em frente a boca. "Espere, resolveu colocar seus poucos neurônios para filosofar no silêncio? Não use eles demais, senão desse jeito não vai sobrar nenhum para suas outras atividades mais pensantes", Sanji comentou sorrindo enquanto passava tranquilamente para ir deixar as compras na cozinha.

Zoro contraiu o rosto ao ouvir o elogio a sua ex e nem tentou responder. Apenas suspirou enquanto se levantava e alcançava Sanji a tempo de tomar as sacolas pesadas e levá-las ele próprio. Deixou tudo sobre a bancada da cozinha, sem parar para se perguntar o porquê de Sanji estar em sua casa àquela hora da noite quando sabia que o dono da residência, vulgo Zoro, não estaria ali. Era um questionamento que não merecia a mínima atenção, afinal. Sanji tinha cópias das chaves de sua casa há anos e não era surpresa aparecer quando bem queria. De forma geral, eles tinham alcançado um nível de intimidade que dispensava explicações para várias pequenas atitudes do dia-a-dia.

"Comprei coisas pra preencher sua geladeira vazia já que você nunca lembra de repor semanalmente..." pontuou Sanji, pegando os itens nas sacolas e guardando cada coisa no seu devido lugar. Conhecia aquela cozinha tanto como a sua própria, portanto não via dificuldade alguma naquela atividade.

Zoro resmungou um 'ok' enquanto se encostava num canto, desabotoando as mangas da camisa social que vestia e retirando o relógio do pulso. Não costumava se vestir assim no cotidiano, mas, segundo Sanji, era de bom tom ir aos encontros usando aquele tipo de roupa desconfortável e ainda penteava os cabelos. Zoro não dava a menor importância para sua aparência, mas se esmerava um pouco nesses dias e, ao que tudo indicava, as pessoas com quem saía ocasionalmente pareciam apreciar este esforço.

"Já jantou?" Como Sanji o observava de esguelha, Zoro apenas assentiu. "Eu também jantei. Já que estamos livres pelo resto da noite, poderíamos ver um filme..."

"Desde que não seja outro filme de romance como o último..."

Sanji sorriu travesso para ele, mas não retrucou sua exigência. Assobiando, Sanji retirou alguns recipientes do armário e outros da geladeira, distribuindo-os sobre a bancada ao lado da pia. Depois pegou um pedaço de carne já previamente separado das compras e começou a temperá-lo.

"Monet terminou comigo" Zoro falou de súbito, ainda com as questões levantadas horas atrás em sua mente. Seu olhar acompanhavam os dedos longos e pálidos que marinavam com habilidade, quase de forma hipnótica.

Sanji ergueu uma sobrancelha encaracolada sem se distrair do pedaço de carne que fatiava com precisão.

"Hm, dessa vez até que durou muito..." murmurou pensativo. "Mas não fique desanimado, marimo. Era inevitável, vocês não combinavam muito. Algum dia alguém que combine com você aparecerá. Alguém que consiga conviver com seus péssimos hábitos de organização, que não ligue muito para sua rabugice e que até aprecie seu jeito brucutu. Talvez essa pessoa tão compatível já esteja nos arredores, basta procurar com cuidado..." Sanji pigarreou. "Agora me passa a pimenta-preta que está naquele armário ali e vai vestir uma roupa confortável pra gente ver o filme."

Zoro rolou os olhos, mas sorriu ao entregar o tal condimento nas mãos habilidosas do outro homem. Apesar de hoje em dia reconhecerem que tinham uma amizade duradoura, ainda era comum eles discutirem por razões insignificantes quase sempre que estavam juntos — e as vezes à distância também. Eram discussões bobas na maioria das vezes, que se resolviam logo. Porém, além das discussões, havia também momentos como aquele onde Sanji tentava confortá-lo de um jeito meio peculiar, principalmente depois de um rompimento. Não que Zoro precisasse de qualquer consolo, mas por achar divertido a maneira como Sanji parecia constrangido ao tomar aquela iniciativa, ele ficava quieto e deixava o outro se prolongar no discurso confuso (que as vezes parecia um insulto disfarçado). Inclusive, de onde estava Zoro podia ver muito bem o suave rubor nas orelhas do outro.

Zoro voltou a se apoiar na bancada do armário. Poderia ter seguido de imediato a sugestão de Sanji, sentia-se sufocado pela gravata, mas ficou ali de braços cruzados por alguns minutos observando-o finalizar o tempero e guardar a carne dentro de uma vasilha com tampa para pôr na geladeira. Para Zoro, a companhia de Sanji era tão natural quanto piscar, então não conseguiu compreender o porquê de Monet ter ficado tão insatisfeita com isso. Afinal, ela mesma devia ter alguém como Sanji em sua vida e que valorizava muito.

Bom, refletir por tanto tempo não era um de seus pontos fortes, então Zoro logo desistiu e deu o assunto por encerrado. Não era como se estivesse sofrendo pelo fim do relacionamento. No máximo ficou surpreso pela maneira súbita como aconteceu. E bem no dia dos namorados. A vida gostava dessas ironias.

"Sei que você tem tara em me ver na frente do fogão, mas prefiro que vá logo trocar de roupa" comentou Sanji, despertando-o do devaneio.

Zoro, que estivera observando as costas dele inconscientemente, percebeu que Sanji já tinha limpado todos os utensílios usados e agora se preparava para fazer pipoca.

"O pervertido aqui é você" retrucou simplesmente, dando um tapa bem aplicado na bunda de Sanji antes de se virar para sair da cozinha.

Sobressaltado, Sanji quase despejou o milho de pipoca fora da panela.

"Ai! Seu maldito brutamontes! Mão pesada do cacete! Vai dar um tapa assim no teu..."

Sanji continuou lhe mandando desaforos, mas as palavras se perderam no ar à medida que Zoro seguia pelo corredor com um sorriso imperturbável nos lábios. Entretanto, quando tirou a camisa e a jogou na cama, olhou para a própria mão considerando que talvez tivesse usado muita força. Bom, na próxima tentaria ser mais suave.

Ao voltar para a sala — dessa vez vestindo uma calça moletom e uma camiseta velha de banda desconhecida que tinha ganhado do tio hipster de Luffy — encontrou Sanji já sentado no sofá com uma vasilha de pipoca no colo e o controle remoto da televisão na mão. A imagem pausada na tela mostrava um homem prestes a entrar em uma cafeteria.

Zoro jogou-se ao lado de Sanji com um suspiro. "O que você escolheu dessa vez?"

"Direi apenas que é um filme relativamente velho."

Zoro fez um estalo com a língua, já imaginando que seria um romance brega.

E foi dito e feito. Porém, apesar de ser um romance com temática de dia dos namorados, ao menos também era comédia para compensar os tantos dramas que Sanji o convenceu a ver noutros dias. Não se podia esperar algo diferente de um viciado em romances como Sanji, não é mesmo? Com o passar dos anos Zoro acabou se acostumando com esse tipo de filme, apesar de não ser fã do gênero e já estar cansado dos muitos enredos de amigos de infância que se apaixonam mais tarde.

Em dado momento, quando resolveu pegar um pouco de pipoca para si, seus dedos acabaram tocando o fundo vazio da vasilha. Até tateou um pouco a área, mas só conseguiu sujar os dedos com um pouco de sal e manteiga que havia sobrado por ali. Sanji já tinha comido tudo? Olhou para o loiro, desacreditado.

"O quê?" Sanji indagou com falsa inocência, encarando-o demoradamente com seus olhos azuis.

Zoro não soube o porquê, mas a saliva pareceu travar em sua garganta por um breve segundo.

Tossiu. "Eu nem comi da pipoca."

"Você foi lento, homem-alga. Quer que eu faça mais?"

"Não precisa. Não estou com fome."

"Se você diz..." Sanji deu de ombros, voltando a prestar atenção no filme que mal tinha chegado na metade.

E foi nessa hora que uma chuva forte começou a cair, fazendo Zoro se levantar para fechar a janela que vazava em um dos cômodos. Quando voltou a ocupar o espaço ao lado de Sanji percebeu o quanto os pelinhos do braço do braço dele estavam eriçados.

"Frio?"

"Só um pouco. Não esperava que a temperatura caísse tanto, então vim apenas roupas leves."

Zoro não era tão sensível ao frio, mas logo buscou uma manta grande e macia de seu guarda-roupa para Sanji poder se aquecer. Entretanto, em vez de oferecer a manta diretamente a ele, Zoro envolveu o próprio corpo com ela e afastou as pernas para Sanji se acomodar ali.

Obviamente Sanji não demorou a ocupar o espaço destinado a ele, acomodando-se como um passarinho que não desejava sair do ninho. Também apoiou as costas no peito do Roronoa com naturalidade e permitiu que os braços quentes dele se ajustassem ao seu redor. Sanji não teria sugerido isso por conta própria, mas ficou mais do que satisfeito de Zoro ter tomado a iniciativa. Sem que pudesse controlar, seu peito se encheu de gavinhas de esperança ao lembrar que ao invés de passar aquela noite com Monet, Zoro estava ali com ele.

Zoro, por outro lado, já tendo esquecido completamente sobre as acusações sem pé nem cabeça que Monet fez mais cedo, apoiou o queixo no ombro de Sanji e apenas se concentrou em tentar não dormir até o final da comédia romântica. Ainda não era o tempo, mas, em momento futuros, quando relembrasse das palavras de sua ex, ele acabaria percebendo certos sinais e comportamentos que o levariam a uma nova percepção do relacionamento dele com Sanji. Mas, naquela noite, seu único pensamento era o de provar os bolinhos de chocolate amargo que ganhara de manhã. Sanji nunca esquecia de presenteá-lo com chocolates de agradecimento nessa data, mesmo que não houvesse um motivo concreto para estar sendo grato.

Zoro não pensava muito sobre. Apenas aceitava o presente e, dias depois, retribuía o gesto com algum doce que Sanji gostasse.

*

Por volta da meia-noite o celular de Nami começou a apitar, informando a chegada de cinco mensagens consecutivas. Franzindo o cenho, ela leu as mensagens enquanto afastava a cabeça de Luffy de sua perna já dormente do peso.

"Quem é?" perguntou Vivi ao seu lado, antes de levar uma enorme colherada de pudim de chocolate para a boca.

"É Sanji. Parece que Zoro já terminou com a namorada 37..."

Luffy, que estava deitado no chão alisando a barriga alta de tanto comer, colocou a mão no queixo e ficou pensativo.

"Era aquela que gostava de passarinhos?"

Nami assentiu, digitando uma resposta rápida para Sanji.

"Não sei porque ele não fala logo pra Zoro que gosta dele. Seria bem mais prático do que esperar que aquele cabeça de mato perceba por si só. Estou começando a achar que ele é algo como um... masoquista sentimental." Nami comentou enquanto Vivi estendia a colher com mais uma porção de pudim para ela. Contudo, antes que pudesse provar o doce, Luffy roubou a colher e enfiou na própria boca.

Nami revirou os olhos, ignorando o roubo. Na sua próxima ida ao templo iria rezar pela agilidade no relacionamento daqueles dois. Ela nem estava diretamente envolvida, mas já não aguentava tanta enrolação entre Sanji e Zoro.

Eles eram irritantemente acomodados!

"Sanji foi um santo em outra vida para ter tanta paciência assim."

Vivi riu, enquanto estendia a língua para lamber um pouco de chocolate que havia na bochecha da noiva. "E o que você mandou para ele?"

"Que ele é um idiota."

E lá se ia mais um dia dos namorados desperdiçado por Sanji e Zoro. Mas vendo por esse ângulo, não dava para negar que eles realmente se mereciam.

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